‘Gustavo Penna: 50 Anos de Arquitetura, Desenho e Palavra’, coleção produzida cuidadosamente pela editora KPMO -- Cultura e Arte é um projeto inédito no Brasil, que reúne pesquisas que sintetizam as obras de um arquiteto e urbanista mineiro, desde o marco zero até as cinco décadas de sua carreira.
Minas Gerais é referência quando falamos da nossa arquitetura colonial: “Minas é a joia das Américas, porque tem a expressividade do barroco. Isso traz ao estado um diferencial em relação aos outros polos de arquitetura”, diz a coordenadora de pesquisa do acervo de Penna, Rosana Parisi - professora de história da arquitetura moderna e contemporânea brasileira PUC-Poços de Caldas.
A obra de Gustavo Penna herda a riqueza desse cenário arquitetônico, assim como toda a expressividade da Arquitetura Moderna com a presença de Oscar Niemeyer em Belo Horizonte, para, a partir de um gesto próprio e gentil, estabelecer um diálogo que se consolida em 5 décadas de trabalho.
Foi por todo esse repertório que o trabalho de pesquisa no acervo de obras de Penna se deu início. Coordenado pela Prof. Dra. Rosana Parisi e pelo arquiteto, urbanista e diretor de arte Marcello de Oliveira, o garimpo pelos 50 anos de trabalho de Penna é um divisor de águas em termos de pesquisas acadêmicas sobre a arquitetura no Brasil, pois é a primeira vez que toda a obra de um profissional é estudada para uma publicação -- no caso, a coleção Gustavo Penna 73/23.
A minuciosa pesquisa realizada no acervo do escritório Penna desde 2018, em meio a materiais como fotografias, croquis, cortes, perspectivas, plantas, bilhetes, recortes de jornais da época, referências, desenhos, entre outros materiais arquivados de todo o processo de criação de cada projeto ao longo desse tempo. Ainda, foram realizadas entrevistas com o arquiteto, com personalidades e visitas aos locais de suas obras construídas. Este método evidenciou o processo de constituição da identidade e evolução da produção arquitetônica de Gustavo Penna ao longo do tempo, desde sua época de estudante até o auge de maturidade e inovação.
Um dos pontos mais importantes foi descobrir cada movimento, cada gesto
de artífice, como a substituição de materiais, as mudanças em uma planta e até
mesmo as alterações de projeto que demonstram o fluxo de pensamento e de
adequação da ideia até a materialização da construção, onde estão presentes a
originalidade e inovação em detalhes sutis, que imprimem a personalidade do arquiteto.
A KPMO teve o cuidado de inserir na coleção de livros -- cujo volume 1 foi lançado em 2019 e os volumes 2 e 3 serão lançados em 2022 --, projetos que, embora não tenham sido construídos, têm valor técnico e artístico na trajetória do arquiteto. Tais como a Escola Brincar que revelam o traço e a lucidicidade como proposta para um lugar, em que olhar de Penna para o contexto de crianças com necessidades especiais foi singular.
“Nos preocupamos em separar imagens que ilustrassem o que está escrito, para construir a harmonia no livro, além de considerar aqueles materiais que trazem o diferencial de Penna”, diz Marcello de Oliveira. Já Rosana ressalta também que “a intenção foi detalhar o surgimento de novos materiais e inovadores métodos e técnicas construtivas que surgiram no Brasil, que são possíveis de serem identificados nas obras de Penna. A atenção para as questões sustentáveis e a consolidação da relação entre a arquitetura, o urbanismo e as pessoas, reforçando sua máxima: a arquitetura é lugar de gente”.
‘Gustavo Penna: 50 Anos de Arquitetura, Desenho e Palavra’ é um marco para o registro arquitetônico da produção brasileira. Essa perspectiva traz uma abordagem muito similar à crítica genética, um estilo de análise que apareceu na França nos anos 80/90, que mostra o processo de construção do escritor, e a KPMO traz isso para o campo da arquitetura.
Todo este trabalho quebra o conceito de que se conhece um arquiteto
devido à sua obra pronta. E ainda emerge o que ninguém vê: a evolução do
pensamento e do desenho. “Isso para os estudantes, por exemplo, é extremamente
valioso, assim como para os leigos, é curioso saber qual foi a ideia inicial, o
que tornou aquele lugar dentro daquele recorte”, finaliza Marcello de Oliveira.
FONTE: ENXAME DE COMUNICAÇÃO
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