As amendoeiras amanheceram vestidas de ouro. Suas folhas, que antes eram verdes e firmes, agora cintilam em tons de amarelo queimado, como se o sol tivesse descido à madrugada para pintá-las de luz. De dentro de seus galhos, os passarinhos inauguram o dia, enquanto a brisa salgada do mar de Icaraí sopra memórias sobre a cidade.
Ali, diante do mar que parece nunca se cansar de se reinventar, estão as velhas guardiãs de pedra, a Itapuca e a Pedra do Índio. Monumentos da própria natureza, erguidos como sentinelas, lembram aos moradores e visitantes que o tempo é mais antigo que qualquer pressa humana. Quem passa por elas, seja a pé no calçadão, seja correndo com os fones nos ouvidos, talvez não se dê conta de que pisa sobre histórias ancestrais, ecoadas no rumor das ondas.
Mais adiante, quase flutuando sobre o mar, o MAC — Museu de Arte Contemporânea, parece uma nave branca pousada no penhasco. O prédio de Oscar Niemeyer se mistura ao cenário como se fosse um farol moderno: não guia navios, mas olhares. Atrai os que procuram beleza, silêncio, contemplação. Do alto de sua rampa curva, vê-se Icaraí inteira, seus prédios espelhando o sol, suas ruas pulsando com a vida que insiste em caber entre o concreto e o infinito azul da Baía de Guanabara.
Os habitantes de Icaraí conhecem essa coreografia. São homens e mulheres que carregam dentro de si a rotina do comércio, a pressa do trânsito, mas também o privilégio de conviver com o mar como vizinho de porta. Uns se acostumam e passam sem reparar; outros, porém, ainda param diante das amendoeiras douradas e dizem baixinho: “Que coisa bonita de se ver.”
E é assim que Icaraí se mantém: entre o espanto e o costume, entre o passado que mora nas pedras e o futuro que repousa nas linhas do museu. Enquanto isso, o mar continua, eterno, calmo ou revolto, a escrever sua própria crônica, que nunca termina.
© Alberto Araújo
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ICARAÍ,
O JOVEM DE MIL ALEGRIAS
Icaraí caminha pela Zona Sul de Niterói com a elegância de um jovem que conhece seu valor. Banhado pela Baía de Guanabara, ele observa o Rio de Janeiro do outro lado, sentindo-se parte do mundo e, ao mesmo tempo, guardião das histórias de seu povo. Seu nome, herdado do tupi “Rio de Peixe Acará”, ainda carrega o eco das águas que lhe deram vida e das memórias tupinambás e de Arariboia que o moldaram.
O
bairro se mostra vibrante em sua praia extensa, sempre cheia de risos e vozes,
onde o vôlei e o futebol desenham movimentos de alegria na areia dourada. Seu
calçadão, à beira-mar, reflete o brilho dos arranha-céus, enquanto milhares de
passos percorrem-no todos os dias, a trabalho, a passeio ou simplesmente para
sentir o vento e a energia que emana de sua essência.
No
coração de Icaraí, o Campo de São Bento floresce com lagos, fontes e um mercado
de artesanato que transforma os fins de semana em celebração. Entre pizzarias
acolhedoras e restaurantes self-service espalhados pelas ruas, Icaraí oferece
sabores simples e genuínos, que aquecem corpo e alma.
Desde
seus primeiros dias, cercado por pitangueiras, cajueiros e cactos, até os
tempos modernos de prédios, universidades e centros de serviços, Icaraí
aprendeu a se reinventar sem perder a poesia de sua existência. Ele ama
profundamente seu povo: crianças que correm, jovens que caminham e famílias que
compartilham suas histórias; cada sorriso e cada memória são um presente que o
bairro guarda com carinho.
Icaraí
é um jovem eterno, de mil amores e mil alegrias, convidando todos a descobrir a
beleza de suas ruas, a calma de suas praças, a vida que se move em cada
esquina. Quem passa por ele percebe: aqui, cada instante é vivido com
intensidade, cada onda que toca a areia é um abraço, cada raio de sol um poema.
©
Alberto Araújo
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