O RESTAURANTE LE PETIT PARIS nasceu de uma iniciativa dos
comerciantes franceses: o casal Brigitte-Raymond com Paul e Rubens Ferrah, no
ano de 1957. A casa de três quartos e um varandão seria transformada em
restaurante em frente à Praça Getúlio Vargas, próximo ao Cinema Icaraí.
A moradia na Praia de Icaraí nº 139 foi palco de muitas noitadas,
momentos musicais e descontrações, alegrias e muitos tipos de comemorações. Hoje, esse espaço virou o edifício Modigliani.
A maioria de seus moradores desconhece que a casa que deu origem ao prédio de
apartamentos, guarda uma história da música nacional e internacional, numa
época em que a cidade tinha pouca opção de lazer e de gastronomia.
A princípio, o cardápio aprimorado incluía pratos tradicionais
da culinária francesa, oferecendo como entrada “Les crevetettes a St. Tropez”.
Os pratos mais pedidos eram o “Le coq au vin”, “Le poulet farci”, “Le poisson a
la Saulieu”.
Nas sobremesas, para alegria das mulheres, mousse au
chocolat e La mousse au fruits, feitos pela madame Brigitte. Com o
tempo, foram incorporados os pratos da culinária brasileira. Os drinques
viraram uma mistura das bebidas francesas e brasileiras, uns preferindo licores
e outros as batidas de limão.
Uma informação muito importante: O compositor Sérgio Mendes
começou a sua carreira nesse empreendimento, então com 16 anos, chegava com seu
teclado debaixo do braço para tocar acompanhado pelo seu parceiro, o
contrabaixista Tião Neto. Tocavam à noite, recebendo de cachê, cada um, dois
cubas livres e batatas fritas. Tanto Sérgio como Tião viraram celebridades da
música internacional.
A partir daí começou a festa, com outros craques chegando para
dar canja, como o famoso cantor, compositor e arranjador Danilo Caymmi, o
percussionista Naná Vasconcelos, eleito oito vezes, o melhor do mundo, o
premiado percussionista, baterista e compositor Chico Batera, referência no baixo
elétrico, era requisitado, pelo grandes cantores, o conhecido violonista
Silveira, a turma do destacado MPB4, com Aquiles, Miltinho, Rui e Waghaby.
O simpaticíssimo Rubens Ferrah permaneceu fiel a casa, desde a
abertura até o seu fechamento, quando por longo tempo, virou sócio de Roberto
Lacerda Precht.
LE
PETIT PARIS II
Complemento:
sobre o bar e restaurante Le Petit Paris, é reproduzida a matéria sobre o
famoso reduto boêmio de Icaraí, publicado no Jornal do Brasil, em 25 de
fevereiro de 1989 por Ney Reis.
“A
lenda boêmia de Niterói”. O bar Petit Paris marcou época na noite e ainda
desperta saudades
Por
Ney Reis
Houve
um tempo em que o compositor Danilo Caymmi saía de Copacabana, pegava um
ônibus, a barca até Niterói e mais um ônibus até Icaraí para tocar com os
amigos nas tardes de domingo. Todo esse trabalho em troca de um sanduíche de
queijo e um refrigerante. Mais ou menos na mesma época, o hoje mundialmente
conhecido percussionista Naná Vasconcellos dividia com outros músicos garrafas
de batida de limão e tirava sons de percussão no caramanchão da Praça Getúlio
Vargas, em Icaraí, até o dia clarear. Parece inacreditável, mas esses tempos
existiam e tiveram um lugar de referência capaz de juntar várias “feras” da
Música Popular Brasileira atual: o bar e restaurante Petit Paris.
A
época era a década de 60 e a pequena casa de dois quartos e uma varanda,
reformada para virar um restaurante, localizada no número 139 da praça, era o
lugar mais badalado e bem frequentado da cidade.
“O
Petit Paris foi o primeiro lugar onde eu toquei na vida”, conta Danilo Caymmi.
“Eu tinha uns amigos que moravam em Niterói e a gente se encontrava no bar para
levar um som. Além da música, a gente acabava arranjando umas namoradas, umas
meninas que iam nos ouvir e ver. Aquelas areias da praia de Icaraí já me
conheceram muito bem…”, relembra Danilo com saudade. Seu depoimento mostra bem
o clima reinante no legendário bar e restaurante de comida francesa:
descontração, música e paquera. “O Petit começou nos anos 50 e foi um bom bar.
Podia-se encontrar de tudo ali: uma prostituta disfarçada ou um garoto de 17
anos tocando um instrumento, fazendo música”, conta o arquiteto Alexandre
Bender, que aos 20 anos estava no auge de seu “vício” pelo Petit, como era
chamado o bar pelos íntimos. Segundo ele, alguns músicos de jazz tocavam lá e
depois iam acabar a noite no igualmente legendário bar Bottle’s, ou no Little
Club, do Beco das Garrafas, em Copacabana. “O Sérgio Mendes, um violonista
chamado Silveira e o Tião Neto, hoje baixista do Tom Jobim, estavam sempre no
Petit”, conta Bender.
Tião
Neto, que começou a carreira profissional com o niteroiense Sérgio Mendes, hoje
radicado nos EUA, foi um dos amigos dos franceses Raymond e Brigitte, os
primeiros donos do Petit Paris, e fala com carinho da época. “Eu levava um
violão pra lá e ficava tocando na varanda. Depois, Eles compraram um piano e
quem quisesse poderia tocar”, lembra o músico. “Toda noite, eu e o Sérgio
Mendes íamos ao Petit. Quem estava sempre lá era o pessoal do Rio Sailing Club,
quase todos ingleses, pessoal de letras,
intelectuais e o society niteroiense. O próprio Raymond e a sua mulher
Brigitte, além do Paul, que também era dono, preparavam a comida, por sinal
muito gostosa”, comenta Tião. Segundo ele, a mousse de chocolate de Brigitte
era algo de sensacional, além de todos os pratos, incluindo a comida
brasileira, que também fazia parte do menu. Alguns anos depois, em 1980, Tião
encontrou o casal Raymond e Brigitte em Paris, onde eles já estavam morando
havia algum tempo, e foi uma festa. “Pra você ter ideia da amizade e do astral
que existia entre nós desde os tempos do Petit, basta dizer que um dia, ao
acordar, no hotel, dei de cara com um prato fundo de mousse de chocolate ao
lado da cama, com um cartão dos dois. Foi emocionante”, conta o baixista.
Moradores
de Niterói no início dos anos 60 e frequentadores do Petit Paris, os
integrantes do grupo MPB-4 também têm boas lembranças. “Foi em 63 e 64 que a
gente ia muito lá. Era um lugar simpático, onde íamos pra jantar. Aliás, fomos
nós que inventamos de cantar lá, e depois a moda pegou”, conta Miltinho.
“Éramos amadores e onde houvesse mais de duas pessoas a gente soltava a voz,
fazia um show improvisado, pra mostrar nosso trabalho”, completa Rui. O garçom
Antônio Vicente Rodrigues, hoje com 58 anos, lembra bem daqueles dias e comenta
emocionado: “Tenho muitas saudades daquele lugar e daquele tempo. Ô época boa!
O Sérgio Mendes era meu chapa e foi ele quem me apelidou de Titio, como me
chamam até hoje. Ele não bebia quase nada e andou fazendo dieta. Era só chegar
e me dizia que estava morrendo de sede, já sabendo que um copo com coca-cola,
gelo e limão chegaria “voando” à sua mesa. A dieta era um filé sem sal com
batata cozida, que ele devorava”. Titio lembra que o segundo dono, o falecido
Jonas (todos os sobrenomes foram esquecidos pelos frequentadores, que se
tratavam mutuamente pelo primeiro nome), era um sujeito baixinho, “de veneta”,
cujo humor variava muito, mas o caráter era dos melhores. “Sempre me dei bem
com ele e com os fregueses. Éramos todos camaradas”, conta o garçom, que hoje
trabalha na Churrascaria Ao Vivo, na Rua São José, Centro do Rio.
O
lugar onde hoje está o Edifício Modigliani, de luxo, atraía adolescentes
rebeldes, como a professora de Física, da UFF, Camila Morato, 36 anos. “Eu ia
ao Petit desde os 16 anos. Dizia pro meu pai que ia dar uma volta na Moreira
Cesar e aparecia no bar. Ele descobria e me tirava de lá à força. Eu, é lógico,
ficava danada da vida”, lembra ela sorrindo. Hélio de Castro Júnior, engenheiro
da Petrobrás e namorado de Camila, também frequentava o Petit Paris, mas ficava
só “olhando os outros se divertirem”, pois era estudante e não tinha dinheiro
para “entrar naquele lugar meio simples, meio sofisticado”, para usar uma
expressão sua. O dentista Cláudio Costa Carvalho, 45 anos, irmão do baixista
Tião Neto, era outro que não saía do bar. “O Petit era nossa terapia”, lembra.”
Recorte do jornal com a matéria acima,
datado de 7 de outubro de 1973.
FONTE:
https://icarahyobairro.wordpress.com/2017/04/13/petit-paris-ii/
https://icarahyobairro.wordpress.com/2017/04/12/petit-paris/
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