quinta-feira, 14 de setembro de 2023

PEDRO LAMARES DECLAMA: “TODOS OS HOMENS SÃO MARICAS QUANDO ESTÃO COM GRIPE” – ANTONIO LOBO ANTUNES


Pachos na testa

Terço na mão

Uma botija Chá de limão

Zaragatoas

Vinho com mel

Três aspirinas

Creme na pele

Dói-me a garganta

Chamo a mulher

Ai Lurdes, Lurdes

Que vou morrer

Mede-me a febre

Olha-me a goela

Cala os miúdos

Fecha a janela

Não quero canja

Nem a salada

Ai Lurdes, Lurdes

Não vales nada

Se tu sonhasses

Como me sinto

Já vejo a morte

Nunca te minto

Já vejo o inferno

Chamas diabos

Anjos estranhos

Cornos e rabos

Tigres sem listas

Bodes de tranças

Choros de corujas

Risos de grilo

Ai Lurdes, Lurdes

Que foi aquilo

Não é a chuva

No meu postigo

Ai Lurdes, Lurdes

Fica comigo

Não é o vento

A cirandar

Nem são as vozes

Que vêm do mar

Não é o pingo

De uma torneira

Põe-me a santinha

À cabeceira

Compõe-me a colcha

Fala ao prior

Pousa o Jesus

No cobertor

Chama o doutor

Passa a chamada

Ai Lurdes, Lurdes

Nem dás por nada

Faz-me tisanas

E pão de ló

Não te levantes

Que fico só

Aqui sozinho

A apodrecer

Ai Lurdes, Lurdes

Que vou morrer

 



 

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