Em 18 de abril, o livro infantil ganhou seu dia e a infância me invadiu. Já é consensual que a velhice ande de braços dados com a criança que a gente foi. Desandei a pensar e virei arqueóloga de meu passado. A memória foi retirando as camadas palimpsestas de minha vida. Chegou ao encontro da menina de menos de cinco anos, recém-alfabetizada.
Transposta à longínqua infância, o pensamento me levou a dois livrinhos infantis: "A bonequinha preta" e "O bonequinho doce", de autoria de Alaíde Lisboa de Oliveira (1904-2006).
O Tempo foi deixando pelo caminho
aqueles dois livrinhos esgotados e esquecidos. Já leitora compulsiva de
diferentes interesses temáticos, durante meu tempo no Ginásio, comecei a ler
livros sobre a Idade Média. Vibrava com o Rei Arthur, as façanhas dos cavaleiros
da Távola Redonda e adorava as histórias de Carlos Magno. Daí publiquei meu
livro sobre a Idade Média e outro sobre "Brocéliande: a floresta encantada
dos celtas, das fadas e do Rei Artur".
Como a leitura durante a infância forma o futuro leitor!
Faz poucos dias, numa conversa informal com meu filho Cláudio, mencionei, 𝘦𝘯 𝘱𝘢𝘴𝘴𝘢𝘯𝘵 cenas de minha vida, sobre esses livros. E com naturalidade, relatei, sem ênfase, apenas pequeninas passagens das quais me lembrei.
Dias depois, para minha feliz surpresa, na caixa de correspondência, recebi dois pequenos pacotes, vindos de um sebo do sul do Brasil. Meu alegre choque foi tão forte, que, abrindo-os depressa, deparei-me com as duas obras da Alaíde. Que maravilhoso presente!
Lá estavam a capa do exemplar da
bonequinha preta, e a do bonequinho doce, rasgada. Entretanto, o teor da
historinha foi mantido, apesar de na folha de rosto, figurar a dedicatória a
alguém ignorado.
Qual de vocês tem um livro que lhe
tenha marcado a infância?
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CRÉDITO DA TRILHA SONORA:
Carmina Burana Bache, Bene Venies
Edição e Montagem – Alberto Araújo –
Focus Portal Cultural
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Prezado Alberto, ficou muito bonita a cena, sua arte cada vez mais se aprimora. Obrigada por esta bela surpresa. Colocou o livro da Idade Média e Brocéliande. Uma significativa lembrança. Inclusive com a música para completar a harmonia do conjunto. Caprichou nos detalhes. E é nos meandros, na sutileza da escolha das ilustrações que sua composição ganhou mais força, atingiu para mim os maiores tons, complementando-se com a localização das etapas de minha vida. Tais filigranas "sugeridas" me tocaram o coração. Você teve a sensibilidade de, num quadro, conjugar as duas Dalmas: a garotinha ainda com a boneca embaixo à esquerda, signo do início da minha vida. No meio, a outra etapa, a leitora, adolescente, amante da mítica Idade Média. E à direita, subindo, já escritora com os dois livros meus, na fase adulta, Entretanto, misturando-os aos livros do mais longínquo passado. E tudo isso congregado ao meu Eu de Agora, abraçando o maior livro, não só em extensão, mas minha "Suma Teológica". Ali está o somatório de minha vida intelectual. Obrigada, Alberto. Muito obrigada! Dalma Nascimento – 24-04-2023.
Olá, amiga Dalma Nascimento, muito feliz com o seu “feedback” da leitura sobre a ilustração que produzi a respeito de sua história de vida familiar e intelectual. Você tem essa habilidade impressionante de explicar as claves em todas às vezes que idealizo uma imagem que ilustra os textos. Incrível. Obrigado e parabéns pelo belo texto, que nos reporta de certa forma aos tempos pueris. Abraços do Alberto Araújo. 25-04-2023
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