O fotógrafo francês Ludovic
Carème inaugura em 3 de dezembro de 2022 nova exposição individual no Brasil,
que segue até 26 de março de 2023 no Museu de Arte do Rio (MAR), na Praça Mauá:
“Margens”. A mostra traz um olhar documental diante da dura realidade dos
brasileiros. O trabalho é resultado das vivências do artista no país, onde
chegou a morar por mais de dez anos no final da década de 2000, registradas em
preto e branco com seu olhar sensível, profundo e detalhista. Seja no Acre, no
meio da selva Amazônica, ou em uma favela de São Paulo, suas fotos dialogam
entre si e revelam histórias. Uma iniciativa da Embaixada da França no Brasil,
com curadoria de Christian Caujolle, crítico de fotografia de renome
internacional, a exposição terá 68 fotos, que serão doadas para o acervo do
MAR.
O retratista, que já fotografou
estrelas internacionais como John Malkovich, David Lynch, Woody Allen, e no
Brasil, Milton Nascimento, Ruth de Souza e Oscar Niemeyer, entre outros, ao
chegar no Brasil mergulhou em um novo trabalho de fotografia documental, outra
de suas paixões. “Quando cheguei na cidade de São Paulo, com sua efervescência
urbana característica, senti a expressão de uma diversidade do mundo tal como
ele é, sem hipocrisia. Não são aqueles que escrevem ou fazem história que me
preocupam, mas aqueles que estão sujeitos a ela. Quando faço um retrato, não
olho para o meu modelo como um estranho ou "o outro", mas como o meu
contemporâneo”, explica Ludovic.
“Margens” é dividida em três
séries. Começa com “Favela Água Branca”, uma ocupação urbana na margem do Rio
Tietê, em São Paulo, onde as lentes de Ludovic evidenciam o cotidiano de uma
comunidade condenada à destruição pela especulação imobiliária. Em sua maioria
trabalhadores, essas pessoas aparecem em retratos de corpo inteiro. A mostra
aborda também a São Paulo de 2012, maior megalópole da América do Sul, com
espaços abandonados que se transformam em ruínas em uma cidade onde moradores
de rua se escondem do olhar e do frio da cidade.
De 2015 a 2017, o fotógrafo
decide fazer o caminho inverso dos migrantes fotografados na cidade de São
Paulo, procurando desvendar com suas imagens o início das histórias dos povos
originários no território brasileiro. Segue para o Acre, onde produz “Na beira
do Rio Jurupari e Rio Envira”. Lá, Ludovic capta imagens de uma floresta por
vezes poderosa, outra destruída, e de seus moradores. A conexão entre esses espaços
leva o artista à seguinte conclusão: “Tal como os habitantes de São Paulo que
eu fotografei, os do Acre são descendentes de escravos do Nordeste e estes
vestígios, infelizmente, ainda estão presentes”, afirma Ludovic.
Essas histórias brasileiras têm
particularidades com o tráfico de escravos e o colonialismo importado da
Europa, um problema universal. As populações deixam a natureza para ir para
cidades com uma demografia cada vez mais impressionante e, por outro lado,
assistimos à destruição maciça da natureza, outra importação europeia perversa
sempre ávida de lucro por um espírito de dominação em detrimento do povo”,
reflete Ludovic.
Foi o retorno ao Brasil no início
de 2022 para uma residência artística que levou Ludovic a fotografar jovens
moradores das Favelas da Maré e do Morro da Babilônia, comunidades do Rio de
Janeiro. Uma pergunta norteou essa etapa intitulada “Retratos e Mar”: “O que
você gostaria para o seu futuro? ”. Nessa temporada, Ludovic também captou
imagens do mar carioca, para formar dípticos, fazendo um paralelo entre a
esperança desses jovens e a vastidão do oceano perturbador em direção ao
horizonte.
“Ao falar sobre os povos
originários e os jovens das favelas, Ludovic traz esse olhar documental da
realidade brasileira. Dessa maneira, essa parceria com a Embaixada da França no
Brasil vem no sentido de reforçar e alimentar a nossa vocação aqui no MAR de
sempre tentar apresentar histórias por uma perspectiva mais inclusiva e mais
plural”, afirma Raphael Callou, Diretor e Chefe da Representação da OEI no
Brasil.
As obras apresentadas nesta
exposição entrarão no acervo do Museu de Arte de Rio no âmbito de uma doação do
fotógrafo Ludovic Carème.
SOBRE LUDOVIC CARÈME
Ludovic Carème se apaixonou pela fotografia desde a escola secundária, quando lia as reportagens do jornal Libération no início dos anos 1980. Estudou fotografia na Escola Superior de Arte de Toulouse (França), e publicou o seu primeiro trabalho no mesmo Libération em 1995. Baseado em uma ideia do autor Jean Hatzfeld, ele fez retratos de casais de refugiados em Srebrenica que tinham escapado do horror da guerra na Bósnia. Esta primeira experiência trouxe a urgência de dar testemunho à injustiça e fragilidade humana através das lentes de sua Rolleiflex. O seu estilo sensível, contemporâneo e enraizado na tradição dos retratistas, se traduz entre outras em fotos dos imigrantes de Mali em greve de fome na igreja de Saint-Bernard, na França em 1996, ou de haitianos em plantações de cana de açúcar na República Dominicana. Em outubro de 2022, ele viajou para Mayotte, departamento francês, para desenvolver um novo projeto.
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