Hoje, ao acordar, fui surpreendido por um gesto simples, mas cheio de significado. Shirley, minha companheira de tantos dias, olhou para minha velha xícara de café, uma caneca preta, com desenhos geométricos, minha fiel parceira das manhãs e, sem cerimônia, a substituiu.
No lugar, colocou uma caneca branca,
ilustrada com uma foto do nosso casamento. Lá estávamos nós, sorrindo como se o
mundo coubesse no instante daquele “sim”. Ao me entregar a nova caneca, ela
disse com a leveza de quem carrega um segredo de vida:
— Precisamos fazer mudanças constantes. E sorriu.
Eu aceitei o café, mas confesso: meu olhar ainda buscava a xícara antiga, como quem procura um amigo no meio da multidão. Não sei explicar se era apego, costume ou apenas o peso de tantos anos dividindo o mesmo ritual.
Mas, enquanto tomava o primeiro gole, percebi o que Shirley quis dizer. As mudanças não são para apagar o que foi, e sim para lembrar que o amor também precisa de pequenas renovações.
No fundo, a xícara antiga me servia café. A nova, além do café, me serviu um retrato da vida que construímos juntos. E, convenhamos, essa é uma bebida que não esfria nunca.
© Alberto Araújo
Nenhum comentário:
Postar um comentário