
160 anos do nascimento de Olavo Bilac,
o príncipe dos poetas brasileiros. Dedicamos a especial postagem ao Presidente
de Honra da Academia Fluminense de Letras, Dr. Waldenir de Bragança, que sempre
se manifestou sobre os escritos de Olavo Bilac.
No dia 16 de dezembro de 1865, nascia
no Rio de Janeiro aquele que se tornaria um dos maiores nomes da literatura
brasileira: Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac. Poeta, jornalista, cronista
e contista, Bilac atravessou sua época como figura pública de grande
influência, sendo reconhecido como o principal expoente do Parnasianismo no
Brasil e, por muitos, considerado o maior poeta nacional. Em 1907, foi
oficialmente aclamado pela revista Fon-Fon como o “Príncipe dos Poetas
Brasileiros”, título que sintetiza sua consagração literária e cultural.
Filho de Brás Martins dos Guimarães
Bilac e Delfina Belmira Gomes de Paula, Olavo Bilac cresceu em um ambiente
típico da classe média carioca do século XIX. Desde cedo demonstrou
inteligência e disciplina nos estudos. Aos 15 anos, obteve autorização especial
para ingressar na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, atendendo ao desejo
do pai, médico que servira na Guerra do Paraguai. No entanto, a vocação
literária falou mais alto: Bilac abandonou tanto o curso de Medicina quanto o
de Direito, iniciado posteriormente em São Paulo, para dedicar-se ao jornalismo
e à literatura.
Bilac destacou-se como jornalista e
cronista, colaborando em periódicos e revistas que marcaram a vida cultural da
Primeira República. Escreveu para publicações como A Imprensa, A Leitura,
Branco e Negro, Brasil-Portugal, Azulejos e Atlântida. Sua estreia literária
ocorreu em 1884, com o soneto “Sesta de Nero”, publicado na Gazeta de Notícias.
O texto recebeu elogios de Artur Azevedo e abriu caminho para sua carreira
poética.
Além de poemas, Bilac produziu textos
publicitários, livros escolares e crônicas satíricas, sempre atento às
transformações sociais e políticas de sua época. Sua escrita, marcada pelo
rigor formal e pela musicalidade, tornou-se referência para gerações de
leitores e estudantes.
Em 1888, Bilac lançou sua primeira
coletânea, “Poesias”, obra que lhe garantiu ampla aceitação do público e
consolidou sua posição como líder do movimento parnasiano no Brasil. Junto a
Alberto de Oliveira e Raimundo Correia, formou a célebre Tríade Parnasiana, responsável
por difundir no país os ideais de perfeição formal, objetividade e culto à
beleza clássica.
Sua obra poética é vasta e
multifacetada: escreveu versos eróticos, épicos, políticos, intimistas e
sociais. Também se dedicou à literatura infantil e à poesia cívica, sempre com
a preocupação de exaltar valores nacionais e republicanos. O soneto “Língua
Portuguesa”, por exemplo, tornou-se um hino à identidade cultural brasileira,
celebrando o idioma como patrimônio da pátria.
Bilac não se limitou ao papel de
poeta. Foi um intelectual engajado nas questões políticas e sociais de seu
tempo. Participou da fundação da Academia Brasileira de Letras em 1897,
ocupando a cadeira número 15. Envolveu-se em campanhas cívicas, como a defesa
do serviço militar obrigatório, implementado em 1915 durante a Primeira Guerra
Mundial. Sua atuação foi decisiva para convencer jovens brasileiros a se
alistarem, reforçando o sentimento de patriotismo.
Também se destacou como opositor do
governo de Floriano Peixoto. Em 1891, fundou o jornal O Combate, de linha
antiflorianista, o que lhe custou quatro meses de prisão na Fortaleza da Laje.
Essa experiência reforçou sua imagem de intelectual combativo e comprometido com
a liberdade.
A vida amorosa de Bilac foi marcada
por desencontros. Seu grande amor foi Amélia de Oliveira, irmã do poeta Alberto
de Oliveira. Chegaram a ficar noivos, mas o compromisso foi desfeito por
oposição familiar. Um segundo noivado, com Maria Selika, também não prosperou.
Bilac viveu sozinho até o fim de seus dias, sem constituir família.
Entre os episódios curiosos de sua
vida, destaca-se o acidente automobilístico de 1897, quando perdeu o controle
de seu carro Serpollet na Estrada da Tijuca. Tornou-se, assim, o primeiro
motorista a sofrer um acidente de automóvel no Brasil, fato que entrou para a
história.
Nos últimos anos de vida, Bilac
continuou ativo na cena cultural. Em 1917, recebeu o título de professor
honorário da Universidade de São Paulo, reconhecimento por sua contribuição à
literatura e à educação. Faleceu em 28 de dezembro de 1918, vítima de edema
pulmonar e insuficiência cardíaca, sendo sepultado no Cemitério de São João
Batista, no Rio de Janeiro.
Olavo Bilac deixou uma obra vasta e
diversificada, que inclui títulos como:
Poesias (1888)
Crônicas e novelas (1894)
Crítica e fantasia (1904)
Conferências literárias (1906)
Tratado de versificação (1910, em
parceria com Guimarães Passos)
Dicionário de rimas (1913)
Ironia e piedade (1916)
Tarde (1919, póstuma)
Contos: Pátrios e Através do Brasil,
em colaboração com Coelho Neto e Manuel Bonfim. O célebre Hino à Bandeira, que
se tornou símbolo do civismo nacional.
Sua produção literária e jornalística
revela um homem profundamente comprometido com a arte e com a pátria. Bilac
acreditava que a verdadeira identidade nacional estava no idioma, como
expressou em célebre frase: “A Pátria não é a raça, não é o meio, não é o
conjunto dos aparelhos econômicos e políticos: é o idioma criado ou herdado
pelo povo.”
Celebrar os 160 anos do nascimento de
Olavo Bilac é reconhecer a importância de um intelectual que marcou a
literatura e a vida pública brasileira. Poeta de rigor formal e sensibilidade
lírica, jornalista combativo e cidadão engajado, Bilac permanece como
referência incontornável da cultura nacional. Sua obra continua a ecoar nos
versos que exaltam a língua portuguesa, nos hinos que celebram a pátria e nas páginas
que revelam a beleza da poesia parnasiana.
Mais do que um poeta, Bilac foi um
símbolo de sua época: um homem que soube unir arte, civismo e paixão pelo
Brasil. Ao lembrarmos sua trajetória, reafirmamos o valor da literatura como
força viva da identidade nacional.
© Alberto Araújo
Focus Portal Cultural
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac nasceu no
Rio de Janeiro em 16 de dezembro de 1865 e faleceu na mesma cidade em 28 de
dezembro de 1918. Foi poeta, jornalista, cronista e contista brasileiro,
reconhecido como o principal expoente do parnasianismo no país e identificado
por muitos como o maior poeta brasileiro, sendo por vezes alcunhado como “o
príncipe dos poetas brasileiros”. Sua obra poética, que abrangeu a produção
infantil, erótica, política, épica, intimista e social, destacou-se pelo rigor
formal e pela divulgação de valores cívicos, nacionalistas e republicanos. Foi
também uma importante figura pública durante a Primeira República, tendo sido
membro fundador da Academia Brasileira de Letras, defensor do serviço militar
obrigatório, opositor político do governo de Floriano Peixoto e letrista do
Hino à Bandeira do Brasil.
Filho de Brás Martins dos Guimarães Bilac e de
Delfina Belmira Gomes de Paula, teve infância e adolescência comuns para sua
época. Era considerado um aluno aplicado, conseguindo, aos 15 anos — antes,
portanto, de completar a idade exigida — autorização especial para ingressar no
curso de Medicina da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, a gosto do pai,
médico durante a campanha da Guerra do Paraguai, mas a contragosto próprio.
Passou a frequentar as aulas da faculdade após rápida passagem pelo colegial,
porém seu precoce trabalho na redação da Gazeta Acadêmica absorveu-o e
interessou-o mais do que a prática medicinal. Por esse motivo, Bilac não
concluiu o curso de Medicina, nem o de Direito, que frequentou posteriormente
em São Paulo.
Bilac foi jornalista, poeta e frequentador de rodas
boêmias e literárias no meio letrado do Rio de Janeiro. Sua projeção como
jornalista e poeta, bem como o contato com intelectuais e políticos da época,
conduziram-no a um cargo público: o de inspetor escolar. Considerando a
importância dada aos cargos escolares naquele período — principalmente o de
professor da Escola Pedro II, onde diversos eruditos disputaram famosas
preleções, como Euclides da Cunha e Astrojildo Pereira —, não é de somenos
importância perceber o relevo social dessa profissão. Sua participação na vida
cotidiana e cultural foi uma marca patente em sua imagem. Sabe-se, por exemplo,
que em 1897 Bilac perdeu o controle de seu automóvel Serpollet e o bateu contra
uma árvore na Estrada da Tijuca, no Rio de Janeiro, tornando-se o primeiro
motorista a sofrer um acidente de carro no Brasil.
Aos poucos, profissionalizou-se: produziu, além de
poemas, textos publicitários, crônicas, livros escolares e poesias satíricas.
Visava, então, retratar, através de seus manuscritos, a realidade presente em
sua época. Prestou colaboração em publicações periódicas como as revistas A
Imprensa (1885-1891), A Leitura (1894-1896), Branco e Negro (1896-1898),
Brasil-Portugal (1899-1914), Azulejos (1907-1909) e Atlântida
(1915-1920). Sua estreia como poeta nos jornais cariocas ocorreu com a
publicação do soneto “Sesta de Nero” na Gazeta de Notícias, em
agosto de 1884. Recebeu comentários elogiosos de Artur Azevedo, precedendo dois
outros sonetos seus no Diário de Notícias. Ademais, escreveu diversos
livros escolares, ora sozinho, ora em coautoria com seus amigos Coelho Neto e
Manuel Bonfim. Em 1888, Olavo Bilac estreou como poeta e lançou sua obra intitulada
Poesias, que obteve ampla aceitação do público.
Em 1891, com a dissolução do parlamento e a posse
de Floriano Peixoto, inúmeros intelectuais perderam seu protetor, o dr.
Portela, ligado ao primeiro presidente republicano, Deodoro da Fonseca. Como reação,
Bilac participou da fundação de O Combate, órgão antiflorianista e
opositor do estado de sítio declarado pelo presidente Floriano Peixoto após a
ameaça de novo golpe político contra a ainda instável república. Nesse
contexto, o poeta foi preso e constrangido a passar quatro meses detido na
Fortaleza da Laje, no Rio de Janeiro.
O grande amor de Bilac foi Amélia de Oliveira, irmã
do poeta Alberto de Oliveira. Chegaram a ficar noivos, mas o compromisso foi
desfeito por oposição de outro irmão da noiva, desconfiado de que o poeta era
um homem arruinado. Seu segundo noivado foi ainda menos duradouro, com Maria
Selika, filha do violonista Francisco Pereira da Costa. Viveu sozinho, em
consequência desses descasos amorosos, sem constituir família até o fim de seus
dias. Faleceu em 28 de dezembro de 1918, vítima de edema pulmonar e
insuficiência cardíaca, sendo sepultado no Cemitério de São João Batista, no
Rio de Janeiro.
“A Pátria não é a raça, não é o meio, não é o
conjunto dos aparelhos econômicos e políticos: é o idioma criado ou herdado
pelo povo.” — Olavo Bilac
Já consagrado em 1907, o autor do Hino à Bandeira
foi convidado a liderar o movimento em prol do serviço militar obrigatório, já
matéria de lei desde 1907, mas apenas implementado em 1915, por ocasião da
Primeira Guerra Mundial. Bilac desdobrou-se para convencer os jovens a se
alistarem.
É como poeta que Bilac se imortalizou. Foi eleito Príncipe
dos Poetas Brasileiros pela revista Fon-Fon em 1907. Juntamente com
Alberto de Oliveira e Raimundo Correia, foi a maior liderança e expressão do
Parnasianismo no Brasil, constituindo a chamada Tríade Parnasiana. A
publicação de Poesias, em 1888, rendeu-lhe consagração.
Já no fim de sua vida, em 1917, Bilac recebeu o
título de professor honorário da Universidade de São Paulo.
Principais obras
Dentre os escritos de Olavo Bilac, destacam-se:
- Alma
inquieta
- Antologia
poética
- Através
do Brasil
- Conferências
literárias
(1906)
- Contos
Pátrios
- Crítica
e fantasia
(1904)
- Crônicas
e novelas
(1894)
- Dicionário
de rimas (1913)
- Hino
à Bandeira
- Ironia
e piedade
(1916)
- Língua
Portuguesa
(soneto)
- Livro
de Leitura
- Poesias (1888)
- Tarde (1919, org. de Alceu
Amoroso Lima, 1957)
- Teatro
Infantil
- Tratado
de Versificação, em
colaboração com Guimarães Passos
- Tratado
de versificação
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Língua Portuguesa - Olavo Bilac
Narração do Mundo dos Poemas.
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura;
Ouro nativo, que, na ganga impura,
A bruta mina entre os cascalhos
vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceanos largos!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu
filho!”
E em que Camões chorou, no exílio
amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem
brilho!