quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

YO SOY YO QUIERO YO PUEDO - EU SOU, EU QUERO, EU POSSO DE LIGIA ISABEL GUERRERO - UM HINO À MEMÓRIA, À VIDA E À ESPERANÇA - HOMENAGEM DO FOCUS PORTAL CULTURAL

 EU SOU, EU QUERO, EU POSSO

DE LIGIA ISABEL GUERRERO

UM HINO À MEMÓRIA, À VIDA E À ESPERANÇA

Resenha de @ Alberto Araújo

Este livro de poemas é mais do que uma coletânea literária: é uma travessia íntima pela memória, pela emoção e pela reflexão da alma. A poesia de Ligia Isabel Guerrero nasce como um rio que carrega lembranças, saudades e revelações, conduzindo o leitor a um território onde o tempo se mistura com o sentimento e onde cada verso se torna uma chave para abrir portas interiores.

Ligia escreve com a força de quem carrega raízes profundas. Sua Nicarágua natal, distante e ao mesmo tempo presente, é o pano de fundo invisível que permeia cada palavra. É a terra que a viu crescer, que moldou sua sensibilidade e que, mesmo na distância, continua a pulsar em sua escrita como um coração que nunca se cala. A nostalgia que emerge em seus poemas não é apenas melancolia: é também celebração daquilo que permanece vivo na memória, mesmo quando o corpo se encontra longe. 

A poesia aqui é refúgio. É abrigo para aqueles que conhecem a dor da perda, mas que ainda buscam autenticidade e força interior. Ligia oferece ao leitor um espaço de acolhimento, onde a vulnerabilidade se transforma em coragem e onde a tristeza encontra sua contrapartida na esperança. Seus versos são como mãos estendidas, capazes de tocar suavemente quem atravessa momentos de silêncio ou solidão. 

Mas esta obra não se limita ao íntimo da autora. Ela se abre ao diálogo com outras artes e outras vozes. O músico e compositor porto-riquenho Marlow Rosado, duas vezes vencedor do Grammy e figura de destaque na música latina contemporânea, empresta sua sensibilidade para transformar os poemas em música. Ao musicar os textos, Rosado cria uma ponte entre palavra e melodia, entre silêncio e som, entre contemplação e celebração. O resultado é uma experiência artística única: cada poema se expande em harmonia, cada verso encontra ressonância em acordes que prolongam sua emoção. 

Essa fusão entre literatura e música confere à obra uma dimensão ritualística. Ler os poemas é como participar de uma cerimônia íntima; ouvi-los musicados é como entrar em um templo onde a palavra se torna canto e o canto se torna oração. O diálogo entre Ligia e Marlow é, portanto, mais do que uma colaboração artística: é um encontro de almas que reconhecem na arte um caminho de transcendência. 

A obra celebra a feminilidade em todas as suas fases. Exalta a maturidade, a transformação pessoal, a capacidade de renascer a cada etapa da vida. A mulher que emerge dos versos de Ligia não é apenas musa ou figura idealizada: é sujeito pleno, que se reconhece em sua força e em sua vulnerabilidade, que se reinventa diante das perdas e que encontra no amor uma forma de liberdade. O amor, aqui, não é prisão nem dependência: é entrega consciente, é reconhecimento do outro, é celebração da alteridade. 

Cada poema é uma janela para compreender o amor em suas múltiplas formas: o amor que cura, o amor que liberta, o amor que se entrega sem medo. Ao mesmo tempo, cada verso é também uma afirmação da vida, mesmo diante da dor. A poesia de Ligia nos lembra que a existência é feita de ciclos, de despedidas e reencontros, de ausências e presenças, mas que em todos esses movimentos há sempre uma centelha de esperança. 

Este livro é, portanto, um hino à vida, à memória e à resiliência. É uma obra que nos convida a olhar para dentro de nós mesmos e a reconhecer que, mesmo nas sombras, a luz persiste. É um lembrete de que a esperança não se apaga, de que a alma humana é capaz de se reinventar e de que a arte é um dos caminhos mais poderosos para essa reinvenção.

Ao longo de suas páginas, o leitor encontrará não apenas poesia, mas também testemunho. Testemunho de uma mulher que atravessou fronteiras geográficas e emocionais, que transformou sua experiência em arte e que agora compartilha essa arte como gesto de generosidade. Testemunho de uma artista que entende que a palavra pode ser cura, que o verso pode ser oração e que a poesia pode ser ponte entre mundos. 

E ao lado dessa voz poética, a música de Marlow Rosado amplia o alcance da obra, tornando-a não apenas leitura, mas experiência sensorial. O encontro entre poesia e música é também encontro entre culturas: Nicarágua e Porto Rico se unem em um diálogo que transcende fronteiras e que reafirma a riqueza da tradição latina.

 

Assim, este livro não é apenas uma coletânea de poemas. É um convite à contemplação, à escuta, à reflexão. É uma obra que nos lembra de que a arte é capaz de transformar dor em beleza, ausência em presença, silêncio em canto. É um lembrete de que, mesmo quando tudo parece perdido, a esperança permanece, como chama que nunca se apaga, como canto que atravessa gerações.

 

POEMAS:

https://www.youtube.com/watch?v=we3MDTD4YaA&list=OLAK5uy_ku9NsyySGPHVa9wqTRZgyoUcuT32xqBB4

 

LIVRO: https://www.amazon.com.br/Yo-soy-quiero-puedo-Spanish-ebook/dp/B0FY7XWRSF


© Alberto Araújo

Focus Portal Cultural 













EFEMÉRIDES DO FOCUS PORTAL CULTURAL 10 DE DEZEMBRO – 195 ANOS DO NASCIMENTO DE EMILY DICKINSON


O quadro Efemérides do Focus Portal Cultural, sob a curadoria do jornalista Alberto Araújo, destaca hoje os 195 anos do nascimento de Emily Elizabeth Dickinson, uma das maiores poetisas da literatura universal. Pouco conhecida em vida, Dickinson tornou-se, após sua morte, uma das figuras mais importantes da poesia americana, reconhecida por sua originalidade e profundidade.

Nascida em 10 de dezembro de 1830, em Amherst, Massachusetts, Dickinson viveu uma existência discreta e misteriosa, mas deixou uma obra que atravessou séculos e permanece como referência incontornável da poesia moderna. A efeméride ganha ainda mais relevância ao lembrarmos que a poetisa foi homenageada pela escritora Cecy Barbosa Campos na coletânea Mulheres Extraordinárias – volume 2, organizada pela jornalista e escritora Dyandreia Portugal, presidente da Rede Sem Fronteiras (2021), reafirmando a originalidade e a permanência de sua voz. Registro ainda que guardo em minha biblioteca dois livros de Emily Dickinson, sendo um deles presente de aniversário do meu saudoso mestre Sávio Soares de Sousa. 

Emily nasceu em uma família abastada e culta. Seu avô, Samuel Fowler Dickinson, foi um dos fundadores do Amherst College, e seu pai, Edward Dickinson, advogado e político influente. Criada em ambiente privilegiado, recebeu sólida formação escolar, chegando a frequentar o South Hadley Female Seminary. Contudo, recusou-se a declarar publicamente sua fé, gesto que já revelava sua postura independente e avessa às convenções. 

A partir da juventude, Emily passou a viver em relativo isolamento. Considerada excêntrica pelos vizinhos, preferia vestir-se de branco e evitava visitas. Com o tempo, restringiu-se quase inteiramente ao espaço doméstico, dividindo a casa com a irmã Lavínia. Essa reclusão lhe valeu o epíteto de “Grande Reclusa de Amherst”. Apesar disso, sua vida interior era intensa e fértil, alimentada por correspondências com amigos, intelectuais e familiares, além de leituras e reflexões que se transformaram em poesia.

Durante sua vida, Dickinson publicou apenas dez poemas e uma carta, quase sempre anonimamente e com alterações editoriais que buscavam adequá-los às normas da época. No entanto, sua produção foi vasta: cerca de 1.800 poemas, guardados em cadernos e folhas soltas, descobertos após sua morte em 1886. Essa obra monumental só veio a público em sua forma quase integral em 1955, quando o estudioso Thomas H. Johnson organizou The Poems of Emily Dickinson.

Sua poesia rompeu com padrões formais. Versos curtos, sem títulos, uso peculiar de maiúsculas e travessões criaram um estilo único. Os temas recorrentes, morte, imortalidade, natureza, espiritualidade, estética e sociedade, revelam uma mente que buscava compreender o mistério da existência. Sua linguagem, ao mesmo tempo simples e abismal, transformava elementos triviais em símbolos universais. 

Grande parte do que sabemos sobre Emily vem de suas cartas. Entre seus interlocutores estavam Susan Huntington Gilbert Dickinson, sua cunhada e vizinha, a quem dedicou diversos poemas; Samuel Bowles, editor do Springfield Republican; o crítico Thomas Wentworth Higginson, que a incentivou literariamente; e a escritora Helen Hunt Jackson. Essas correspondências revelam não apenas sua visão poética, mas também sua sensibilidade diante do cotidiano. 

Um detalhe curioso é que muitas dedicatórias a Susan foram apagadas por Mabel Loomis Todd, responsável pela primeira edição de seus poemas em 1890. Esse gesto, revelado décadas depois, mostra como a obra de Dickinson foi manipulada antes de ser reconhecida em sua autenticidade. 

Emily Dickinson faleceu em 15 de maio de 1886, vítima de nefrite. Foi sepultada no West Cemetery, em Amherst, junto de seus familiares. Após sua morte, Lavínia encontrou os manuscritos que revelaram a dimensão de sua obra. Desde então, Dickinson passou de figura excêntrica e pouco conhecida a ícone da poesia mundial. 

Suas obras foram publicadas em diferentes edições ao longo do século XX e XXI, incluindo traduções para diversas línguas. No Brasil, destacam-se as versões de Jorge de Sena e Augusto de Campos, que ressaltaram a densidade e a musicalidade de seus versos. Augusto de Campos observou que sua poesia condensa “micro e macrocosmo compactados em aforismos poéticos”, revelando tanto a solidão quanto a visão cósmica da autora. 

Emily Dickinson criou um idioma poético próprio, desafiando convenções e antecipando a modernidade literária. Sua poesia é marcada por paradoxos: simplicidade e profundidade, isolamento e universalidade, silêncio e intensidade. Ao transformar o cotidiano em metáfora, deu vida a uma poesia metafísica, impregnada de misticismo e reflexão existencial.

Sua obra continua a inspirar escritores, críticos e leitores. Ao ser homenageada na coletânea Mulheres Extraordinárias, Dickinson reafirma sua posição como mulher que, mesmo em reclusão, rompeu barreiras e deixou um legado imortal. Sua originalidade não está apenas na forma, mas na coragem de ser fiel à própria voz, mesmo quando o mundo ao redor não a compreendia.

Celebrar os 195 anos do nascimento de Emily Dickinson é reconhecer a força de uma poesia que transcende o tempo. Sua vida discreta, marcada pelo isolamento, contrasta com a vastidão de sua obra, que continua a ecoar em cada verso. Dickinson nos ensina que a verdadeira liberdade está em criar, em transformar o silêncio em palavra e em dar sentido ao efêmero. Sua poesia é, ainda hoje, uma janela para o infinito.


OBRAS

Poems by Emily Dickinson - Organização de Mabel Loomis Todd & T. W. Higginson. Boston: Robert Brothers, 1890. 

The poems of Emily Dickinson, 3 volumes. Organização de Thomas H. Johnson. Cambridge: The Belknap Press, Harvard University Press, 1955. 

The letters of Emily Dickinson, 3 volumes. Organização de Thomas H. Johnson & Theodora Ward. Cambridge: The Belknap Press, Harvard University, 1958. 

The complete poems of Emily Dickinson. Organização de Thomas H. Johnson. Boston e Toronto: Little, Brown and Company, 1960. 

The manuscript books of Emily Dickinson, 2 volumes. Organização de R. W. Franklin. Cambridge e Londres: The Belknap Press, Harvard University Press, 1981. 

The masters letters of Emily Dickinson. Organização de R. W. Franklin. Amherst: Amherst College Press, 1986. 

The poems of Emily Dickinson. Organização de R. W. Franklin. Cambridge e Londres: The Belknap Press, Harvard University Press, 1999. 

Emily Dickinson's Poems: As She Preserved Them. - Cristanne Miller, ed. - Harvard University Press, 2016.

80 poemas de Emily Dickinson - Traduzidos para língua portuguesa por Jorge de Sena - Edições 70, 1978

Emily Dickinson: Poemas. - Tradução de Margarita Ardanaz. Edição bilingue inglês/espanhol - Cátedra, 1987.


 @ Alberto Araújo

Focus Portal Cultural 












ENTREVISTA EM CASA | CLARICE LISPECTOR – ENTREVISTA PARA O PROGRAMA "OS MÁGICOS" DA TV EDUCATIVA NO ANO DE 1976.

(CLICAR NA IMAGEM PARA ASSITIR AO VÍDEO)

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

ADÔNIS BELEZA, MITO E RENASCIMENTO - CRÔNICA DE @ ALBERTO ARAÚJO



Na penumbra dos dias que se arrastam entre o concreto e o digital, o nome de Adônis ressurge como uma brisa antiga, soprada pelas palavras do professor Marco Antônio Martins Pereira. Não é apenas uma evocação mitológica, mas um convite ao mergulho lírico na essência da beleza, do amor e da natureza que morre para renascer.

 

Adônis, figura mitológica grega, é mais do que um jovem de beleza extraordinária. Ele é o arquétipo do efêmero, do que encanta e escapa, do que floresce e fenece. Amado por Afrodite, deusa do amor e da beleza, e por Perséfone, senhora do submundo e dos mistérios da terra, Adônis é disputado entre o céu e o inferno, entre o desejo e a morte. Seu mito é um poema trágico que atravessa os séculos, simbolizando o ciclo eterno da vida que se desfaz para se refazer.

 

Mas antes de ser grego, Adônis foi fenício. Seu nome, derivado de "Adon", significa "Senhor". Um título que carrega reverência e poder, mas que, na boca dos poetas, se transforma em lamento e saudade. A mitologia fenícia, rica em simbolismos solares e vegetais, já desenhava em Adônis a imagem do deus que morre com o inverno e renasce com a primavera. Um deus vegetal, cuja morte é chorada pelas mulheres e cuja volta é celebrada com flores.

 

E é justamente uma flor que perpetua seu nome na botânica: a flor de Adônis. Pequena, delicada, de cores vibrantes, ela brota como lembrança viva do mito. Cada pétala é uma página do drama antigo, cada caule uma linha do poema que a natureza escreve em silêncio. A flor de Adônis não é apenas uma planta; é um símbolo da beleza que resiste ao tempo, da memória que floresce mesmo entre ruínas.

 

Na linguagem comum, Adônis virou sinônimo de beleza masculina. Um elogio que carrega ecos de um passado mitológico, como se cada rosto belo fosse uma reencarnação do jovem amado por deusas. Mas há algo de melancólico nesse elogio. Porque a beleza de Adônis não é apenas estética; é trágica. É a beleza que sabe que vai morrer, que carrega em si o presságio da queda.

 

E como se não bastasse, Adônis é também o pseudônimo de um famoso poeta sírio. Um homem que, com palavras, recria o mundo, que transforma dor em verso, que faz da língua árabe um templo de beleza e resistência. O poeta Adônis é herdeiro do mito, não por sua aparência, mas por sua capacidade de renascer em cada poema, de fazer da arte um campo de flores que desafia a morte.

 

A postagem do professor Marco Antônio é, portanto, uma oferenda. Uma oferenda ao mito, à cultura, à beleza que não se explica, mas se sente. É certamente, uma crônica imagética que não apenas informa, mas transforma. Que nos faz olhar para o mundo com olhos de quem sabe que tudo é passagem, mas que há passagens que florescem.

Adônis é o jovem que morre e volta. É a flor que brota no inverno. É o poema que resiste ao silêncio. É o senhor da beleza que não se prende ao espelho, mas se espalha na memória dos que sabem ver. E ao lembrarmos-nos de Adônis, lembramos-nos de nós mesmos: seres que amam, que perdem, que renascem.

 

E assim, entre o mito e o cotidiano, entre a aula e o sonho, entre o Facebook e a eternidade, Adônis caminha. E nós, leitores, seguimos seus passos, guiados pela voz do professor que, como um jardineiro de ideias, nos oferece essa flor rara chamada conhecimento.

 

© Alberto Araújo

Focus Portal Cultural

 


 

EFEMÉRIDES – 10 DE DEZEMBRO – 105 ANOS DO NASCIMENTO CLARICE LISPECTOR

No calendário cultural brasileiro, os dias 09 e 10 de dezembro se entrelaçam em torno de uma mesma personalidade: Clarice Lispector. Em 09 de dezembro de 1977, a escritora nos deixou, um dia antes de completar 57 anos. Já em 10 de dezembro celebramos o nascimento, ocorrido em 1920, há exatos 105 anos. É como se a vida e a morte de Clarice se tocassem, lembrando-nos que sua obra permanece como ponte entre o efêmero e o eterno. 

Clarice nasceu em Chechelnyk, na Ucrânia, em meio às turbulências da guerra civil e da perseguição aos judeus. Ainda criança, chegou ao Brasil com a família, que buscava refúgio e reconstrução. Cresceu no Recife, onde descobriu a força das palavras, e mais tarde se fixou no Rio de Janeiro, cidade que seria palco de sua maturidade literária. 

Desde o primeiro romance, Perto do Coração Selvagem (1944), Clarice mostrou que não se tratava de uma autora comum. Sua escrita rompeu com a narrativa linear, mergulhando no fluxo de consciência e na introspecção. Cada obra é um mergulho no indizível:

Laços de Família (1960) expõe tensões ocultas do cotidiano.

A Paixão segundo G.H. (1964) confronta o vazio existencial.

A Hora da Estrela (1977) dá voz à invisibilidade social através da personagem Macabéa.

Um Sopro de Vida (1978), publicado postumamente, reflete sobre o próprio ato de escrever. 

Clarice também se dedicou às crônicas, à literatura infantil e às entrevistas, sempre com a mesma intensidade e originalidade. 

A morte de Clarice, em 1977, foi recebida com comoção. Mas sua ausência física nunca significou silêncio. Pelo contrário: sua obra continua a ecoar, traduzida em diversas línguas, estudada em universidades, adaptada para teatro e cinema. Clarice tornou-se presença constante na literatura mundial, símbolo da força criadora feminina e da modernidade brasileira.

Celebrar os 105 anos de Clarice Lispector é reconhecer que sua escrita permanece viva, desafiando leitores a cada nova geração. Sua obra nos convida a olhar para dentro, a enfrentar o mistério da existência e a descobrir, nas palavras, uma forma de transcendência. 

Clarice não apenas escreveu livros: ela reinventou a literatura brasileira, abrindo caminhos para uma escrita mais íntima, filosófica e existencial. Sua voz, marcada pela intensidade e pela busca incessante de sentido, ecoa até hoje, lembrando-nos de que a literatura é, antes de tudo, uma forma de viver e compreender o mundo. 

Assim, dezembro nos lembra que Clarice Lispector é ao mesmo tempo memória e celebração: 48 anos de saudade e 105 anos de presença.


 








ENTREVISTA EM CASA | Clarice Lispector –

Entrevista para o programa "Os Mágicos"

da TV educativa no ano de 1976.





AÇÃO SOCIAL EM ITITIOCA - ELOS UNIVERSITÁRIO E ROTARY CLUB DE NITERÓI


 

INFORMATIVO DO ELOS INTERNACIONAL

Niterói, 08 de dezembro. O Elos Internacional, sob a presidência da incansável e dedicada Matilde Carone Slaibi Conti, esteve representado pelo Elos Universitário o coordenador Bernardo Correia Lima Junior em mais uma iniciativa que traduz o espírito de solidariedade e compromisso social da instituição. A ação, realizada na Creche de Ititioca, consistiu na entrega de brinquedos às crianças, numa manhã marcada pela alegria contagiante e pela presença especial do bom velhinho, o Papai Noel, que trouxe ainda mais encanto ao encontro. 

A atividade foi conduzida pelo Elos Universitário, célula jovem e dinâmica do movimento elista, em parceria com o Rotary Club de Niterói e com o apoio de diversos rotarianos e universitários. O gesto simples de doar brinquedos transformou-se em um momento de esperança e afeto, reafirmando o compromisso do Elos Internacional com a promoção da dignidade humana e o fortalecimento dos laços comunitários. 

O evento em Ititioca é apenas um exemplo da forma como o Elos Internacional articula cultura e solidariedade. A entrega de brinquedos, além de proporcionar alegria às crianças, simboliza o compromisso da instituição em transformar a realidade por meio de gestos concretos. Ao mesmo tempo, o intercâmbio com academias e instituições culturais reforça a dimensão intelectual e literária do movimento, que se afirma como espaço de diálogo, produção e difusão de conhecimento. 

Sob a liderança de Matilde Carone Slaibi Conti, o Elos Internacional reafirma sua missão: ser ponte entre culturas, instituições e pessoas, promovendo a união entre o saber e a solidariedade. A presidente, com sua trajetória marcada pela dedicação à justiça, à literatura e ao serviço comunitário, personifica o ideal elista de que a cultura deve caminhar lado a lado com a ação social. 

A ação em Ititioca, com a participação do Elos Universitário, do Rotary Club de Niterói, da Casa da Amizade e de tantos voluntários, é um retrato fiel daquilo que o Elos Internacional representa: união, solidariedade e cultura. Ao mesmo tempo em que promove o intercâmbio com instituições literárias e jurídicas de grande prestígio, o movimento não se distancia das necessidades mais urgentes da sociedade. 

À frente do Elos Internacional, Matilde Carone Slaibi Conti tem se destacado por sua atuação multifacetada e exemplar. Jurista de sólida formação e liderança reconhecida, Matilde acumula funções de grande relevância: Presidente do Elos Internacional; Presidente do Cenáculo Fluminense de História e Letras; Presidente da Academia Brasileira Rotária de Letras do Estado do Rio; Procuradora e Vice-presidente da OAB-Niterói; Vice-presidente do Rotary Clube de Niterói; Diretora da Casa da Amizade; Diretora Jurídica da UBE-RJ. 

Sua trajetória revela não apenas dedicação às letras e à cultura, mas também um compromisso profundo com a justiça, a cidadania e a solidariedade. Matilde é exemplo de liderança que une o rigor jurídico à sensibilidade social, promovendo iniciativas que transcendem fronteiras e aproximam instituições em torno de valores universais. 

O êxito da ação social em Ititioca só foi possível graças ao engajamento de instituições que, cada uma à sua maneira, representam pilares de solidariedade e cidadania em Niterói: 

Rotary Club de Niterói – Sob a presidência de Ana Paula Aguiar, o Rotary reafirma sua vocação de servir à comunidade, promovendo projetos que unem voluntariado, responsabilidade social e impacto positivo. A parceria com o Elos Universitário nesta iniciativa demonstra a força do trabalho conjunto e a capacidade de transformar realidades locais. 

Casa da Amizade – Presidida por Zeneida Apolonio Seixas, a Casa da Amizade é reconhecida pela dedicação às causas sociais e pelo apoio constante às iniciativas comunitárias. Sua atuação é marcada pela sensibilidade e pelo compromisso em levar esperança e acolhimento às famílias mais necessitadas.

Elos Universitário – Coordenado por Bernardo Correia Lima Junior, o Elos Universitário representa a energia e o entusiasmo da juventude elista. Como célula acadêmica do Elos Internacional, tem sido responsável por mobilizar estudantes em prol de ações solidárias, fortalecendo a integração entre cultura, cidadania e voluntariado.

Essas parcerias revelam a união entre cultura e ação social, promovendo não apenas o encontro de intelectuais, mas também o impacto positivo na vida das comunidades.

Assim, o Elos Internacional e todas essas instituições seguem suas trajetórias, inspirando novas gerações e reafirmando que a verdadeira grandeza de uma instituição está em sua capacidade de transformar vidas, seja através da palavra escrita, seja através de gestos de amor e solidariedade. 

© Alberto Araújo

Diretor de Cultura do Elos Internacional 



















ENTREVISTA DE CLARICE LISPECTOR AO PROGRAMA PANORAMA - 1977

EFEMÉRIDES – 09 DE DEZEMBRO - 48 ANOS DO FALECIMENTO DE CLARICE LISPECTOR - FOCUS PORTAL CULTURAL



No dia 09 de dezembro de 1977, o Brasil perdeu uma das maiores vozes da literatura do século XX: Clarice Lispector, escritora cuja obra se tornou referência incontornável da modernidade literária. Sua morte, ocorrida em decorrência de um câncer de ovário, deu-se um dia antes de completar 57 anos. Desde então, sua presença permanece viva na memória cultural brasileira e mundial, como autora que revolucionou a forma de narrar, pensar e sentir através da palavra.

Clarice nasceu em 10 de dezembro de 1920, em Chechelnyk, pequena localidade da Ucrânia, então em processo de integração à União Soviética. Seu nome de batismo foi Chaya Pinkhasovna Lispector, filha de judeus que sofreram os horrores dos pogroms e da guerra civil que devastava a região. Em 1922, quando Clarice tinha apenas dois anos, a família emigrou para o Brasil, buscando refúgio e reconstrução. Fixaram-se inicialmente em Maceió, Alagoas, e depois no Recife, Pernambuco, onde Clarice cresceu e iniciou sua formação intelectual. 

A infância foi marcada por dificuldades, sobretudo pela doença da mãe, que faleceu quando Clarice ainda era menina. Apesar disso, desde cedo demonstrou curiosidade e paixão pelas palavras, pela leitura e pela escrita, revelando uma sensibilidade que se tornaria sua marca registrada. 

Clarice estudou Direito na então Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro. Embora tenha concluído o curso, sua verdadeira vocação sempre esteve ligada à literatura. Ainda jovem, trabalhou como tradutora e jornalista, aproximando-se dos círculos intelectuais cariocas. Aos 24 anos, publicou seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem (1944), obra que imediatamente chamou a atenção da crítica pela linguagem inovadora e introspectiva, recebendo o Prêmio Graça Aranha. 

A trajetória literária de Clarice Lispector é marcada por uma constante busca de expressão do indizível. Sua escrita, muitas vezes considerada hermética, mergulha nas profundezas da subjetividade humana, explorando temas como identidade, solidão, transcendência e o sentido da existência. 

ENTRE SUAS OBRAS MAIS SIGNIFICATIVAS DESTACAM-SE: 

Laços de Família (1960), coletânea de contos que revela o cotidiano familiar e suas tensões ocultas. 

A Paixão segundo G.H. (1964), romance filosófico e perturbador, em que uma mulher enfrenta o vazio existencial diante de uma barata esmagada.

A Hora da Estrela (1977), seu último romance publicado em vida, que narra a história da nordestina Macabéa, figura marginalizada e invisível, tornando-se um dos livros mais estudados da literatura brasileira contemporânea.

Um Sopro de Vida (1978), publicado postumamente, que aprofunda ainda mais sua reflexão sobre o ato de escrever e a relação entre autor e personagem. 

Além dos romances, Clarice produziu contos, crônicas, entrevistas e literatura infantil, sempre com a mesma intensidade e originalidade. Obras como O Mistério do Coelho Pensante e A Mulher que Matou os Peixes revelam sua versatilidade e capacidade de dialogar com diferentes públicos.

Paralelamente à ficção, Clarice atuou como cronista em jornais e revistas, escrevendo textos que mesclavam observações cotidianas, reflexões filosóficas e confissões íntimas. Suas crônicas, reunidas em volumes como A Descoberta do Mundo, são hoje consideradas parte essencial de sua obra, pois revelam a escritora em diálogo direto com seus leitores, sem perder a densidade poética.

Clarice Lispector é frequentemente associada ao Modernismo tardio e ao movimento de renovação da prosa brasileira. Sua escrita rompe com a linearidade narrativa, privilegiando o fluxo de consciência, a fragmentação e a introspecção. Muitos críticos a comparam a autores como Virginia Woolf e James Joyce, embora sua voz seja absolutamente singular. 

Sua obra influenciou gerações de escritores brasileiros e estrangeiros, tornando-se objeto de estudos acadêmicos em universidades de todo o mundo. Clarice é hoje traduzida em diversas línguas, e sua presença na literatura universal é cada vez mais reconhecida.

Nos anos 1970, Clarice enfrentou problemas de saúde, mas continuou escrevendo e publicando. Sua morte em 09 de dezembro de 1977, no Rio de Janeiro, foi recebida com grande comoção. O Brasil perdia não apenas uma escritora, mas uma pensadora que soube transformar a palavra em instrumento de revelação do ser humano em sua complexidade. 

Quarenta e oito anos após sua partida, Clarice Lispector permanece como uma das maiores autoras brasileiras do século XX. Sua obra continua a inspirar leitores, escritores e estudiosos, sendo constantemente reeditada e adaptada para teatro, cinema e outras linguagens artísticas. 

Clarice não apenas escreveu livros: ela reinventou a literatura brasileira, abrindo caminhos para uma escrita mais íntima, filosófica e existencial. Sua voz, marcada pela intensidade e pela busca incessante de sentido, ecoa até hoje, lembrando-nos de que a literatura é, antes de tudo, uma forma de viver e compreender o mundo. 

© Alberto Araújo

Focus Portal Cultural












                Panorama TV Cultura 1977