Perante
o desafio de construir uma exposição sobre Calouste Gulbenkian, o curador foi
invadido por uma série de questões: Como expor uma vida, a sua vida? Como
transformar uma biografia numa exposição? Perante as dúvidas, começaram a
surgir respostas. Nesta exposição comemorativa, o espectador terá de pegar nos
vestígios que Gulbenkian deixou para assumir um papel ativo na construção dessa
vida, num caminho que se fará da frente para trás, do mais próximo para o mais
antigo – uma linha, como que um labirinto que percorre o mundo que separa
Lisboa de Istambul e terá uma narrativa com as suas histórias, as suas
suspensões e, também, as suas falhas. Um percurso pela história do que foi
Calouste e do que deixou para as gerações seguintes. Curadoria:
Paulo Pires do Vale
QUEM
É CALOUSTE
As
raízes arménias no império otomano. A forte ligação às origens
Calouste
nasceu a 23 de março de 1869, em Scutari (atual Uskudar), perto de Istambul,
local de residência de muitas famílias de origem arménia. Filho de Sarkis e Dirouhie
Gulbenkian, diz-se que era descendente dos príncipes de Rechdouni que tinham
antigas propriedades feudais, na Grande Arménia, região que marcou a história
arménio-bizantina até ao séc. X.
No
século seguinte, no reinado de Sénékérin de Vaspourakan, os Príncipes de
Rechdouni e os seus familiares estabeleceram-se em Cesareia da Capadócia, um
dos mais antigos berços do cristianismo oriental, e adotaram o nome de família
Vart Badrik, título nobiliário bizantino. Este nome de família seria adaptado,
com a chegada dos Otomanos ao poder, para a forma turca de Gulbenkian.
Os
Arménios desempenharam um papel determinante no Império Otomano, quer no campo
económico e financeiro, quer nas artes. A família Gulbenkian destacar-se-ia
ainda pela sua generosidade.
Desde
1800, as sucessivas gerações Gulbenkian sempre se mostraram muito generosas
para com as comunidades arménias do Império otomano, onde a família tem as suas
raízes.
Os
Gulbenkian empenharam-se em várias ações de cariz filantrópico, a favor dos
seus compatriotas otomanos, como a criação de hospitais, escolas, igrejas,
auxílio a artistas e intelectuais, distribuição de alimentos em tempo de crise,
entre outras iniciativas.
Calouste
não fugiu à tradição familiar e manteve, a par da filantropia, uma forte
ligação às raízes.
A
sua relação com o império otomano serviu-lhe de barómetro na sua “arquitetura
geopolítica”, aquando da grande corrida das nações ao petróleo, tendo
conciliado os interesses do ocidente e do oriente com sabedoria.
Depois
de já ser um empresário de sucesso, Calouste dedicou sempre grande afeto ao
povo arménio e fez questão de ajudar as comunidades espalhadas pelo mundo com
generosas contribuições financeiras, destinadas sobretudo a escolas, igrejas e
hospitais, como o S. Pirgiç, em Istambul, onde se encontra o jazigo dos seus
pais.
Ele
próprio mandou construir a igreja de S. Sarkis, em Londres, e concedeu
importantes donativos para o restauro da catedral de Etchmiadzine, na Arménia,
e a biblioteca do Jerusalem Armenian Patriarchate.
Em
1930, assumiu o cargo de Presidente da União Geral Beneficente Arménia, a AGBU.
Em
homenagem ao seu fundador, dois executores do testamento, Kevork Essayan, genro
de Calouste Gulbenkian, e Azeredo Perdigão, primeiro Presidente da Fundação,
criaram em 1956 o Serviço das Comunidades Arménias, então apelidado de Serviço
do Médio-Oriente, cujo objetivo principal é a difusão da educação e da cultura
arménia por todo o mundo. O Conselho de Administração inclui ainda, por
tradição, um membro pertencente à família Gulbenkian, atualmente assegurado
pelo seu bisneto Martin Essayan.
A
Fundação Calouste Gulbenkian é conhecida em todo o mundo. Sobre o homem que a
fundou há todo um mundo por conhecer. Calouste Sarkis Gulbenkian era um homem
invulgarmente inteligente e de ideias inovadoras, o que fazia dele um
visionário.
Foi
detentor de uma das maiores fortunas do mundo, mas poucos o conheciam porque
fugia do protagonismo e até evitava ser fotografado.
Pertencia
a uma família arménia com antepassados ilustres. Os negócios do pai envolviam o
comércio de tapetes orientais e querosene, um produto derivado do petróleo
muito rentável na altura, que era utilizado para iluminação e aquecimento. Além
disso, dedicava-se à atividade bancária.
Desde
muito cedo que o pequeno Calouste teve contacto com línguas e culturas
diferentes.
Quando
terminou o ensino secundário foi para Marselha aperfeiçoar a língua francesa.
Depois, seguiu rumo a Londres, onde foi admitido no King’s College, completando
o curso de Engenharia e Ciências Aplicadas com uma classificação exemplar.
Apesar
da sua paixão pela ciência e biologia, o seu percurso profissional acabaria por
ser traçado, por insistência paterna, a partir do negócio de família. Mas
Calouste Gulbenkian não ficou por aqui. Estudou o setor da exploração de
petróleo, que viria a revolucionar. E nunca se esqueceu da sua paixão pela
arte, que cultivou até ao final dos seus dias, assim como as causas que
abraçava, usando a sua fortuna para as financiar.
Calouste
Gulbenkian era, na sua essência, um filantropo, um humanista, um diplomata ou
como ele próprio se definia: “um arquiteto de empreendimentos”.
A
prova máxima desta sua faceta encontra-se em Lisboa, na fundação com o seu
nome, e que deixou como legado “para benefício de toda a humanidade”, dedicada
a quatro áreas fundamentais – Beneficência, Arte, Educação e Ciência.
Criado
para albergar todas as obras que Calouste Gulbenkian foi adquirindo ao longo de
mais de 50 anos e que considerava como “suas filhas”, o Museu Calouste
Gulbenkian reúne cerca de 6.500 peças de valor incalculável, acessíveis a
todos, naquela que é uma das melhores coleções do mundo.
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