Poeta, crítico literário e jornalista, foi
professor de Latim e noções de Direito Usual na incipiente Universidade Federal
Fluminense (UFF). Nascido em Niterói/RJ, em 1924, desde o início da década de
1950 colabora em suplementos literários, como Letras fluminenses, O Gládio e
Prosa & verso, de O Fluminense. Atuante na vida cultural fluminense, é
fundador de diversos grêmios e grupos literários, como Grêmio Literário
Humberto de Campos (1944), Clube de Poesia de Niterói (1956), Grupo dos Amigos
do Livro (1957); Associação Niteroiense de Cultura Latino-Americana (1964) e
Grupo de Letras Fluminenses (1954). Participa de diversas instituições, entre
elas, com destaque, as academias Fluminense e Niteroiense de Letras. Em 1965,
manteve um programa radiofônico sobre poesia, intitulado Suave é a noite, na
Rádio Sociedade de Nova Friburgo. Atualmente é um dos principais colunistas da
Revista Bali - Boletim da Academia de Letras de Itaocara, dirigida por Kleber
Leite.
Extrato de entrevista de Sávio Soares de Sousa, concedida
a Roberto Kahlmeyer-Mertens
Sua formação em nível superior é no campo do
Direito?
Sim, bacharelei-me em Direito por causa de meu pai.
Eu sonhava com a carreira diplomática e com o magistério universitário. Estava
na dúvida, e meu pai me falou: “ – Seria mais interessante que você fizesse
Direito, pois eu já tenho os livros, a experiência, o escritório e a
clientela”. Cursei a Faculdade de Direito, mas não tinha muito tempo para o
estudo, porque, sendo de família pobre, era empregado bancário, com um horário
absorvente, das 8 da manhã às 6 da tarde, e, assim, não fui o bom estudante que
poderia ter sido. Com o diploma na mão, pensei comigo: “ – E agora: o que fazer
com este canudo?” Advoguei por algum tempo, mas não me sentia com grande
vocação para os debates forenses. Um dia, surgiu a oportunidade de tentar um
concurso para o ingresso na Magistratura. Na data das inscrições, alguém,
certamente um enviado de Belzebu, me falou assim: “ – Rapaz, você vai fazer
papel de palhaço. Desde há muitas décadas, só passa nesses concursos quem seja
apadrinhado. É um jogo com cartas marcadas. Só entra quem for filho de
desembargador, ou de político, gente poderosa. Você é filho ou parente de
desembargador? Seu pai não é um advogado influente e você não terá chance alguma.
Não perca o seu tempo!” Ouvi o conselho, desisti da inscrição, rasguei a
papelada... Joguei fora uma boa oportunidade. Verifiquei, depois, que entre os
aprovados e nomeados figuravam muitos candidatos que não gozavam de nenhuma
proteção ou favoritismo. Eu poderia ter sido um deles, imagino, porque, para
suprir as deficiências do curso universitário, havia consumido noites e noites
estudando Direito através da jurisprudência contida nos quatrocentos volumes da
Revista dos Tribunais, adquiridos com esse objetivo.
Quem sabe não seria hoje um desembargador
aposentado, na melhor das hipóteses? Alguns meses depois, abriram-se as
inscrições para o concurso de ingresso no Ministério Público Estadual. Preparei
a documentação necessária e no dia das inscrições me aparece, novamente, um
desses emissários dos infernos, com a mesma cantilena. Não lhe dei ouvidos.
Inscrevi-me, fiz o concurso e obtive ótima classificação. Fui nomeado Promotor
de Justiça, exerci a função nas comarcas do interior por dez anos, e, finalmente,
promovido por merecimento ao cargo de Procurador de Justiça, permaneci, durante
vinte anos, no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, junto às
Câmaras Criminais, emitindo pareceres, inclusive, em casos criminais de grande
repercussão. Nesse cargo me aposentei aos sessenta e nove anos de idade, em
1991.
E a passagem para a literatura, como foi?
Também aí se fez sentir a influência de Doutor
Osvaldo Soares de Sousa, meu pai, que era inteligente e culto, e amava a
literatura, sabe? Ele exerceu a advocacia pela necessidade de sustentar uma
família numerosa – quinze filhos, além de agregados. Sua biblioteca ocupava um
cômodo inteiro de nossa casa modesta, e era rica de volumes valiosos. E assim é
que ele nos reunia, aos filhos maiores, na sala de visitas, à noite, e lia para
nós, com um entusiasmo que nos empolgava, poemas de Gonçalves Dias, Castro
Alves, Olavo Bilac e os poetas de sua preferência. Nunca publicou livros,
embora também fosse poeta e autor de numerosos sonetos, divulgados pelos jornais
e revistas do seu tempo de moço.
A influência paterna é, então, determinante em sua
história com a literatura?
Sem dúvida!
Mas há, também, os movimentos literários como a
roda do Calçadão da Cultura, em cuja gênese o senhor se encontra.
É verdade. Tomei parte em alguns movimentos
literários e grupos dedicados à expansão da cultura, sobretudo à democratização
da cultura. Sempre fui avesso a círculos fechados, a panelinhas de elogio
mútuo, focos, muitas vezes, da exclusão de autênticos valores. No caso do
Calçadão da Cultura, as coisas aconteceram meio na base do improviso,
compreende? Fui, durante muitos anos, o orador oficial do Grupo de Amigos do
Livro, por opção do livreiro Silvestre Mônaco, a quem me prendiam fortes laços
de amizade.
Mas como surge esse movimento literário? Imagino
que movimentos como esses círculos devam surgir como coisa inesperada,
espontânea? Ou teria havido um projeto, com diretrizes, estatutos?
Esses movimentos, em regra geral, brotam de um
pequeno grupo, que idealiza certo tipo de organização, com objetivos definidos,
e depois crescem, com a adesão de novos elementos, atraídos pela novidade ou
pela oportunidade de revelar seus talentos. Aí, sim, há estatutos, manifestos,
debates preliminares. Mas, como já lhe disse, no Calçadão da Cultura, nada se
fez de caso pensado, não houve premeditação. Isoladamente, éramos todos
frequentadores da Livraria Ideal, na época em que a livraria era só uma
portinha, na Rua da Praia. Um dia, o Silvestre Mônaco, pai do Carlos, e primeiro
proprietário, juntamente com o sócio Emílio Petraglia, resolveu ampliar as
dependências da loja. Terminada a obra, ele nos convidou, a mim, ao Carlos
Couto, ao Luís Antônio Pimentel e ao Roberto Silveira, para organizarmos a
comemoração do acontecimento. Como contribuição pessoal, adquiri um livro de
presença, para o registro do comparecimento de fregueses e para a lavratura das
atas de reunião, quando houvesse, e o ofereci, no dia da festa, ao Silvestre.
Em meio à festa, o advogado Manoel Martins sugeriu que se aproveitasse a
oportunidade para lançar a pedra fundamental de um grupo permanente de leitores
ligados à Livraria Ideal. Foi lavrada uma ata e assim surgiu, em termos
positivos, o Grupo dos Amigos do Livro. Todos os presentes assinaram a ata e o
livro de presença é, hoje, um documento histórico. A minha escolha para orador
do Grupo foi, apenas, uma consequência da oferta do livro de presenças (risos).
Era uma turma boa: Roberto Silveira, Afonso Celso
Nogueira Monteiro, Gomes Filho, Aurélio Zaluar, Marly Medalha, Milton Nunes
Loureiro, De Azevedo Rolim, Luiz Magalhães, Sylvio Lago, Raul Stein de Almeida,
Dayl e Lyad de Almeida, Arino Peres, e muitos outros... O Grupo passou a se
reunir regularmente, e o Geir trouxe muita gente do Rio de Janeiro para nos
visitar, como o crítico Agripino Grieco.
Muitos podem ter sido os acontecimentos dignos de
serem narrados. O senhor lembra-se de alguns?
A história do grupo é bem divertida e variada...
Existem muitas estorinhas... assim, de cabeça, poderia lembrar algumas (...)
FONTE: http://literaturavivencia.blogspot.com/.../savio-soares...
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