Há mulheres que escrevem com tinta. Outras, com luz. Socorro Cavalcanti escreve com raízes e asas.
Raízes que mergulham fundo na terra nordestina, onde a memória é feita de sol, vento e resistência. Asas que se abrem sobre o mundo, levando consigo palavras bordadas de sentimento, história e lucidez. Sua escrita não é apenas expressão, é extensão da alma, é gesto de quem cultiva o tempo com delicadeza e coragem.
Nascida em Mossoró, cidade que carrega em seus alicerces a bravura de mulheres como Celina Guimarães Viana, Helenita Castro Soares, Edna Duarte Dantas e a poesia de tantos que fizeram da palavra um ato de resistência, Socorro é filha do sertão e do saber. Sua voz não se impõe, ela se insinua. Chega como brisa, mas permanece como vento forte. É dessas vozes que não se calam porque são essenciais. Sua escrita é feita de escuta, de observação, de afeto. É uma escrita que não grita, mas que ecoa. Que não se exibe, mas que se revela.
Autora Homenageada de Honra da Rede Sem Fronteiras – presidente Dyandreia Portugal, na 95ª Feira do Livro de Lisboa.
Desde os tempos em que escrevia contos para o programa de rádio de José Maria Madrid, Socorro já intuía que a palavra tem poder. Não o poder da imposição, mas o da transformação. E foi com esse espírito que ela construiu uma trajetória múltipla e luminosa: socióloga, professora universitária, gestora pública, escritora. Uma mulher que transita entre o saber acadêmico e a sabedoria popular com a leveza de quem conhece os dois lados da ponte.
Seus livros: Três Mulheres e Dois Homens Emblemáticos, Discursos e Palestras, Sentimentos Retratados, são mais que obras: são testemunhos. Neles, Socorro não apenas narra, ela revela. Revela o que pulsa por trás dos discursos, o que vibra nas entrelinhas, o que resiste nos silêncios. Sua escrita é feita de escuta ativa, de respeito pelo outro, de compromisso com a verdade. É uma escrita que não se contenta com o óbvio, ela busca o essencial.
Na Feira do Livro de Lisboa, quando lançou suas obras no estande da Rede Sem Fronteiras, foi como se a literatura brasileira ganhasse um novo sopro lusófono. Incentivada por Dyandreia Portugal, Socorro expandiu sua escrita para novos estilos, sem jamais perder a essência: a escuta do outro, o compromisso com a verdade, o respeito pela memória. Sua presença ali não foi apenas literária, foi simbólica. Representou a travessia de uma autora que carrega o Brasil profundo em cada linha que escreve.
Mas Socorro não é só palavra. É também ação. Foi vice-diretora da Faculdade de Serviço Social da UERN, coordenou projetos com UNICEF, FUNABEM, FCBIA, sempre com foco na infância, na adolescência, na dignidade. Sua atuação acadêmica e social é tão profunda quanto sua literatura, e talvez por isso uma complemente a outra com tanta harmonia. Ela não separa o pensar do agir, nem o sentir do transformar. Sua trajetória é feita de pontes, não de muros.
Na cena cultural, Socorro é presença firme e generosa. Sócia efetiva da Academia de Letras e Artes do Ceará (ALACE), presidente de honra da Academia Feminina de Letras e Artes Mossoroense (AFLAM), membro de diversas entidades culturais. E num gesto que revela sua alma, doou um imóvel à AFLAM para abrigar seu acervo: livros, troféus, medalhas, documentos. Um templo da memória. Um gesto que transcende o tempo e transforma o espaço em permanência.
Mas o que mais impressiona em Socorro é sua capacidade de fazer da palavra um gesto de acolhimento. Ela não escreve para se mostrar. Escreve para iluminar. E ao iluminar o outro, ilumina a si mesma. Sua escrita é como uma lamparina acesa na varanda da casa, não ofusca, mas guia. Não cega, mas revela.
Há algo de ancestral em sua escrita. Algo que vem das mulheres que bordavam histórias à beira do fogão, dos homens que contavam causos sob a luz do candeeiro, dos jovens que sonhavam com um mundo mais justo. Socorro é herdeira dessa tradição, e ao mesmo tempo, é sua renovadora. Ela não repete o passado, ela o reinventa. E ao reinventá-lo, o preserva.
Ler Socorro é como caminhar por uma estrada de terra onde cada pedra tem uma história, cada árvore tem um segredo, cada sombra tem uma lembrança. É como ouvir uma cantiga antiga que fala de amor, de luta, de esperança. É como visitar um museu vivo, onde cada objeto tem alma, cada palavra tem destino.
Tenho várias obras de Socorro Cavalcanti aqui em minha biblioteca. Guardo e releio com amor e atenção. Cada leitura é uma nova travessia, uma nova escuta, uma nova luz. Seus livros não repousam nas estantes, eles vivem comigo, me acompanham, me ensinam.
Tive o prazer de conhecê-la pessoalmente em um evento da Rede Sem Fronteiras aqui no Rio de Janeiro. Desde essa época, o nosso carinho tem reciprocidade. Socorro é dessas presenças que permanecem, na memória, na palavra, no afeto.
E é por isso que esta crônica existe. Para dizer que há mulheres que escrevem com tinta. Outras, com luz. Mas Socorro Cavalcanti escreve com raízes e asas.
Esta é uma homenagem do Focus Portal
Cultural, escrita por Alberto Araújo, em reverência à mulher que transforma
memória em poesia e cultura em voo.
Maria do Socorro Cavalcanti, nascida em Mossoró, é escritora, professora universitária e cientista social brasileira. É sócia efetiva da Academia de Letras e Artes do Ceará (ALACE), onde ocupa a Cadeira 38, cujo Patrono é Alberto Santiago Galeno.
Sua trajetória é marcada pela rara combinação entre rigor acadêmico, sensibilidade literária e compromisso social.
Desde a adolescência, quando escrevia pequenos contos para o programa de José Maria Madrid, na Rádio Difusora de Mossoró, já demonstrava vocação para a palavra. Mais tarde, dedicou-se a temas sociais, à poesia e, a partir de 2001, mergulhou em pesquisas que resultaram no livro Resgate de uma Época – Dom Eliseu Simões Mendes, lançado em 2005, tanto em Mossoró, durante a Festa de Santa Luzia, quanto em Assu, onde inaugurou a praça e o monumento em homenagem a Dom Eliseu Simões Mendes.
Como cientista social, integra a Agência de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste (ADESNE), exercendo a função de diretora de assuntos científicos e tecnológicos. Sua vida profissional é marcada por uma atuação socioeducacional intensa:
Vice-diretora da Faculdade de Serviço Social da UERN; Professora da UERN nas Faculdades de Serviço Social, Ciências Econômicas e Ciências Sociais; Coordenadora do CEMIC – Centro de Estudos do Menor e Integração da Comunidade (convênio UNICEF/UERN); Coordenadora da equipe técnica da FUNABEM – Região Nordeste; Integrante da equipe pró-elaboração do Sistema de Avaliação dos CEMIC’s (convênio UNICEF/UFPE/FUNABEM); Coordenadora da equipe de supervisores da FCBIA – Fundação Centro Brasileiro para a Infância e Adolescência.
Socorro é presença firme e generosa na cena cultural:
Sócia efetiva da ALACE;
Presidente de honra da Academia Feminina de Letras e Artes Mossoroense (AFLAM);
Sócia efetiva da Academia Feminina de Letras do Ceará (AFELCE);
Sócia correspondente da Academia Apodiense de Letras (AAPOL);
Integrante da Associação Cearense de Escritores (ACE).
Seu gesto de doar um imóvel à AFLAM para abrigar seu acervo — livros, troféus, medalhas, documentos — é símbolo de sua generosidade e de sua consciência da importância da memória.
RECONHECIMENTOS
Sua trajetória foi celebrada em diversas homenagens:
Sala de pesquisa da Pró-Reitoria de Extensão da UERN batizada com seu nome;
Medalha Mérito Universitário (ACEU/PANORAMA/DCE);
Placa de homenagem da Faculdade de Serviço Social da UERN;
Troféu Carlos Drummond de Andrade (2012), em Itabira, Minas Gerais.
OBRAS
Entre suas obras publicadas, destacam-se:
Prostituição na perspectiva social
Bases doutrinárias da política social
Sistema de avaliação dos CEMIC’s do Nordeste brasileiro
Inquérito social constata realidade da Rua da Flores
Resgate de uma Época – Dom Eliseu Simões Mendes
América Rosado na Cadeira de Jerônimo Vingt-un Rosado Maia
Três Mulheres e Dois Homens Emblemáticos
Discursos e Palestras
Sentimentos Retratados
Na Feira do Livro de Lisboa, ao lançar suas obras no estande da Rede Sem Fronteiras, sua presença foi um sopro de brasilidade em terras lusitanas. Incentivada por Dyandreia Portugal, expandiu sua escrita para novos estilos, sem jamais perder a essência: a escuta do outro, o compromisso com a verdade, o respeito pela memória.
Ler Socorro é como caminhar por uma estrada de terra onde cada pedra tem uma história, cada árvore tem um segredo, cada sombra tem uma lembrança. Sua escrita é herdeira da tradição oral nordestina, mas também é renovadora, capaz de transformar memória em poesia e cultura em voo.
Esta é uma homenagem do
Focus Portal Cultural,
escrita por © Alberto Araújo


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