sexta-feira, 22 de agosto de 2025

O CAMINHO UNE O TEMPO – IDALINA ANDRADE GONÇALVES - RESENHA POR ALBERTO ARAÚJO


Publicada em 2021 pelo selo da Parthenon Centro de Arte e Cultura, com projeto gráfico de Mauro Carreiro Nolasco, a obra O Caminho Une o Tempo, de Idalina Andrade Gonçalves, constitui um exercício de memória e reverência, que entrelaça a sensibilidade da autora à grandeza de dois vultos da literatura e da política luso-brasileira: Ferreira de Castro e Joaquim Nabuco. Com 74 páginas de intensidade reflexiva, o livro é mais que um apanhado de textos é um gesto de síntese, um olhar crítico e amoroso sobre heranças culturais que permanecem vivas no diálogo entre Brasil e Portugal.

 

A apresentação, assinada pelo então presidente da Academia Luso-Brasileira de Letras, Dr. Francisco Amaral Neto, situa a obra no contexto solene da posse de Idalina na Cadeira nº 13, cujo Patrono é Ferreira de Castro. Nesse rito de enraizamento, a autora não apenas ocupa uma cadeira, mas a faz florescer em palavra, reconhecendo o realismo social e a força humanista que marcaram a literatura do escritor português.

 

No prólogo, Idalina deixa entrever sua própria tessitura literária: lírica, reverente e atenta ao sopro da história. Ao evocar a primavera de 1964 e a reinstalação da Academia Luso-Brasileira de Letras em 1990, transforma o registro memorialístico em canto, lembrando figuras como Kepler Alves Borges e Adolpho Polillo. Sua escrita se deixa atravessar pelo lirismo da tradição, enxergando a Academia como um "cenáculo da cultura", onde o orvalho da manhã e o sonho poético se encontram como metáfora da união entre nações.

 

O posfácio, de autoria do Prof. Dr. Carlos Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa, amplia a perspectiva da obra, ressaltando o valor de Idalina como intelectual atenta às raízes açorianas da formação brasileira. Sua presença em seminários e eventos é descrita como marcante, pela serenidade e conhecimento com que aborda os vínculos luso-brasileiros, capazes de aproximar nomes como Antero de Quental e Machado de Assis na tessitura cultural entre os dois povos.

 

O volume, assim, revela-se como ponto de encontro entre a crítica literária, a memória cultural e a poesia da evocação. A obra não se limita a um inventário de textos; oferece-se como travessia, onde as páginas se tornam caminho, unindo temporalidades e geografias distintas. Ferreira de Castro e Joaquim Nabuco, cada um a seu modo, são revisitados como símbolos de um humanismo crítico, atentos à justiça, à liberdade e à dignidade.

 

Com elegância editorial e respaldo acadêmico, O Caminho Une o Tempo é também um ato de pertencimento: Idalina Andrade Gonçalves escreve não apenas para celebrar o passado, mas para inscrevê-lo no presente, perpetuando o fio de continuidade entre cultura portuguesa e brasileira. Trata-se de um livro que se ergue como ponte, sustentado pelo rigor da pesquisa e pelo frescor da linguagem lírica, onde o tempo e a palavra se reconciliam.

 

Em sua delicadeza intelectual, a obra confirma o papel da autora como voz feminina que honra e renova a tradição da Academia Luso-Brasileira de Letras. Mais que um tributo, é um convite ao leitor para participar da travessia da memória, caminhando entre a literatura, a história e o sonho poético que ainda une povos e gerações.

 

IDALINA ANDRADE GONÇALVES

 

Portuguesa, natural dos Açores, Idalina Andrade Gonçalves é artista plástica, ensaísta, poeta e pesquisadora. Licenciada em Psicomotricidade e Biomedicina, alia formação acadêmica sólida à vocação artística e literária, construindo uma trajetória marcada pelo diálogo entre ciência, cultura e poesia.

 

Natural de família com raízes profundas na tradição luso-brasileira, Idalina dedicou-se ao estudo das relações culturais entre Brasil e Portugal, preservando memórias históricas e valorizando o intercâmbio literário.

 

Seu ingresso na Academia Luso-Brasileira de Letras, em sessão solene realizada no Palácio de São Clemente, Rio de Janeiro, representou o reconhecimento de sua contribuição às letras e à cultura. Na ocasião, assumiu a Cadeira nº 13, cujo Patrono é Ferreira de Castro, sucedendo o acadêmico Antonio Rodrigues. Sua posse foi marcada por um discurso de elevado rigor intelectual e profundo lirismo, em que destacou o legado de Ferreira de Castro e os vínculos entre as tradições literárias de Portugal e do Brasil.

 

Autora de obras que unem crítica, memória e poesia, como O Caminho Une o Tempo (Parthenon Centro de Arte e Cultura, 2021), Idalina dá especial atenção ao diálogo entre história e literatura, trazendo à tona a relevância de autores como Ferreira de Castro, Joaquim Nabuco, Antero de Quental, Camões e Fernando Pessoa, além de valorizar os fios culturais que ligam o universo açoriano à formação brasileira.

 

Com experiência em conferências e seminários, entre os quais se destaca sua atuação no Real Gabinete Português de Leitura, onde abordou a importância da presença açoriana no Brasil, é reconhecida como uma voz lúcida e respeitada no cenário intelectual luso-brasileiro.

 

Sua escrita é permeada por lirismo e clareza, o que a torna não apenas pesquisadora da tradição, mas também guardiã da herança simbólica que une os dois povos. Ao lado de sua produção ensaística e poética, contribui ativamente para o fortalecimento das relações culturais entre Brasil e Portugal, assumindo com dignidade e entusiasmo sua missão acadêmica.

 

É membro titular de diversas instituições de prestígio, entre elas: 

· Academia Luso-Brasileira de Letras

· Academia Brasileira de Literatura

· Sociedade Eça de Queiroz

· Real Gabinete Português de Leitura

· Academia Brasileira de Medalhística Militar

 

No âmbito institucional, exerce atualmente os cargos de: 

· Secretária Executiva da Sociedade Eça de Queiroz

· Membro Consultivo do Consulado Português no Rio de Janeiro

· Secretária-Adjunta do Real Gabinete Português de Leitura

· Secretária-Adjunta da Academia Luso-Brasileira de Letras

· Integrante da Diretoria da AJEB – Associação das Jornalistas e Escritoras do Brasil (Rio de Janeiro)

 

Idalina também participa ativamente de iniciativas culturais e educativas e mantém vivo o Projeto Associação dos Ilustres Poetas da Escola, que promove encontros de poesia em escolas públicas, incentivando o despertar literário em jovens leitores e escritores.

 

Sua produção literária, ensaística e artística é expressão de uma ponte constante entre Portugal e Brasil, unindo tradição e contemporaneidade. Como intelectual, Idalina Andrade Gonçalves é reconhecida por sua escrita sensível, por sua atuação cultural consistente e por seu engajamento no fortalecimento das relações luso-brasileiras.

 

© Alberto Araújo 














 

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