A atriz Tônia Carrero morreu aos 95 anos no final da noite
de sábado, 03 de março de 2018, na clínica São Vicente, na Gávea, no Rio de
Janeiro. Ela havia sido internada para se submeter a uma cirurgia simples, mas
houve complicações e a atriz sofreu uma parada cardíaca.
Uma das atrizes mais consagradas do Brasil, Tônia integrou o
elenco de 54 peças, 19 filmes e 15 novelas. Ela teve uma parada cardíaca
durante cirurgia, segundo a neta Luísa Thiré. Velório acontece no Theatro
Municipal.
Luísa Thiré, neta da atriz, em entrevista à GloboNews disse
que o desejo da avó era de ser cremada. A cerimônia deve ser realizada na
segunda-feira, 05, aguardam a chegada de familiares que vivem no exterior.
UM POUCO SOBRE TÔNIA CARRERO
Tônia nasceu em 23 de agosto de 1922, no Rio de Janeiro, foi
batizada Maria Antonieta Portocarrero Thedim e logo apelidada de Mariinha por
seus pais, irmãos e amigos. Lutou para tornar-se Tonia Carrero. “Até bem pouco
tempo era feio ser atriz. Era pobre, triste ter na família uma mulher se
exibindo no palco, na tela de cinema ou de TV”, contou em seu livro de memória "O
Monstro dos Olhos Azuis" (LPM). Seu pai era militar e alcançou a patente
de general. Seus irmãos seguiram a mesma carreira. Só ela, contrariando toda a
família, inclusive a mãe, optou pela arte.
Ainda bem jovem, aos 14 anos, conheceu o artista plástico
Carlos Arthur Thiré com quem se casaria três anos depois e teria seu único
filho, o ator Cecil Thiré. Ao completar 80 anos Tonia Carrero contou parte de
sua vida no palco, no solo Amigas para Sempre, dirigido pelo gaúcho Luiz Arthur
Nunes, autor do roteiro criado a partir de entrevistas .
No palco, revelou então nunca ter abandonado a ‘persona’
Mariinha – como continuou sendo chamada pelos íntimos – e relembrou com leveza
e bom humor a festa que se tornara sua vida, já casada, na Ipanema da década de
40. Nessa época passou a conviver com intelectuais e artistas sobretudo na casa
do escritor Aníbal Machado, pai da autora de Pluft, o Fantasminha, Maria Clara
Machado. “Hoje não existe mais uma casa assim, ponto de encontro até para
estrangeiros de passagem pelo Brasil”, relembrava em cena. Ali conhecera os
poetas Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de Moraes, o maestro Tom Jobim, o
músico Ronaldo Bôscoli e o cronista Rubem Braga. Muitos caíram de amores por
aquela mulher de rara beleza, bronzeada pelo frescobol na praia.
No mesmo solo narrou, para delícia do público, a paixão do
escritor de Rubem Braga por ela, ‘resolvida’ num namoro meteórico. E contou
ainda que mesmo Drummond, o mineiro reservadíssimo, não resistiu ao galenteio
ao conhecê-la na ‘casa do Aníbal’. Mas nem tudo era festa. Tonia tinha
ambições. Formada em Educação Física, queria ser atriz, mas ninguém levava tal
projeto a sério. Em uma época de raras escolas de teatro, deixou o filho
pequeno com a babá e partiu para a França, onde fez um curso livre de iniciação
teatral com Jean Louis Barrault.
Em 2005 volta a ser dirigida por Fauzi Arap, também autor,
na peça "Chega de História!". na qual, curiosamente, retoma não só a
parceria bem-sucedida em Navalha na Carne, mas também uma atitude. Como fizera
para viver Neusa Suely, mais uma vez se despoja de sua natural vaidade para
encarnar a professora Dona Filó, vestida de forma muito simples. “Ela não tem
nada a ver comigo e isso foi o que me motivou”, disse em entrevista ao Estado.
A carreira no cinema foi menos intensa, mas só em 1988
participaria de três filmes: A Bela Palomera, de Ruy Guerra; Fogo e Paixão, de
Isay Weinfeld e Marcio Kogan e Sonhos de Menina Moça, de Tereza Trautman. O
papel de Dona Alice, em Chega de Saudade, de Laís Bodansky foi o mais recente
nas telas do cinema. Já na telinha participou de 15 novelas, desde sucessos
como Pigmaleão 70, Uma Rosa com Amor, Água Viva, Sassaricando e Senhora do
Destino. Título, aliás, que bem poderia defini-la.
Depois de 60 anos de trajetória em palcos e telas, do cinema
e da TV, Tônia Carrero tinha motivos para se orgulhar da atitude corajosa e da
persistência de Mariinha. Só lamentava, em entrevistas, o inevitável
envelhecimento. Saudade, só da beleza estonteante da juventude.
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