sábado, 12 de dezembro de 2020

REAL GABINETE PORTUGUÊS DE LEITURA - RIO DE JANEIRO - BRASIL




O REAL GABINETE PORTUGUÊS DE LEITURA 
NO RIO DE JANEIRO


 

A Biblioteca mais linda que achei até hoje. Muito importante para a cultura luso-brasileira. ALBERTO ARAÚJO-FOCUS PORTAL CULTURAL.

 






 

O REAL GABINETE PORTUGUÊS DE LEITURA é uma biblioteca e instituição cultural lusófona, localiza-se na rua Luís de Camões, número 30, no centro da cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Encontra-se tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural.

 

A instituição foi fundada em 1837 por um grupo de quarenta e três imigrantes portugueses, refugiados políticos, para promover a cultura entre a comunidade portuguesa na então capital do Império. Foi a primeira associação desta comunidade na cidade.

 

O edifício da atual sede, projetado pelo arquiteto português Rafael da Silva e Castro, foi erguido entre 1880 e 1887 em estilo neomanuelino. Este estilo arquitetônico evoca o exuberante estilo gótico-renascentista vigente à época dos Descobrimentos portugueses, denominado como manuelino em Portugal por haver coincidido com o reinado de D. Manuel (r. 1495–1521).

 

O Imperador D. Pedro II (1831–1889) lançou a pedra fundamental do edifício em 10 de junho de 1880, e sua filha, a Princesa Isabel, junto com seu marido, o Conde d'Eu, inauguraram-no em 10 de setembro de 1887.

 

 

Sala de leitura

 

A fachada, inspirada no Mosteiro dos Jerónimos de Lisboa, foi trabalhada por Germano José Salle em pedra de lioz em Lisboa e trazida de navio para o Rio. As quatro estátuas que a adornam retratam, respectivamente, Pedro Álvares Cabral, Luís de Camões, Infante D. Henrique e Vasco da Gama. Os medalhões da fachada retratam, respectivamente, os escritores Fernão Lopes, Gil Vicente, Alexandre Herculano e Almeida Garrett.

 

O interior também segue o estilo neomanuelino nas portadas, estantes de madeira para os livros e monumentos comemorativos. O teto do Salão de Leitura tem um belo candelabro e uma claraboia em estrutura de ferro, o primeiro exemplar desse tipo de arquitetura no Brasil. O salão possui também um belíssimo monumento de prata, marfim e mármore (o Altar da Pátria), de 1,7 metros de altura, que celebra a época dos descobrimentos, realizado na Casa Reis & Filhos no Porto pelo ourives António Maria Ribeiro, e adquirido em 1923 pelo Real Gabinete.

 

Aberta ao público desde 1900, a biblioteca do Real Gabinete possui a maior coleção de obras portuguesas fora de Portugal. Entre os cerca de 350 000 volumes, nacionais e estrangeiros, encontram-se obras raras como um exemplar da edição "princeps" de Os Lusíadas de Camões (1572), as Ordenações de D. Manuel (1521), os Capitolos de Cortes e Leys que sobre alguns delles fizeram (1539), a Verdadeira informaçam das terras do Preste Joam, segundo vio e escreveo ho padre Francisco Alvarez (1540), um manuscrito da comédia "Tu, só tu, puro amor" de Machado de Assis, e muitas outras. Anualmente, recebe cerca de seis mil títulos de Portugal. Há também uma importante coleção de pinturas de José Malhoa, Carlos Reis, Oswaldo Teixeira, Eduardo Malta e Henrique Medina. Diariamente, recebe, em média, cento e cinquenta visitantes. Entre os seus visitantes ilustres, do passado, encontram-se os nomes de Machado de Assis, Olavo Bilac e João do Rio.





 

 

Endereço

Rua Luís de Camões, 30, Centro.

Rio de Janeiro - RJ

CEP: 20051-020

 

Contatos

Telefone: (+ 55 21) 2221-3138

Fax: (+ 55 21) 2221-2960

E-mail: gabinete@realgabinete.com.br

 

Horário de Funcionamento

Segunda a Sexta-feira, das 10 às 16 horas.

 

 

info@realgabinete.com.br

 

 

 

HISTÓRIA DO REAL GABINETE PORTUGUÊS DE LEITURA

 

 

Pelo seu prestígio nos meios intelectuais, pela beleza arquitetônica do edifício da sua sede, pela importância do acervo bibliográfico e ainda pelas atividades que desenvolve, o Real Gabinete Português de Leitura é, a todos os títulos, uma instituição notável e que muito dignifica Portugal no Brasil.

 

Em 14 de Maio de 1837, um grupo de 43 emigrantes portugueses do Rio de Janeiro - e deve-se sublinhar que isto ocorre somente 15 anos depois da Independência do país - reuniu-se na casa do Dr. António José Coelho Lousada, na antiga rua Direita (hoje rua Primeiro de Março), nº 20, e resolveu criar uma biblioteca para ampliar os conhecimentos de seus sócios e dar oportunidade aos portugueses residentes na então capital do Império de ilustrar o seu espírito.

 

Entre esses homens, cuja maioria era composta de comerciantes da praça, estavam alguns que haviam sido perseguidos em Portugal pelo absolutismo e que tinham emigrado para o Brasil. Era o caso de José Marcelino Rocha Cabral, advogado e jornalista, que iria ser eleito primeiro presidente da instituição.

 

É possível que, ao se preocuparem com o nível de instrução de seus compatriotas e ao quererem incutir em muitos o gosto pela leitura, os fundadores do “Gabinete” tenham sido inspirados pelo exemplo vindo da França, onde, logo seguir à revolução de 1789, começaram a aparecer as chamadas “boutiques à lire”, que nada mais eram do que lojas onde se emprestavam livros, por prazo certo, mediante o pagamento de uma determinada quantia.

 

Seguindo o exemplo dos “gabinetes de leitura” de raiz portuguesa, e ainda na segunda metade do século XIX, surgiram, impulsionados pela maçonaria e pela república positivista, em várias cidades do interior do Estado de São Paulo, instituições semelhantes que também eram denominadas “gabinetes de leitura” e que foram transformadas depois em bibliotecas municipais.

 

É por essa altura que os dirigentes começam a pensar em construir uma sede de maiores dimensões e condizente com a importância da instituição. Para esse fim, é adquirido um terreno na antiga rua da Lampadosa. E as comemorações do tricentenário da morte de Camões (1880) vão ser o grande pretexto para motivar a “colônia” portuguesa e levar adiante o projeto. Portugal atravessava crises medonhas: eram os déficits da Corte e a ameaça das grandes potências às colônias da África; eram as mazelas de uma sociedade que não reagia às críticas e farpas dos “vencidos da vida”; eram os “escândalos do tabaco” e as lutas dos partidos; eram os “cortejos do bacalhau” na “baixa” lisboeta para depreciar a Epopéia quinhentista; era a falta de interesse pelas idéias novas que vinham da Europa, a apatia do zé-povinho retratado nas caricaturas mordazes de Bordalo Pinheiro.

 

O projeto escolhido foi o do arquiteto português Rafael da Silva Castro, com seu traço neomanuelino a evocar a epopéia camoniana.

 

Ramalho Ortigão, convidado para ser o ora­dor oficial da solenidade, pronunciou então um discurso notável. A certa altura disse: "No dia em que tiver caído para o domínio intelectual do mundo a preponderância européia - porque não há preponderâncias eternas e o movimento da civilização está destinado a oscilar como o movimento dos mares e a configuração dos continentes entre os dois hemisférios da terra - quando por meio dessa evolução se tenha deslocado a importância do domínio geográfico das linhas atuais, se esta casa existir ainda, ela mos­trará aos nossos netos que homens de trabalho, alheios à intriga política do país e ao litígio do poder, ausentes de sua pátria, em um país remoto, previram na missão de sua raça o alcance da ciência e o alcance da arte, a qual, tendo por fim ressalvar os interesses da inteligência fazendo-os preponderar aos interesses da cobiça, da ambição e do egoísmo humano, é a origem da moral positiva assim como é a base do bom senso e o sustentáculo da moderação...”. E mais adiante o escritor arrematou o seu discurso: "E se um dia o nome de Portugal houver de desaparecer da carta política da Europa, esta Casa será ainda como a expressão monumental do cumprimento da profecia posta por Garrett na boca de Camões: ... não se acabe a Língua, o nome português na terra”.

 

Em 1900 o Gabinete Português de Leitura transforma-se em biblioteca pública - qual­quer um do povo pode ter acesso aos livros da sua biblioteca. E logo depois Benjamin Franklin de Ramiz Galvão, um dos mais ilustres intelectuais brasileiros, é convidado pelo Presidente da instituição, Ernesto Cibrão, para organizar um novo catálogo do acervo bibliográfico, tarefa que vai terminar em 1906. É precisamente nesse ano que o rei D. Carlos atribui o título de “Real” ao Gabinete e tem lugar, no Salão dos Brasões, uma grande exposição de pinturas de José Malhôa, a cuja inauguração comparece o Presidente Rodrigues Alves. No primeiro dia da exposição, dos 125 quadros apresentados foram vendidos 26, sendo que um deles, denominado “O sonho do Infante” (imagem ao lado), foi adquirido para ficar no Real Gabinete. Na mesma exposição figuram ainda retratos do rei e da rainha D. Amélia, encomendados ao pintor pela diretoria da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Caixa de Socorros D. Pedro V, e que até hoje se encontram em sua sede.

 

E a seguir fazia-se uma referência ao que o país devia aos portugueses do Brasil. Nas cidades, os melhores palácios a quem pertencem? Quem mandou construir casas e pagar benfeitorias? A quem pertencem os estabelecimentos fabris? Quem manda abrir e reformar os caminhos nas províncias? Quem paga os melhora­mentos das igrejas, os paramentos e as alfaias? Quem manda construir asilos, hospitais e escolas? Quem subscreve as ações dos caminhos de ferro? Quem acode às necessidades do Estado e compra metade dos títulos da dívida pública em circulação? Quem?

 

 Registradas as mágoas e ressentimentos da colônia, em parte devidas aos confrontos que na época pidiam o país provocados pela campanha crescente do Partido Republicano e as convulsões da Monarquia, o Real Gabinete abre na década de 20 uma nova fase de sua existência. E dois homens se destacam nesse período: um, Carlos Malheiro Dias, com seu labor intelectual, as suas pesquisas históricas, a sua influência na formulação de uma estrutura em que se vai manter o universo associativo de origem portuguesa no Brasil e que irá resultar na criação da Federação das Associações Portuguesas em 1931; o outro, Albino Sousa Cruz que, tendo vendido aos ingleses a fábrica de cigarros, passa a dedicar-se inteiramente e a ser o grande mecenas da instituição.

 

Para as comemorações do 1º centenário da Independência é constituída no Real Gabinete uma empresa com a finalidade de editar, em fascículos, a monumental História da Colonização Portuguesa do Brasil, sob a direção literária de Carlos Malheiro Dias, a direção artística de Roque Gameiro e cartográfica do Conselheiro Ernesto de Vasconcelos.

 

Da obra irão colaborar as figuras mais eminentes dos dois países nas artes, nas ciências e na literatura, de Luciano Pereira da Silva a Duarte Leite, de Júlio Dantas a Oliveira Lima, de Paulo Merea a Pedro Azevedo, de António Baião a Jaime Cortesão, de H. Lopes de Mendonça a E. M. Esteves Pereira, sem citarmos, evidente­mente, o coordenador, o mais importante de todos - Carlos Malheiro Dias.

 

A História da Colonização Portuguesa foi editada pela Litografia Nacional do Porto, em fascículos, e estes chegaram a atingir cerca de 20.000, com 12.000 distribuídos no Brasil e 8.000 em Portugal - um número impressionante para a época.

 

Em 1931 é realizado no Real Gabinete o 1º Congresso dos Portugueses do Brasil, quando se procura evitar, com a criação da Federação das Associações Portuguesas, as pisões no meio associativo e imprimir uma certa unidade aos movimentos da colônia. Seu primeiro presidente vai ser Carlos Malheiro Dias, e mais 80 associações de todo o Brasil ficam integradas no organismo federativo que passa, por tácito consenso, a ser o porta-voz das aspirações e anseios coletivos.

 

Como decorrência do 1º Congresso dos Portugueses do Brasil passa a comemorar-se na sede do Real Gabinete, todos os anos, o “Dia de Portugal”, promovido pela Federação das Associações Portuguesas e Luso-Brasileiras. A solenidade, para além de outras liturgias, conta com a presença de oradores ilustres, portugueses e brasileiros convidados para a saudação cívica. Vale a pena registrar a lista desses convidados ao correr dos anos.

 

Em 15 de Março de 1935, pelo decreto nº 25.134, o governo português concede ao Real Gabinete o benefício de receber de todos os editores portugueses um exemplar das obras por eles impressas. Esse estatuto permite uma atualização permanente da biblioteca em termos do que se edita em Portugal.

 

Nos anos 40 cria-se o Instituto de Alta Cultura com o objetivo de desenvolver o intercâmbio cultural entre os dois países.

 

A década seguinte é de grandes dificuldades financeiras para a instituição. Os mecenas tinham desaparecido e os legados e codicilos ao longo do tempo privilegiaram sempre as instituições assistenciais e religiosas - as Beneficências e as Caixas de Socorros Mútuas, as Casas de Portugal e as Obras de Assistência, as Irmandades e as Santas Casas. Os “Gabinetes de Leitura”, os “Grêmios” ou os “Liceus”, esses nunca foram lembrados pela maioria dos benfeitores. Apoiado no mecenato de Albino de Sousa Cruz e de mais alguns - Sousa Baptista, Conde Dias Garcia, Visconde de Morais, Garcia Saraiva, etc. -, a entidade, com o desaparecimento dessa geração, ficou em extrema penúria. As suas despesas eram rateadas pelas diretorias e só muito depois o governo português, durante alguns anos, no antigo regime, concedeu um subsídio de cerca de 50 contos de reis para amenizar a crise que ameaçava a instituição.

 

Foi preciso mudar a sistemática anterior em vários sentidos: primeiro, para dar mais dinamismo às suas atividades, criou-se em 1969, na gestão do Presidente António Pedro Martins Rodrigues, o “Centro de Estudos”, onde passaram a ser ministrados sistematicamente cursos e conferências a cargo de professores universitários. O primeiro curso foi ministrado pelo Prof. Robert Chester Smith, da Universidade da Pensilvânia, sobre “Aspectos da Arte Portuguesa do século XVIII”. E o primeiro diretor do Centro foi António Gomes da Costa. Depois fizeram-se as campanhas financeiras para resgatar o Real Gabinete da situação de penúria e dar-lhe meios para subsistir. Nos anos mais recentes o seu quadro social, antes constituído só de portugueses, passou a receber cidadãos de outros países de língua portuguesa e, a esta altura, várias empresas brasileiras - como por exemplo o Banco Itaú que financiou todo o processo de informatização da biblioteca - já contribuem para o desenvolvi­mento do Real Gabinete, a formação do centro de multimídia cultural, o restauro do edifício, etc. Nesse capítulo, justo é destacar a extraordinária ajuda recebida ao longo dos últimos anos da Fundação Calouste Gulbenkian, que, inclusive, deu os recursos necessários à aquisição e às obras do prédio contíguo ao Real Gabinete onde está instalado o centro de multimídia. Mas também o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal tem concedido uma permanente ajuda desde que, tanto no governo de Cavaco Silva como no de António Guterres, se reconheceu a importância da instituição para a difração da cultura portuguesa no Brasil. Outras entidades - da Biblioteca Nacional ao Instituto Camões, de empresas portuguesas aos donativos da comunidade, da Real Caixa de Socorros D. Pedro V ao Liceu Literário Português - têm vindo a permitir ao Real Gabinete desenvolver, de ano para ano, atividades crescentes desde a edição semestral da revista Convergência Lusíada, distribuída gratuitamente por centenas de instituições culturais e Universidades de todo o mundo, até à recuperação de obras raras danificadas pelo tempo.

 

A. Gomes da Costa

 

 






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