domingo, 22 de setembro de 2024

165 ANOS DO NASCIMENTO DE B. LOPES POSTAMOS TRÊS SONETOS DE SUA AUTORIA.


Em celebração aos 165 anos do nascimento do Bernardino da Costa Lopes, o B. Lopes, trazemos para homenagear o escritor, três sonetos da obra B. Lopes – O Poeta Fidalgo, organização e apresentação Liane Arêas, a obra contém 150 páginas, é o terceiro volume da Coleção Introdução aos Clássicos Fluminenses da Editora Nitpress, sob a direção do editor Luiz Augusto Erthal.



BERÇO 

Recordo: um largo verde e uma igrejinha,

Um sino, um rio, um pontilhão e um carro

De três juntas bovinas, que ia e vinha

Rinchando alegre, carregando barro.

 

Havia a escola, que era azul e tinha

Um mestre mau, de assustador pigarro

(Meu Deus! que é isto, que emoção a minha

Quando estas cousas tão singelas narro?)...

 

"Seu" Alexandre, um bom velhinho rico,

Que hospedara a Princesa; o tico-tico

Que me acordava de manhã, e a serra...

 

Com o seu nome de amor Boa-Esperança,

Eis tudo quanto guardo na lembrança

Da minha pobre e pequenina terra!

Páginas 31/32

 

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NAMORADOS 

Nessas manhãs alegres, perfumadas,

De éter sadio e claro firmamento,

Acariciando o mesmo pensamento

Percorremos o parque, de mãos dadas.

 

Aves trinando em cima das ramadas,

Alvos patos e um cisne a nado lento

Sobre as águas do lago, num momento

Pela brasa do sol ensanguentadas...

 

Brilha o sereno trêmulo nas pontas

Do vistoso gramal, como se fosse

Solto rosário de opalinas contas...

 

Enquanto uns casos rústicos de aldeia

Eu vou narrando-lhe, em linguagem doce,

Escuto a queixa de seus pés na areia!

Páginas 44/45 

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SINHÁ FLOR 

Desde que te amo (e é desde que eu conheço

A mais formosa por meus olhos vista)

Tenho a incendiar-me a ideia fantasista

O grande sol de um rútilo adereço.

 

De uma ourivesaria celinista

— Gemas de tiara e cetro, e ouro — careço,

Para que suba de esplendor e apreço

A vitória do Sonho de um artista.

 

Possuído, esmero e acaricio a Obra,

Vendo que ela, fulgindo, se desdobra

Era lavor sideral e íris facetos...

 

Para laurear-te o Soberano Estilo

De aclamada Cleópatra — burilo

Uma regia corda de sonetos.

Páginas 55,56


SOBRE B. LOPES

Bernardino da Costa Lopes nasceu no arraial da Boa Esperança, município de Rio Bonito, no Rio de Janeiro, em 19 de janeiro de 1859. Poeta mulato nascido então antes do fim da escravidão, mas filho de pais livres e de classe média baixa, o pai, Antônio da Costa Lopes, escrivão; a mãe, Mariana, costureira e bordadeira, conseguiu ser aceito pela sociedade da época. 

Residiu em Santa Ana de Japuíba sob a condição de caixeirinho e, neste mesmo lugar iniciou seus estudos. Mais tarde, mediante concurso, mudou-se para o Rio de Janeiro com a finalidade de exercer cargo no funcionalismo fiscal. 

Casou-se com Cleta Vitória de Macedo e teve com ela cinco filhos, todos criados apenas pela esposa, pois o poeta havia encontrado a “mulher de sua vida”. Era “Sinhá Flor”, cujo nome real era Adelaide Uchoa Cavalcante, divorciada e já tendo filhos e netos, com a qual teve um relacionamento extremamente conturbado. Foi para ela que B. Lopes escreveu o livro homônimo. 

No que diz respeito a sua obra, segundo Andrade Muricy, foi no ano de 1881, quando o Parnasianismo ainda não tinha se afirmado e o Simbolismo esperaria aproximadamente doze anos para seu tímido florescimento, que surge seu livro Cromos. Para Muricy, B. Lopes conseguiu dar à linguagem poética uma feição naturalista e mais familiar, já sem a idealização e a ebriedade românticas, distanciando-se assim de Ezequiel Freire, este um dos poetas de grande influência em sua obra, além dos parnasianos Teófilo Dias e Gonçalves Crespo. 

B. Lopes, juntamente com Emiliano Pernetta, Oscar Rosas, Cruz e Souza, Gonzaga Duque, J. H. de Santa Rita, Virgílio Várzea, Lima Campos, Artur de Miranda Ribeiro, Mário Pederneiras e Azevedo Cruz, formam o primeiro grupo de simbolistas, dentre os quais nosso poeta é quem, à época, seguramente tem mais prestígio. Mas ressalte-se que sua poesia não é clara nem resolutamente simbolista. Várias influências se misturam nela de maneira surpreendentemente harmoniosa. Em outras palavras, B. Lopes trabalhou as vertentes parnasiana e simbolista ao mesmo tempo, ou seja, o que impossibilitou os críticos de o classificarem como simbolista ou parnasiano. E foi dentro de toda essa atmosfera, biográfica e intelectual, profissional e literária, que o poeta escreveu sua obra poética. Mas toda essa produção, se granjeou a admiração de vários jovens que então se iniciavam nas letras, não resultou em prestígio nem respeito por parte da crítica estabelecida. Consta o poeta, no prefácio do livro Ânforas, do poeta piauiense Jonas da Silva, queixou-se dos críticos, que lhe negavam sinceridade e espontaneidade. Entre os intelectuais das famosas rodas boêmias do Rio de Janeiro de fin-de-siècle, B. Lopes até mesmo ridicularizado, sobretudo pelo implacável Emílio de Menezes. 

Em 1916, Bernardino da Costa Lopes foi internado no Hospício Nacional de Alienados para uma desintoxicação alcoólica. Logo depois voltou à sua casa onde teve uma crise epilética, ou talvez, segundo Muricy, “um assomo de delírio”. Morreu em 18 de setembro de 1916. 

OBRA POÉTICA: Cromos, 1881; Pizzicatos, 1886; Dona Carmen, 1890; Brasões, 1895; Sinhá Flor, 1899; Val de lírios, 1900; Helenos, 1901;  Patrício, 1904 e Plumário, 1905.

 

 

SOBRE LIANE ARÊAS 

Liane de Souza Arêas, natural do Rio de Janeiro. Professora, alfabetizadora, pedagoga, poetisa, escritora e fotógrafa expositora da Sociedade Fluminense de Fotografia. Cursos de extensão curricular: Literatura, Língua e Cultura Espanhola na Universidade de Salamanca - Espanha, Orientação Educacional na Empresa - RH e Psicopedagogia na Empresa pela UFRJ, Filosofia da Educação Infantil/Pedagogo Lauro de Oliveira Lima, dentre outros cursos de alfabetização infantil no Colégio Brasil e na UPE-União dos Professores Estaduais e, para adultos, no antigo Mobral.  Manteve durante quatro anos o Curso Pré-escolar e Alfabetização Nosso Cantinho, onde preparava os alunos para o ingresso no Instituto Abel, São Vicente de Paulo, Centrinho... Lecionou aula particular de Espanhol.  Integra as Diretorias do Cenáculo Fluminense de História e Letras, da Associação Niteroiense de Escritores, do Elos Clube de Niterói e do Centro da Comunidade Luso-Brasileira do Estado do Rio de Janeiro. É do Grupo Mônaco de Cultura/Livraria Ideal, do Instituto Histórico e Geográfico de Niterói, da Associação dos Diplomados da Academia Brasileira de Letras, da Academia Guanabarina de Letras, do Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro, da Sociedade de Cultura Latina do Rio de Janeiro e da Academia de Letras Rio Cidade-Maravilhosa. 

Participa de antologias, revistas e periódicos em Niterói, no Rio de Janeiro e em outros estados. Possui vários Certificados: Jurada e Presidente de Júri em Concursos de Poesia, fotografia, e artes plásticas. Diplomas de Honra ao Mérito e Troféus, dentre estes:  Prêmio Niterói Cultura da ANE - Associação Niteroiense de Escritores; Troféu e Diploma 1º lugar Concurso Ensaio Literário - Aspectos Formadores da Cultura Brasileira/Academia Carioca de Letras/2001; Menção Honrosa XIX Salão de Arte Fotográfica AABB Niterói; Ao Mérito Cultural Elos Clube e Comunidade Luso-Brasileira; UBT - Niterói - XXXV Jogos Florais - Escultura de Bronze;  X Prêmio de Poesia da ANE - Medalha de Bronze Florbela Espanca Edição Especial... Recebeu Moção Honrosa da Câmara Municipal do Rio de Janeiro (Vereador José Carlos de Carvalho), da Câmara Municipal de Niterói (Vice-Presidente Dr. Fernando Nery de Sá) e da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Vereadora Teresa Bergher.

 



Homenagem do Focus Portal Cultural

Alberto Araújo - editor


 

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