Na antiguidade clássica, as artes liberais, eram os temas
considerados essenciais para uma pessoa livre, (distinguia uma pessoa livre de
um escravo).
TRIVUM
No Império Romano, ensinava-se a dominar sete artes que
compunham o Trivium e o Quadrivium. Na idade média, foram as disciplinas
essenciais para quem pretendesse o sacerdócio ou qualquer lugar na hierarquia
eclesiástica.
O trivium que significa “o cruzamento e articulação de três
ramos ou caminhos”, é composto por três artes que proveem disciplina à mente,
para encontrar expressão na linguagem:
1. Lógica (ou dialética): discussão perspicaz e solidamente,
argumentada por meio da qual o verdadeiro se separa do falso;
2. Gramática: conhecimento de como falar sem cometer erro;
3. Retórica: disciplina da persuasão para toda e qualquer
coisa apropriada e conveniente.
4. Aritmética: a teoria do número;
5. Música: a aplicação da teoria do número;
6. Geometria: a teoria do espaço;
7. Astronomia: a aplicação da teoria do espaço.
ARTES LIBERAIS
Artes liberais é o termo que define uma metodologia de
ensino, organizada na Idade Média, cujo conceito foi herdado da antiguidade
clássica. Contemporaneamente, o conceito de artes liberais denotam a formação
multidisciplinar visando a formação plena, sem necessariamente, ser
profissionalizante.
Referem-se aos ofícios, disciplinas acadêmicas ou profissões
("artes") desempenhadas pelos homens livres. São compostas do Trivium
(lógica, gramática, retórica) e do Quadrivium (aritmética, música, geometria,
astronomia). Tal conceito foi posto em oposição às Artes Mechanicae (artes
mecânicas), consideradas próprias aos servos ou escravos.
A personificação das Sete Artes Liberais (Trivium et
Quadrivium) foi um tema iconográfico muito comum nas artes medieval e moderna.
ARTES LIBERAIS CLÁSSICAS
O conceito de arte dado por Aristóteles, "a capacidade de produzir com raciocínio reto", ou ainda, "uma disposição suscetível de criação acompanhada de razão verdadeira", é capaz de fornecer alguns elementos acerca do conceito de artes liberais que os homens da Antiguidade e da Idade Média tinham.
Entre os romanos, Cícero e Sêneca, idealizaram a educação
liberal que, para os latinos era fundada principalmente na retórica. As artes
liberais eram consideradas as disciplinas próprias para a formação de um homem
livre, desligadas de toda preocupação profissional, mundana ou utilitária. Contrapõem-se
às artes mecânicas ou seja, às
disciplinas não diretamente relacionadas a interesses imateriais, metafísicos e
filosóficos, mas estritamente técnicos (voltados à produção de utilidades que
sirvam às necessidade cotidianas do homem). Mediante o domínio das artes
liberais, o homem seria capaz de produzir obras e ideias com poder de elevar o
espírito humano para além dos interesses puramente materiais, rumo a um
entendimento racional e livre da verdade.
Quanto ao conteúdo, as artes liberais clássicas não possuíam
um número fechado de disciplinas. Por vezes, a dança, a poesia, a ginástica, a
medicina e a arquitetura eram contadas como artes liberais.
ARTES LIBERAIS NA IDADE MEDIEVAL
Embora a expressão e o conceito de artes liberais tenha se
originado na Antiguidade, foi nas Universidades da Idade Média que adquiriu seu
alcance e significado de Studium Generale. A partir de Martianus Capella no
século VI d.C. convencionou-se enumerá-las em sete artes liberais.
No início da Idade Média, a educação liberal servia para
preparar o clero e para a educação cortesã. Foi assim na reforma proposta pro
Alcuíno na Renascença Carolíngia.
Com o advento das universidades a partir do século XII, as
artes liberais ganharam um aspecto propedêutico, servindo de iniciação aos
graus superiores.
AS SETE ARTES LIBERAIS
Tradicionalmente, as sete artes liberais englobam, desde a
Idade Média, dois grupos de disciplinas: o trivium, com as artes retórica,
lógica (dialética) e gramática; o quadrivium, com música, aritmética, geometria
e astronomia. O trivium concentra o estudo do texto literário por meio de três
ferramentas de linguagem pertinentes à mente. O quadrivium engloba o ensino por
meio de quatro ferramentas relacionadas à matéria e à quantidade.
O TRIVIUM
Etimologicamente, trivium significa "o cruzamento e
articulação de três ramos ou caminhos" Esse grupo de disciplinas incluía a
lógica (ou dialética), a gramática e a retórica. As artes do trivium teriam
como objetivo desenvolver a expressão da linguagem.
O QUADRIVIUM
O quadrivium, etimologicamente o cruzamento de quatro ramos
ou caminhos. Está voltado para o estudo da matéria, por meio do domínio das
seguintes disciplinas: aritmética (a teoria dos números); em música (a
aplicação da teoria do número), em geometria (a teoria do espaço) e em
astronomia (a aplicação da teoria do espaço). De acordo com a definição de Irmã
Miriam Joseph, a matéria teria como característica essencial o número e a
extensão, temas analisados respectivamente pela aritmética e pela música, bem
como pela geometria e astronomia.
No âmbito do quadrivium, a música é entendida como o estudo
dos princípios musicais (educação musical), tais como harmonia, não podendo ser
confundida com a música instrumental aplicada (uma das sete belas-artes). O
objetivo destas artes ditas "da quantidade" era prover meios e
métodos para o estudo da matéria, sujeitos a aprimoramento no âmbito das disciplinas
ditas superiores.
ESTUDOS SUPERIORES
Santo Tomás de Aquino e Aristóteles, na ocasião em que (ao primeiro) foi dito: "Bene scripsisti de me, Thoma".
As disciplinas ditas superiores (de acordo com a definição
dada pelos conceitos clássicos e medievais) formavam a parte central e
preparatória do currículo das universidades medievais, preparando o aluno para
entrar em contato com as três principais formações de tais centros de saber: a
medicina, o direito e a teologia.
Como outras artes normativas, que ajustam ou regulam segundo
um padrão ou norma, as artes da linguagem consistem em estudos práticos que
ajustam a linguagem segundo uma norma, como por exemplo:
o pensamento segundo a verdade,
as palavras faladas e escritas segundo a correção ou
a comunicação segundo a eficácia.
É por isso que, no âmbito das artes liberais e dos
princípios da educação superior, diz-se que "a verdade é a norma ou a meta
da lógica", "a correção é a norma da gramática" ou "a
eficácia é a norma da retórica".
RENASCIMENTO
Segundo os propugnadores de tal método educacional clássico,
como Raimundo Lúlio, para que se possa penetrar em níveis de conhecimento
superior das ciências, da metafísica ou da teologia, o indivíduo deve ser capaz
de pensar de forma retilínea e coerente, fazendo uso correto e eficaz das
palavras, nos mais variados níveis de discurso.
A partir do século XVI as artes liberais passaram por várias
transformações que refletiam as mudanças daquela época. Com as descobertas
científicas, as grandes navegações, a difusão da imprensa, o Renascimento e a
Reforma, tornou-se necessário adaptar as artes liberais às demandas de seu
tempo.
O Humanismo italiano renascentista continuou a tradição de
ensino das artes liberais da Idade Média (ver: Renascença italiana e Humanismo
renascentista). Mas enfatizou e renomeou os estudos iniciais, o trivium,
aumentando a sua abrangência, conteúdo e significado no currículo de escolas e
universidades, sob o ambicioso nome de Studia humanitatis. Precursores das
actuais humanidades, os Studia humanitatis mantinham o estudo da gramática e da
retórica mas excluíam a lógica, e acrescentavam o estudo do grego, da filosofia
moral e da poesia, tornada a matéria mais importante do grupo.
UNIVERSITY COLLEGE UTRECHT (UNIVERSIDADE DE UTRECHT, HOLANDA).
Nesse contexto, o educador Comenius separou a educação
superior da educação pré-universitária de jovens e crianças. Segundo seu
currículo, haveria o estudo disciplinas das artes liberais embutidas no nível
equivalente ao ensino médio: a gramática, a física, a matemática, a ética, a
dialética e retórica, além das línguas clássicas e modernas.
Na Conferência "What does liberal education offer the
civil society?”, realizada em Budapeste em 1996, Roger Martin, presidente do
Moravian College (uma faculdade de artes liberais nos Estados Unidos),
relembrou do papel de Comênius para desenvolver as artes liberais
contemporâneas. Essa conferência marcou a reintrodução das artes liberais como
programa de ensino superior na Europa.
As Artes Liberais não sobreviveriam ao iluminismo europeu,
sendo substituídas pela educação superior profissional ou científica.
A educação liberal deu lugar à formação profissional a
partir das reformas universitárias na Prússia, lideradas por Wilhelm von
Humboldt e na educação universitária francesa após a revolução. A Escola Normal
Superior e a Escola Politécnica visava a formação profissional e considerava a
formação liberal como resquício da aristocracia. Gradualmente, a maior parte
das universidades da Europa e do mundo, abandonaram a educação liberal. As
primeiras faculdades do Brasil visavam a formação profissional e não a formação
liberal e assim foi quando instituíram as universidades no país no século XX
(ver: História da educação no Brasil). O conceito de educação superior liberal
continuou a existir nos Estados Unidos.
Nos EUA e Canadá
Nos Estados Unidos e Canadá a educação interdisciplinar
segue um esquema contemporâneo das artes liberais.
Tipicamente um Bacharelado em Artes ou um Bacharelado em
Ciências, em inglês Bachelor of Arts, sigla B.A. e Bachelor of Science
abreviado B.S., leva quatro anos, estudando matérias obrigatórias e optativas
dentro de chaves de disciplinas como:
Comunicação: redação acadêmica, redação criativa, oratória, leitura, pensamento crítico, metodologia científica.
Quantificação: cálculo, estatística, lógica simbólica.
Ciências Naturais: biologia geral e humana, química, física,
astronomia
Ciências Sociais: sociologia, antropologia, economia,
ciências políticas, geografia, psicologia.
História: história mundial, história americana, história
não-ocidental
Humanidades: filosofia, religião comparada, literatura,
história da arte, apreciação musical.
Língua Estrangeira: no mínimo dois anos de estudos.
Diversidade Cultural: estudos sobre minorias, estudos de
gênero e sexualidade, língua de sinais.
Além das disciplinas tradicionais acima, há a possibilidade
de estudar conjuntamente cursos técnicos, artísticos e profissionalizantes como
Tecnologia da Informação, fotografia, design gráfico, administração.
O aluno pode declarar uma major (área de concentração de
seus estudos) e uma minor (uma segunda área de concentração de estudos), com
uma titulação específica (a exemplo: Bachelor of Arts, Major in Mathematics,
Minor in Economics).
Além de programas vinculados à universidades há os chamados
Liberal Arts Colleges que são pequenas faculdades, geralmente com maior
investimento por aluno, com turmas e salas de aulas pequenas, forte ênfase em
composição de ensaios, e demandam uma grande interação com os professores.
Após concluir o bacharelado em artes liberais o estudante
pode seguir carreiras profissionais, como medicina, direito, teologia; ou
acadêmicas como o Master of Arts e o Doctor of Philosophy.[9]
No Brasil e em Portugal
Os impedimentos coloniais no Brasil dificultaram o
estabelecimento de educação superior antes da independência do país. Já no
século XVIII, houve o curso de artes liberais no Colégio Jesuítico da Bahia,
sendo banido seus diplomas superiores. Um certo João da Cointa é notado pelo
Pe.Anchieta de ter ensinado essas artes no litoral paulista. Assim, com a
independência surgiram os cursos superiores de engenharia, direito e medicina,
não voltados para uma educação liberal, mas uma educação tecnicista nos moldes das
faculdades alemãs e francesas.
Apesar disso, há instâncias de brasileiros, como Gilberto
Freyre, tendo se graduado nas Artes Liberais. Entretanto, somente no século XIX
que se firmariam uma educação multidisciplinar humanística e científica com os
bacharelados interdisciplinares.
Chamados de Bacharelados Interdisciplinares no Brasil ou de
Licenciatura em Estudos Gerais em Portugal, as Artes Liberais voltaram ser
cursos de graduação na Europa e Brasil, inspirados no modelo americano.
As artes liberais contemporâneas não se limitam ao trivium e
quatrivium, nem na formação clássica dos Liberal Arts colleges americanos do
século XIX. Antes, essa educação busca conhecer as ciências, humanidades e
tecnologias além de proficiência em análise quantativa e comunicação eficiente.
Esses cursos permitem uma mobilidade do estudante através de
departamentos e disciplinas, além de cobrar uma área de concentração, formando
assim estudantes com conhecimentos amplos e habilidades profundas em uma área
do saber. Com esse conhecimento, há a possibilidade de uma posterior formação
profissional em um segundo ciclo ou pós-graduação.
O estudante sai preparado a adaptar às mudanças da
sociedade, tecnologias e do mercado, além de estar pronto para avaliar e utilizar
criticamente as informações.
No Brasil há cursos interdisciplinares em várias
universidades federais, como a UFBA, UFSB, UFJF, UFVJM, UFABC, UFRGS, UFERSA,
UNILAB, UNIPAMPA, UNIFESP. Em Portugal, há o novo curso na Universidade de
Lisboa.
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