segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

ORATÓRIO DE NATAL BWV 248 - CANTATA Nº 1 - JOHANN SEBASTIAN BACH



O Oratório de Natal é um ciclo de seis cantatas feitas para serem apresentadas separadamente. Bach compôs uma para cada um dos três dias de festa de Natal; uma para o Ano Novo, uma para o domingo depois do Ano Novo e a última para a festa da Epifania. Vamos falar aqui da Cantata nº 1, cujo tema é o nascimento de Jesus. Seu caráter é de alegria e celebração, marcado na abertura pelo som marcial dos trompetes e dos tímpanos. Uma ária para o baixo fala de Jesus como o grande Senhor, o poderoso Rei, que agora nos aparece como uma criança que dorme em um berço improvisado.

O Oratório de Natal  BWV 248, é um oratório de Johann Sebastian Bach compilado para ser apresentado na igreja durante a época do Natal. Foi escrito para o Natal de 1734, incorporando a música de composições anteriores do próprio compositor, inclusive três cantatas seculares, escritas entre 1733 e 1734, e uma cantata extraviada nos dias de hoje, BWV 248a. A data é confirmada no manuscrito de Bach. A apresentação seguinte não foi antes de 17 de dezembro de 1857 pela "Sing-Akademie" de Berlim, regida por Eduard Grell. O "Oratório de Natal" é um exemplo particularmente sofisticado da técnica de Paródia Musical. O autor do texto é desconhecido, embora Christian Friedrich Henrici (Picander) tenha sido um possível colaborador. 

Essa obra pertence a um grupo de três oratórios escritos no final da carreira de Bach, em 1734 e 1735, para as principais festividades, sendo os outros o Oratório de Ascensão (BWV 11) e o Oratório de Páscoa (BWV 249). Todos eles incluem um tenor Evangelista como narrador e fazem paródia de composições anteriores, sendo o "Oratório de Natal" a obra mais longa e complexa.

O oratório tem seis partes, sendo cada uma delas destinadas a apresentação em um dia das festas principais do período de Natal. Modernamente, a peça é geralmente apresentada como um todo, ou dividida em duas partes iguais. A duração total da obra é aproximadamente três horas. De modo similar aos outros oratórios, um tenor Evangelista narra a história. 

A primeira parte (para o dia de Natal) descreve o Nascimento e a Nominação de Jesus; a segunda (para o dia 26 de dezembro), a Anunciação aos Pastores; a terceira (para 27 de dezembro), a Adoração dos Pastores; a quarta (para o Dia de Ano Novo), a Circuncisão de Jesus; a quinta (para o domingo após o Ano Novo), a Jornada dos Reis Magos, e a sexta (para a Epifania), a Adoração dos Reis Magos. 

ESTRUTURA DA NARRATIVA 

Grande parte da estrutura da narrativa é definida pela demanda do calendário eclesiástico para o Natal de 1734/35. Bach abandonou sua prática usual de escrever cantatas para a igreja baseando o seu conteúdo, exclusivamente, na leitura do Evangelho do dia, a fim de alcançar uma estrutura coerente da narrativa. Se ele tivesse seguido, estritamente, o calendário, a história teria se desenrolado da seguinte maneira:

Nascimento e Anunciação dos Pastores

Adoração dos Pastores

Prólogo para o Evangelho de João

Circuncisão e Nominação de Jesus

A Fuga para o Egito

A Jornada e Adoração dos Magos

 

Isso resultaria em a Sagrada Família fugir antes de os Reis Magos haverem chegado, o que seria inadmissível para um oratório evidentemente planejado como um todo coerente. Bach removeu o conteúdo do terceiro dia de Natal (27 de dezembro), Evangelho de João, e dividiu a história dos dois grupos de visitantes –Pastores e Reis Magos– em dois. Isso resultou em uma exposição mais clara da história do Natal:

 

Nascimento e Anunciação dos Pastores

Adoração dos Pastores

Circuncisão e Nominação de Jesus

A Fuga para o Egito

A Jornada dos Magos

Adoração dos Magos

A sexta parte termina com a Fuga para o Egito.

 

É evidente que Bach viu as seis partes como parte integrante de um todo maior e unificado, tanto pela análise do texto impresso que sobreviveu quanto pela própria estrutura da música. A edição não tem apenas um título – "Weihnachtsoratorium" – conectando as seis seções, mas essas seções são numeradas consecutivamente. Como menciona John Butt:  assim como a Missa em Si menor, esse é um dos pontos de confirmação de uma unidade da obra além das restrições de apresentações dentro do ano eclesiástico.

APRESENTAÇÃO 

O oratório foi escrito para a apresentação nos seis dias festivos do Natal durante o inverno de 1734 e 1735. A partitura original contém também detalhes de quando cada parte foi apresentada. Foi incorporada aos cultos das duas mais importantes igrejas em Leipzig, Igreja de São Tomás e Igreja de São Nicolau. Como pode ser visto abaixo, a obra somente foi apresentada integralmente na Igreja de São Nicolau.

Primeiras apresentações:

25 de dezembro de 1734: Parte I - de manhã, na Igreja de São Nicolau; à tarde na Igreja de São Tomás

26 de dezembro de 1734: Parte II - de manhã, na Igreja de São Nicolau; à tarde na Igreja de São Tomás

27 de dezembro de 1734: Parte III - de manhã, na Igreja de São Nicolau

1º de janeiro de 1735: Parte IV - de manhã, na Igreja de São Tomás; à tarde, na Igreja de São Nicolau

2 de janeiro de 1735: Parte V - de manhã, na Igreja de São Nicolau

6 de janeiro de 1735: Parte VI - de manhã, na Igreja de São Tomás; à tarde, na Igreja de São Nicolau

 

MÚSICA

 

Bach expressa a unidade de toda a obra dentro da própria música, em parte através do uso das tonalidades. As partes I, II e III são escritas nas tonalidades de Ré Maior, sua subdominante Sol Maior e depois ré maior, novamente. As partes I e III são instrumentadas de modo semelhante para trompetes exuberantes, enquanto a Pastoral Parte II (em referência aos pastores) é, em contraste, instrumentada para madeiras e não inclui coro de abertura. A parte IV é escrita em fá maior (o relativo de ré menor) e marca o ponto mais distante da tonalidade de abertura do oratório. Bach embarca, então, numa jornada de volta à tonalidade de abertura, passando pela dominante lá maior da parte V até à jubilante reafirmação do ré maior na parte final, emprestando um arco completo à peça. Para reforçar essa conexão entre o começo e o fim da peça, Bach reutiliza a melodia coral de "'Wie soll ich dich empfangen? da parte I no coro final da parte VI, Nun seid ihr wohl gerochen; essa melodia coral é a famosa "O Haupt voll Blut und Wunden", que Bach usou cinco vezes em sua Paixão segundo São Mateus.

A música representa uma especial expressão sofisticada da técnica de paródia, pela qual uma música já existente é adaptada a um novo propósito. Bach tomou a maioria dos coros e árias de obras que tinham sido escritas por ele anteriormente. A maioria dessa música era secular, que foi escrita em louvor da realeza ou notáveis figuras locais, saindo da tradição de apresentação dentro da igreja. Essas cantatas seculares que proveem as bases para o Oratório de Natal são:

BWV 213 - Laßt uns sorgen, laßt uns wachen (Hercules na encruzilhada)

Apresentada em 5 de setembro de 1733 para o décimo-primeiro aniversário do Príncipe Friedrich Christian, Eleitor da Saxônia.

BWV 214 - Tönet, ihr Pauken! Erschallet, Trompeten!

Apresentada em 8 de dezembro de 1733 para o aniversário de Maria Josepha, Rainha da Polônia e Eleitora da Saxônia.

BWV 215 - Preise dein Glücke, gesegnetes Sachsen

Apresentada em 5 de outubro de 1734 para a coroação do Eleitor da Saxônia Augusto III, como Rei da Polônia.

Além dessas fontes, supõe-se que a sexta cantata foi totalmente tirada da cantata sacra BWV 248a, extraviada nos dias de hoje. Acredita-se que a ária-trio, contida na parte V Ach, wenn wird die Zeit erscheinen? foi tirada de uma fonte semelhante, e o coro da mesma seção Wo ist der neugeborne König pertence à "Paixão segundo São Marcos" (BWV 247). 

INSTRUMENTAÇÃO 

A instrumentação abaixo refere-se às partes e não necessariamente partes de executantes individuais. Os defensores de teorias que especificam um pequeno número de músicos executantes (até mesmo os OVPP) podem, entretanto, escolher usar números que se aproximam de um instrumento por parte. 

Parte I

3 trompetes, (original em Ré[I 1] , 2 tímpanos em Lá e Ré, 2 flautas transversas, 2 Oboés, 2 oboés d'amore[I 2] , 2 Violinos, Viola, Baixo contínuo[I 3]

Parte II

2 flautas, 2 oboés d'amore, 2 oboés da caccia, 2 violinos, viola, contínuo

Parte III

3 trompetes, timpani, 2 flautas, 2 oboés, 2 oboés d'amore, 2 violinos, viola, contínuo

Parte IV

2 Trompa, 2 oboés, 2 violinos, viola, contínuo

Parte V

2 oboés d'amore, 2 violinos, viola, contínuo

Parte VI

3 trompetes, timpani, 2 oboés, 2 oboés d'amore, 2 violinos, viola, contínuo

 

NOTAS

Hoje se substitui a trombeta barroca em ré normalmente com a trombeta pícolo. No estreia da versão portuguesa só a parte da primeira trompete foi tocada por trombeta pícolo. 

Os diferentes tipos de oboé citados acima são, em sua maioria, designados para tocar em diferentes pontos de cada seção. Entretanto, os números 10, 12, 14, 17, 18, 19 e 21 na Parte II pedem 2 oboés-d’amore e 2 oboés-da caccia. Essa instrumentação foi pensada para simbolizar os pastores, que são objeto da segunda parte. É uma referência à tradição de música pastoril, tocando instrumentos tipo Schawm, (predecessor do oboé) no Natal. Semelhantemente, a Sinfonia Pastoral do Messias de Händel (1741) é conhecida como 'Pifa' do Italiano piffaro, em referência a instrumentos tocados por pastores. O oboé de caccia é perfeitamente substituível pelo corno inglês, o oboé d'amore é substituido com restrições por corno inglês ou oboé. Na parte II, quando tocam oboés d'amore junto com os oboés da caccia, devem ser usados oboés na ausência de oboés d'amore, para não ter 4 cornos inglês.

A parte de contínuo é passível de diferentes interpretações quanto à instrumentação. Para sua apresentação inovadora de 1973, Nikolaus Harnoncourt empregou Fagote, Violoncelo, Contrabaixo o órgão[3]. Peter Schreier, em 1987, usou Violoncelo, Contrabaixo, Fagote, Órgão e cravo. René Jacobs, em 1997, escolheu violoncelo, contrabaixo, alaúde, fagote, órgão e cravo. E Jos van Veldhoven, em 2003, optou por violoncelo, contrabaixo, fagote, órgão, cravo e Teorba.

 

TEXTO

 

A facilidade com que o novo texto se encaixa na música já existente é uma das indicações de que o Oratório de Natal é uma paródia bem-sucedida de suas fontes. O musicólogo Alfred Dür e outros como Christoff Wolf,  sugerem que o colaborador frequente de Bach, Picander (pseudônimo de Christian Friedrich Henrici), escreveu o novo texto, trabalhando ao lado de Bach, para garantir uma perfeita adaptação da música reutilizada. Pode até ser que o "Oratório de Natal" já havia sido planejado quando Bach escreveu as cantatas seculares BWV 213, 214 e 215, dado que a obra original fora escrita bem próximo do oratório e pela maneira sem emendas com que as novas palavras couberam na música existente. 

Todavia, em duas ocasiões, Bach abandonou o plano original e foi compelido a escrever nova música para o "Oratório de Natal". A ária de contralto na Parte III, Schließe, mein Herze era originalmente para ser aplicada à música para a ária Durch die von Eifer entflammten Waffen da BWV 215. Nessa ocasião, entretanto, a paródia técnica fracassou e Bach compôs a ária novamente. Ao contrário, usou o modelo da BWV 215 para a ária de Baixo Erleucht' auch meine finstre Sinnnen na Parte V. Similarmente, o coro de abertura da Parte V, Ehre sei dir Gott! foi, com quase toda a certeza, composto para ser aplicado à música do coro Lust der Völker, Lust der Deinen da BWV 213, devido à correspondência de perto entre os textos das duas peças. A terceira maior nova peça de escrita (com a notável exceção dos recitativos), a sublime Sinfonia pastoral que abre a Parte II, foi composta de rascunho para a nova obra.

Além das novas composições listadas acima, uma menção especial deve ser feita aos recitativos, que amarra o oratório num todo coerente. Em particular, Bach fez uso efetivo de recitativo, quando combinado com o coral nº 7 da Parte I (Er ist auf Erden kommen arm) e mais engenhosamente nos recitativos nºs 38 e 40, que emoldura a "Ária do Eco" (Flößt, mein Heiland), no. 39 in part IV.

 

VERSÃO PORTUGUESA

 

A versão portuguesa foi elaborada nos anos 2004 até 2009 por um time sob liderança do maestro Axel Bergstedt, respeitando a rica simbologia e figuras na música de Bach, as rimas e a cantabilidade. Base para o texto do evangelista foi a Almeida, e alguns textos de hinos constam de hinários tradicionais. A versão completa estreou nos dias 3, 4 e 5 de dezembro de 2009 em Brasília. 

PARTES E NÚMEROS

Cada seção combina coros (uma sinfonia pastoral abre a segunda parte ao invés de um coro), corais e recitativos, árias e ariosos para os solistas. 

Os quadros abaixo não mostram uma fórmula de compasso ou uma tonalidade para os recitativos, porque estão todos (nominalmente) na tonalidade da parte e em 4/4. As exceções são o nº 18 que começa em Dó Maior e então modula para Sol Maior, e o nº 27 que continua em Lá Maior do 1º movimento. Em ambos os casos, a tonalidade e a fórmula de compasso são meramente notação musical.

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Johann Sebastian Bach foi um compositor, cravista, Kapellmeister, regente, organista, professor, violinista e violista oriundo do Sacro Império Romano-Germânico, atual Alemanha. Nascido numa família de longa tradição musical, cedo mostrou possuir talento e logo se tornou um músico completo.

 



 

FONTE: https://pt.wikipedia.org/wiki/Oratório_de_Natal_(Bach)  

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