O artigo de Dyandreia Portugal, presidente mundial da Rede Sem Fronteiras, publicado no Jornal Terra da Gente da jornalista e editora Maluma Marques, páginas 46 e 47, na edição digital nº 289 – mês de agosto de 2025 traz à tona uma reflexão profunda sobre o papel transformador das Feiras Literárias no Brasil e no cenário internacional. Não se trata apenas de um panorama descritivo: sua análise descortina a dimensão cultural, social e política desses encontros que, cada vez mais, se afirmam como espaços privilegiados de integração entre o livro, o autor e o leitor.
Segundo a autora, as Feiras Literárias deixaram de ser eventos pontuais para se tornarem verdadeiras vedetes do nosso circuito cultural. Elas movimentam milhões em investimentos, mobilizam editoras, patrocinadores, órgãos de classe e, sobretudo, conquistam o público em sua pluralidade. O impacto é inegável: ao abrir portas para o contato direto com a literatura, essas feiras promovem não apenas a leitura, mas uma vivência coletiva que educa, emociona e amplia horizontes.
O que Dyandreia ressalta é instigante: em um país cuja média de leitura anual por pessoa é de apenas 2,04 livros, como aponta a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 2024, temos, paradoxalmente, um dos cenários mais férteis em termos de realização de feiras, bienais, salões e festivais literários. São mais de 230 eventos ativos, em todas as regiões do Brasil, provando que, apesar dos baixos índices estatísticos, há uma energia cultural pulsante que insiste em afirmar a importância do livro.
Outro ponto fundamental destacado é a diversidade de públicos e propostas. As Feiras Literárias extrapolam a função comercial da indústria do livro e assumem papéis sociais, educativos e artísticos. Elas se transformam em arenas de cidadania, em que a literatura se entrelaça a outras manifestações culturais, promovendo diálogos com música, artes visuais, teatro e debates contemporâneos. É esse caráter multifacetado que confere às feiras o status de celebrações democráticas da cultura.
Dyandreia, no entanto, não deixa de apontar desafios: a necessidade de descentralizar o poder cultural, garantindo espaço para autores independentes, pequenas editoras e profissionais que não encontram visibilidade nos grandes circuitos. Ao mesmo tempo, ressalta a urgência de que as feiras não se esgotem em si mesmas como espetáculos passageiros, mas que fortaleçam a formação de leitores e a continuidade de políticas de fomento à leitura.
Nesse contexto, a Rede Sem Fronteiras desempenha um papel vital. Com mais de 12 anos de atuação em mais de 30 países, a entidade tem promovido a difusão da cultura lusófona e da língua portuguesa no mundo. Ao levar autores brasileiros para os grandes palcos internacionais, de Frankfurt a Guadalajara, de Paris a Lisboa, a Rede garante que a literatura brasileira não apenas circule, mas conquiste reconhecimento. O lema “Juntos somos mais fortes” reflete a proposta de uma ação multicultural e inclusiva, onde escritores, artistas e produtores culturais encontram espaço para mostrar sua voz.
O que se percebe, a partir da análise de Dyandreia Portugal, é que as Feiras Literárias representam muito mais do que eventos festivos: elas são instrumentos de transformação social. Ao aproximar o livro do cidadão comum, ao criar pontes entre gerações, ao estimular a curiosidade e o prazer da leitura, essas feiras cultivam sementes que se refletem na educação, na cidadania e na própria identidade cultural de um povo.
Assim, fica o convite à reflexão: participar de uma Feira Literária é mais do que visitar estandes ou adquirir livros. É um ato de pertencimento cultural, um gesto de resistência em um mundo cada vez mais fragmentado e digitalizado. É, sobretudo, um exercício de cidadania cultural, como tão bem nos lembra Dyandreia Portugal.
© Alberto Araújo
Focus Portal Cultural
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