Não há quem tenha embarcado ou desembarcado no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, ao longo de quatro décadas, sem ser embalado por aquela voz aveludada, firme e acolhedora: Íris Lettieri.
Sua dicção clara não apenas informava partidas e chegadas; ela conduzia destinos. Entre malas, abraços apressados e despedidas choradas, sua voz era o fio de serenidade em meio ao caos das viagens.
Agora, em 28 de agosto de 2025, silencia para sempre a mulher que se tornou patrimônio sonoro da cidade. Um infarto fulminante a levou, aos 84 anos, deixando o vazio de um saguão sem anúncios vazio não de voos, mas de presença.
Íris não foi apenas “a voz do aeroporto”. Foi a primeira mulher a enfrentar as câmeras e microfones do telejornalismo brasileiro, quando ainda se dizia que aquele espaço não lhes pertencia. Foi também locutora de rádio, apresentadora, cantora eventual, intérprete de comerciais que marcaram época. Em tudo, deixou uma marca indelével: a sofisticação do timbre, o respeito à palavra, a elegância de anunciar.
Nascida em 1941, filha de um locutor e
de uma professora de música, parecia predestinada ao som. Trouxe para o
microfone não apenas técnica, mas arte e, acima de tudo, humanidade.
O RIOgaleão, em nota, lamentou sua partida. Mas talvez nem precise: cada passageiro que ouviu sua voz, mesmo sem saber seu nome, carrega um pedaço dela na memória afetiva. Afinal, não é qualquer voz que atravessa décadas e se torna símbolo de um lugar.
Hoje, os alto-falantes do mundo
parecem mais silenciosos. E se o céu é também um grande aeroporto, podemos
imaginar que, do outro lado, Íris já anuncia calmamente:
"Senhoras e senhores passageiros,
bem-vindos à eternidade."
@Alberto Araújo
Nenhum comentário:
Postar um comentário