Prepare-se para ser transportado para um universo de palavras tecidas com mestria, onde a memória dança com a história e a condição humana se revela em toda a sua complexidade.
Por intermédio do olhar sensível e perspicaz de Dalma Nascimento, desvendamos os labirintos da mente criativa de Nélida Piñon, uma das maiores escritoras que o Brasil já conheceu.
Esta é uma oportunidade única de revisitar ou descobrir a genialidade literária de Nélida Piñon, guiado por cinco obras essenciais de Dalma Nascimento que iluminam cada faceta de sua trajetória inigualável.
De entrevistas reveladoras a reflexões profundas, estas obras nos conduzem desde os primeiros passos de sua escrita até o eco eterno de suas palavras:
Nélida Piñon nos labirintos da memória (selo
Parthenon Centro de Artes e Cultura de Niterói)
Nélida Piñon entre Contos e Crônicas (selo
Parthenon Centro de Artes e Cultura de Niterói)
Aventuras Narrativas de Nélida Piñon (selo
Parthenon Centro de Artes e Cultura de Niterói)
Conversas Com Nélida (selo H. P Comunicação
Associados editor Paulo França)
Onde você estiver... Recordações de Nélida Piñon (selo H. P Comunicação Associados editor Paulo França)

UMA BIOGRAFIA EM BREVE TRAÇOS
Nascida no coração do Rio de Janeiro, Nélida Piñon
transcendeu as páginas para se tornar um pilar da intelectualidade brasileira
contemporânea. Sua eleição para a Academia Brasileira de Letras em 1990 marcou
um feito histórico, culminando em sua presidência entre 1996 e 1997, um marco
para as mulheres na literatura nacional.
Sua escrita, marcada pela sofisticação e pela busca incessante por novas formas de expressão, mergulhou em temas universais e profundamente brasileiros: a memória como força motriz, a construção da identidade, as dinâmicas de poder e a rica tapeçaria da história do Brasil. Romances como "Fundador" (1969), "A Casa da Paixão" (1972), a monumental "República dos Sonhos" (1984) e a poética "Vozes do Deserto" (2004) são apenas alguns exemplos de sua maestria narrativa, obras que cativaram leitores e críticos, rendendo-lhe prestigiados prêmios como o Jabuti, o Juan Rulfo e o Príncipe das Astúrias das Letras.
Mesmo após sua partida em Lisboa, Portugal, o legado de Nélida Piñon permanece vivo e pulsante, um farol literário que ilumina a paixão pela palavra e a profunda compreensão da alma humana.
Agora, mergulhe nos ensaios de Alberto Araújo e deixe-se guiar pela análise luminosa de Dalma Nascimento, redescobrindo a força e a beleza intrínseca da obra de Nélida Piñon. Esta é mais do que uma homenagem; é um convite para celebrar uma escritora inesquecível que, se viva estivesse, completaria, em 03 de maio de 2025, seus 88 anos. Permita-se vivenciar esta jornada literária inesquecível e perpetuar o legado imortal de Nélida Piñon!
01 - NOS LABIRINTOS DA MEMÓRIA DE DALMA NASCIMENTO
A
EXEGESE ARQUEOLÓGICA E AFETIVA DE DALMA NASCIMENTO NA OBRA DE NÉLIDA PIÑON
ENSAIO DE ALBERTO ARAÚJO
O universo literário de Nélida Piñon, marcado pela força da imaginação, pela paixão pela linguagem e pela exploração da condição humana, encontra em 'Nélida Piñon nos Labirintos da memória', de Dalma Nascimento, um olhar crítico singular e aprofundado.
A obra contém 232 páginas e foi publicada sob o selo da Parthenon Centro de Arte e Cultura em 2015, com arte gráfica e diagramação de Mauro Carreiro Nolasco, esta obra inaugural de uma série de cinco volumes, a obra em si com análise em múltiplos volumes, debruça-se sobre os cinco importantes títulos da escritora brasileira: A república dos sonhos, O pão de cada dia, Aprendiz de Homero, Coração andarilho e Livro das horas.
A própria Nélida Piñon, na apresentação intitulada 'A MESTRA DALMA', oferece um testemunho eloquente da natureza da análise empreendida por Dalma Nascimento, utilizando a poderosa metáfora do escafandrista para descrever a imersão da ensaísta no corpo textual de sua obra.
Nélida Piñon inicia sua apresentação ressaltando a raridade de ensaístas capazes de um mergulho tão profundo quanto o de um escafandrista no 'corpo do texto'.
Essa imagem vívida sugere que a análise de Dalma Nascimento não se contenta com a superfície narrativa, mas busca as camadas 'praticamente arqueológicas' que compõem a obra literária. Ao descrever a exegese de Dalma como um processo de escavação, Nélida Piñon enfatiza a minúcia e a persistência da ensaísta em desenterrar os 'efeitos misteriosos resguardados nas frases', que ela considera o 'espelho da alma da literatura'.
A admiração de Nélida Piñon por Dalma Nascimento transparece na
ênfase em seu 'estado de amor pela literatura'. Longe de uma análise fria e
distante, a autora sugere que a paixão de Dalma Nascimento pelo universo
literário é um motor fundamental de sua investigação crítica. Essa 'entrega' a
cada título, comparada à dedicação de uma 'monja medieval' ao seu trabalho,
implica uma imersão total no universo ficcional da homenageada, buscando no
'âmago de cada sentença', na 'urdidura da trama' e nas 'entrelinhas da linguagem'
a 'verdade narrativa' que sustenta a obra de arte. Central para a busca de
Dalma Nascimento, conforme aponta Piñon, é o 'enigma que bendiz e amaldiçoa a
obra de arte', uma dualidade intrínseca à criação que a ensaísta se propõe a
desvendar.
A seção de 'Justos Agradecimentos' de Dalma Nascimento ilumina o contexto institucional e as motivações pessoais que sustentaram a criação de 'Nélida Piñon nos labirintos da memória'. A autora expressa sua gratidão à Xunta de Galicia e ao Núcleo de Estudos Galegos da Universidade Federal Fluminense (NUEG-UFF) pelo apoio à publicação, destacando o papel dessas instituições no fomento do intercâmbio cultural entre a Galícia e o Brasil. A menção ao NUEG ressalta a conexão intrínseca do projeto com os estudos galegos, dada a significativa presença da temática medieval e galega na produção literária de Nélida Piñon, filha e neta de imigrantes galegos.
Dalma Nascimento também reconhece a colaboração essencial de Mauro Carreiro Nolasco, Helena Ferreira e da professora Carmen Silva, sublinhando a natureza cuidadosa e colaborativa da produção crítica. A revelação de que este livro é apenas o primeiro volume de um projeto maior enfatiza a ambição e a abrangência da investigação de Dalma Nascimento.
A profundidade da análise de Dalma
Nascimento se reflete também na estrutura de 'Nélida Piñon nos labirintos da
memória', dividido em três movimentos distintos, embora interconectados pela
centralidade da memória.
O primeiro movimento explora a projeção internacional de Nélida Piñon e a significativa presença da Galícia em sua obra. O segundo ancora-se especificamente no conceito de memória, dialogando com teóricos renomados. O terceiro volta-se para a análise da memória subjetiva e cultural em obras específicas da autora, examinando também a escrita autobiográfica e os gêneros do Bindungsroman e Künstlerroman.
Um aspecto particularmente interessante é o intercâmbio criativo entre as entrevistas de Nélida Piñon e sua ficção. As entrevistas não são meros registros, mas extensões de seu pensamento e, por vezes, sementes de suas narrativas, oferecendo um valioso material complementar para a compreensão de sua escrita. A própria Nélida Piñon compara o jornal e a literatura à figura mitológica de Jano, sugerindo uma continuidade entre suas diferentes formas de expressão. A inclusão de trechos de entrevistas na análise de Dalma Nascimento demonstra a relevância desse material para a exploração dos 'labirintos da memória'.
As palavras da Professora Maria do Amparo Tavares Maleval nas orelhas do livro oferecem uma perspectiva complementar, ressaltando a importância da ancestralidade galega na escrita de Nélida Piñon e a sensibilidade da análise de Dalma Nascimento ao captar essa influência, bem como o legado dos mitos gregos. A centralidade da memória e a conexão com o mito de Teseu e Ariadne no labirinto reforçam a ideia da criação literária como um processo complexo. Maleval enfatiza a erudição de Dalma ao identificar as raízes culturais profundas na obra de Piñon.
A profunda ligação de Nélida Piñon com a Galícia ganha contornos vívidos na descrição da contracapa por Dalma Nascimento, que nos transporta para a infância da escritora em Borela, imergindo-a na vida agreste do campo e na rica cultura local. Essas experiências formativas nutriram sua imaginação e se tornaram um 'cenário do seu presépio amoroso', influenciando sua escrita de maneira indelével.
A imersão na apresentação de Nélida Piñon, nas reflexões de Maria do Amparo Tavares Maleval e na evocativa descrição da contracapa por Dalma Nascimento, revela uma análise profunda e multifacetada da obra da renomada escritora brasileira. A metáfora do labirinto da memória perpassa a investigação de Dalma, que explora a projeção internacional de Piñon, a evolução de sua escrita e, fundamentalmente, a influência indelével de suas raízes galegas, forjadas na experiência sensorial da infância em Borela. A centralidade da memória, a presença da autora em sua obra e o diálogo com a teoria literária são fios condutores da análise de Dalma. Ao desvendar os labirintos da memória da autora, Dalma Nascimento não apenas celebra o 'Ritual da Arte' presente em sua obra, mas também nos oferece uma compreensão mais profunda das fontes que alimentaram a rica e complexa tapeçaria literária de Nélida Piñon."
A apresentação de Nélida Piñon sobre o livro de Dalma Nascimento revela um encontro intelectual de rara beleza, sustentado por um contexto institucional dedicado aos estudos galegos e enriquecido pela colaboração de diversos profissionais.
A metáfora do escafandrista, a ênfase no amor pela literatura como ferramenta analítica, a busca pelo enigma da criação e a valorização da erudição intuitiva de Dalma Nascimento pintam o retrato de uma crítica que mergulha nas profundezas da obra de Nélida Piñon, desvendando suas camadas mais recônditas. A estrutura tripartite de 'Nélida Piñon nos labirintos da memória', que percorre a projeção internacional da autora, a centralidade da memória e sua manifestação em obras específicas, revela a organização rigorosa e a abrangência da análise de Dalma Nascimento.
Revelando-se como o primeiro volume de um ambicioso projeto, esta obra prenuncia uma contribuição significativa e multifacetada para a compreensão da rica e complexa tapeçaria literária de Nélida Piñon, impulsionada pela 'estimulante escrita' da autora e pela dedicação investigativa de Dalma Nascimento.
@ Alberto Araújo
02 - NÉLIDA PIÑON ENTRE CONTOS E CRÔNICAS DE DALMA NASCIMENTO
NÉLIDA PIÑON: UMA VIDA EM PALAVRAS - O ENSAIO DE DALMA NASCIMENTO SOBRE CONTOS E CRÔNICAS
ENSAIO DE ALBERTO ARAÚJO
A obra de Nélida Piñon, uma das vozes mais significativas da literatura brasileira contemporânea, é revisitada com profundidade e sensibilidade no ensaio "Nélida Piñon entre Contos e Crônicas" de Dalma Nascimento. Publicado em 2015 pela Parthenon Centro de Arte e Cultura, em Niterói, com a cuidadosa diagramação e editoração de Mauro Carneiro Nolasco, este volume de 234 páginas se configura como o segundo de uma ambiciosa série de cinco tomos dedicados à análise da vasta produção literária da escritora.
A motivação e o reconhecimento que permeiam a gênese deste ensaio são eloquentemente expressos na seção de Agradecimentos. Dalma Nascimento manifesta sua gratidão à Xunta da Galícia e ao Núcleo de Estudos Galegos (NUEG) da Universidade Federal Fluminense (UFF) pelo apoio fundamental na publicação de seus estudos sobre Nélida Piñon, uma autora que, com suas raízes galegas e reconhecimento internacional, honra os laços entre Brasil e Galícia. A autora do ensaio também destaca a valiosa colaboração do Professor Doutor Fernando Ozorio Rodrigues, diretor do NUEG, e da Professora Doutora Maria do Amparo Tavares Maleval, idealizadora do projeto.
Agradecimentos se estendem à UFF pelo apoio institucional e à eficiente secretária de Nélida Piñon, Professora Carmen Silva, cuja diligência em fornecer informações sobre a escritora e seu universo intelectual foi crucial. Por fim, Dalma Nascimento expressa sua profunda gratidão à própria Nélida Piñon pela mensagem a guisa de prefácio, publicada no volume anterior da série, e reconhece que seu trabalho é fruto da intensa comunicação que a obra da ficcionista estabeleceu desde suas primeiras décadas.
A antiga sedução e o intenso encontro com a escrita de Piñon revela a conexão pessoal e duradoura de Dalma Nascimento com a obra de Nélida Piñon. Em um relato em primeira pessoa, a autora do ensaio rememora o impacto inicial dos romances Guia-mapa de Gabriel Arcanjo (1961) e Madeira feita cruz (1963), com suas temáticas míticas e teológicas que geraram debates significativos nos suplementos literários dos anos 1960. O estilo desconstrutor de Piñon, rompendo com os cânones estabelecidos através de rupturas sintáticas, anacolutos e jogos lexicais, fascinou Nascimento, que percebeu na escrita da jovem autora a gestação de uma nova estética literária. Essa perplexidade diante da dicção inusitada e da temática libertária impulsionou Dalma Nascimento a acompanhar a trajetória de Nélida Piñon, desde seus primeiros passos no jornalismo até a dedicação exclusiva à literatura e ao ensino na UFRJ. A análise de uma entrevista de 1969 revela as marcas que acompanhariam Piñon ao longo de sua carreira: o espírito combativo, o intenso trabalho com a linguagem e a consciência de sua posição como ficcionista intransigente. A paixão pela música e a busca pela "aprisionamento" da palavra também são destacados como elementos centrais no universo criativo da escritora.
A Orelha do livro oferece um panorama conciso do foco e da metodologia deste segundo volume da série. O NUEG, reafirmando seu compromisso com a divulgação da cultura galega, apresenta "Nélida Piñon entre contos e crônicas" como uma análise dos livros de contos Tempo das frutas, Sala de armas, O calor das coisas e A camisa do marido, bem como da obra de crônicas Até amanhã, outra vez. Dalma Nascimento direciona seu olhar para esses dois gêneros literários, menos explorados na vasta ficção de Piñon. A análise se fundamenta em conceitos relacionados ao mito e ao sagrado, e, de forma particular para as crônicas, utiliza os pressupostos teóricos de Algirdas Julien Greimas, conforme apresentado em sua obra Da imperfeição. A orelha também situa este volume dentro da série, mencionando o primeiro livro, Nélida Piñon nos labirintos da memória, e antecipando os temas dos três volumes subsequentes: as narrativas de Vozes do deserto, A roda do vento e A casa da paixão; as entrevistas reunidas em Conversas com Nélida; e a análise de A doce canção de Caetana, A força do destino e Tebas do meu coração em Astúcias de Nélida nos artifícios da arte.
O ensaio se debruça, portanto, sobre as seguintes obras de Nélida Piñon: Madeira feita Cruz (1963), Gabriel Arcanjo (1960), Tempo de frutas (1966), Fundador (1969), Casa da paixão (1972), Sala de Armas (1973), A forca do Destino (1977), Tebas do meu Coração (1974), O Calor das Coisas (1980), A Doce Canção de Caetana (1987), A República dos Sonhos (1984), O Pão de cada dia (1994), A Roda do Vento (1996), Até amanhã outra vez (1999), O presumível Coração da América (2002), Vozes do Deserto (2004), La Seduccion de La Cátedra (2006), Coração Andarilho (2009), Livro das Horas (2012) e A camisa do Marido (2014). Essa abrangente seleção permite a Dalma Nascimento traçar um panorama da evolução da escrita de Piñon, com foco especial na sua produção de contos e crônicas.
Temas, obras e prêmios Memória arcaica, ao Sonho e à Fantasia, sintetiza os temas centrais que permeiam a obra de Nélida Piñon, como a memória pessoal e coletiva, a utopia do paraíso, o mito da criação, o sagrado, a conexão com a Idade Média e a Galícia, o valor da língua portuguesa, a força da mulher, a paixão, o erotismo, a arte, a metalinguagem e a velhice. Essa rica tapeçaria temática demonstra a complexidade e a profundidade do universo ficcional de Piñon, elementos que certamente são explorados na análise de Dalma Nascimento. A consagração de Nélida Piñon através de inúmeros prêmios nacionais e internacionais, incluindo o Juan Rulfo e o Príncipe de Astúrias, além de sua pioneira presidência na Academia Brasileira de Letras, atesta a relevância e o impacto de sua obra. Sua atuação como conferencista em diversas universidades estrangeiras e sua constante busca por aprendizado junto aos grandes mestres da literatura reforçam sua estatura como intelectual e escritora de alcance global. A retomada da epígrafe de Omar Rayo, que compara a obra de arte a um ente vivo que dialoga com o observador, ecoa na descrição da escrita de Piñon como possuidora de "duendes", capaz de criar uma profunda conexão com o leitor. A própria afirmação de Nélida sobre o poder da palavra em estabelecer cumplicidade e laços afetivos ressoa com a experiência pessoal de Dalma Nascimento ao longo de sua leitura.
O ensaio "Nélida Piñon entre
Contos e Crônicas" de Dalma Nascimento se apresenta como uma valiosa
contribuição para a crítica literária brasileira, oferecendo uma análise
aprofundada de um aspecto específico da multifacetada obra de Nélida Piñon sob
uma perspectiva informada e sensível. Ao articular a trajetória pessoal da
ensaísta com o rigor acadêmico e ao lançar luz sobre os contos e as crônicas da
autora, Dalma Nascimento desvela novas camadas de significado e convida o
leitor a redescobrir a riqueza e a originalidade da escrita de uma das maiores
escritoras do nosso tempo.
@ Alberto Araújo
03 – AVENTURAS NARRATIVAS DE NÉLIDA PIÑON DE DALMA NASCIMENTO
NÉLIDA PIÑON DESVENDADA: UMA JORNADA CRÍTICA ATRAVÉS DE SUAS AVENTURAS NARRATIVAS
ENSAIO DE ALBERTO ARAÚJO
A obra monumental de Nélida Piñon, farol da literatura brasileira contemporânea, encontra em "As Aventuras Narrativas de Nélida Piñon" de Dalma Nascimento um olhar perspicaz e sensível. Publicado em 2016 pela Parthenon Centro de Arte e Cultura, em Niterói, com a esmerada produção de Mauro Carneiro Nolasco, este volume de 192 páginas não é apenas mais um estudo literário; ele se configura como um elo crucial na ambiciosa tapeçaria crítica que Dalma Nascimento tece sobre a vasta produção da renomada escritora da Academia Brasileira de Letras. Inserido como o terceiro de uma planejada série de cinco tomos, o livro demonstra o comprometimento da autora em dissecar a riqueza e a complexidade do universo piñoniano até o ano de 2016.
A contextualização da obra dentro da coleção proposta por Dalma Nascimento revela a abrangência do projeto. Os dois volumes precedentes, "Nélida Piñon nos labirintos da memória" e "Nélida Piñon entre contos e crônicas", já pavimentaram o caminho ao explorar a relação da escritora com a memória em romances emblemáticos e ao analisar sua mestria nas formas breves da narrativa.
O vislumbre dos próximos volumes "Conversas com Nélida", focado em entrevistas, em Conversas com Nélida, dedicado a leituras teóricas de obras específicas evidencia a profundidade e a multifacetariedade da análise empreendida.
"As Aventuras Narrativas de Nélida Piñon" concentra seu foco em três romances distintos: "Vozes do Deserto", "A roda do vento" e "A casa da paixão". A aparente não linearidade na escolha dessas obras, que desafiam tanto a cronologia quanto a homogeneidade estilística de Piñon, é precisamente onde reside um dos pontos fortes do ensaio. Longe de ser aleatória, a seleção permite a Nascimento iluminar a coexistência de propostas narrativas diversas sob o selo inconfundível da autora. A crítica aponta para a ausência de rupturas radicais na obra de Piñon, argumentando que a escritora avança, incorporando o passado como um lastro enriquecedor, enquanto mantém um olhar constante para o futuro. Essa dinâmica de deslocamento sem perda, de diálogo constante com o próprio legado, é um dos pilares da análise de Dalma Nascimento.
A estrutura do livro em dois blocos é
significativa. A inclusão de um capítulo teórico fundamental, "A questão
da Mulher e a concepção de Piñon sobre a escrita feminina", sublinha a
preocupação da ensaísta em explorar as camadas mais profundas da poética piñoniana.
A análise subsequente dos três romances escolhidos é informada por essa lente
teórica, permitindo uma compreensão das nuances das representações e das
escolhas narrativas.
A autora demonstra como, apesar das singularidades de cada obra, traços distintivos da escrita de Nélida Piñon persistem, tecendo uma rede de identidades escriturais que unificam sua produção.
A originalidade da abordagem crítica reside na capacidade de Dalma Nascimento de adaptar o percurso exegético à especificidade de cada narrativa. Ao invés de impor um modelo analítico único, a ensaísta permite que cada obra dite o foco da interpretação, evidenciando os traços mais acentuados em sua construção ou temática. Essa flexibilidade metodológica enriquece a leitura e revela a multifacetada genialidade de Nélida Piñon.
"As Aventuras Narrativas de Nélida Piñon" é mais do que um ensaio; é um convite à imersão no universo ficcional de uma das maiores escritoras brasileiras. Através do olhar atento e da análise perspicaz de Dalma Nascimento, o leitor é conduzido por uma jornada crítica que desvenda as complexidades, as inovações e a perene atualidade da obra de Nélida Piñon.
O título "Preâmbulos" e o subtítulo "Dando as chaves deste livro" funcionam como um prólogo esclarecedor, desvendando a gênese e a estrutura da ambiciosa série de cinco volumes dedicados à análise da produção multifacetada da renomada escritora.
A confirmação de que "Aventuras narrativas de Nélida Piñon" é o terceiro volume dessa coleção, precedido por "Nélida Piñon nos labirintos da memória" (2015) e "Nélida Piñon entre contos e crônicas"(2015), ambos publicados com o apoio do NUEG-UFF da Xunta de Galícia, solidifica a trajetória crítica de Nascimento.
O primeiro volume focou na intrincada relação da memória com obras como "A república dos sonhos" e "O Livro das Horas", enquanto o segundo explorou a mestria de Nélida Piñon nas narrativas curtas e na crônica, estilos menos frequentes em sua produção romanesca.
A antecipação dos próximos volumes enriquece ainda mais o panorama. "Conversas com Nélida", o quarto livro, promete um mergulho nas entrevistas concedidas pela escritora entre 1960 e 2007, fruto de uma pesquisa para a Fundação Biblioteca Nacional. O prefácio analítico de Nascimento buscará articular o teor dessas conversas com a totalidade da obra piñoniana, oferecendo aos leitores uma perspectiva privilegiada sobre a evolução do pensamento, a fecundidade imaginativa e a personalidade marcante da autora.
O detalhamento da estrutura de
"Aventuras narrativas de Nélida Piñon" revela a intencionalidade da
abordagem. A inclusão de um capítulo teórico central, "A questão da Mulher
e a concepção de Nélida Piñon sobre a escrita feminina", explicita uma das lentes
analíticas fundamentais do estudo. A ausência de um capítulo dedicado ao mito e
ao sagrado é justificada pela robusta análise desses temas no segundo volume da
série, embora se reconheça sua importância para a interpretação das obras
analisadas ("Vozes do Deserto", "A roda do vento" e "A
casa da paixão").
A autora ressalta que tais conceitos são tangenciados nos capítulos dedicados a cada um dos romances, com uma presença mais acentuada no ensaio sobre "Vozes do Deserto".
A justificativa para a seleção aparentemente não cronológica e estilisticamente diversa das três obras analisadas reside na intenção de destacar momentos de "importantes deslocamentos no texto de Nélida Piñon". Longe de representar rupturas, essas mudanças são entendidas como avanços que incorporam o passado, numa dinâmica de constante renovação com o olhar voltado para o futuro, ecoando a própria afirmação de Piñon sobre a tradição como alicerce para a transgressão criativa.
A análise de cada romance ilustra essa perspectiva. Em "Vozes do Deserto", a imersão no universo islâmico demonstra a capacidade de Piñon de explorar a alteridade, mantendo o mito, o sagrado e a questão da mulher como elementos estruturantes. "A roda do vento" marca sua incursão na literatura Infantojuvenil, revelando uma adaptação da linguagem para seduzir um novo público, sem abandonar a fantasia e o poder da imaginação. "A casa da paixão" é apresentada como a culminação da "erotização do verbo" na obra de Nélida Piñon, conferindo à paixão uma intensidade poética singular, celebrada por nomes como Almeida Faria e Carlos Drummond de Andrade.
A diversidade de abordagens críticos-teóricos
em "Aventuras narrativas de Nélida Piñon" reflete a singularidade de
cada obra analisada. A leitura de "Vozes do Deserto" mobiliza as
categorias do mito e do sagrado, com incursões na memória, na fala feminina e
no ato de narrar. A exegese de "A roda do vento" ancora-se no
insólito, no fantástico e no maravilhoso, ressaltando a imaginação criadora e o
papel do contador de histórias. Já a interpretação de "A casa da
paixão" enfatiza as forças de Eros e a tensão entre paganismo e
cristianismo, sem negligenciar o mito e o sagrado primitivo.
"Aventuras narrativas de Nélida Piñon" se destaca como um volume central, desvendando as dinâmicas de transformação e permanência na escrita da autora, ao mesmo tempo em que oferece ao leitor diversas chaves de leitura para apreciar a riqueza e a complexidade de seu universo ficcional. A expectativa para os próximos volumes, que abordarão as entrevistas e realizarão leituras teóricas de outras obras significativas, apenas reforça a relevância desse projeto crítico para a compreensão da literatura brasileira contemporânea.
A seção dedicada a "Nélida Piñon no turbilhão do imaginário de A roda do vento" destaca a coragem da autora em sua estreia na literatura infantojuvenil em 1996. Dalma Nascimento enfatiza a "difícil técnica de compor livros de literatura infantojuvenil", contrastando a produção de qualidade, como a de Nélida Piñon, com obras superficiais e até mesmo violentas que circulam no mercado. "A roda do vento" é apresentada como uma "construtiva prosa poética" que, ao invés de impor regras, convida a criança ao "faz-de-conta verdadeiro" da fantasia, num momento crucial para a aquisição de valores. A menção à participação de Dalma Nascimento em eventos acadêmicos para discutir essa obra sublinha a relevância crítica dada à incursão de Piñon nesse gênero.
A análise de "Vozes do deserto: do casulo das lendas ao voo de Nélida Piñon" mergulha no cenário oriental da Bagdá lendária, entre os séculos VIII e XIII, um núcleo da civilização islâmica. O ensaio ressalta a atmosfera fantástica permeada por pompa, prodígios, símbolos, memórias, mitos e rituais, mas também por opressões e preconceitos, nos quais a escrita de Nélida Piñon floresce em metáforas inspiradas no universo árabe. A descrição minuciosa do cenário, com mesquitas, minaretes, mercados e a voz do muezin, contrasta com os sons dos povos nômades do deserto, criando uma tapeçaria sonora e visual rica. A referência ao Prêmio Jabuti de melhor romance de 2004 chancela a importância literária da obra.
A seção "Fechando todas as cortinas deste livro" oferece um encerramento poético, retomando epígrafes da própria Nélida Piñon que a retratam como uma aventureira, uma andarilha com o "coração poroso", sempre transformada por suas experiências literárias. A comparação com Simbad e a afirmação de que "sonhar foi sempre a clave da minha condição humana" reforçam a centralidade da imaginação na sua obra. A filiação cervantina e a menção ao "sonho impossível" cantado por Elvis Presley (e adaptado por Maria Bethânia) elevam a trajetória de Piñon, que, com sua escrita inovadora, superou limites e lutou contra os "moinhos de vento" do passado para alcançar a "estrela inalcançável" da excelência literária. A taurina de fibra que acredita que "Só os que sonham mudam a realidade" é projetada como uma futura merecedora do Prêmio Nobel, coroando sua busca incessante por mares literários, tecendo histórias como Sherazade e guiando seus leitores infantojuvenis "pelo fio invisível da imaginação". A menção ao uso de temas míticos e sagrados na abordagem da questão da mulher conecta a análise de "Vozes do deserto" com o capítulo teórico central do livro. O encerramento com versos sobre a sinceridade na busca e a esperança de um mundo melhor através da coragem ecoa a própria jornada literária de Nélida Piñon.
Em suma, essas novas informações aprofundam a compreensão da sensibilidade de Dalma Nascimento ao abordar a diversidade da obra de Nélida Piñon. Ao dedicar atenção tanto à complexidade da literatura infantojuvenil quanto à riqueza simbólica de romances como "Vozes do deserto", e ao encerrar o volume com uma reflexão poética sobre a essência da escritora como aventureira dos sonhos, Nascimento demonstra uma abordagem crítica abrangente e apaixonada pela obra da consagrada autora brasileira. A expectativa para os próximos volumes da série se intensifica, prometendo uma análise ainda mais completa e multifacetada do legado literário de Nélida Piñon.
A jornada pela obra multifacetada de Nélida Piñon, guiada pela análise perspicaz de Dalma Nascimento em "As Aventuras Narrativas", revela não apenas a mestria da escritora em transitar por temas, estilos e públicos diversos, mas também a profundidade e a sensibilidade de um olhar crítico que acompanha suas metamorfoses sem perder de vista a essência de sua poética.
Dos labirintos da memória às narrativas breves, da incursão no universo infantojuvenil à densidade simbólica do Oriente, Nélida Piñon se apresenta como uma incansável aventureira da palavra, carregando o passado como lastro e mirando o futuro com audácia.
A série de cinco volumes idealizada por Dalma Nascimento, da qual este é um elo fundamental, configura-se como um mapa detalhado do território literário piñoniano até 2016. "Aventuras Narrativas" se destaca por sua coragem em justapor obras aparentemente díspares, revelando os deslocamentos e as permanências que marcam a trajetória da autora. A análise da "questão da mulher" como fio condutor, a exploração da complexidade da literatura infantojuvenil em "A roda do vento", a imersão no universo mítico e sagrado de "Vozes do deserto" e a celebração da "erotização do verbo" em "A casa da paixão" demonstram a amplitude dos interesses críticos de Nascimento e a riqueza da obra de Nélida Piñon.
Ao final da imersão, a imagem que emerge é a de uma escritora visceralmente ligada ao ato de sonhar e de transformar a realidade através da arte. Nélida Piñon, a Simbad brasileira, navega pelos mares da imaginação, tecendo histórias que desafiam convenções e exploram a condição humana em suas múltiplas facetas.
A lente crítica de Dalma Nascimento, longe de aprisionar a obra em categorias estanques, ilumina suas nuances, celebra suas inovações e, ao projetar um futuro reconhecimento ainda maior, endossa a busca incessante da escritora pela "estrela inalcançável" da literatura.
Esta série, portanto, não é apenas um estudo acadêmico; é uma ode à aventura literária, um convite a penetrar no turbilhão do imaginário de Nélida Piñon, desvendado com maestria pela argúcia analítica de Dalma Nascimento.
Oxalá, como almeja a autora, este livro seja uma porta de entrada para as dinâmicas fascinantes que unem a criatividade de Piñon e a inteligência interpretativa de Dalma Nascimento.
© Alberto Araújo
04 – CONVERSAS COM NÉLIDA DE DALMA NASCIMENTO
A
VOZ PLURAL DE NÉLIDA PIÑON: UM ENSAIO SOBRE "CONVERSAS COM NÉLIDA" DE
DALMA NASCIMENTO
ENSAIO DE ALBERTO ARAÚJO
A obra de Nélida Piñon, multifacetada e profundamente enraizada na alma da literatura brasileira contemporânea, continua a fascinar e a inspirar estudiosos e leitores. “Conversas com Nélida” 356 páginas, e tem a editoração de Paulo França da H.P Comunicação Associados do Rio de Janeiro, 2023.
Nesse contexto, o livro "Conversas com Nélida" de Dalma Nascimento emerge como uma contribuição valiosa e singular para a compreensão da trajetória e do pensamento dessa escritora essencial. Integrando uma série de cinco tomos dedicados à análise da produção piñoniana, este volume específico se debruça sobre a voz pública da autora, materializada em suas entrevistas à imprensa escrita, enriquecidas pelas reflexões perspicazes de Nascimento.
A própria gênese de "Conversas com Nélida" revela uma lacuna significativa nos estudos dedicados à autora. Como bem aponta Dalma Nascimento nas orelhas do livro, apesar do reconhecimento internacional e da expressividade da obra de Nélida Piñon, uma coletânea de seus primeiros e mais importantes depoimentos em periódicos ainda não havia sido organizada. Nesse sentido, o livro se apresenta como um esforço pioneiro e fundamental para resgatar e contextualizar a evolução do pensamento da escritora sobre sua própria obra, o cenário literário e as questões candentes de seu tempo.
Ao
centrar-se na "fala" de Nélida Piñon, o livro oferece um acesso
direto e privilegiado à sua visão de mundo, suas influências, suas motivações e
suas concepções estéticas. As entrevistas, cuidadosamente selecionadas e
complementadas pelas análises de Nascimento, revelam a pluralidade que a
própria autora reivindica para si. Através de suas palavras, acompanhamos a
contista, a romancista, a ensaísta e a cronista em diálogo com seu tempo,
expondo suas ideias sobre literatura, memória, identidade, história e a
complexa teia das relações humanas.
A relevância de "Conversas com Nélida" transcende os limites dos estudos literários. Como argumenta Dalma Nascimento, os textos reunidos no volume oferecem subsídios valiosos para aqueles que se dedicam a outros campos do saber, como a filosofia, a sociologia, a política, a psicologia e a história. As opiniões, os comentários e os esclarecimentos de Nélida Piñon, permeados por sua erudição e sensibilidade, lançam luz sobre diversas dimensões da experiência humana, conectando a estética literária com as profundezas do pensamento e da cultura. A autora se revela, assim, uma verdadeira "epistemóloga de confluências", capaz de transitar por diferentes áreas do conhecimento e de estabelecer pontes entre elas.
A surpresa expressa por Dalma Nascimento em relação à ausência de uma "Fortuna Crítica" abrangente sobre a obra de Nélida Piñon ressalta a importância de seu projeto. "Conversas com Nélida" se configura como um passo inicial crucial nessa direção, reunindo um material primário essencial para futuras análises e interpretações da vasta produção da autora. Ao articular as entrevistas com seus três livros anteriores sobre Piñon, Nascimento demonstra um compromisso de longo prazo com a divulgação e o aprofundamento do estudo de uma das vozes mais significativas da literatura brasileira.
O fascínio de Dalma Nascimento pela escrita de Nélida Piñon remonta aos seus primeiros livros, "Guia-mapa de Gabriel Arcanjo" e "Madeira feita cruz", obras que já prenunciavam uma voz singular e destoante dos cânones estabelecidos. Essa "mensagem de uma narrativa desveladora de outros caminhos estéticos" marcou a estreia de uma escritora corajosa, que, como a Antígona da literatura, enfrentou as críticas e consolidou uma obra cada vez mais celebrada. "Conversas com Nélida" nos convida a revisitar essa trajetória, a ouvir a voz plural de Nélida Piñon em diálogo com seu tempo e a reconhecer a perenidade de sua contribuição para a literatura e para o pensamento brasileiro. Este livro é, portanto, uma leitura indispensável para todos aqueles que desejam mergulhar no rico universo poético e intelectual de uma autora que se tornou um farol na paisagem literária contemporânea.
A estrutura de "Conversas com Nélida" revela a meticulosidade da pesquisa conduzida por Dalma Nascimento para a Fundação Biblioteca Nacional em 2007, transformando-se em um roteiro claro para o leitor interessado em aprofundar-se na voz pública de Nélida Piñon. O plano geral do livro, delineado pela própria autora, articula-se em etapas lógicas que guiam o leitor desde a motivação da obra até a análise das palavras da escritora.
Inicialmente, Nascimento explicita o Objetivo deste compêndio, situando a obra como a quarta de uma série dedicada ao estudo da produção literária de Nélida Piñon. Essa contextualização imediata estabelece a continuidade de um projeto intelectual de fôlego e sinaliza o foco específico deste volume: a análise das entrevistas concedidas pela autora à imprensa escrita.
Em seguida, a autora detalha os Locais da pesquisa, a sequência dos seus livros e a necessidade de preservar os depoimentos. Ao explicitar as fontes de sua investigação, Nascimento confere credibilidade ao seu trabalho e demonstra o rigor metodológico empregado na seleção do material. A menção à sequência dos seus livros anteriores reforça a ideia de um estudo progressivo e aprofundado da obra piñoniana, enquanto a ênfase na preservação dos depoimentos sublinha a importância de resgatar a voz viva da autora para as futuras gerações de leitores e estudiosos.
O
plano prossegue com a discussão da entrevista conceito e seleção, bem como dos
critérios e impasses enfrentados durante o processo de pesquisa. Essa
transparência em relação às escolhas metodológicas e aos desafios encontrados
enriquece a leitura, permitindo ao leitor compreender a complexidade da tarefa
de selecionar e organizar um material tão vasto e disperso. A explicitação dos
critérios de seleção das entrevistas garante a relevância e a representatividade
do material analisado.
O núcleo central do livro reside na análise comentada das principais falas de Nélida Piñon à imprensa escrita. Nesta seção, Dalma Nascimento exerce seu papel de estudiosa experiente, desvendando as nuances do pensamento da escritora, contextualizando suas declarações e estabelecendo conexões com sua obra ficcional e ensaística. A análise comentada transforma as entrevistas em um diálogo enriquecedor entre a voz de Piñon e a interpretação crítica de Nascimento.
Finalmente, o plano geral prevê a seleção de algumas frases por ela proferidas nos diálogos nos jornais. Essa escolha estratégica permite ao leitor ter acesso direto a fragmentos significativos das entrevistas, condensando a riqueza do pensamento de Nélida Piñon em passagens marcantes. Essa seleção funciona como um convite à reflexão e como um ponto de partida para uma exploração mais aprofundada do conteúdo do livro.
O plano geral de "Conversas com Nélida" demonstra uma estrutura bem definida e um propósito claro. Dalma Nascimento conduz o leitor através de um processo investigativo rigoroso, culminando em uma análise perspicaz da voz pública de Nélida Piñon. A organização do livro, desde a justificativa da pesquisa até a seleção de frases impactantes, reflete o compromisso da autora em oferecer um estudo abrangente e acessível sobre uma das mais importantes escritoras da literatura brasileira.
"CONVERSAS COM NÉLIDA": O RESGATE DA VOZ LITERÁRIA NA EFEMERIDADE DA IMPRENSA
A primeira parte de "Conversas com Nélida" nos introduz à gênese e aos propósitos desta quarta obra da série dedicada ao estudo da produção literária de Nélida Piñon, conduzida com paixão e rigor por Dalma Nascimento. O texto revela a motivação primordial por trás deste volume: o desejo de resgatar e preservar a rica tapeçaria de reflexões literárias, artísticas e filosóficas proferidas por Nélida Piñon em suas entrevistas à imprensa escrita ao longo de décadas.
Dalma Nascimento nos conta que, após a publicação de suas análises teóricas nos três volumes anteriores, sentiu a necessidade de dar luz à "voz viva" da autora, tal como registrada nos jornais e revistas desde o seu surgimento no cenário literário. Essa busca pelas "origens" e pela manifestação espontânea do pensamento de Piñon a levou a um projeto ambicioso, financiado pela Fundação Biblioteca Nacional, com o objetivo de coletar, selecionar e analisar as entrevistas mais representativas concedidas entre 1969 e 2007, tanto no Brasil quanto em Portugal e Espanha.
O
resultado dessa imersão em mais de uma centena de depoimentos é a presente
coletânea, inicialmente concebida como "Jornalistas conversam com Nélida
Piñon", mas que, por sugestão da própria escritora, ganhou o título mais
conciso e direto de "Conversas com Nélida". Essa mudança sutil no título
já prenuncia a intimidade e a autenticidade dos diálogos que o livro se propõe
a apresentar.
A autora explicita a sua principal motivação: a preocupação com a efemeridade das notícias jornalísticas, que rapidamente obscurecem as reflexões profundas e as ideias seminais ali contidas. Para Nascimento, preservar essas "páginas tão significativas" impregnadas da "fala de Nélida" é um ato de salvaguarda da memória literária e cultural, impedindo que se percam na voragem do tempo. A metáfora da "patina do tempo" que cobre até mesmo os "furos" jornalísticos ilustra vividamente essa preocupação com o esquecimento.
Dalma Nascimento também justifica a delimitação temporal da pesquisa, originalmente circunscrita ao período de 1969 a 2007, conforme o projeto financiado. Ela reconhece que, após esse período, o número de entrevistas de Nélida Piñon se multiplicou, tornando inviável uma inclusão exaustiva. No entanto, ao decidir publicar a pesquisa em 2022, Nascimento enriqueceu o volume com acréscimos pontuais sobre a produção da escritora, integrando seus comentários e análises às próprias falas de Piñon, tornando os diálogos ainda mais completos e contextualizados.
A
primeira parte também nos oferece um vislumbre dos "Locais da
pesquisa", revelando o meticuloso trabalho de garimpo realizado por
Nascimento em três importantes acervos: a Seção de Periódicos da Fundação
Biblioteca Nacional, os Arquivos da Memória da Academia Brasileira de Letras e,
de forma privilegiada, os documentos particulares da residência de Nélida Piñon.
A generosidade da escritora em abrir seu "extenso patrimônio
literário" à pesquisadora é destacada, sublinhando a confiança depositada
em Dalma Nascimento para manusear e transcrever materiais tão raros.
O objetivo primordial da publicação dessas entrevistas é claro: disponibilizar esse rico material para professores, estudiosos de literatura e de áreas afins, permitindo acompanhar a evolução das propostas literárias de Piñon, a articulação de seu pensamento e a fecundidade de seu imaginário criativo. Através das palavras da escritora, o leitor é convidado a perceber os traços marcantes de sua personalidade, seu raciocínio ágil e poético, suas ponderações narrativas e a intrínseca ligação de sua obra com a cultura galega/espanhola.
A primeira parte de "Conversas com Nélida" estabelece o tom e o propósito da obra: um esforço dedicado a resgatar a "fulgurante palavra" de Nélida Piñon, a preservar suas reflexões sobre a arte, a filosofia, a política e a sociedade, e a oferecer aos leitores um acesso privilegiado ao pensamento de uma das mais importantes vozes da literatura brasileira contemporânea, perpetuando sua memória para além da efemeridade das notícias.
CONCLUSÃO: NÉLIDA PIÑON, A ARQUEIRA PARADOXAL DO TEMPO LITERÁRIO
A jornada através das "Conversas com Nélida" nos conduz a uma compreensão mais profunda da complexa e multifacetada identidade literária de Nélida Piñon, tal como capturada nas lentes da imprensa escrita. A conclusão traçada por Dalma Nascimento pinta um retrato vívido de uma escritora inaugural e arcaica, simultaneamente galega e brasileira, enraizada na aldeia e cosmopolita na cidade, habitante dos domínios do subjetivo e do objetivo, tecendo sonhos com a pragmática do cotidiano. Nélida Piñon emerge como uma criatura de múltiplas temporalidades e latitudes, paradoxal em sua essência, mas firmemente ancorada no Brasil, sua morada terrena.
Dalma Nascimento a descreve como uma "andarilha universal", transgressora das convenções ("doxa"), dos consensos e do instituído. Sua mente alça voos intelectuais que a transportam através de civilizações primevas, paradoxalmente sob o pretexto de ser contemporânea, uma característica que suas entrevistas e sua própria afirmação em "Aprendiz de Homero" ecoam. Essa dualidade se manifesta também em sua relação com suas origens galegas, que, como ela mesma declara, nutriram sua imaginação e fertilizaram sua narrativa, coexistindo com sua cidadania universal.
A autora ressalta a capacidade de Piñon de conciliar os polos opostos da existência, aproximando o sublime do trivial, o Quixote de Sancho Pança, enxergando neles as duas faces da "humanidade do homem", as duas instâncias do mesmo Jano bifronte. Essa percepção da complementaridade dos opostos se estende à sua visão da arte e da vida, expressa através da poderosa metáfora da cebola.
Assim como as camadas sobrepostas de uma cebola, a escrita literária para Nélida Piñon se estrutura em estratos que imbricam e transfiguram as múltiplas faces da vida. Essa analogia revela o caráter polissêmico da literatura, permitindo leituras em diferentes níveis, sem jamais esgotar a riqueza de seu significado. A "grande força inaugural" da arte e da vida reside em seu âmago, em sua essência insondável.
Diante dessa perspectiva, Dalma Nascimento sintetiza o processo criativo de Piñon como uma busca filosófica pela "arkhé", pela origem primordial, pelo cerne vigoroso das coisas em seu processo de vir a ser. A escritora, ao analisar o ato da criação estética, empreende uma viagem simbólica ao centro da "cebola-texto" para desvelar a matéria primeira que compõe o literário e a vida, buscando a estrutura fundadora que impulsiona o desenvolvimento da obra em consonância com o mundo. Embora o mistério da criação permaneça inatingível em sua totalidade, a busca incessante por essa "tênue fresta de luz e sombra" que precede o eclipse do fenômeno artístico é central para a poética de Nélida Piñon.
Essa busca pela radicalidade inaugural do literário a impulsiona a uma constante "arqueologia dos fatos", à exploração da "arca da cultura" e aos "arcanos do ser do literário", visando iluminar as camadas que compõem o texto. A imagem da cebola se torna emblemática desse processo de desfolhar os entretecidos fios textuais para alcançar o núcleo da criação em seu esplendoroso aparecimento.
Dalma Nascimento destaca que essa questão é teorizada soberanamente em toda a obra de Nélida Piñon, ganhando especial eficácia nas construções metalinguísticas de seu mais recente trabalho, "Aprendiz de Homero", onde a autora se propõe a desvendar o enigma constitutivo e originário do fenômeno literário.
A escrita de Nélida Piñon participa do "devir", do vir a ser heraclitiano, em sua perpétua itinerância temática e estrutural. Contudo, simultaneamente, busca os "fundamentos fundantes", a essência parmenidiana das coisas, numa viagem ao cerne da "cebola". Essa rara conciliação entre a fluidez do devir e a busca pela essencialidade confere à sua obra um caráter único, uma "escrita essencial" que é também um "signo do devir", pulsando com as recordações do coração e a paixão de seu eterno caminhar.
Ao lançar o "arco da aliança" entre o passado arcaico e a literatura por vir, Nélida Piñon articula dois movimentos aparentemente opostos: a participação no vir a ser das mutações do mundo e o retorno à "arkhé", à arqueologia de seus temas basilares. Sua obra concilia a mudança heraclitiana com a permanência parmenidiana, um aspecto já explorado por Nascimento em seus ensaios e em sua participação na "Aventura Literária" da TV Cultura.
Assim, Dalma Nascimento conclui que esta coletânea, "Conversas com Nélida", ecoando o título do primeiro livro da escritora, se configura como um "seguro guia-mapa" para mergulhar nos arcanos da imortal Nélida Piñon, uma "arqueira das letras" que une o passado mais remoto ao futuro da literatura. O leitor, ao "en-treler" as ideias capitais da escritora nestas "entrevistas", encontrará um "guia-mapa mensageiro" para permanecer "no calor das coisas" e, implicitamente, dialogar com a inesgotável sabedoria de Nélida Piñon.
A GRATIDÃO DE DALMA NASCIMENTO: UM RECONHECIMENTO AFETUOSO
Na seção de Agradecimentos, Dalma Nascimento tece uma rede de reconhecimento a duas figuras cruciais na concretização de "Conversas com Nélida", revelando laços de amizade e colaboração que transcendem o âmbito profissional.
Primeiramente, sua gratidão se volta ao amigo e jornalista Alberto Araújo, a quem credita o "ingente trabalho de transcrição das quase ilegíveis entrevistas" de Nélida Piñon. Essa menção ressalta a dedicação e a paciência de Alberto Araújo em decifrar registros possivelmente desgastados pelo tempo, um esforço fundamental que pavimentou o caminho para a edição e publicação deste livro. Sem a sua minuciosa transcrição, a riqueza contida nessas conversas poderia ter permanecido inacessível.
Em seguida, o agradecimento se dirige a Paulo França de Carvalho, amigo de longos anos e responsável pela edição do livro. Ao evocar a "cortina do tempo", Dalma Nascimento rememora o início da relação profissional e pessoal com França, quando ele dirigia o Caderno Bis da Tribuna da Imprensa nos anos 90. O convite para colaborar com o periódico marcou o início de uma parceria que se estendeu por anos, permeada pela confiança e pela compreensão das peculiaridades do trabalho da autora, como a entrega dos textos "na última hora" após noites dedicadas à escrita, conciliando a paixão pela literatura com as responsabilidades da docência.
A anedota sobre a matéria de lançamento do livro "O pão de cada dia" de Nélida Piñon ilustra a dedicação e o apreço de Paulo França pelo trabalho de Dalma Nascimento e pela relevância da obra de Piñon. Mesmo com o jornal já fechado, sua intervenção para incluir a matéria na edição do dia seguinte, permitindo que a escritora recebesse o jornal no próprio evento de lançamento, demonstra um comprometimento que vai além das obrigações profissionais.
A parceria frutífera se renovou com a fundação do jornal cultural "O Correio" em 1996, onde Nascimento atuou como Coordenadora Editorial por mais de uma década. Esse período consolidou uma colaboração marcada pela busca da excelência e pela dedicação em tornar a publicação um periódico de "reconhecido alto nível cultural".
Os agradecimentos de Dalma Nascimento, portanto, não são apenas uma formalidade, mas um reconhecimento sincero e afetuoso àqueles que, de diferentes maneiras, contribuíram para que "Conversas com Nélida" viesse à luz. Eles revelam a importância das relações humanas e da colaboração no processo de produção intelectual, sublinhando que a materialização de um projeto como este é muitas vezes o resultado de um esforço coletivo e de laços construídos ao longo do tempo.
© Alberto Araújo
05 – ONDE VOCÊ ESTIVER... RECORDAÇÕES DE NÉLIDA PIÑON DE DALMA NASCIMENTO
ECOS DA MEMÓRIA: UMA CELEBRAÇÃO
PÓSTUMA A NÉLIDA PIÑON
ENSAIO DE ALBERTO ARAÚJO
A voz singular e a arte literária de Nélida Piñon, uma das mais importantes escritoras da literatura brasileira contemporânea, ecoam através do tempo, continuando a enriquecer o panorama cultural e a despertar a admiração de leitores e estudiosos. Em "Onde Você Estiver... Recordações de Nélida Piñon" da escritora e acadêmica Dalma Nascimento, obra póstuma com 192 páginas e cuidadosa edição de Paulo França da H.P Comunicação Associados do Rio de Janeiro (2024), somos convidados a revisitar a trajetória e o legado desta intelectual ímpar.
Este livro, que a própria homenageada não teve a oportunidade de conhecer em sua forma final, emerge como um tributo sensível e essencial à profundidade de sua escrita e à vastidão de sua influência. Através de recordações, análises e reflexões, a obra oferece um olhar multifacetado sobre a vida e a obra de Nélida Piñon, perpetuando sua memória e celebrando sua indelével marca na literatura do Brasil. "Onde Você Estiver..." de Dalma Nascimento convida-nos a sentir a presença constante de sua arte, a revisitar seus universos ficcionais e a manter viva a chama de seu legado literário.
MENSAGEM DE DALMA NASCIMENTO
Querida Nélida, que lição você nos oferece nesta reverente cena. Contrita e irmanada ao grande e antigo tronco dessa árvore centenária da Galícia no Bosque de las Palabras, em 2014, você eternizou, também nessa foto, a união dos humanos com o reino vegetal. Partilhou de um tema de tanta atualidade, analisado, agora, por cientistas de diferentes países. Ao abraçar, com afeto, a árvore, misturou a seiva de sua humana escrita à dos vegetais em perfeita conjunção fraterna. Em suas páginas literárias já se encontram, desde os seus primeiros livros, as ligações de seus personagens aos vegetais, pedras e animais. Você, na década de 60, ainda bem novinha, produziu duas obras inovadoras: Guia-mapa de Gabriel Arcanjo (1961) e Madeira feita cruz (1963). Em ambas se percebem não somente suas desconstruções literária dos cânones narracionais, como também a enfática presença dos reinos da Natureza em fraterna união.
Desde garota, o ambiente campestre a fascinou. Tendo vivido o início de sua vida no febricitante Rio de Janeiro, aos doze anos seu avô Daniel levou-a à terra ancestral do clã galego. E você, em liberdade, conheceu o silêncio montanhês. Partilhou da vida agreste dos trabalhadores do campo. Observou o gado no pasto, as ovelhas e cabritos subindo o monte Pá de Múa, seu “Everest particular”. Alimentou as vacas galegas da avó Isolina, conforme relatou nas passagens de seu livro Coração andarilho e em outros ensaios. Tornando-se camponesa, escavou os mistérios da terra, “cercada de carvalho e toxo. Naquelas terras, viu de perto a vegetação rasteira salpicada de verde e amarelo. Conheceu casas da pedra e visitou ruínas de castros romanos. Ouviu a voz do vento e o uivar dos lobos. O galego com paladar montanhês, que se fundiu um dia com o português, e o castelhano, altivo e descampando” e aprendeu simultaneamente duas línguas. Sentiu a prodigalidade das emoções, em que os animais tinham nome e coparticipavam da vida campestre familiar, plenas de identidade interativa com o humano. Você mergulhou de modo tão intenso no imo local que se tornou cicerone até dos pais em excursão às maravilhas locais. Da terra doméstica “identificava hábitos, origens, nomes de árvores”, conforme relembra: “ao anoitecer o fio da água de algum manancial para as veigas da avó e beneficiar suas terras”. Você foi uma das pioneiras a usar as lembranças de uma Galícia encantada em cenas de seus livros, tornando ligações humanas.
Assim, com este livro, eu viso a demonstrar o quanto a sua narrativa é riquíssima, também em tais aspectos. Esta obra é o começo de um trabalho maior, abrangendo desde Guia-mapa de Gabriel Arcanjo (1961) e Madeira feita cruz (1963), até Um dia chegarei a Sagres e, em certas obras intermediárias, os elementos da natureza comandarão a cena literária, sobretudo em A casa da paixão, aqui já demonstrando a ligação da personagem Marta com os fenômenos cósmicos. Querida Nélida, este é meu quinto livro analítico sobre toda a sua obra, quando comecei escrevendo Nélida Piñon nos labirintos da memória, Nélida Piñon entre contos e crônicas, Aventuras narrativas de Nélida Piñon, Conversas com Nélida e, agora, Onde você estiver. Este presente de aniversário, além de tematizar questões ligadas à Fitoliteratura (literatura das plantas) e à Zooliteratura (literatura dos animais), traz também outros ensaios temáticos e configura um caleidoscópico e recordações textuais. Será meu presente a você pelo seu aniversário, além de agradecer a dedicatória em seu livro póstumo Os rostos que tenho: “À Dalma Nascimento, que dedicou sua vida à procura do enigma que bendiz e amaldiçoa a obra arte. A mestra que enveredou pelas linhas secretas”.
Em seu registro, meu nome figura ao lado da amada cachorrinha Pilara Piñon. Com tal ligação explícita, você mais uma vez demonstrou que humanos e animais estão no mesmo nível, conforme atesta a Zooliteratura e a Fitoliteratura. Ademais, testemunho seu antigo amor aos animais e Gravetinho foi exemplo disso, que você, Nélida, foi uma antecipadora do tema, demonstrando a inter-relação, entre animais, vegetais, minerais e o humano.
EIS NÉLIDA PIÑON, TÃO VIVA, NO PALCO DAS MINHAS LEMBRANÇAS
Abrindo as cortinas do tempo... De repente, o começo e o fim, ou seja, os pontos alfa e ômega da vida de Nélida Piñon se encontraram. Em 17 de janeiro de 2023, fechara-se para ela o ciclo de sua presença física do mundo. O palco das Letras estremecera, escurecido. Mas, pouco a pouco os holofotes de sua arte recomeçam a piscar... No então vazio e entristecido cenário, eis Nélida de mãos dadas com suas personagens a cirandar no grande movimento da escrita.
Agora, no centro da ciranda estão personagens de seus livros: Mariella, de Guia-mapa de Gabriel Arcanjo; Ana, de Madeira feita-cruz; Monja, de Fundador; Marta, d’A Casa da Paixão; a mulher sem nome do conto “Ave do paraíso” no livro Sala de armas; “A cronista Nélida”, de A força do destino; Breta e Esperança, d’A República dos sonhos; Caetana, da Doce canção de Caetana; Tia Gênia, de A roda do vento; Sherazade, de Vozes do deserto; Elisa, de A camisa do marido; e a própria Nélida, em anúncios da escrita autoficcional em: O pão de cada dia, estando ela bem mais presente na autoficcionalidade ao mesclar fantasia e realidade nas obras Coração andarilho, Livro das horas, Uma furtiva lágrima e, depois, na companhia de Mateus, fechou-se sua roda com Um dia chegarei a Sagres. Discorrer sobre Nélida Piñon, sedutora mulher no escrever e no falar, é um desafio diante dos múltiplos horizontes para os quais sua vasta narrativa aponta e se dirige.
O que escolher para expressar minha antiga admiração pela narrativa e pelo ser existencial dessa celebrada ficcionista, cuja obra já escrevi quatro livros sobre toda a sua produção, nos mais diferentes níveis em volume extensos: Nélida Piñon nos labirintos da memória; Nélida Piñon entre contos e crônicas; Aventuras narrativas de Nélida Piñon; Conversas com Nélida e um quinto livro.
Quais as palavras para, mesmo de leve, mencionar o universo dessa escritora falecida com 27 livros publicados. Vários deles, traduzidos em mais de 30 países, inclusive para o chinês, além dos prêmios de dois Jabutis no Brasil e muitos e muitos outros internacionais, dentre eles o disputadíssimo Príncipe de Astúrias de Letras, em 2005, entregue pelo príncipe da Espanha? O que mais dizer sobre essa extraordinária mulher que assumiu a presidência da Academia Brasileira de Letras com segurança e labor? A primeira presidente mulher.
E isso ocorreu num expressivo momento não só para aquela entidade secular, mas também para os destinos da Nova Mulher, que surgia, esplendorosa em FORÇA DE AURORA para os Movimentos do Mundo. O que ainda comentar sobre sua extensa produção que tanto gerou reboliço quando iniciou a carreira literária nos anos 1960? Naquela época, certos críticos e teóricos não perceberam que, na ficção da jovem estreante, algo novo ali se gestava, bem diverso do consignado.
Era a energia, da palavra poética, desvelando-se, em nudez seminal, que Nélida trazia à luz e defendia. Com a força tenaz de uma Antígona dos remotos tempos, ela desafia o poder dos Creontes literários da crítica da época. Já que em Nélida, vida e obra estão essencialmente enlaçadas, resolvi, então, falar de seus livros.
NÉLIDA PIÑON: UMA BIOGRAFIA EM TRAÇOS DE LEGADO
Nélida Cuíñas Piñón nasceu em Cotobade, Galícia, Espanha, no dia 03 de maio de 1937 e faleceu em Lisboa, Portugal, no dia 17 de dezembro de 2022, foi uma das mais importantes e internacionalmente reconhecidas escritoras brasileiras. Filha de Lino Piñón Muíños e Olivia Carmen Cuíñas Morgado, ambos de origem galega, Nélida teve seu nome como um anagrama de seu avô materno, Daniel Cuiñas Cuiñas.
Apesar de suas raízes galegas, Nélida Piñon construiu uma sólida trajetória no Brasil. Formou-se em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e atuou como editora e membro do conselho editorial de diversas revistas, tanto no Brasil quanto no exterior. Sua ligação com o universo cultural de sua cidade natal também se manifestou através de sua participação em conselhos consultivos de várias entidades.
Sua estreia literária ocorreu em 1961 com o romance Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, obra que já prenunciava a profundidade de seus temas, explorando o pecado, o perdão e a complexa relação entre os mortais e o divino. Ao longo de sua prolífica carreira, Nélida Piñon presenteou a literatura brasileira com obras marcantes, como A República dos Sonhos, um romance de grande fôlego que, partindo da história de uma família de imigrantes galegos no Brasil, tece reflexões sobre a identidade, a memória e as conexões entre a Galícia, a Espanha e o Brasil.
Além de sua atuação como romancista, Nélida Piñon manteve fortes laços com diversas instituições culturais. Foi acadêmica correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e, em outubro de 2014, ingressou na Real Academia Galega. Tornou-se também a primeira ocupante da cadeira de número 51 da Academia Brasileira de Filosofia. Sua consagração no cenário literário brasileiro culminou com sua eleição e posterior presidência da Academia Brasileira de Letras (ABL), sendo a primeira mulher a ocupar o mais alto cargo da instituição secular.
O reconhecimento de sua obra transcendeu as fronteiras brasileiras. Seus livros foram traduzidos para inúmeros idiomas, alcançando leitores em diversos países. Ao longo de mais de 35 anos de intensa atividade literária, recebeu inúmeros prêmios, culminando com o prestigiado Prêmio Príncipe de Astúrias das Letras em 2005. Nesta edição, concorreu com escritores de renome mundial, como Paul Auster, Philip Roth e Amos Oz, representando um total de dezesseis países.
Nélida Piñon faleceu em Lisboa, aos 88 anos, em 17 de dezembro de 2022. Estava internada para tratamento na vesícula e, apesar de ter se recuperado de uma cirurgia inicial, sofreu complicações que levaram ao seu falecimento. Seu corpo foi velado na sede da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, e sepultado no Mausoléu da ABL, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, em 29 de janeiro de 2022.
Nélida Piñon deixou um legado
literário vasto e singular, sendo reconhecida como uma das escritoras
brasileiras mais importantes, traduzidas e admiradas em todo o mundo. Sua
escrita profunda, lírica e inovadora continua a inspirar novas gerações de
leitores e estudiosos da literatura.
E, concluindo esta profunda imersão no legado literário de Nélida Piñon, guiados pela sensibilidade analítica de Dalma Nascimento em suas cinco obras essenciais, reafirmamos a magnitude desta escritora singular.
Por intermédio de "NÉLIDA PIÑON NOS LABIRINTOS DA MEMÓRIA", "NÉLIDA PIÑON ENTRE CONTOS E CRÔNICAS", "AVENTURAS NARRATIVAS DE NÉLIDA PIÑON" (com o selo da Parthenon Centro de Artes e Cultura de Niterói), "CONVERSAS COM NÉLIDA" e a derradeira e emocionante "ONDE VOCÊ ESTIVER... RECORDAÇÕES DE NÉLIDA PIÑON" (ambas com o selo da H. P Comunicação Associados editor Paulo França), somos convidados a testemunhar a genialidade de Piñon em suas múltiplas facetas.
Estes ensaios de Dalma Nascimento não apenas desvendam as camadas de suas narrativas, mas também nos aproximam da voz íntima da autora através de entrevistas reveladoras, capturando a essência de seu pensamento e sua paixão pela literatura.
Agora, ao findar esta exploração enriquecedora, o convite se estende a você, leitor. Mergulhe sem reservas nas obras de Nélida Piñon e nas análises perspicazes de Dalma Nascimento. Permita-se ser conduzido pelos labirintos da memória, pela riqueza dos contos e crônicas, e pela aventura inesquecível de suas narrativas. Descubra a profundidade de uma escritora que marcou a literatura brasileira para sempre e a dedicação de uma estudiosa que soube iluminar sua trajetória com maestria.
Desvende, explore, apaixone-se. O universo literário de Nélida Piñon espera por você.
© Alberto Araújo
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