sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

DALMA NASCIMENTO É HOMENAGEADA NA OBRA “MULHERES EXTRAORDINÁRIAS, O RESGATE HISTÓRICO DO LEGADO PELA PALAVRA ESCRITA E A CONSTRUÇÃO DE LEGADOS CONTEMPORÂNEOS – VOL. 3”

 



Homenagem da escritora Ana Maria Tourinho

Entusiasmada, escrevo sobre Dalma Nascimento no vol. 3 deste majestoso projeto da Rede Sem Fronteiras. A homenageada que celebro é uma Mulher Extraordinária, Fada das Letras e de Brocéliande, Rainha da Literatura Carioca. 

Suas obras, de tão variadas temáticas e diversificados estilos literários, transitam pelos mais diversos caminhos temporais e estéticos, desde a antiguidade dos clássicos Greco-latinos e o arcaico universo dos celtas, até a literatura do nosso agora. Nelas, percebem-se suas paixões, o desejo em expressar o feminino e doar seu vasto conhecimento. 

Nascida em 9/01/1935, em Barra do Piraí, no Rio de Janeiro, na confluência dos rios Paraíba e Piraí, tem orgulho de sua terra. Filha da professora Maria Dulce e do poeta e jornalista Waldemiro Portugal. Sua mãe, diretora e professora da 1ª Escola Estadual, levava Dalma para a sala de aula e aí, bem pequena, desperta seu talento para a magia das letras. 

Aprendeu a ler e escrever e, de um modo inusitado, deu sua primeira aula, cursando o primário. Ingressa no curso Ginasial do atual Colégio Nilo Peçanha; em Niterói, cursou o Clássico. Aprofunda-se no estudo do Latim e conclui a Aliança Francesa. Cursa a Faculdade de Letras da Universidade Federal Fluminense, gradua-se, submete-se, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, ao Mestrado e ao Doutorado em Teoria Literária e Comparada. 

Professora concursada em várias universidades, ensinou Literatura Brasileira, Teoria Literária, Literatura Comparada e Língua Portuguesa. Chefiou o Departamento e foi Titular de Letras em Vassouras (RJ), na Fundação Educacional Severino Sombra, de 1975-1983. Em 1978, a convite do Professor Afrânio Coutinho, fez parte da equipe de Literatura Brasileira da UFRJ, no Departamento de Letras Vernáculas.

Conhecedora do universo da antiguidade, ensinava a literatura dos clássicos

à modernidade de agora, transitando entre os diversos estilos literários. Responsável pela formação de inúmeros profissionais, orientou Teses de Mestrado e Doutorado, prefaciou inúmeros livros. 

Há bem mais de 10 anos distante do intercâmbio interativo da sala de aula, continua a expandir seus múltiplos conhecimentos na densidade de 27 livros publicados e alguns à espera de editar-se. Dalma Nascimento, com seus projetos editoriais, desmente o sentido etimológico da palavra “aposentado”, aquele que fica no aposento a balançar na cadeira, de chinelos, olhando o ar,

ou debruçada à janela, vendo a banda passar. Em casa, continuamente, está

a ler e escrever, liberando através das letras, molhadas na alma e no conheci-

mento, o muito que estudou, aprendeu e produziu ao longo de sua vida.

Sempre voltada ao apelo do intelecto e a novidades culturais, Dalma, apesar de seus 88 anos, em 9 de janeiro deste, há três anos, matriculou-se no Pós-Doutorado sob a orientação do Professor emérito Eduardo F. Coutinho, visando a aprofundar a autoficção. 

Foi amiga de grandes escritores brasileiros, dentre os quais Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Autran Dourado, Eduardo Portela, Leodegário de Azevedo Silva, Ivan Proença, Nélida Piñon, de quem se transformou na principal biógrafa da obra. Até o momento, publicou quatro livros sobre Nélida, estando o quinto, breve a sair. Literata com magnífico legado, publica seu primeiro livro em 1980, sobre Vidas Secas: Fabiano, herói trágico na tentativa de ser. Seguem-se outras publicações: Antígonas da modernidade. Performances femininas na vida real ou na ficção literária, em 2013; Mitos e utopias dos teares literários às páginas dos periódicos, e Memórias em jornais, em 2014; Idade Média: contexto, celtas, mulher, Carmina Burana e ressurgências atuais, publicado em 2015, com 2ª Edição em 2018; Das neblinas e das colheitas de um memorial, e O Velho, a Mulher, o Imigrante: três vozes na dinâmica atual, em 2015. Neste ano, começa a escrever sobre Nélida Piñon, e lança dois livros: Nélida Piñon nos labirintos da memória e Nélida Piñon entre contos e crônica; no ano seguinte, Aventuras narrativas de Nélida Piñon. No prelo, para completar a série, dois livros aguardam publicação: Conversas com Nélida e Astúcias de Nélida nos artifícios da arte. Em 2018, brinda-nos com Brocéliande: a floresta encantada dos celtas, das fadas e do Rei Arthur; em 2019: Com Pessoa, estamos em pessoa na pessoa do mistério. No ano de 2020, publica Teniza Spinelli nas bordas da autoficção? No ano seguinte, Charles Baudelaire: um avatar da lírica moderna no trânsito da existência em transe; e, em 2022, As Multifaces de Laura Rangel e A grande Árvore de Izaura. 

Alguns livros aguardam publicação: A lira de Orfeu nas claves de Vinicius; Revivências de Autran Dourado; Prefácios e

posfácios, abraçados; Macunaíma, traços mágicos e míticos em tranças de memórias culturais; e o projeto, no qual Dalma Nascimento trabalha há 20 anos, pesquisando e escrevendo Carmina Burana: magia e questionamentos culturais, que aguarda publicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Curiosa, procurei e escutei a escritora sobre esta obra. Dalma diz: “Este livro relembra minha longa caminhada pela Idade Média, quando na década de 70 e 80 analisava na UFRJ os Burana, em textos dos séculos XII e XIII, compostos pelos goliardos, clérigos vagantes, beberrões e acerbos críticos, banidos da Igreja, que perambulavam pelos cantões da Idade Média. 

No século XX, os versos daquela trupe andarilha e folgazã foram musicadas por Carl Orff, com intensa repercussão, bem como o filme-balé homônimo dirigido por Jean-Pierre Ponnelle. Nesta obra, se misturam o mundo mágico dos celtas a deuses greco-latinos; lâminas de tarô à alquimia; farsas carnavalescas aos navios dos loucos; episódios picantes a interlocuções com os trovadores palacianos; a árvore cósmica à memória da Grande-Mãe, a Roda da Fortuna às diabruras do curinga; a bebida nas tabernas à Corte de Amores; as marcas do maravilhoso ao Janus de dupla face; os ritos hibernais à explosão da primavera; os signos clericais à iconoclastia dos goliardos. Esplendorosas tesselas, também são iluminadas para compor o mosaico medieval que se abre ao mito e ao sagrado”. 

Dalma Nascimento, a Literatura Brasileira agradece suas qualificadas obras, que fazem a diferença, configuram conhecimentos, lazer e ensinamentos de vida, ministrando saber e revelando sua grande cultura, de um modo terno, acolhedor, trazendo consigo o mistério de cativar. 

Mulher elegante, moderna, tem prazer de estar a par dos movimentos do mundo, de ler, escrever e ensinar. Participa do Facebook onde posta lições artísticas e de vida, comportamentos, fala sobre literatura, tem inúmeros seguidores que leem, compartilham, guardam para reler e aprender.

De há muito, deseja criar nos membros do Facebook, autêntica Ciranda do Afeto, inspirada nos versos do poeta francês Paul Fort. Aliás, Dalma organiza seus textos postados para lançá-los no livro Poeira dos meus pensamentos. 

Como diz Clarice Lispector, na obra Os Melhores Contos “clariceanos”: “escrever é prolongar o tempo e dividi-lo em partículas de segundos, dando a cada uma delas uma vida insubstituível”. 

Encerro fazendo minhas, as palavras de Nélida Piñon: “sua vida tem sido uma bênção, em especial para mim, que encontrei em seu coração e na sua inteligência amparo e eco para minha obra”. 

Dalma Nascimento, você engrandece o rico patrimônio cultural e intelectual brasileiro, e como você bem diz: “escrever é mergulhar nas águas cintilantes das palavras, e com elas viajar, rumo ao grande Mar do Literário”.

Referência Bibliográfica / Fontes de Pesquisa:

Memórias em Jornais. Rio de Janeiro: Ed. Tempo Brasileiro, 2014.

NASCIMENTO, Dalma. Idade Média: contexto, celtas, mulher, Carmina Burana e ressurgências atuais. Niterói-RJ: Ed. Parthenon, 2019.

____________. Charles Baudelaire: um avatar da lírica moderna no trânsito da existência em transe. Niterói-RJ: Ed. Parthenon, 2021.

Texto publicado na obra “Mulheres Extraordinárias, o resgate histórico do legado pela palavra escrita e a construção de legados contemporâneos – Vol. 3” páginas: 493 a 497. Obra organizada pela jornalista Dyandreia Portugal e coordenada pela escritora Ana Maria Tourinho. Editora Rede Sem Fronteiras, 2023.

                                                                                                    

OUTRA HOMENAGEM DE ANA MARIA TOURINHO A DALMA NASCIMENTO 

De MUSAS II - Por Ana Maria Tourinho

DALMA NASCIMENTO Fada das Letras e de Brocéliande, desde pequena, Dalma Nascimento vive o fascínio e o encantamento das histórias contadas por seu pai, o poeta Waldemiro Portugal. Ele deslumbrava a filha d’alma com relatos sobre o folclore brasileiro, com seus bichos fantásticos e mitos, que narram verdades eternas da condição humana, embora com as vestes de cada contexto histórico-cultural. Foi o pai quem lhe ensinou que “somos uma mistura de Sísifo, gente tenaz e de Fênix, ave que renasce da adversidade.” 

Era o início da literatura para Dalma Nascimento. Literatura que lhe adorna a vida até os tempos de hoje e, como Fênix e Sísifo, a cada momento, “renasce” com produções que enfeitiçam leitores. 

Em seus livros, viajamos, revivemos sua infância, juventude, sua formação acadêmica e dedicação como professora. Neles se observa e se aprende a amar as pessoas, os amigos. Nas páginas de suas obras de tão variadas temáticas – do mundo grego ao presente tempo, passando pela Idade Média e diversificados estilos literários – percebe-se suas paixões e seu desejo em expressar o feminino e de doar a todos seu vasto conhecimento. 

Dalma Nascimento, minha Rainha Literária, a Literatura Brasileira agradece suas qualificadas obras. Elas fazem a diferença. Configuram lazer e ensinamentos de vida, ministrando gotinhas de saber, lançadas de modo sutil, aqui e ali, com seu jeito terno e acolhedor de ser. 

Mestre e Doutora em Literatura Comparada, com milhares de alunos e orientandos em vários locais do Brasil, agora, aos 87 anos, está fazendo Pós-doutorado, com exemplar resultado. Dalma Nascimento se utiliza de instrumentos da modernidade como Facebook e Instagram para postar lições de estética e de vida, comportamentos, lidos por inúmeros seguidores, compartilhados, guardados, relidos e aprendidos.  De há muito deseja criar nos membros do Facebook, autêntica Ciranda do Amor, inspirada nos versos do poeta francês Paul Forte. 

Mulher elegante sobre todos os aspectos, possui a verve da escrita e traz consigo o mistério de cativar. Suas emoções e sentimentos cintilam em seus olhos.           

Tendo publicado 16 livros, dentre eles três sobre a obra de Nélida Piñon e mais dois prontíssimos para completar o quinteto, além do recente e extenso volume sobre Baudelaire e o tão artisticamente produzido “Carmina Burana: magia e Questionamento Cultural”, Dalma Nascimento está com cinco livros à espera da gráfica.         

Apesar da idade, seu prazer é o de estar a par do movimento do mundo, além de tudo ler e muito escrever. Mas, como diz Clarice Lispector, autora com quem Dalma conviveu, “escrever é prolongar o tempo e dividi-lo em partículas de segundos, dando a cada uma delas uma vida insubstituível”, expresso no livro Os Melhores Contos “clariceanos”. Por isso, Dalma continua a produzir e a nos presentear e deleitar. 

Parece que foi ontem que eu a conheci, mas a sensação é a de que nosso afetivo intercâmbio, nossa “philia dialógica como gosta de dizer”, surgiu há séculos. 

Lembro-me perfeitamente de nosso primeiro encontro na União Brasileira dos Escritores do Rio de Janeiro - UBE-RJ, que tanto nos marcou. Foram sensíveis anúncios de que a seiva da amizade de um passado muitíssimo remoto iria recircular, com ainda mais plenitude nos tempos de agora. 

Dalma Braune Portugal do Nascimento! Minha gratidão eterna a você, minha Musa Literária.

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário