quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

CALOUSTE: UMA VIDA, NÃO UMA EXPOSIÇÃO. UM PERCURSO PELA HISTÓRIA DE QUEM FOI CALOUSTE E DO QUE DEIXOU PARA AS GERAÇÕES SEGUINTES.






Perante o desafio de construir uma exposição sobre Calouste Gulbenkian, o curador foi invadido por uma série de questões: Como expor uma vida, a sua vida? Como transformar uma biografia numa exposição? Perante as dúvidas, começaram a surgir respostas. Nesta exposição comemorativa, o espectador terá de pegar nos vestígios que Gulbenkian deixou para assumir um papel ativo na construção dessa vida, num caminho que se fará da frente para trás, do mais próximo para o mais antigo – uma linha, como que um labirinto que percorre o mundo que separa Lisboa de Istambul e terá uma narrativa com as suas histórias, as suas suspensões e, também, as suas falhas. Um percurso pela história do que foi Calouste e do que deixou para as gerações seguintes. Curadoria: Paulo Pires do Vale

QUEM É CALOUSTE

As raízes arménias no império otomano. A forte ligação às origens

Calouste nasceu a 23 de março de 1869, em Scutari (atual Uskudar), perto de Istambul, local de residência de muitas famílias de origem arménia. Filho de Sarkis e Dirouhie Gulbenkian, diz-se que era descendente dos príncipes de Rechdouni que tinham antigas propriedades feudais, na Grande Arménia, região que marcou a história arménio-bizantina até ao séc. X.

No século seguinte, no reinado de Sénékérin de Vaspourakan, os Príncipes de Rechdouni e os seus familiares estabeleceram-se em Cesareia da Capadócia, um dos mais antigos berços do cristianismo oriental, e adotaram o nome de família Vart Badrik, título nobiliário bizantino. Este nome de família seria adaptado, com a chegada dos Otomanos ao poder, para a forma turca de Gulbenkian.




Os Arménios desempenharam um papel determinante no Império Otomano, quer no campo económico e financeiro, quer nas artes. A família Gulbenkian destacar-se-ia ainda pela sua generosidade.

Desde 1800, as sucessivas gerações Gulbenkian sempre se mostraram muito generosas para com as comunidades arménias do Império otomano, onde a família tem as suas raízes.

Os Gulbenkian empenharam-se em várias ações de cariz filantrópico, a favor dos seus compatriotas otomanos, como a criação de hospitais, escolas, igrejas, auxílio a artistas e intelectuais, distribuição de alimentos em tempo de crise, entre outras iniciativas.

Calouste não fugiu à tradição familiar e manteve, a par da filantropia, uma forte ligação às raízes.


A sua relação com o império otomano serviu-lhe de barómetro na sua “arquitetura geopolítica”, aquando da grande corrida das nações ao petróleo, tendo conciliado os interesses do ocidente e do oriente com sabedoria.

Depois de já ser um empresário de sucesso, Calouste dedicou sempre grande afeto ao povo arménio e fez questão de ajudar as comunidades espalhadas pelo mundo com generosas contribuições financeiras, destinadas sobretudo a escolas, igrejas e hospitais, como o S. Pirgiç, em Istambul, onde se encontra o jazigo dos seus pais.

Ele próprio mandou construir a igreja de S. Sarkis, em Londres, e concedeu importantes donativos para o restauro da catedral de Etchmiadzine, na Arménia, e a biblioteca do Jerusalem Armenian Patriarchate.




Em 1930, assumiu o cargo de Presidente da União Geral Beneficente Arménia, a AGBU.

Em homenagem ao seu fundador, dois executores do testamento, Kevork Essayan, genro de Calouste Gulbenkian, e Azeredo Perdigão, primeiro Presidente da Fundação, criaram em 1956 o Serviço das Comunidades Arménias, então apelidado de Serviço do Médio-Oriente, cujo objetivo principal é a difusão da educação e da cultura arménia por todo o mundo. O Conselho de Administração inclui ainda, por tradição, um membro pertencente à família Gulbenkian, atualmente assegurado pelo seu bisneto Martin Essayan.

A Fundação Calouste Gulbenkian é conhecida em todo o mundo. Sobre o homem que a fundou há todo um mundo por conhecer. Calouste Sarkis Gulbenkian era um homem invulgarmente inteligente e de ideias inovadoras, o que fazia dele um visionário.

Foi detentor de uma das maiores fortunas do mundo, mas poucos o conheciam porque fugia do protagonismo e até evitava ser fotografado.

Pertencia a uma família arménia com antepassados ilustres. Os negócios do pai envolviam o comércio de tapetes orientais e querosene, um produto derivado do petróleo muito rentável na altura, que era utilizado para iluminação e aquecimento. Além disso, dedicava-se à atividade bancária.

Desde muito cedo que o pequeno Calouste teve contacto com línguas e culturas diferentes.

Quando terminou o ensino secundário foi para Marselha aperfeiçoar a língua francesa. Depois, seguiu rumo a Londres, onde foi admitido no King’s College, completando o curso de Engenharia e Ciências Aplicadas com uma classificação exemplar.

Apesar da sua paixão pela ciência e biologia, o seu percurso profissional acabaria por ser traçado, por insistência paterna, a partir do negócio de família. Mas Calouste Gulbenkian não ficou por aqui. Estudou o setor da exploração de petróleo, que viria a revolucionar. E nunca se esqueceu da sua paixão pela arte, que cultivou até ao final dos seus dias, assim como as causas que abraçava, usando a sua fortuna para as financiar.

Calouste Gulbenkian era, na sua essência, um filantropo, um humanista, um diplomata ou como ele próprio se definia: “um arquiteto de empreendimentos”.

A prova máxima desta sua faceta encontra-se em Lisboa, na fundação com o seu nome, e que deixou como legado “para benefício de toda a humanidade”, dedicada a quatro áreas fundamentais – Beneficência, Arte, Educação e Ciência.

Criado para albergar todas as obras que Calouste Gulbenkian foi adquirindo ao longo de mais de 50 anos e que considerava como “suas filhas”, o Museu Calouste Gulbenkian reúne cerca de 6.500 peças de valor incalculável, acessíveis a todos, naquela que é uma das melhores coleções do mundo.












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