terça-feira, 12 de setembro de 2023

EFEMÉRIDES: HÁ 100 ANOS, EM 13 DE SETEMBRO DE 1923 NASCEU NATÁLIA CORREIA ESCRITORA E POETISA PORTUGUESA.


Natália Correia nasceu Nascida na ilha de São Miguel nos Açores - Fajã de Baixo no dia 13 de setembro de 1923 e faleceu em Lisboa, 16 de março de 1993. Deputada à Assembleia da República (1980-1991) interveio politicamente nos campos da cultura e do patrimônio, na defesa dos direitos humanos e dos direitos das mulheres. Juntamente com José Saramago (Prêmio Nobel de Literatura, 1998), Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC). 

A obra de Natália Correia estende-se por vários gêneros, desde a poesia ao romance, teatro e ensaio. Colaborou com frequência em diversas publicações portuguesas e estrangeiras. Durante as décadas de 1950 e 1960, em sua casa reunia-se uma das mais vibrantes tertúlias de Lisboa, onde compareciam as mais destacadas figuras das artes, das letras e da política (oposicionista) portuguesas e também internacionais. A partir de 1971, essas reuniões passaram a ter lugar no bar Botequim. Ficou conhecida pela sua personalidade livre de convenções sociais, vigorosa e polêmica, que se reflete na sua escrita. A sua obra está traduzida em várias línguas. 

Iniciou-se na literatura com a publicação de uma obra destinada ao público infanto-juvenil, mas rapidamente se afirmou como poetisa (como ela gostava de ser chamada: «...poetisa. Sim, chamar-lhe-ei poetisa. A homenagem que distingue o gênio poético feminino com o prêmio de lhe masculinizar o estro ultraja uma poesia que quer feminizar o mundo»).

Notabilizada através de diversas vertentes da escrita, já que foi poeta, dramaturga, romancista, ensaísta, tradutora, jornalista, guionista e editora, tornou-se conhecida na imprensa escrita e, mais tarde, nos anos 80, na televisão, com o programa Mátria, onde advogou uma forma especial de feminismo (afastado do conceito politicamente correto do movimento), o matricismo, identificador da mulher como arquétipo da liberdade erótica e passional e fonte matricial da humanidade; mais tarde, à noção de Pátria e de Mátria acrescenta a de Frátria. Foi igualmente coordenadora da Editora Arcádia, uma das principais editoras livreiras portuguesas do seu tempo. 

Dotada de invulgar talento oratório e grande coragem combativa, tomou parte ativa nos movimentos de oposição ao Estado Novo, tendo participado no MUD (Movimento de Unidade Democrática, 1945), no apoio às candidaturas para a Presidência da República do general Norton de Matos (1949) e de Humberto Delgado (1958) e na CEUD (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática, 1969), liderada por Mário Soares. 

Foi condenada a três anos de prisão, com pena suspensa, pela publicação da Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, considerada ofensiva dos costumes (1966) e processada por ter tido a responsabilidade editorial das Novas Cartas Portuguesas de Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta; processo que ficaria conhecido como Três Marias.

A sua intervenção política pública levou-a ao Parlamento, no período subsequente ao 25 de abril de 1974, eleita em 1980 nas listas do PSD, motivada pela pessoa de Francisco Sá Carneiro, de quem era amiga, tal como de Snu Abecassis. Passaria, no entanto, a deputada independente durante a legislatura quando se chocou com as posições conservadoras em matérias de costumes do PSD, saindo do partido, afirmando ter acreditado num projeto reformista, mas tendo-se deparado com conservadorismo. Foi autora de polêmicas intervenções parlamentares e ficou célebre, durante um debate sobre o aborto, em 11 de novembro de 1982, pelo poema satírico que fez contra João Morgado, deputado do CDS, que afirmara que «o ato sexual é para ter filhos». O poema foi publicado dias depois pelo Diário de Lisboa. 

Fundou em 1971, com Isabel Meireles, o bar Botequim, onde durante as décadas de 1970 e 1980 se reuniu grande parte da intelectualidade portuguesa. Foi amiga de António Sérgio (esteve associada ao Movimento da Filosofia Portuguesa), David Mourão-Ferreira ("a irmã que nunca tive"), José-Augusto França ("a mais linda mulher de Lisboa"), Luiz Pacheco ("esta hierofântide do século XX"), Almada Negreiros, D. Maria Pia de Saxe-Coburgo e Bragança ("confidente íntima"), Mário Cesariny ("era muito mais linda que a mais bela estátua feminina do Miguel Ângelo"), Ary dos Santos ("beleza sem costura"),[8] Amália Rodrigues, Fernando Dacosta, Onésimo Teotônio Almeida, entre muitos outros. Foi uma entusiasmada e grande impulsionadora pelo aparecimento do espetáculo de café-concerto em Portugal. Na sua casa, foi anfitriã de escritores famosos como Henry Miller, Graham Greene ou Ionesco.

A 13 de Julho de 1981 foi feita Grande-Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada. Natália Correia recebeu, em 1991, o Grande Prêmio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores pelo livro Sonetos Românticos. 

No mesmo ano a 26 de Novembro foi feita Grande-Oficial da Ordem da Liberdade. 

Em 1985, deu apoio ao Partido Renovador Democrático de Ramalho Eanes, onde acreditou ver uma alternativa de reformismo progressista para o país. Voltou então a ser deputada, por este partido, em 1987-1991. 

Natália Correia casou-se quatro vezes. Após dois primeiros curtos casamentos, casou em Lisboa a 31 de Julho de 1953 com Alfredo Luís Machado (1904-1989), gerente e dono do Hotel do Império, a sua grande paixão, bem mais velho do que ela e já viúvo, casamento este que durou até à morte deste, a 17 de Fevereiro de 1989. São notáveis as cartas de amor da ainda jovem Natália para Alfredo Luís Machado. Em 1990, tinha Natália 67 anos de idade, casou com Dórdio Guimarães, seu admirador desde sempre, cineasta e filho de Manuel Guimarães.

Na madrugada de 16 de Março de 1993, morreu, subitamente, com um ataque cardíaco, em sua casa, depois de regressada do Botequim. A sua morte precoce deixou um vazio na cultura portuguesa muito difícil de preencher. Legou a maioria dos seus bens à Região Autônoma dos Açores, que lhe dedicou uma exposição permanente na nova Biblioteca Pública de Ponta Delgada, instituição que tem à sua guarda parte do seu espólio literário (que partilha com a Biblioteca Nacional de Lisboa) constante de muitos volumes éditos, inéditos, documentos biográficos, iconografia e correspondência, incluindo múltiplas obras de arte e a biblioteca privada.

Foi sepultada originalmente no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, e posteriormente trasladada para a ilha de São Miguel, nos Açores, em outubro de 2015.

 

POESIA

 

Rio de Nuvens (poesia), 1947

Poemas (poesia), 1955

Dimensão Encontrada (poesia), 1957

Passaporte (poesia), 1958

Comunicação (poema dramático), 1959

Cântico do País Emerso (poesia), 1961

O Vinho e a Lira (Poesia), 1969

Mátria (Poesia), 1967

As Maçãs de Orestes (Poesia), 1970

Trovas de D. Dinis, [Trobas d'el Rey D. Denis] (Poesia), 1970

A Mosca Iluminada (Poesia), 1972.

O Anjo do Ocidente à Entrada do Ferro (Poesia), 1973.

Poemas a Rebate, (poemas censurados de livros anteriores) (poesia), 1975.

Epístola aos Iamitas (poesia), 1976.

O Dilúvio e a Pomba (poesia), 1979.

O Armistício (poesia), 1985.

Sonetos Românticos (poesia), 1990; 1991.

O Sol nas Noites e o Luar nos Dias (poesia completa), 1993; 2000.

Memória da Sombra, versos para esculturas de António Matos (poesia), 1993.

 

FICÇÃO

 

Grandes Aventuras de um Pequeno Herói (romance infantil), 1945

Anoiteceu no Bairro (romance), 1946; 2004

A Madona (Romance), 1968; 2000

A Ilha de Circe (romance), 1983; 2001

Onde está o Menino Jesus? (contos), 1987

As Núpcias (romance), 1992

Literatura de viagens

Descobri Que Era Europeia: impressões duma viagem à América (viagens), 1951; 2002.

 

DIÁRIO

 

Não Percas a Rosa. Diário e algo mais (25 de Abril de 1974 - 20 de Dezembro de 1975) (Diário), 1978; 2003

 

TEATRO

 

Sucubina ou a Teoria do Chapéu (teatro), em colab. com Manuel de Lima, 1952

O Progresso de Édipo (poema dramático), 1957

D. João e Julieta, peça escrita em 1959 (teatro), 1999

O Homúnculo, tragédia jocosa (teatro), 1965

O Encoberto (Teatro), 1969; 1977

Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente (teatro), 1981; 1991

A Pécora, peça escrita em 1967 (teatro), 1983; 1990

 

ENSAIO

 

Poesia de Arte e Realismo Poético (ensaio), 1959

A Questão Académica de 1907 (ensaio), 1962

Uma Estátua para Herodes (Ensaio), 1974

Notas para uma Introdução às Cantigas de Escárnio e de Mal-Dizer Galego-Portuguesas (ensaio), 1982.

Somos Todos Hispanos (ensaio), 1988; 2003.

 

ANTOLOGIAS

 

Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica: dos cancioneiros medievais à atualidade (Antologia), 1965; 2000.

Cantares dos Trovadores Galego-Portugueses (Antologia), 1970; 1998.

O Surrealismo na Poesia Portuguesa (Antologia), 1973; 2002.

A Mulher, antologia poética (Antologia), 1973.

Antologia de Poesia do Período Barroco (antologia), 1982.

A Ilha de Sam Nunca: atlantismo e insularidade na poesia de Antônio de Sousa (antologia),1982.

A Ibericidade na Dramaturgia Portuguesa (ensaio), 2000.

Breve História da Mulher e outros escritos (antologia de textos de imprensa), 2003.

A Estrela de Cada Um (antologia de textos de imprensa), 2004












 

FONTE: https://pt.wikipedia.org/wiki/Natália_Correia

 

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