Há janelas que se abrem para o mundo.
Outras, para dentro de nós. A minha, em Icaraí, faz as duas coisas ao mesmo
tempo. É fim de tarde, e o céu parece dividido entre o azul profundo e o
dourado que insiste em se despedir devagar.
A Praça de Icaraí, logo à frente, se
transforma. A Árvore de Natal acende como um feixe de esperança, com seus fios
de luz azul e branca desenhando um cone perfeito que desafia a lógica do
concreto. No topo, uma estrela brilha como se soubesse exatamente onde estamos,
e quem somos.
Os sinos da Paróquia São Judas Tadeu
tocaram há pouco. Um som angelical, quase tímido, que atravessou o ar como uma
oração sem palavras. O letreiro da igreja se acendeu em seguida, como se
confirmasse que o tempo agora é outro. Um tempo sagrado, suspenso entre o
cotidiano e o milagre. Ali, entre a fé e o restaurante La Mole, onde famílias
se reúnem para celebrar o trivial, a vida parece se equilibrar com delicadeza.
Do alto da janela, vejo as amendoeiras
que margeiam a praça. Suas folhas dançam com o vento que vem do mar, e há algo
de ancestral nesse movimento. Como se cada folha soubesse que já foi verão, já
foi outono, já foi infância. As crianças correm entre os bancos, os casais se
abraçam com a desculpa do frio que nunca chega de verdade, e os velhos observam
tudo com olhos que já viram demais.
O mar está logo ali, atrás da faixa de
areia onde os passos se apagam. Ele respira com calma, como quem sabe que não
precisa provar nada. As ondas vêm e vão, indiferentes ao tempo humano, mas
cúmplices da nossa saudade. Às vezes, penso que o mar é o único que entende o
que sentimos quando olhamos para o Cristo Redentor, lá do outro lado da Baía.
Ele está distante, mas presente. Invisível aos olhos apressados, mas evidente
para quem sabe olhar com o coração.
O Cristo, de braços abertos, parece
abraçar não apenas o Rio, mas também Niterói. Como se dissesse: “Eu vejo
vocês.” E nós, do lado de cá, respondemos com luzes, com árvores enfeitadas,
com sinos que tocam ao entardecer. É uma conversa silenciosa entre fé e beleza,
entre o sagrado e o urbano.
Informação demais nos atravessa todos
os dias. Notícias, alertas, notificações. Mas nenhuma delas é capaz de capturar
o que acontece quando a Árvore de Natal se acende na Praça de Icaraí. Nenhum
algoritmo entende o que sentimos ao ouvir os sinos da Paróquia São Judas Tadeu.
Nenhum feed traduz o cheiro do mar misturado ao perfume das amendoeiras. E
nenhum gráfico explica por que, ao olhar para o Cristo Redentor, sentimos que
tudo vai ficar bem.
A janela é mais do que um
enquadramento. É um convite. A paisagem que ela revela não é apenas geográfica,
é emocional. É uma cartografia da alma, desenhada com luzes de Natal, com o som
dos sinos, com o murmúrio do mar e com a presença silenciosa do Cristo ao
longe.
Hoje, ao olhar pela janela, entendi
que a informação mais importante não está nos jornais, nem nas redes. Está
aqui, diante de mim. Está na árvore que brilha, nos sinos que tocam, nas folhas
que dançam, no mar que respira, no Cristo que abraça. Está em Icaraí, onde o
mundo se revela em detalhes que só o coração é capaz de decifrar.
© Alberto Araújo

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