segunda-feira, 25 de agosto de 2025

CRÔNICA DE ICARAÍ - @ ALBERTO ARAÚJO


As amendoeiras amanheceram vestidas de ouro. Suas folhas, que antes eram verdes e firmes, agora cintilam em tons de amarelo queimado, como se o sol tivesse descido à madrugada para pintá-las de luz. De dentro de seus galhos, os passarinhos inauguram o dia, enquanto a brisa salgada do mar de Icaraí sopra memórias sobre a cidade. 

Ali, diante do mar que parece nunca se cansar de se reinventar, estão as velhas guardiãs de pedra, a Itapuca e a Pedra do Índio. Monumentos da própria natureza, erguidos como sentinelas, lembram aos moradores e visitantes que o tempo é mais antigo que qualquer pressa humana. Quem passa por elas, seja a pé no calçadão, seja correndo com os fones nos ouvidos, talvez não se dê conta de que pisa sobre histórias ancestrais, ecoadas no rumor das ondas. 

Mais adiante, quase flutuando sobre o mar, o MAC — Museu de Arte Contemporânea, parece uma nave branca pousada no penhasco. O prédio de Oscar Niemeyer se mistura ao cenário como se fosse um farol moderno: não guia navios, mas olhares. Atrai os que procuram beleza, silêncio, contemplação. Do alto de sua rampa curva, vê-se Icaraí inteira, seus prédios espelhando o sol, suas ruas pulsando com a vida que insiste em caber entre o concreto e o infinito azul da Baía de Guanabara. 

Os habitantes de Icaraí conhecem essa coreografia. São homens e mulheres que carregam dentro de si a rotina do comércio, a pressa do trânsito, mas também o privilégio de conviver com o mar como vizinho de porta. Uns se acostumam e passam sem reparar; outros, porém, ainda param diante das amendoeiras douradas e dizem baixinho: “Que coisa bonita de se ver.”

E é assim que Icaraí se mantém: entre o espanto e o costume, entre o passado que mora nas pedras e o futuro que repousa nas linhas do museu. Enquanto isso, o mar continua,  eterno, calmo ou revolto,  a escrever sua própria crônica, que nunca termina. 

© Alberto Araújo 

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ICARAÍ, O JOVEM DE MIL ALEGRIAS

Icaraí caminha pela Zona Sul de Niterói com a elegância de um jovem que conhece seu valor. Banhado pela Baía de Guanabara, ele observa o Rio de Janeiro do outro lado, sentindo-se parte do mundo e, ao mesmo tempo, guardião das histórias de seu povo. Seu nome, herdado do tupi “Rio de Peixe Acará”, ainda carrega o eco das águas que lhe deram vida e das memórias tupinambás e de Arariboia que o moldaram. 

O bairro se mostra vibrante em sua praia extensa, sempre cheia de risos e vozes, onde o vôlei e o futebol desenham movimentos de alegria na areia dourada. Seu calçadão, à beira-mar, reflete o brilho dos arranha-céus, enquanto milhares de passos percorrem-no todos os dias, a trabalho, a passeio ou simplesmente para sentir o vento e a energia que emana de sua essência.

No coração de Icaraí, o Campo de São Bento floresce com lagos, fontes e um mercado de artesanato que transforma os fins de semana em celebração. Entre pizzarias acolhedoras e restaurantes self-service espalhados pelas ruas, Icaraí oferece sabores simples e genuínos, que aquecem corpo e alma.

Desde seus primeiros dias, cercado por pitangueiras, cajueiros e cactos, até os tempos modernos de prédios, universidades e centros de serviços, Icaraí aprendeu a se reinventar sem perder a poesia de sua existência. Ele ama profundamente seu povo: crianças que correm, jovens que caminham e famílias que compartilham suas histórias; cada sorriso e cada memória são um presente que o bairro guarda com carinho.

Icaraí é um jovem eterno, de mil amores e mil alegrias, convidando todos a descobrir a beleza de suas ruas, a calma de suas praças, a vida que se move em cada esquina. Quem passa por ele percebe: aqui, cada instante é vivido com intensidade, cada onda que toca a areia é um abraço, cada raio de sol um poema.

© Alberto Araújo 


 

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