terça-feira, 4 de novembro de 2025

SOCORRO CAVALCANTI - A MULHER QUE ESCREVE COM RAÍZES E ASAS - HOMENAGEM DO FOCUS PORTAL CULTURAL

 

Há mulheres que escrevem com tinta. Outras, com luz. Socorro Cavalcanti escreve com raízes e asas. 

Raízes que mergulham fundo na terra nordestina, onde a memória é feita de sol, vento e resistência. Asas que se abrem sobre o mundo, levando consigo palavras bordadas de sentimento, história e lucidez. Sua escrita não é apenas expressão, é extensão da alma, é gesto de quem cultiva o tempo com delicadeza e coragem.

Nascida em Mossoró, cidade que carrega em seus alicerces a bravura de mulheres como Celina Guimarães Viana, Helenita Castro Soares, Edna Duarte Dantas e a poesia de tantos que fizeram da palavra um ato de resistência, Socorro é filha do sertão e do saber. Sua voz não se impõe, ela se insinua. Chega como brisa, mas permanece como vento forte. É dessas vozes que não se calam porque são essenciais. Sua escrita é feita de escuta, de observação, de afeto. É uma escrita que não grita, mas que ecoa. Que não se exibe, mas que se revela. 

Autora Homenageada de Honra da Rede Sem Fronteiras – presidente Dyandreia Portugal, na 95ª Feira do Livro de Lisboa. 

Desde os tempos em que escrevia contos para o programa de rádio de José Maria Madrid, Socorro já intuía que a palavra tem poder. Não o poder da imposição, mas o da transformação. E foi com esse espírito que ela construiu uma trajetória múltipla e luminosa: socióloga, professora universitária, gestora pública, escritora. Uma mulher que transita entre o saber acadêmico e a sabedoria popular com a leveza de quem conhece os dois lados da ponte. 

Seus livros: Três Mulheres e Dois Homens Emblemáticos, Discursos e Palestras, Sentimentos Retratados, são mais que obras: são testemunhos. Neles, Socorro não apenas narra, ela revela. Revela o que pulsa por trás dos discursos, o que vibra nas entrelinhas, o que resiste nos silêncios. Sua escrita é feita de escuta ativa, de respeito pelo outro, de compromisso com a verdade. É uma escrita que não se contenta com o óbvio, ela busca o essencial. 

Na Feira do Livro de Lisboa, quando lançou suas obras no estande da Rede Sem Fronteiras, foi como se a literatura brasileira ganhasse um novo sopro lusófono. Incentivada por Dyandreia Portugal, Socorro expandiu sua escrita para novos estilos, sem jamais perder a essência: a escuta do outro, o compromisso com a verdade, o respeito pela memória. Sua presença ali não foi apenas literária, foi simbólica. Representou a travessia de uma autora que carrega o Brasil profundo em cada linha que escreve. 

Mas Socorro não é só palavra. É também ação. Foi vice-diretora da Faculdade de Serviço Social da UERN, coordenou projetos com UNICEF, FUNABEM, FCBIA, sempre com foco na infância, na adolescência, na dignidade. Sua atuação acadêmica e social é tão profunda quanto sua literatura, e talvez por isso uma complemente a outra com tanta harmonia. Ela não separa o pensar do agir, nem o sentir do transformar. Sua trajetória é feita de pontes, não de muros. 

Na cena cultural, Socorro é presença firme e generosa. Sócia efetiva da Academia de Letras e Artes do Ceará (ALACE), presidente de honra da Academia Feminina de Letras e Artes Mossoroense (AFLAM), membro de diversas entidades culturais. E num gesto que revela sua alma, doou um imóvel à AFLAM para abrigar seu acervo: livros, troféus, medalhas, documentos. Um templo da memória. Um gesto que transcende o tempo e transforma o espaço em permanência. 

Mas o que mais impressiona em Socorro é sua capacidade de fazer da palavra um gesto de acolhimento. Ela não escreve para se mostrar. Escreve para iluminar. E ao iluminar o outro, ilumina a si mesma. Sua escrita é como uma lamparina acesa na varanda da casa, não ofusca, mas guia. Não cega, mas revela. 

Há algo de ancestral em sua escrita. Algo que vem das mulheres que bordavam histórias à beira do fogão, dos homens que contavam causos sob a luz do candeeiro, dos jovens que sonhavam com um mundo mais justo. Socorro é herdeira dessa tradição, e ao mesmo tempo, é sua renovadora. Ela não repete o passado, ela o reinventa. E ao reinventá-lo, o preserva. 

Ler Socorro é como caminhar por uma estrada de terra onde cada pedra tem uma história, cada árvore tem um segredo, cada sombra tem uma lembrança. É como ouvir uma cantiga antiga que fala de amor, de luta, de esperança. É como visitar um museu vivo, onde cada objeto tem alma, cada palavra tem destino. 

Tenho várias obras de Socorro Cavalcanti aqui em minha biblioteca. Guardo e releio com amor e atenção. Cada leitura é uma nova travessia, uma nova escuta, uma nova luz. Seus livros não repousam nas estantes, eles vivem comigo, me acompanham, me ensinam. 

Tive o prazer de conhecê-la pessoalmente em um evento da Rede Sem Fronteiras aqui no Rio de Janeiro. Desde essa época, o nosso carinho tem reciprocidade. Socorro é dessas presenças que permanecem, na memória, na palavra, no afeto. 

E é por isso que esta crônica existe. Para dizer que há mulheres que escrevem com tinta. Outras, com luz. Mas Socorro Cavalcanti escreve com raízes e asas. 

Esta é uma homenagem do Focus Portal Cultural, escrita por Alberto Araújo, em reverência à mulher que transforma memória em poesia e cultura em voo.

 

Maria do Socorro Cavalcanti, nascida em Mossoró, é escritora, professora universitária e cientista social brasileira. É sócia efetiva da Academia de Letras e Artes do Ceará (ALACE), onde ocupa a Cadeira 38, cujo Patrono é Alberto Santiago Galeno. 

Sua trajetória é marcada pela rara combinação entre rigor acadêmico, sensibilidade literária e compromisso social.

Desde a adolescência, quando escrevia pequenos contos para o programa de José Maria Madrid, na Rádio Difusora de Mossoró, já demonstrava vocação para a palavra. Mais tarde, dedicou-se a temas sociais, à poesia e, a partir de 2001, mergulhou em pesquisas que resultaram no livro Resgate de uma Época – Dom Eliseu Simões Mendes, lançado em 2005, tanto em Mossoró, durante a Festa de Santa Luzia, quanto em Assu, onde inaugurou a praça e o monumento em homenagem a Dom Eliseu Simões Mendes. 

Como cientista social, integra a Agência de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste (ADESNE), exercendo a função de diretora de assuntos científicos e tecnológicos. Sua vida profissional é marcada por uma atuação socioeducacional intensa: 

Vice-diretora da Faculdade de Serviço Social da UERN; Professora da UERN nas Faculdades de Serviço Social, Ciências Econômicas e Ciências Sociais; Coordenadora do CEMIC – Centro de Estudos do Menor e Integração da Comunidade (convênio UNICEF/UERN); Coordenadora da equipe técnica da FUNABEM – Região Nordeste; Integrante da equipe pró-elaboração do Sistema de Avaliação dos CEMIC’s (convênio UNICEF/UFPE/FUNABEM); Coordenadora da equipe de supervisores da FCBIA – Fundação Centro Brasileiro para a Infância e Adolescência. 

Socorro é presença firme e generosa na cena cultural:

Sócia efetiva da ALACE;

Presidente de honra da Academia Feminina de Letras e Artes Mossoroense (AFLAM);

Sócia efetiva da Academia Feminina de Letras do Ceará (AFELCE);

Sócia correspondente da Academia Apodiense de Letras (AAPOL);

Integrante da Associação Cearense de Escritores (ACE).

Seu gesto de doar um imóvel à AFLAM para abrigar seu acervo — livros, troféus, medalhas, documentos — é símbolo de sua generosidade e de sua consciência da importância da memória.

 

RECONHECIMENTOS

Sua trajetória foi celebrada em diversas homenagens:

Sala de pesquisa da Pró-Reitoria de Extensão da UERN batizada com seu nome;

Medalha Mérito Universitário (ACEU/PANORAMA/DCE);

Placa de homenagem da Faculdade de Serviço Social da UERN;

Troféu Carlos Drummond de Andrade (2012), em Itabira, Minas Gerais. 

OBRAS

Entre suas obras publicadas, destacam-se: 

Prostituição na perspectiva social

Bases doutrinárias da política social

Sistema de avaliação dos CEMIC’s do Nordeste brasileiro

Inquérito social constata realidade da Rua da Flores

Resgate de uma Época – Dom Eliseu Simões Mendes

América Rosado na Cadeira de Jerônimo Vingt-un Rosado Maia

Três Mulheres e Dois Homens Emblemáticos

Discursos e Palestras

Sentimentos Retratados 

Na Feira do Livro de Lisboa, ao lançar suas obras no estande da Rede Sem Fronteiras, sua presença foi um sopro de brasilidade em terras lusitanas. Incentivada por Dyandreia Portugal, expandiu sua escrita para novos estilos, sem jamais perder a essência: a escuta do outro, o compromisso com a verdade, o respeito pela memória. 

Ler Socorro é como caminhar por uma estrada de terra onde cada pedra tem uma história, cada árvore tem um segredo, cada sombra tem uma lembrança. Sua escrita é herdeira da tradição oral nordestina, mas também é renovadora, capaz de transformar memória em poesia e cultura em voo.

Esta é uma homenagem do

Focus Portal Cultural,

escrita por © Alberto Araújo

 



Recebendo das mãos do Dr. Neuzemar Gomes
a Medalha Grã Cruz.








QUANDO MEDEIA APARECEU NO FEED - CRÔNICA DE ALBERTO ARAÚJO - AO PROFESSOR MARCO ANTÔNIO MARTINS PEREIRA

Não houve legenda. Nenhuma palavra. Apenas a imagem. Um quadro clássico, uma mulher envolta em sombras e tecidos, o olhar perdido em si mesma, ao lado de um vaso que parece conter o mundo antigo em miniatura. E no centro, em letras firmes, em grego: MEDEA — EURÍPIDES. Foi assim que o professor Marco Antônio Martins Pereira decidiu se manifestar naquele dia, não com frases, mas com um gesto silencioso e eloquente. E como toda boa arte, bastou isso para provocar inquietação. 

Medeia não é apenas uma personagem. Ela é um abismo. Uma mulher estrangeira, mãe, feiticeira, traída. Uma figura que atravessa os séculos com a força de um grito que não se apaga. Eurípides, ao escrevê-la no século V a.C., não ofereceu ao público ateniense uma heroína convencional. Ofereceu uma mulher que desafia os limites da moral, da maternidade, da civilização. Uma mulher que, diante da traição de Jasão, não se resigna, ela se vinga. E sua vingança é tão profunda que ainda hoje nos desconcerta. 

A imagem postada pelo professor não é apenas uma capa de livro. É uma convocação. Um convite à reflexão sobre o papel da tragédia na cultura humana. Porque Medeia não é uma peça que se lê com leveza. Ela exige do leitor, ou do espectador, uma coragem rara: a de encarar o que há de mais sombrio na alma humana. E é justamente por isso que ela permanece viva. Porque nos obriga a pensar sobre os limites do amor, da justiça, da dor.

Na tradição ocidental, poucas obras alcançaram a universalidade de Medeia. Ela foi reinterpretada por poetas romanos, redescoberta no Renascimento, adaptada por dramaturgos modernos, encenada em palcos do mundo inteiro. Jean Anouilh, Heiner Müller, Marina Carr, todos beberam dessa fonte. E não apenas no teatro: Medeia aparece na psicanálise, na filosofia, na literatura, no cinema. Carl Jung viu nela o arquétipo da mulher ferida; Pasolini a transformou em filme com Maria Callas no papel principal. Cada geração encontra nela um espelho, ainda que distorcido, de seus próprios dilemas. 

No Brasil, a figura de Medeia também encontrou eco. Na literatura, na crítica, nas salas de aula. Professores como Marco Antônio Martins Pereira sabem que a tragédia grega não é apenas um conteúdo curricular, é uma lente poderosa para entender o humano. E ao postar aquela imagem, sem dizer nada, ele talvez tenha dito tudo. Porque há momentos em que a arte fala por si. E nesse caso, falou alto. 

A mulher da imagem, com o braço cobrindo o rosto, como quem tenta conter um universo de emoções, é mais do que uma personagem. É uma metáfora. Representa todas as vezes em que fomos levados ao limite. Todas as vezes em que a dor nos fez pensar o impensável. Todas as vezes em que a cultura nos ofereceu um espelho, e não gostamos do que vimos. 

Mas é justamente aí que reside a força da tragédia. Ela não nos conforta. Ela nos confronta. E ao fazer isso, nos transforma. 

Medeia é, portanto, mais do que uma peça. É um rito. Um mergulho. Um desafio. E a postagem do professor, silenciosa e potente, nos lembra de que a cultura não precisa sempre de palavras. Às vezes, basta uma imagem. E um nome: Eurípides. 

© Alberto Araújo

Focus Portal Cultural











 

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

POEMA 01 – FUNDAÇÃO - ONDE O MAR TOCOU A TERRA



20 VERSOS PARA NITERÓI

De 03 a 23 de novembro de 2025

 

No mês em que Niterói celebra 452 anos de existência e beleza, o Focus Portal Cultural renova sua devoção poética à cidade que respira arte e mar. Surge novamente o projeto “20 Versos para Niterói”, mais que um tributo, um gesto de afeto tecido em palavra, um canto que beija as margens da Baía de Guanabara.

Durante vinte dias, cada poema se tornará espelho e travessia: refletindo as paisagens, os rostos, as ruas e os sonhos que habitam este território de luz. Serão vinte vozes de amor traduzidas em verso, vinte maneiras de dizer “obrigado” à cidade que abraça o tempo com elegância e alma.

Em cada texto, o leitor encontrará o encanto de uma terra que flutua sobre as águas e sustenta, com poesia, o concreto e o imaginário.

Niterói, onde o vento sopra histórias indígenas, onde o sol desperta esculturas de Niemeyer e o coração pulsa no ritmo das ondas. 

“20 Versos para Niterói” é mais que uma série poética, é um itinerário de gratidão e pertencimento, uma celebração do olhar e da memória. 

De 03 a 23 de novembro, convidamos todos a caminhar conosco por essa ponte invisível entre o passado e o agora, entre o azul do céu e o brilho da palavra. 

Porque Niterói não é apenas um lugar:

é um sentimento que mora entre o horizonte e a alma.

 

Alberto Araújo

Poeta, idealizador e curador

do Focus Portal Cultural


 


POEMA 01 – FUNDAÇÃO - ONDE O MAR TOCOU A TERRA

 

No sopro do mar, um nome ecoou:

Arariboia, o que veio da luta e da luz.

Pisou firme na terra que o vento escolheu,

e ali plantou futuro, coragem e raiz.

 

A baía se abriu como abraço antigo,

 e o céu se curvou em reverência ao chão.

Niterói nasceu entre o sal e o abrigo,

cidade de alma, de sonho e de mão.

 

Quatrocentos e cinquenta e dois sóis depois,

ainda pulsa o passo do primeiro gesto.

A cidade respira o que ele deixou:

um lar de esperança, um canto honesto.

 

© Alberto Araújo

03 de novembro




domingo, 2 de novembro de 2025

ESCULPINDO O IMAGINÁRIO BRASILEIRO - ARTE EM MOVIMENTO NO FORTE DE COPACABANA


No coração pulsante do Rio de Janeiro, entre o azul do mar e a história que ecoa nas muralhas do Forte de Copacabana, acontece hoje uma celebração da forma, da matéria e da imaginação: a Exposição de Esculturas, aberta ao público das 10h às 19h. Mais do que uma mostra, é um manifesto artístico que transforma o espaço histórico em um território de criação, diálogo e encantamento. 

O Forte, com sua imponência discreta e sua vista arrebatadora, torna-se cenário e personagem dessa experiência cultural. As esculturas ocupam seus salões e pátios como se sempre tivessem pertencido ali, como se a pedra, o bronze, o ferro e o barro fossem extensões naturais da paisagem carioca. A exposição convida o visitante a caminhar entre formas que desafiam o tempo, que narram histórias e que provocam o olhar. 

MARA LÚCIA JOAQUIM - A CURADORIA COMO ATO POÉTICO 

À frente da curadoria está Mara Lúcia Joaquim, cuja sensibilidade transforma a organização da mostra em um gesto artístico por si só. Seu olhar é capaz de revelar o invisível, de destacar o detalhe que emociona, de criar conexões entre obras e espaço que transcendem o óbvio. Mara não apenas seleciona esculturas, ela compõe uma sinfonia visual, onde cada peça é uma nota, cada sala uma pausa, cada corredor uma cadência.

Seu trabalho no Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana é marcado por uma dedicação profunda à arte como ferramenta de educação, transformação e pertencimento. Nesta exposição, Mara constrói pontes entre o contemporâneo e o histórico, entre o sensível e o simbólico, entre o artista e o público. A curadoria é, aqui, um convite à escuta silenciosa das formas e à contemplação ativa da matéria.

ANTÔNIO PEREIRA - A HISTÓRIA COMO INSPIRAÇÃO 

Ao lado de Mara, Antônio Pereira atua como guardião da memória e articulador da presença artística no museu. Seu trabalho é essencial para que a arte dialogue com o espaço, respeitando sua história e ao mesmo tempo renovando seu significado. Antônio entende que o museu não é um relicário, mas um organismo vivo e a exposição de esculturas é prova disso.

Com profundo conhecimento da trajetória do Forte e de seu papel na cultura brasileira, Antônio contribui para que cada obra esteja posicionada com intenção e contexto. Ele transforma o espaço expositivo em uma narrativa fluida, onde o visitante não apenas observa, mas participa. Sua atuação é um exemplo de como a gestão cultural pode ser criativa, dinâmica e profundamente conectada com o público. 

O FORTE COMO ESPAÇO DE CRIAÇÃO

A escolha do Forte de Copacabana como sede da exposição não é casual, é simbólica. O local, que já foi bastião militar, hoje se abre à arte como forma de resistência e renovação. As esculturas, com suas texturas e volumes, dialogam com os canhões, com os corredores de pedra, com o horizonte que se estende sobre o Atlântico. É uma ocupação poética, onde o passado encontra o presente e a história se transforma em plataforma criativa. 

Cada obra exposta é um convite à reflexão sobre o corpo, o espaço, o tempo e a identidade. Há esculturas que evocam o feminino, outras que exploram o movimento, outras ainda que desafiam a gravidade. A diversidade de estilos e materiais revela a riqueza da produção escultórica brasileira contemporânea, e a curadoria valoriza essa multiplicidade com inteligência e afeto. 

Hoje, o Forte de Copacabana é mais do que um ponto turístico, é um centro de efervescência cultural. A Exposição de Esculturas é uma oportunidade única de vivenciar a arte em sua forma mais tátil, mais próxima, mais humana. É um passeio que emociona, que provoca, que transforma. 

Se você está no Rio, não perca a chance de visitar. Caminhe entre as obras, converse com os artistas, permita-se ser tocado pela beleza e pela força da escultura. A arte está viva, e hoje, ela respira no Forte.

 

© Alberto Araújo

Focus Portal Cultural





 

QUANDO O MÊS COMEÇA


O mês começa como uma página em branco, mas já com perfume de possibilidades. Em Icaraí, o sol parece mais curioso, espiando entre nuvens como quem quer saber o que será escrito. Há uma vibração diferente no ar, como se o tempo estivesse pronto para dançar.

Começar é sempre um ato de coragem. É dizer sim ao desconhecido, é abrir portas que ainda não existem. O mês novo não traz promessas, mas oferece terreno fértil. Cabe a nós plantar. Cabe a nós escolher o que floresce. E há beleza nisso, nessa liberdade de recomeço, nesse convite à criação.

Hoje, deixo que o dia me leve. Sem pressa, sem roteiro. Apenas presença. Que o mês comece com escuta, com intenção, com poesia. Que cada manhã seja um verso, cada gesto uma estrofe, cada silêncio uma pausa cheia de sentido.

Porque viver é isso: escrever-se de novo, mesmo sem saber o fim. E que este mês seja escrito com alma grande.

@ Alberto Araújo


 

QUANDO O MÊS SE DESPEDE


O mês chega ao fim como quem recolhe os últimos fios de luz do entardecer. Há uma melancolia suave no ar, não de tristeza, mas de reverência. Em Icaraí, o mar parece mais lento, como se também estivesse se despedindo. As ondas tocam a areia com a delicadeza de quem sabe que tudo passa, mas nada se perde.

Os dias vividos se acomodam na memória como livros lidos, alguns intensos, outros breves, todos necessários. O tempo, esse artesão invisível, moldou silêncios, encontros, esperas. E agora, ao fechar o ciclo, há uma pausa que pede escuta. O mês não termina com ponto final, mas com reticências. Porque sempre há algo que fica: um gesto, uma palavra, uma sensação que ainda pulsa.

É tempo de agradecer. Pelo que veio e pelo que não veio. Pelo que foi leve e pelo que ensinou com peso. É tempo de recolher-se um pouco, como quem junta conchas na areia, sabendo que cada uma carrega um som do mar. Que o mês que se despede leve o que já não serve, e que o novo venha com espaço para florescer.

@ Alberto Araújo

 

DOMINGO DE ENTREGA

Hoje é domingo, e o dia desperta com uma suavidade que parece pedir entrega. Em Icaraí, o mar está calmo, quase contemplativo, e o céu se estende como uma tela em branco, esperando por traços de silêncio e descoberta. Há uma paz que não se explica, mas se sente, como se o mundo tivesse decidido suspender os ruídos só para que a alma pudesse respirar. 

Clarice Lispector, com sua escrita que é mergulho e espelho, nos convida: “Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.” E talvez seja esse o chamado do domingo: render-se. Não como quem desiste, mas como quem confia. Como quem entende que há beleza no desconhecido, e que o controle é, muitas vezes, uma ilusão que nos impede de viver por inteiro.

Hoje, deixo que o dia me leve. Sem planos rígidos, sem expectativas pesadas. Apenas presença. Apenas escuta. Apenas entrega. Porque há algo de sagrado no domingo,  ele não exige, ele acolhe. Ele não cobra, ele oferece. E nesse espaço de acolhimento, tudo pode acontecer. 

É dia de mergulhar. No livro que espera na estante. Na conversa que ficou para depois. No descanso que o corpo pede. Na arte que insiste em nascer. Na fé que ainda pulsa, mesmo que tímida. Porque viver é também isso: permitir-se não saber, e mesmo assim seguir. 

Que neste domingo você se renda ao instante. Que mergulhe no que ainda não entende. Que encontre paz no não-planejado, e que o dia, mesmo quieto, seja cheio de sentido. 

Obs. Assista ao vídeo com Clarice Lispector 

© Alberto Araújo 

 


sábado, 1 de novembro de 2025

AS SEIS OBRAS ESSENCIAIS DE FILOSOFIA E LITERATURA DE MATEUS SALVADORI

O Professor Mateus Salvadori sugere uma lista de seis livros fundamentais que todo leitor, interessado em aprofundar-se em questões filosóficas e na condição humana, deveria ler ao menos uma vez na vida. A seleção mistura grandes clássicos da literatura com tratados centrais da filosofia, abrangendo temas que vão desde a moral estoica até o existencialismo radical. 

Abaixo, a lista completa com uma breve sinopse de cada obra:

1. A Montanha Mágica

Autor: Thomas Mann 

Sinopse: Neste romance filosófico, o jovem engenheiro Hans Castorp visita seu primo em um sanatório para tuberculosos nos Alpes Suíços. Sua estadia de três semanas se estende por sete anos. O sanatório serve como um microcosmo da Europa pré-Primeira Guerra Mundial, onde Castorp se envolve em intensos debates ideológicos e faz uma profunda jornada de amadurecimento, refletindo sobre o tempo, a doença e o fascínio pela morte em meio à decadência civilizatória.


2. Cartas a Lucílio

Autor: Sêneca

Sinopse: Uma das fontes mais importantes do Estoicismo, esta obra é uma compilação de 124 cartas escritas pelo filósofo romano Sêneca ao seu amigo Lucílio. As cartas funcionam como ensaios e um guia prático para a vida virtuosa. Sêneca aborda temas essenciais como a busca pela ataraxia (tranquilidade da alma), a correta gestão do tempo, a importância da moderação dos desejos e a forma de lidar com a adversidade e o medo da morte. 

3. Os Miseráveis

Autor: Victor Hugo

Sinopse: Um vasto e emocionante painel da França do século XIX. A trama principal segue a jornada de Jean Valjean, um ex-condenado que busca a redenção após roubar um pão, enquanto é implacavelmente perseguido pelo inspetor Javert. O romance explora profundamente a justiça social, a moralidade, o amor e o sacrifício, questionando a rigidez da lei em contraste com a miséria humana e a necessidade de misericórdia. 

4. Leviatã

Autor: Thomas Hobbes 

Sinopse: Considerado o texto fundador da filosofia política moderna. Hobbes argumenta que o homem, em seu estado de natureza, vive em constante "guerra de todos contra todos". Para garantir a paz e a segurança, os indivíduos formam um Contrato Social, transferindo todo o poder a uma autoridade soberana absoluta, o Leviatã (o Estado). A obra justifica a necessidade de um poder central forte para evitar o caos e permitir a vida em sociedade.

5. Guerra e Paz

Autor: Liev Tolstói 

Sinopse: Esta obra-prima entrelaça o destino de cinco famílias aristocráticas russas com o cenário das Guerras Napoleônicas, entre 1805 e 1812. Tolstói alterna descrições de batalhas históricas com o drama social e pessoal de seus personagens. O autor utiliza o contexto histórico para explorar profundas questões filosóficas sobre o determinismo histórico, o livre-arbítrio e a busca individual pelo sentido da vida em um mundo de grandes conflitos. 

6. O Ser e o Nada

Autor: Jean-Paul Sartre 

Sinopse: Este é o tratado ontológico que estabelece as bases do existencialismo de Sartre. A ideia central é que "a existência precede a essência", ou seja, o ser humano nasce como "nada" e é inteiramente responsável por criar seu próprio significado através de suas escolhas. Sartre define o ser humano como o Ser-para-si (consciência) e os objetos como o Ser-em-si (estático). O livro conclui que o homem está "condenado a ser livre", experimentando angústia diante da total responsabilidade por sua existência. 

A lista de leituras essenciais compilada pelo Professor Mateus Salvadori é um convite poderoso à reflexão aprofundada sobre a complexidade da existência humana. Ao unir obras-primas da literatura (como A Montanha Mágica, Os Miseráveis e Guerra e Paz) com tratados fundamentais da filosofia (Cartas a Lucílio, Leviatã e O Ser e o Nada), o professor ressalta a importância de se abordar as grandes questões da vida por múltiplas perspectivas. 

Os títulos selecionados servem como pilares para a compreensão da história do pensamento, desafiando o leitor a confrontar temas universais: a busca pela paz interior em Sêneca, a fundamentação da ordem social em Hobbes, a luta pela redenção e justiça em Victor Hugo, a exploração da angústia da liberdade em Sartre, a meditação sobre o tempo e o destino em Mann e Tolstói. 

Em suma, esta é uma curadoria que não apenas educa, mas que transforma, fornecendo as ferramentas intelectuais e emocionais necessárias para decifrar a si mesmo e o mundo ao redor. 

© Alberto Araújo

Focus Portal Cultural




 

A CONSAGRAÇÃO DA DELICADEZA - PROSA POÉTICA DE ALBERTO ARAÚJO - HOMENAGEM AO MAESTRO PIANISTA E ACADÊMICO JULIO ENRIQUE GÓMEZ

(Clicar na imagem para assistir ao vídeo)

​No Dia de Todos os Santos, o silêncio do feriado foi preenchido por um som que não veio de uma orquestra distante, mas de um toque íntimo e pessoal. Na tela do meu WhatsApp, surgiu o Maestro Julio Enrique Gómez, presenteando-me com mais do que um vídeo: uma epifania musical. E é por essa partilha generosa, por essa ponte de ternura que ele lançou até mim, que esta prosa poética nasceu, não como crítica, mas como honraria sincera. 

​A peça escolhida? A Ave Maria de Johann Sebastian Bach e Charles Gounod é uma das composições mais famosas e gravadas sobre o texto em latim da prece Ave Maria. A Ave Maria também chamada de Saudação Angélica, é uma oração que saúda a Virgem Maria baseada nos episódios da Anunciação e da Visitação do Anjo Gabriel que está em Lucas – (1:28-42).

Não há no repertório sacro uma melodia que melhor traduza a paz que supera todo entendimento. E o Maestro Gomez não a executou; ele a sussurrou ao piano. Sua arte transformou a madeira e o metal em um relicário sonoro. Cada nota não era apenas oitava ou semitom, mas uma lágrima contida, uma vela acesa, um joelho que se dobra em gratidão. Era a voz da Virgem cantada pelas teclas.

​A cena, que me roubou a respiração e me prendeu em um instante eterno, era a de suas mãos. Ah, as mãos do Maestro! Você descreveu com a precisão de um verso: elas pareciam plumas no teclado. Essa imagem carrega a quintessência da sua arte. Não havia peso, nem esforço, apenas a levitação da técnica a serviço da alma. Era a delicadeza em sua forma mais pura, as plumas, leves e etéreas, pousando sobre as teclas para despertar a memória do éter e do celeste. Em vez de percutir, ele acariciava o som, extraindo da pesada estrutura do piano apenas o suspiro, o murmúrio, a oração.

​Essa Ave Maria particular, tecida pela mão de seda de Júlio Gomez, fez do meu dia uma capela. A música tornou-se um hino aos Santos de minha história, aqueles que me guiaram, me amaram, e cuja bondade se perpetua, invisível, mas palpável. O Dia de Todos os Santos é uma celebração da santidade comum, do heroísmo discreto. E o Maestro, com a sua versão de Gounod, consagra essa ideia. Ele não toca para um público vasto e disperso, mas para a única alma que ele deseja tocar, seja ela a minha, seja a de quem mais o escute. 

​É nesta intimidade compartilhada que reside a força do impacto. Ele me fez um presente. E este texto, que transborda o encantamento inicial, é a minha devolução em gratidão. Esta prosa é a tentativa de dar forma às cores que sua música pintou na tela da minha emoção: o azul do manto, o dourado da luz eterna, o branco da paz. 

​O vídeo do Maestro Júlio Gomez é um manifesto contra o ruído. É um lembrete de que a beleza está na subtração, naquilo que se faz com a máxima reverência e cuidado. Seus dedos, como plumas, nos ensinam que a força da arte não está no estrondo, mas na precisão do toque suave. Ele nos convida a sermos mais gôndolas e menos navios de guerra no mar turbulento do mundo. A flutuarmos sobre as águas da vida, guiados pela luz suave da fé e da memória. 

​Ao me enviar esta obra, o Maestro não só me homenageou com sua confiança, mas também me incumbiu de um silêncio. Um silêncio que, depois da última nota, ecoou a certeza de que a arte é a mais alta forma de diálogo com o sagrado. A sua "Ave Maria" não foi o final de uma performance; foi o início de uma oração compartilhada, uma bênção que se estendeu do seu piano à minha alma, neste dia dedicado à luz de todos os que foram bons.

​Obrigado, Maestro. A sua delicadeza é a nossa santidade.


© Alberto Araújo

Focus Portal Cultural







 

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

CARTA ABERTA DO FOCUS PORTAL CULTURAL À BIBLIOTECA NACIONAL DO BRASIL – PARABENIZANDO PELOS 215 ANOS

Ao corpo diretivo, servidores, colaboradores e frequentadores da Biblioteca Nacional, 

Em 29 de outubro, dia memorável, o Focus Portal Cultural vem a público expressar sua mais profunda admiração e reconhecimento pelos 215 anos da Biblioteca Nacional do Brasil, uma das mais importantes instituições culturais do país e da América Latina. 

Fundada em 1810, a Biblioteca Nacional não é apenas um edifício majestoso no coração do Rio de Janeiro. É um farol de conhecimento, guardiã de nossa memória coletiva, e um espaço onde o passado, o presente e o futuro se encontram em páginas, manuscritos, imagens e sons. Seu acervo monumental, que ultrapassa nove milhões de itens, é testemunho da riqueza intelectual e artística de nosso povo. 

Ao longo de mais de dois séculos, a Biblioteca Nacional tem sido palco de descobertas, pesquisas, encontros e inspirações. É ali que estudantes encontram suas primeiras fontes, que escritores se alimentam de história, que pesquisadores desvendam tesouros esquecidos, e que cidadãos comuns se conectam com a essência da cultura brasileira.

Neste aniversário especial, celebramos não apenas a longevidade da instituição, mas sua vitalidade. A apresentação histórica da Orquestra Sinfônica Nacional da Universidade Federal Fluminense (OSN UFF), realizada no saguão da Biblioteca, é prova viva de que a cultura pulsa forte entre suas colunas. Sob a regência do maestro Rafael Barros Castro, os sons de Villa-Lobos, Guerra-Peixe, Ary Barroso, Ernesto Nazareth e Astor Piazzolla ecoaram como uma ode à brasilidade e à diversidade musical que nos define.

A Biblioteca Nacional é mais do que um espaço físico, é um símbolo de resistência, de acesso democrático ao saber, e de valorização da cultura em todas as suas formas. Em tempos de transformações aceleradas, ela permanece como um porto seguro para quem busca profundidade, reflexão e autenticidade.

 

O Focus Portal Cultural, por meio desta carta, parabeniza cada pessoa que faz parte dessa história: os bibliotecários que cuidam dos acervos com zelo, os pesquisadores que ampliam nosso entendimento do mundo, os gestores que mantêm viva a missão institucional, e os visitantes que, ao cruzarem suas portas, reafirmam a importância da cultura como bem essencial.

 

Que os próximos anos sejam de ainda mais inovação, preservação e celebração. Que a Biblioteca Nacional continue sendo referência mundial em gestão de acervos, promoção da leitura, incentivo à pesquisa e difusão do patrimônio cultural brasileiro. 

Recebam nosso abraço respeitoso e entusiasmado. Viva a Biblioteca Nacional! Viva a cultura brasileira! 

Com admiração e compromisso,

 

Alberto Araújo

Editor-chefe – Focus Portal Cultural