JOSÉ VIANNA DA MOTTA nasceu em São Tomé, São Tomé e Príncipe, em 22 de abril de 1868 e faleceu em Lisboa, no dia 01 de junho de 1948 aos 80 anos. A sua cultura foi desempenhada em diversas frentes, sendo as mais notáveis as de pianista, pedagogo, compositor e programador cultural. Fundou a Sociedade de Concertos de Lisboa em 1917 e foi, ainda, diretor musical da Orquestra Sinfônica de Lisboa entre 1918 e 1920.
O renomado artista revelou talento precoce para a música e foi por iniciativa do pai que com apenas seis anos se deslocou à metrópole para uma audição perante os reis. Sob os auspícios da corte, concluiu os estudos no Conservatório Nacional, em Lisboa, aos 14 anos, e prosseguiu-os em Berlim. Na Alemanha viria a tornar-se um importante membro da Sociedade Wagneriana, frequentando o Festival de Bayreuth, e seria um dos últimos pianistas a receber aconselhamento artístico de Franz Liszt. Frequentou, também, cursos de interpretação com Hans von Bülow.
A sua carreira pianística teve dimensão internacional. Se a solo foi um dos poucos pianistas do seu tempo a tocar a integral das Sonatas de Beethoven, em música de câmara fez digressões com artistas como Pablo de Sarasate.
Senhor de um vasto repertório, estendeu a sua influência a várias gerações de pianistas. Foi professor de piano em Berlim, Genebra e no Conservatório Nacional de Lisboa, onde veio a assumir a direção. Aí teve como alunos Elisa de Sousa Pedroso (fundadora do Círculo de Cultura Musical), Campos Coelho (que veio a ser o professor de Maria João Pires), o compositor Luiz Costa e a sua filha Helena Sá e Costa (Diretores do Orpheon Portuense e também eles pianistas e pedagogos notáveis), Maria Cristina Pimentel, Maria Antoinette de Freitas Branco, Nella Maissa, o compositor Fernando Lopes-Graça e o pianista Sequeira Costa, considerado o seu último discípulo.
No domínio da composição, atividade que exerceu ao longo de pouco mais de duas décadas, a partir de 1881, Vianna da Motta mostrou preocupação em afirmar certo sentido de portugalidade na sua música.
Muito importante para a História da Música em Portugal no âmbito da "música de concerto", por lhe caber o mérito da primeira procura e criação consciente de "música culta" de caráter nacional. Testemunha a sua obra mais relevante a Sinfonia "À Pátria" (que apresenta também a inovação entre nós do conceito lisztiano de música programática e em que, ao que parece, um compositor português usa pela primeira vez numa sinfonia, temas genuínos do folclore português), as suas composições pianísticas, as suas canções para canto e piano.
Na Alemanha foi-lhe concedido o título de "Hofpianist" (pianista da Corte) por Carlos Eduardo de Saxe-Coburgo-Gota. Foi Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (28 de junho de 1920), Grande-Oficial da Ordem Militar de Cristo (19 de abril de 1930) e Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (2 de junho de 1938).
Casou primeira vez com Margarethe Marie Lemke (Karlsruhe, Heidelberg, 31 de março de 1858 - Leipzig, 1900), filha de Julius Lemke (1828-1905) e de sua mulher Agnes Eckhardt (1831-1880), sem geração. Casou segunda vez com Anna Johanna Maria Harden, sem geração, e terceira vez com a actriz Berta de Bívar, de quem teve duas filhas, e de quem se divorciou.
Faleceu em 1948, em Lisboa, tendo vivido os últimos anos da sua vida na residência de sua filha Inês de Bivar Vianna da Motta e do seu genro, o psiquiatra Henrique João de Barahona Fernandes. A sua outra filha, Leonor Micaela de Bivar Vianna da Motta, nascida em Buenos Aires, casou com João Apolinário Sampaio Brandão, com geração.
Foi sepultado no Cemitério do Alto de São João, sendo homenageado em 01 de Outubro de 2016, com a sua trasladação para um jazigo novo no Cemitério dos Prazeres.
COMPOSIÇÕES
José Vianna da Motta dedicou-se à composição desde muito cedo. A sua primeira composição, intitulada Primeira inspiração musical, data de 1873 quando tinha apenas 5 anos de idade. Durante a sua infância, até aos seus 14 anos de idade, Vianna da Motta compôs mais de cinquenta peças, sobretudo para piano solo. Estas peças de infância, compostas entre 1873 e 1883, são representativas da primeira fase criativa do compositor, fase essa que se caracteriza, sobretudo pela composição de peças de baile, marchas, variações e fantasias sobre temas populares de óperas.
OBRAS
DE INFÂNCIA PARA PIANO SOLO (SELEÇÃO)
Gratidão,
Valsa (1874)
Triumpho
e Gloria, Grande Marcha (1875)
Amizade,
Mazurca (1875)
Amor
Filial, Valsa op. 16 (1878)
Purificação,
Polca op. 18 (1878)
Praia
das Conchas, Grande quadrilha de contradanças op. 22 (1878)
Gaieté,
Galop op. 35 (1880)
Pensée
Poétique, Rêverie op. 36 (1880)
Polaca,
op. 37 (1880)
Resignação,
op. 39 (1880) - peça para a mão esquerda
Au
bord du Lac de Pena, Pastorale op. 50 (1881)
Variations
sur l'hymne de Sa Magesté le Roi Don Louis I, op. 43 (1881)
O
Dia 20 de Maio, Quadrilha de valsas para piano op. 44 (1881)
Elegia,
op. 45 (1881)
Variações
sobre um tema original, op. 47 (1881)
Grande
fantaisie triomphale sur l'hymne de Sa Magesté le Roi Don Ferdinand II, op. 48
(1881)
Três
Romances sem palavras, op. 51 (1882)
Rondino
(1882)
A
segunda fase criativa do compositor (de 1884 a 1895, sensivelmente) coincide
com o período de formação na Alemanha e é por isso marcada pela influência
germânica. Ela caracteriza-se essencialmente pela composição de peças para
piano, de obras concertantes, música de câmara e Lieder. A terceira fase
criativa caracteriza-se pelo recurso à canção tradicional portuguesa. Esta fase
nasceu logo após o Ultimato britânico de 1890 com a composição da 1ª Rapsódia
Portuguesa, obra inspirada em fados e dedicada ao então Rei de Portugal, o Rei
D. Carlos. A partir de 1908, Vianna da Motta abandonou quase por completo a
composição, talvez por discordar das novas tendências modernistas que vingavam
por toda a Europa.
OBRAS
PARA PIANO SOLO (SELEÇÃO)
Barcarola,
op. 1 (ca. 1884)
Fantasiestück,
op. 2 (1885)
Sonata
em Ré maior (1885)
Capriccio,
op. 6 (ca. 1885)
Zwei
Klavierstücke nach A. Böcklin (1891)
Cinco
Rapsódias Portuguesas (1891 - ca. 1895)
Serenata,
op. 8 (1893)
Cenas
portuguesas, op. 9 (a. 1893)
Cenas
portuguesas, op. 15 (1905)
Balada,
op. 16 (1905), também conhecida por Balada sobre duas melodias portuguesas, op.
16
Barcarola,
op. 17 (ca. 1905)
Cenas
portuguesas, op. 18 (1908)
Obras
para piano a quatro mãos
Ein
Dorffest (1885)
Erinnerungen,
op. 7 (1885)
Obras
para piano e orquestra
Concerto
para piano e orquestra em Lá maior (1886 - 1887)
Dramatische
Fantasie (1893)
Obras
para música de câmara (com piano)
Trio
em si menor (1888 - 1889) - com violino e violoncelo
Quarteto
em Lá menor (1889) - com violino, viola e violoncelo (obra inacabada)
Romanza
(1893) - com flauta transversal
Sonata
em si bemol maior (1894) - com violino
Obras
para canto e piano (selecção)
Drei
Lieder, op. 3 (1885)
Fünf
Lieder, op. 5 (1887)
Vier
Gedichte, op. 8 (1890)
Canções
portuguesas, op. 10 (1893 - 1895)
Duas
Romanzas (1893)
Danke,
op. 13 nº 1 (1895)
Umflort,
gehüllt in Trauern, op. 13 nº 2 (1895)
Lass
mich deine Augen fragen, op. 13 nº 3 (1895)
A
Luz (1910)
Cantar
dos Búzios (1929)
Verdes
são as hortas (1936)
Obras
para quarteto de cordas
Variações
(1884)
Andante
(ca. 1885)
Quarteto
em mi bemol maior (1887 - 1888)
Quarteto
em sol maior (ca. 1894)
Cenas
nas montanhas, op. 14 (a. 1896)
Obras
para orquestra
Abertura
Inês de Castro (1886)
Marcha
portuguesa (1893)
Invocação
dos Lusíadas, op. 19 (1897) - com coro
Sinfonia
"À Pátria" (1894; rev. 1920)
A
Sinfonia "À Pátria" é geralmente considerada a obra-prima de Vianna
da Motta. Foi a primeira sinfonia a merecer as honras de impressão em Portugal.
Ela é inspirada em versos de Luís Vaz de Camões e segue o modelo formal
clássico das sinfonias de Beethoven: quatro andamentos, dos quais o terceiro é
um scherzo. No terceiro andamento o compositor utiliza duas canções populares
portuguesas. Daqui depreende-se que nem sempre é fácil traçar a fronteira entre
a segunda e a terceira fase criativa do compositor. Com efeito, várias das suas
obras resultam claramente do cruzamento das culturas alemã e portuguesa, da
importância que teve a sua formação musical na Alemanha e da necessidade de
expressar o seu patriotismo por via do recurso à música tradicional portuguesa.
FONTE: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vianna_da_Motta
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