O barro vermelho de Luzilândia guardou a dança dos meus pés infantis, cada pegada uma canção muda ecoando pelas ruas poeirentas. O sol castigava, mas o frescor da sombra da mangueira no quintal era um abraço constante, um refúgio seguro tecido pelos galhos generosos e pelo amor incondicional da minha mãe. Ah, mãe... a simples menção do seu nome evoca a suavidade do algodão e a firmeza da raiz que sustenta a árvore.
Lembro-me dos seus olhos, faróis serenos guiando nossos pequenos barcos em mares por vezes turbulentos. Não havia sofisticação nos seus gestos, mas uma beleza intrínseca na forma como cuidavas, como nutrias não só o corpo com a fartura singela da nossa mesa, mas também a alma com palavras calmas e um sorriso que desarmava qualquer medo. A segurança que emanava dela era um escudo invisível, uma certeza silenciosa de que tudo ficaria bem, mesmo quando o horizonte parecia incerto.
As noites em Luzilândia eram embaladas pelas estrelas cintilantes e pelas histórias de seus ancestrais e lendas de um Piauí mágico e ancestral. Sua voz, um rio manso correndo entre as pedras, acalmava nossos espíritos inquietos e nos preparava para os sonhos. Eram tempos simples, despojados de luxo, mas ricos na abundância do afeto, na partilha do pouco que tínhamos, e na grandiosidade do seu amor.
Hoje, a saudade veste a paisagem de Luzilândia com um véu melancólico. A sua ausência deixou um vazio que as palavras lutam para preencher. Mas no recôndito mais profundo do meu ser, pulsa a herança luminosa que me deixaste: a resiliência dos sertanejos, a beleza da simplicidade, e a inabalável certeza de que o amor materno transcende a vida terrena.
Sei que agora repousas na eternidade, guardada no coração de Deus, a morada dos justos. E mesmo distante, sinto a sua presença em cada raio de sol que beija a terra de Luzilândia, em cada brisa suave que acaricia meu rosto, em cada lembrança que floresce como uma flor resistente no árido solo da saudade. Seu legado vive em mim, mãe, uma luz perene guiando meus passos, um farol de amor que jamais se apagará.
© Alberto Araújo
11 de maio de 2025
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