No
dia 5 de agosto de 1914, nascia em Campos dos Goytacazes, no interior do Rio de
Janeiro, José Cândido de Carvalho, um dos grandes nomes da literatura
brasileira do século XX. Jornalista, advogado e, sobretudo, romancista de
talento ímpar, ele eternizou-se nas letras nacionais com sua obra-prima "O
Coronel e o Lobisomem" (1964), uma sátira genial aos costumes do Brasil
rural e aos delírios do poder.
A
escrita de José Cândido era viva, espirituosa, profundamente enraizada no
imaginário popular. Seu estilo, recheado de humor, ironia e invenção
linguística, influenciou gerações de escritores e se consolidou como uma das
expressões mais criativas da literatura regionalista brasileira.
Além
de escritor consagrado, foi membro da Academia Brasileira de Letras, onde
ocupou a cadeira nº 31, sucedendo Otávio Tarquínio de Souza.
Hoje,
no quadro EFEMÉRIDES do Focus Portal Cultural, o jornalista Alberto Araújo
apresenta e celebra a vida e a obra desse contador de causos geniais, cuja pena
transformou o sertão em poesia, em fábula e em eternidade.
@ Alberto Araújo
JOSÉ
CÂNDIDO DE CARVALHO — O INVENTOR DE MUNDOS ONDE LOBISOMEM VIRA CORONEL
Nasceu
num 05 de agosto de 1914, em Campos dos Goytacazes, mas poderia ter nascido
numa página de cordel, entre um aboio e uma gargalhada. Filho legítimo das
palavras bem dobradas, José Cândido de Carvalho nunca aceitou que o mundo fosse
só o que os olhos veem. Para ele, havia sempre um pouco de exagero na realidade
e um bocado de verdade nas mentiras bem contadas.
Advogado
por formação, jornalista por vocação e escritor por destino, José Cândido não
escrevia livros: armava barracas de feira com as frases, empoleirava galinhas
nas vírgulas, punha os ventos para conversar com coronéis e transformava a seca
em metáfora. Tinha nas letras um modo de desafiar a lógica e acarinhar o riso.
Criou personagens que falavam como o povo, mas pensavam como filósofos
escondidos em cachaçarias.
Seu romance “O Coronel e o Lobisomem” não é apenas um livro: é um retrato delirante de um Brasil onde o poder se mascara de bravata e a fantasia desafia a gravidade do cotidiano. Ali, o Coronel Ponciano de Azeredo Furtado não é homem, é tempestade literária, é prosa que levanta poeira, é mitologia em carne de sertanejo.
E
quem foi esse José Cândido? Um domador de frases selvagens. Um cronista que
escrevia como quem assobia, mas com a precisão de quem borda. Membro da
Academia Brasileira de Letras, mas nunca refém da pompa. Preferia a voz da rua,
o cheiro da terra molhada, o eco dos sinos nas madrugadas fluminenses.
Partiu
em 1º de agosto de 1989, quatro dias antes de seu aniversário de 75 anos —
talvez para não ouvir ninguém cantar parabéns com voz desafinada. Mas deixou
como herança um Brasil falado com mais graça, um idioma reinventado por dentro,
um estilo que sambava no papel.
José
Cândido de Carvalho não morreu. Ele se escondeu em alguma frase que ainda não
foi lida. Ou num lobisomem que ainda não virou coronel.
©
Alberto Araújo
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