“No entardecer, a voz de Euclides chegou pelas mãos de um amigo: ‘O sertanejo é, antes de tudo, um forte.’ E meu coração nordestino respondeu — sim, porque no sertão a alma nunca se rende.”
Ao entardecer, quando a vida já vai se aquietando e as sombras se deitam sobre as ruas, abri o Facebook e encontrei um presente inesperado. Ali estava a imagem de Euclides da Cunha, o genial escritor brasileiro, compartilhada pelo meu amigo e admirável professor Marco Antônio Martins Pereira.
Na tela, brilhava a frase que atravessa o tempo e a geografia como um raio certeiro: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte.” Foi o próprio professor quem lembrou que essas palavras abrem a monumental obra “Os Sertões”, testemunho vivo da resistência do homem nordestino.
Li aquelas linhas como quem recebe um chamado. De repente, não era apenas uma citação literária, mas um eco de minha própria origem. Senti que era um tiro certeiro no coração — não de dor, mas de reconhecimento.
O sertanejo, meu conterrâneo, é assim: guarda dentro de si uma grandeza que não se aprende nos livros, mas que Euclides soube captar em palavras imortais. O sertanejo é forte no silêncio. Forte na esperança. Forte diante do sol que racha, da seca que insiste, da chuva que falta. Não é força de músculos, é força de alma. É a coragem de plantar mesmo quando o chão não promete. É sorrir mesmo quando o vento sopra áspero.
É seguir, sempre seguir, porque
desistir nunca coube no coração do sertão.
Na tela iluminada, Euclides me falou.
Marco Antônio me lembrou.
E eu, menino nordestino, ouvi meu
sangue responder:
— Sim, antes de tudo, somos fortes.
São fortes porque enfrentam a seca e o excesso, o sol inclemente e a chuva tardia. São fortes porque constroem lares com as próprias mãos, levantam sonhos com barro e esperança, e ainda têm tempo de sorrir diante das durezas do mundo.
Naquele instante, diante da tela iluminada, percebi que o entardecer havia ganhado outro sentido: era como se Euclides da Cunha e Marco Antônio, cada um a seu modo, tivessem me lembrado de onde vim e de quem sou. Sou parte dessa linhagem de homens e mulheres que, antes de tudo, aprenderam a ser fortes.
E se há um coração que pulsa dentro do sertão, é o coração do povo. Um coração que resiste, que sonha e que, mesmo nas agruras, continua batendo no compasso da esperança.
© Alberto Araújo
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