ICARAÍ — A SENHORA DO MAR QUE HABITA A LUZ
Um Canto ao Meu Lugar acolhedor
Hoje, quero falar com o coração aberto sobre o lugar que escolheu me acolher, e onde eu também me encontrei. Falo de Icaraí, este bairro que não é apenas endereço, mas abrigo de alma. Aqui, cada manhã parece nascer com mais luz, como se o sol também fosse morador antigo, abrindo as janelas do dia com carinho sobre a orla.
Há
alguns anos, foi nesta paisagem que minha vida ganhou nova moldura.
Cheguei trazendo memórias do meu chão nordestino, das margens do Velho Monge, e aqui fui recebido com o mesmo calor de uma tarde luminosa à beira-mar.
Desde
então, vivo e respiro Icaraí — com alegria, com paz, com gratidão.
E é neste cenário que compartilho os dias com minha musa Shirley, companheira de sonhos e silêncios, presença que transforma cada instante em poesia.
Juntos,
caminhamos por essa pérola de Niterói, onde o mar conversa com o céu, as pedras
contam histórias e a cidade pulsa com elegância e vida.
Icaraí
é mais que bairro — é capítulo da minha existência.
E hoje, nesta homenagem singela, quero contar um pouco da história viva desse lugar que me fez novamente menino.
Vamos juntos caminhar por suas origens, seus encantos e seu coração pulsante.
HISTÓRIA VIVA DE ICARAÍ – ONDE O TEMPO ABRAÇA O MAR
Icaraí
nasceu do encontro entre a força ancestral e a beleza natural.
Muito
antes de suas ruas ganharem nomes e suas esquinas florescerem em comércios
elegantes, esse território — hoje símbolo de nobreza urbana — era lar dos
bravos tupinambás, que habitavam a costa leste da Baía de Guanabara.
Ali, onde a água cantava em línguas indígenas e os peixes saltavam livres no leito do Rio Carahy, ecoava o som primeiro de uma terra fértil em encantos.
O nome que hoje encanta e identifica o bairro — Icaraí — vem da língua tupi: ykará 'y, a "água dos peixes-acará". É um batismo poético, ecológico, ancestral. Ainda que o rio, hoje canalizado e quase esquecido sob o concreto moderno, já não cante como antes, o nome preserva a memória líquida da sua origem.
A
história de Icaraí começa a ganhar contornos urbanos quando, em 1568, a região
foi doada ao indígena Arariboia, líder temiminó, como parte da Sesmaria dos
Índios, um gesto que misturava diplomacia, conquista e espiritualidade.
Mais tarde, no século XIX, Icaraí passa a integrar a recém-criada Vila Real da Praia Grande, que viria a se tornar Niterói — nome que também vem do tupi e significa “água escondida”. Nesse tempo, a praia era apenas um extenso areal, cercado por pitangueiras, cajueiros e vegetação de restinga, cenário quase bíblico de pureza e liberdade.
O povoamento efetivo só começa a se consolidar entre as décadas de 1840 e 1850. Daí em diante, o bairro nunca mais parou de crescer.
No início do século XX, Icaraí começa a construir sua identidade como símbolo de elegância e cultura. Em 1916, surge o imponente Hotel Balneário Casino Icarahy, verdadeiro marco de glamour à beira-mar.
Projetado por Luiz Fossati, foi palco de festas e encantamentos até que, com a proibição dos jogos no Brasil em 1946, o cassino encerra suas atividades. O edifício, porém, não desaparece: renasce como a Reitoria da Universidade Federal Fluminense, mantendo viva sua vocação para o saber e o encontro.
Na mesma época, a praia se tornava cenário de lazer e esportes. Em 1937, um trampolim de concreto armado — ousadia arquitetônica de Fossati — foi erguido sobre o mar. Por décadas, foi símbolo do espírito leve e arrojado do bairro, até ser demolido em 1965 por questões de segurança.
A partir da década de 1970, com a construção da Ponte Rio-Niterói, Icaraí consolida-se como um dos principais centros urbanos da cidade. A ponte não apenas aproximou geografias, mas também acelerou a modernização do bairro, que viu florescer uma rede de serviços sofisticada, com shoppings, clínicas, escolas, teatros, livrarias, cafés e restaurantes — tudo emoldurado por uma das orlas mais encantadoras do país.
As
pedras de Itapuca e do Índio, verdadeiros monumentos naturais, seguem guardando
segredos e lendas. São mais que rochedos: são sentinelas do tempo, eternas
testemunhas do vai-e-vem das marés e dos olhares apaixonados que atravessam as
manhãs e os crepúsculos da praia.
HOJE, ICARAÍ PULSA COMO UM DOS BAIRROS MAIS NOBRES, BELOS E COSMOPOLITAS DE NITERÓI.
Com seu comércio dinâmico, sua população diversa e suas ruas arborizadas, abriga um dos maiores Índices de Desenvolvimento Humano do estado. É também o bairro mais populoso da cidade, reunindo jovens, idosos, famílias e profissionais de todas as áreas, num convívio harmonioso entre o moderno e o tradicional.
Mas
o que faz de Icaraí mais que um bairro é seu espírito poético e vibrante.
É o calçadão onde todos caminham como se andassem por dentro de um quadro vivo.
É
o cheiro de mar misturado com o som de passos apressados.
É
o pôr do sol que pinta a Baía de ouro e faz a cidade parecer eterna.
ICARAÍ
NÃO É SÓ UM LUGAR NO MAPA
É
um estado de alma.
É onde o passado abraça o presente e ambos repousam aos pés do mar.
Há lugares que são mapas de poesia antes mesmo de nascerem em um nome. Icaraí é um desses. Não é apenas um bairro é uma entidade viva, uma senhora vestida de sol e brisa, com os pés molhados pelas ondas da Baía da Guanabara e os olhos voltados ao Cristo Redentor. O Bairro Icaraí caminha entre o urbano e o divino. Sabe ser elegante sem ser distante, sabe ser aconchego sem perder a imponência. Seus dias amanhecem como versos de Cecília e suas noites repousam com a paz dos cantos de Vinícius.
No coração de Niterói, Icaraí é o verso mais bonito da cidade, onde a beleza não é vaidade, é vocação.
Icaraí
não é apenas um bairro.
É
uma mulher de sal e brisa,
que
acorda todas as manhãs vestida de horizonte,
com
os cabelos soprados pelo vento da Guanabara
e
o olhar repousando no Cristo Redentor.
Ali
onde o mar beija a cidade com delicadeza,
Icaraí
nasce todos os dias com a elegância dos que sabem ser eternos.
Não
ostenta, encanta.
Não
grita, acolhe.
É
presença suave, mas inesquecível, como perfume que mora na memória.
Filha
da terra dos tupinambás, batizada por águas que um dia foram do peixe-acará,
guarda
em seu nome a alma tupi que pulsa sob os passos modernos.
Seu
passado caminha em silêncio sob os calçadões que agora recebem
os
que correm, caminham, contemplam —
num
balé urbano que mistura suor, poesia e mar.
Entre
pedras que contam histórias — a de Itapuca, a do Índio —
e
prédios que abraçam a vida em suas varandas abertas,
Icaraí
se impõe como símbolo da sofisticação gentil,
da
cultura vibrante, da educação que floresce em suas escolas,
da
medicina que cura em seus centros de saúde,
e
do comércio que pulsa como artéria viva da cidade.
Mas
Icaraí vai além do que se vê.
Ela
é alma coletiva, feita de idosos que caminham de mãos dadas com o tempo,
de
jovens que sonham em seus colégios e cursos,
de
artistas que encontram ali sua musa e seu palco,
de
famílias que a escolhem como abrigo e promessa de futuro.
Seu
corpo é a avenida Moreira César, sua pele é o calçadão dourado,
seu
coração bate ao som das ondas que nunca se cansam.
E
quando o sol se despede no fim da tarde,
é
em Icaraí que ele escolhe repousar seus últimos raios,
transformando
tudo em ouro,
como
se dissesse: “aqui mora a beleza.”
Icaraí
é poema em forma de paisagem.
É
prosa com alma de mulher.
É
o lar de quem busca mais do que um endereço —
é refúgio, é nobreza, é luz.
©
Alberto Araújo
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