GARRAFAS AO MAR
Episódio A fonte na Quinta Casal de Vil de Souto
Em Portugal há muitas fontes de água natural, pura, cristalina, levíssima e de inesquecível qualidade termal. Entretanto também há fontes em que se pode encontrar avisos do tipo “água imprópria para consumo”, em muitos lugares. A Fonte das Três Bicas é uma fonte monumental de estilo barroco localizada atualmente no largo da Sé junto à Igreja da Misericórdia de Viseu. No local há uma inscrição sobre essa fonte dizendo que ela foi transferida da Quinta das Bicas em 1905, onde originalmente se encontrava. Não confundir com a fonte das Três Bicas de Leiria. No monumento histórico e turístico no Largo da Misericórdia, as três bicas vertem água para três volumosas conchas graníticas, estilo rococó e neoclássico. No centro do chafariz há um brasão da Casa Real Portuguesa tendo em cima uma coroa fechada. Diz a história que o chafariz foi construído pelo mestre pedreiro Jacinto de Matos.
Em nossas temporadas na Quinta do Casal de Vil de Souto, eu gostava de observar Tomaz naquela rotina de abastecer a casa com água mineral direto da fonte. Aos meus olhos, aqueles momentos eram tão preciosos como olhar uma joia preservada em um tesouro. A nossa água era fresca, ao natural. Em Portugal, água fresca é gelada. Lá não se usa água na geladeira, como é costume no Brasil. Todos os dias eu e Tomaz passávamos pela Quinta da Teresa, a caminho da fonte para encher o nosso galão. Aquela fonte nas terras da irmã dele, está lá desde os longínquos tempos dos seus avós. Ela fica na parte de trás do casarão da antiga Quinta. Onde moravam os pais, quando ele nasceu. A fonte fica situada junto ao pomar e a vinha. Na partilha entre os irmãos Teresa ficou com a ‘antiga quinta’. Tomaz herdou o ponto mais alto de toda a aldeia, com uma vista muito bonita para o vale. Era o lugar da 'antiga casa de pedras da eira', emoldurada por uma pinheira centenária belíssima bem atrás da casa. A Quinta do Vil do Souto era nossa base em Portugal. Tomaz dizia que aquele era o lugar que ele mais amava no mundo. Era ‘a menina dos seus olhos'. Um pouco antes de falecer ele se desfez da propriedade. Lembro que foi uma decisão bastante difícil. Em todo o tempo que eu e Tomaz convivemos, fomos muito felizes naquela Quinta. Tivemos bons caseiros que cuidavam de tudo por lá, quando estávamos no Brasil. Os últimos caseiros foram 'os Ermelindos'. Por acaso tinham nomes iguais, Ermelinda e Ermelindo. Eram casados e pais do Pedro Correia. Um jovem inteligente, bem educado e dedicado. Pedro costumava nos receber no aeroporto. E a exemplo dos seus pais, era muito querido por nós. Encerro com uma frase do Tomaz, que traduz muito bem o que eu sinto: "Viseu está no coração de Portugal e no nosso também."
Labouré Lima
19Nov2017
Niterói RJ
CRÉDITO PARA A FOTO: ARQUIVO PARTICULAR DE LABOURÉ LIMA
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