A esse respeito, a curadora Denise Mattar, convidada por Ugo
di Pace para analisar as pinturas de Gobbis e Rossi Osir no catálogo da mostra,
lembra que o crítico Tadeu Chiarelli, num texto de 1995 a respeito da
influência do Novecento italiano sobre a arte brasileira, já citava Gobbis como
um artista cujo “classicismo novecentista” é visível tanto na composição de
suas naturezas-mortas como na elaboração de seus nus, cuja sensualidade não
passou despercebida por Chiarelli. O próprio Rossi Osir, nascido em São Paulo e
protetor dos pintores do Grupo Santa Helena (Volpi, Zanini), conviveu com
artistas do Novecento quando morou por um período (por volta de 1924) em Milão,
sendo então avaliado pela teórica do movimento, Margherita Sarfatti.
Talvez pelo fato de o Novecento ser associado ao advento do
fascismo na Itália, ao propor um “retorno à ordem” e confrontar os valores da
vanguarda europeia dos anos 1920, os artistas do movimento ficaram rotulados
como reacionários – e, por consequência, criticados pelos defensores dos ideais
modernos, como Mário de Andrade. “É irônico, pois foi Osir quem acompanhou
Volpi em sua viagem a Itália, fazendo-o redescobrir a arte antiga italiana”,
observa a curadora Denise Mattar. Volpi deve muito de seu olhar moderno à
contemplação dos afrescos de Giotto na capela de Scrovegni. Homem culto, filho
de um arquiteto refinado (que trabalhou na construção do Teatro Municipal de
São Paulo), Osir tinha uma inclinação tanto para os modernos como para os
antigos mestres. Ele estudou técnica de pintura com Donato Frísia, que o
introduziu no universo de Cézanne, lembra Denise Mattar.
VITTORIO GOBBIS nasceu em Motta di Livenza, 20 de janeiro de 1894 e faleceu em São Paulo, 1968, foi um pintor, desenhista, gravador e restaurador ítalo-brasileiro.
Gobbis foi apontado, em 1931, como uma das revelações do
Salão Revolucionário da Escola Nacional de Belas Artes do Rio (os outros dois
foram Portinari e Guignard). Há um diálogo de Gobbis com a pintura de Guignard
numa paisagem de 1949, assim como “ecos dos retratos de Portinari” no melhor
retrato de Rossi Osir da exposição, Duas Cearenses, aponta Ugo di Pace. Assim,
fica demonstrado que ambos não eram avessos aos modernistas.O que acontece,
segundo Ugo di Pace, que morou na casa de Gobbis em Copacabana, tem mais a ver
com sobrevivência do que propriamente com estética. “Gobbis, muitas vezes,
trocava obras por comida”, conta, justificando o grande número de telas que
reproduzem peixes – moeda de troca nessas transações. Hábil copista, Gobbis
também pintava, a pedidos de clientes, cópias de pinturas renascentistas –
envelhecidas num processo curioso, que consistia em enterrar a tela por algum
tempo. O assistente de Gobbis, um negro retratado numa tela sem data com
laranjas nos braços, era o “coveiro” encarregado da tarefa.
PAULO CLAUDIO ROSSI OSIR
Paulo Cláudio Rossi Osir nasceu em São Paulo, 1890 e faleceu em São Paulo,1959, foi um pintor, desenhista, arquiteto e industrial brasileiro que teve grande importância no desenvolvimento da pintura moderna em São Paulo.
Encontrou outro meio de sobrevivência: criou a Osirarte, em 1939, histórica fábrica de azulejos de cerâmica para qual trabalharam Volpi, Portinari e Burle Marx, entre outros. Reproduções de alguns deles podem ser vistas na mostra. Osir dizia que os azulejos o aborreciam, pois tiravam seu tempo para a pintura, mas não conseguiu viver sem eles. Apesar de ter obras suas em museus como o MAM e no MoMA de Nova York, sua produção é pequena. Na retrospectiva ele está representado por 15 obras, entre elas uma magnífica aquarela de Veneza. Gobbis tem 35 pinturas na mostra, a maioria pertencente ao acervo de Ugo di Pace, que pacientemente foi recomprando essas obras do longo dos anos. Aos 93, ele presta, enfim, tributo ao amigo de tempos difíceis.
Texto: Antonio Gonçalves Filho
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