domingo, 10 de agosto de 2025

PERFUME DE MANHÃ CLARA — ENTRE HAICAIS E HORIZONTES CRÔNICA DE ALBERTO ARAÚJO

Era 09 de agosto de 2025, e o dia nasceu vestido de luz, um dia em que Niterói sorriu para o mundo com a delicadeza de quem acorda embalado por um sonho. O ar exalava um perfume de manhã clara, desses que despertam não só a cidade, mas a alma inteira, fazendo o tempo suspirar.

 

No alto, o Cristo Redentor, com seus braços generosos abertos sobre a baía, reinava em silêncio, derramando bênçãos invisíveis, mas sentidas em cada gesto, em cada olhar, em cada encontro que o destino suavemente tecia.

 

Foi sob essa moldura divina que Márcia Pessanha desdobrou as páginas vivas do seu novo livro, uma delicada viagem ao encantador universo dos haicais. Versos breves, sim, mas imensos na emoção. A cidade parecia recitar junto com ela, e até o vento soprava como se fosse uma estrofe, a celebrar a festa da palavra e do instante.

 

Eu e minha musa, Shirley Araújo, chegamos pontualmente às onze horas, imersos não apenas como espectadores, mas como parte viva dessa história de afeto e poesia. Shirley, sempre atenta aos gestos que falam mais alto que mil palavras, presenteou Márcia com uma planta viva, verde esperança enraizada na memória e no tempo.

 

Essa planta era mais do que uma planta,  era um ramo do arranjo que, meses antes, fizera festa no aniversário de Márcia, em março. Um ramo que sobreviveu às estações, guardando o riso e a luz daquele dia, para agora florescer em outro cenário: o renascimento de uma obra, a poesia que ganha corpo e alma.

 

Com o coração vibrando de emoção, ofereci a Márcia três haicais que brotaram daquele momento, impressos como pequenos relicários de sentimento. Ela os acolheu com ternura, colocando-os em seu altar de palavras e memórias, e ali ficaram, eternos entre livros e afetos. 

HAICAIS DA HOMENAGEM 

1 – O beija-flor pousa,

no livro flor desabrocha

momento eterno. 

2 – Aberta orquídea

asas leves no silêncio

voa poesia.

3 - Manhã de agosto,

palavras flores se abrem

Niterói escuta.

 

Na antiga Sociedade Fluminense de Fotografia, onde as paredes contam histórias e as vozes se entrelaçam em dança, a poesia ganhou voz e brilho. Na página 115 do livro, um instante suspenso no tempo: Bruna Monteiro, como se fosse a própria alma da obra, senta-se na areia, envolta pela luz de um portal natural. O mar sussurra, a pedra abraça, o horizonte murmura segredos — e tudo isso se torna verso, imagem e silêncio falante.

 

O autógrafo de Márcia, traçado com a mesma delicadeza de seus haicais, foi recebido como um presente que não cabe apenas na página, mas se aloja na alma e no coração.

 

Assim, entre a bênção serena do Cristo, o sorriso aberto de Niterói e a poesia que se desdobra em haicais e imagens, a manhã não foi só clara: foi eterna. Porque certas belezas, quando encontram nossos sentidos, não se apagam — transformam-se em raízes, páginas, ondas e lembranças que pulsam no tempo e em nós.

 

Niterói, naquele instante, não assistiu apenas a um lançamento: viveu um encontro de almas, uma festa onde a arte não se contempla só, mas se compartilha, se sente e se eterniza.

 

E como a mais suave das marés, esse momento ainda ecoa, silêncio que fala, luz que permanece, canto que nunca se cala.

Obrigado. Muitíssimo obrigado.

 

© Alberto Araújo

09 de agosto de 2025.


 


 

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