Há homens cuja presença ultrapassa o limite do tempo e da carne, permanecendo como um eco luminoso na memória de quem os conheceu. Sávio Soares de Sousa foi um desses seres raros: jurista de carreira brilhante, escritor de talento múltiplo, trovador sensível, caricaturista espirituoso, crítico literário e cinéfilo apaixonado. Quem com ele convivia, não apenas encontrava um intelectual de vasta cultura, mas também um mestre generoso, capaz de iluminar conversas simples com referências à literatura, à música e também ao cinema, uma de suas grandes paixões.
No
compasso do tempo e na cadência da memória, o Focus Portal Cultural, dirigido
pelo jornalista Alberto Araújo, faz ecoar mais uma vez a sua série Ecos do
Parnaso, que busca preservar a chama viva de escritores, mestres e criadores
que deixaram marcas profundas no universo cultural brasileiro. Hoje, a
homenagem se volta a Sávio Soares de Sousa, cuja trajetória é sinônimo de
sabedoria, dedicação e generosidade intelectual.
SONETO AO MESTRE SÁVIO - IN MEMORIAM
Mestre
querido, a ti devo o saber,
na
tela e no papel, farol aceso,
com
tua voz ganhava o mundo peso,
fazendo
a arte em mim florescer.
No
cinema aprendi a compreender
atores,
atrizes, cada olhar, seu preço,
teu
verbo sempre claro, firme e preso
à
luz que não se apaga ao anoitecer.
Trovador
da justiça e da poesia,
na
memória ficas, sábio e amigo,
farol
da literária melodia.
E
hoje, ao recordar-te, aqui bendigo
tua
herança de cultura e de alegria:
um
mestre eterno a caminhar comigo.
©
Alberto Araújo
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Nascido em Niterói, em 18 de setembro de 1924, Sávio construiu uma trajetória exemplar no campo jurídico e literário. Bacharel em Direito pela antiga Faculdade de Direito de Niterói, ingressou no Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, onde exerceu cargos de destaque, chegando a Subprocurador-Geral de Justiça. Seu nome esteve ligado a importantes congressos, comissões e bancas examinadoras, sempre pautado pela ética e pelo compromisso com a Justiça.
Mas foi na seara da palavra que se revelou um verdadeiro operário da cultura. Jornalista, escritor e trovador, esteve à frente de seções culturais em jornais, publicou obras de peso como Ensaios de Minha Douta Ignorância, Rapsódia para Sanfona e E o Canibal Arrependido & Outros Discursos. Participou ativamente de academias de letras e movimentos literários, sendo um dos pilares da literocultura fluminense.
Sávio nos deixou em 25 de maio de 2022, aos 97 anos, mas sua memória permanece como fonte de aprendizado e inspiração. Sua importância na literocultura brasileira se manifesta tanto em seus escritos quanto na sua paixão pela Sétima Arte. Era impressionante ouvi-lo comentar sobre filmes, atores e atrizes com riqueza de detalhes, como se abrisse, diante de nós, um grande livro de imagens em movimento. Aprendi muito com esse Mestre, que unia a poesia das palavras ao encantamento do cinema, mostrando que arte e vida caminham lado a lado.
Celebrá-lo na série Ecos do Parnaso – Vozes que Não se Apagam é reafirmar que a grandeza de um homem não se mede apenas por títulos ou cargos, mas pelo quanto ele é capaz de semear cultura, amizade e sabedoria no coração de todos.
© Alberto Araújo
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