Hoje, 03 de maio de 2024 o Focus Portal Cultural – editor Alberto Araújo traz para homenagear Nélida Piñon escritora carioca, primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras as obras de autoria da professora, escritora, jornalista e acadêmica Dalma Nascimento.
A professora Dalma Nascimento é especialista na obra da Nélida Piñon. A escritora mergulhou durante muitos anos, em estudos sobre a obra da autora e tem em seus escritos quatro volumes dos cinco de uma série especial que contém toda a história literocultural da acadêmica brasileira.
A seguir, os títulos dos quarto volumes da série de cinco dos estudos que a escritora Dalma Nascimento lançou sobre Nélida Piñon.
01 - Nélida Piñon nos labirintos da
memória. Niterói - RJ: Editora Parthenon, 2015;
02
- Nélida Piñon entre contos e crônicas. Niterói - RJ: Editora Parthenon, 2015;
03
- Aventuras narrativas de Nélida Piñon. Niterói - RJ: Editora Parthenon, 2016;
04 - Conversas com Nélida. Rio de Janeiro: Editora H.P. Comunicação Associados.
Dando continuidade à homenagem
Caros leitores leiam as palavras de Dalma Nascimento que foram extraídas da obra “Conversas com Nélida”. A obra foi publicada em 2023. Contém 256 páginas e tem o selo da H.P. Comunicação Associados, editoria de Paulo França de Carvalho do Rio de Janeiro.
“CONVERSAS COM NÉLIDA” é o meu quarto livro da série planejada em cinco tomos, especificamente voltada para o estudo de toda a produção desta grande escritora brasileira. Após eu ter publicado as obras Nélida Piñon nos labirintos da memória, 2015, Nélida Pinõn entre contos e crônicas, 2015 e Aventuras narrativas de Nélida Piñon, 2016, relativas a análises teóricas sobre as produções da autora, resolvi também editar minha ampla pesquisa de suas entrevistas – sobretudo as mais antigas, desde quando a autora apareceu no horizonte literário.
Sempre a buscar fundamentos originários, a Fundação Biblioteca Nacional, em fins de dezembro de 2007, financiou-me um projeto para ser realizado em 2008-2009, referente à coleta, seleção e análise das mais representativas entrevistas da escritora nos jornais e revistas do Brasil e do exterior, inclusive de Portugal e Espanha. Porém, elas deveriam ser efetivadas apenas no específico período de 1969 a 2007. Portanto, na ocasião, não ultrapassariam o momento cronológico consignado.
Concluída a tarefa, com mais de 100 alentados depoimentos recolhidos, analisados e alguns por mim comentados, grande parte dos textos agora se encontra agrupado nesta coletânea, no princípio intitulada Jornalistas conversam com Nélida Piñon. Porém, por sugestão da própria escritora, mudei o título para Conversas com Nélida.
Essa pesquisa, agora transformada em
livro – há tantos anos aguardando a possibilidade de publicação – teve como
maior objetivo a preservação da memória de páginas tão significativas
impregnadas de reflexões literárias, artísticas e filosóficas da fala de
Nélida, eternizadas em letras, para que suas memórias textuais não se perdessem
na efemeridade das notícias dos jornais.
Realizações ou mesmo ideias lançadas na imprensa, tão logo passe a repercussão da ocorrência, depressa se cobrem com a pátina do tempo. Até mesmo as que foram “furos” de edição são rapidamente consumidas e esquecidas. Sem dúvida, enorme dano.
Findo o prazo estipulado pela Fundação Biblioteca Nacional, Nélida rebrilhava ainda mais com sempre novas entrevistas, principalmente com livros recém-editados. E, após 2007, tantas e tantas foram suas falas na imprensa que seria inexequível colocá-las todas nessas Conversas com Nélida.
Já que somente agora em 2022, resolvi publicar minha pesquisa, fui inserindo certos acréscimos sobre a produção de Piñon em meio às entrevistas, objeto central deste livro. Acredito terem assim ficado mais completos seus diálogos com jornalistas complementados com sucintos comentários e acréscimos sobre as produções da escritora.
Os leitores terão nestas reportagens referências pessoais e estéticas da autora, fluindo espontâneas e criativamente no processo interativo do diálogo com a imprensa. Iluminações de Nélida nos rituais da Arte irão surgindo nesta edição, junto a pensamentos do dia a dia de uma época, além das matrizes familiares, de que tanto a escritora se orgulha.
LOCAIS DA PESQUISA
A fim de concretizar esse amplo projeto, o garimpo do material realizou-se, a princípio, em três importantes acervos públicos, guardiões dos registros necessários à concretização da tarefa. A consulta iniciou-se na Seção de Periódicos da prestigiosa Fundação Biblioteca Nacional, conectada com as áreas de saber do mundo. A seguir, deu-se nos Arquivos da Memória da Academia Brasileira de Letras, de onde Piñon foi um dos mais destacados membros. Ao ampliar a busca às fontes primárias, a coleta foi concluída nos documentos particulares na residência da própria escritora, situada na Lagoa, bairro nobre do Rio de Janeiro.
Gentilmente, ela franqueou o acesso a variados e valiosos textos de seu extenso patrimônio literário, resguardado em dois aposentos. Todos esses espaços foram fundamentais para o começo deste trabalho, e aqui se consignam a gratidão e o reconhecimento à Nélida Piñon pela confiança de eu ter manuseado artigos tão raros, além da possibilidade de transcrever, neste livro, o pensamento de uma escritora de tal renome internacional.
Algumas das intervenções dessa ficcionista de ascendência galega concedidas à mídia escrita brasileira no período de 1969 a 2007 – encontra-se neste volume, cujo objetivo principal é o de preservá-las para professores, estudiosos de Literatura e de outras áreas afins. Nas respostas de Piñon aos profissionais da imprensa, pode-se acompanhar a evolução de suas propostas literárias, o pensamento bem articulado e flagrar a fecundidade do seu imaginário, pleno de lampejos criativos.
Guiados pelas falas de Piñon
transformadas em textos, os leitores perceberão também os fortes traços da sua
personalidade, o rápido raciocínio de alta voltagem poética, as ponderações
narrativas, a carpintaria construtora dos livros em cotejo com as falas
transformadas pelos entrevistadores. Além das significativas marcas, em toda a
sua obra, da cultura galega/espanhola.
Com o trabalho de resgate das principais entrevistas listadas e algumas, bem poucas, reproduzidas fotograficamente no final deste volume, meu objetivo foi o de não deixar que a memória de páginas tão significativas, com reflexões também artísticas, filosóficas, políticas e sociais se evolassem na vertigem do efêmero das notícias jornalísticas.
Nessas reportagens, com referências pessoais e estéticas–fluindo espontâneas e criativamente no processo interativo do diálogo com a imprensa – a fulgurante palavra de Nélida alude a relevantes questões da cultura nacional e do mundo. E sua incandescente palavra revive lembranças, pensamentos, o dia a dia de uma época, além das matrizes familiares, de que tanto a escritora se orgulha. Já que a obra dela é um reviver de origens ressignificadas na atualidade, fui contaminada por sua busca das raízes.
Em que pese seja mais do que consabido o destaque internacional do renome de Nélida, não cabe aqui enfatizar os inúmeros prêmios auferidos por ela no Brasil e no Exterior. A seguir, os títulos dos 30 livros publicados até 2022, com as respectivas datas, para que o leitor melhor se situe nas entrevistas no decorrer deste livro: Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, romance, 1961, Madeira feita cruz, romance, 1963, Tempo das frutas, contos, 1966, Fundador, romance, 1969, A casa da paixão, romance, 1972, Sala de armas, contos, 1973, Tebas do meu coração, romance, 1974, A força do destino, romance, 1977, No calor das coisas, contos, 1980, A República dos Sonhos, romance, 1984, A doce canção de Caetana, romance, 1987, O pão de cada dia, minicontos, aforismos, cartas etc. 1994, A roda do vento, literatura infantojuvenil, 1996, Até amanhã, outra vez, crônicas, 1999, O presumível coração da América, ensaios e discursos, 2002, Vozes do deserto, romance, 2004, La seducción de la memória, ensaios, 2006, editado no México, Aprendiz de Homero, ensaios, memórias, 2008, Coração andarilho, memórias, 2009, Livro das horas, memórias ficcionalizadas, 2012, A camisa do marido, contos, 2014, Filhos da América, ensaios, 2016, Uma furtiva lágrima, memórias, 2019 e Um dia chegarei a Sagres, romance, 2020.
A SELEÇÃO DAS ENTREVISTAS: CRITÉRIOS E IMPASSES
Priorizar este ou aquele documento não foi nada fácil. Escolhas são sempre subjetivas e factíveis de erros, por mais que sejam julgadas imparciais. Muitos textos foram descartados do corpus e vários foram os motivos. O primeiro e o mais relevante: ao comparar o teor de cada artigo, constatei que certas perguntas se repetiam com maior ou menor profundidade. Sobretudo quando a escritora lançava um novo livro, Periodistas formulavam questões tipo papel carbono e pródigos foram disso os exemplos. Entretanto, em meio a questões banalidades, surgia, de repente, uma pergunta – apenas uma –, trazendo algo relevante e inexistente nas demais. Já outras matérias desenvolviam indagações fecundas com fagulhas inventivas no texto inteiro. Preferi-las somente?
Ainda outro ponto pesou na seleção. Não obstante o brilho da entrevistada, o interesse de alguns repórteres recaía, não raro, bem mais em informações gerais e algumas até bem particulares do que no valor estético da obra recém-editada. Muitos profissionais da imprensa centravam em questões periféricas, visando a saciar a curiosidade do público. Objetivavam divulgá-la com fins sensacionalistas ou mercadológicos. Poucas ou nenhuma eram as alusões à densidade da escrita da ficcionista, à força incandescente de seu verbo.
Em meio a tais impasses, quais entrevistas escolher? É certo que os jornais necessitam de notícias ágeis, palpitantes e atuais com assuntos da realidade. Porém, nas produções artísticas, isso não deveria acontecer, tanto que Isa Cambará, na entrevista à Folha de Paulo, em 10/O4/1978, a própria Nélida comenta o papel censor/opressor da imprensa e argumenta que o jornal, “independente da censura oficial, seleciona o que quer publicar”.
Entretanto, não é somente tal pressão que destrói as notícias. Existem perguntas mutiladoras, mal formuladas pela imaturidade intelectual do entrevistador, pelo despreparo na elaboração da pauta ou porque o jornalista não pesquisou suficientemente o assunto da conversa. O encontro jornalístico transcorre, então, com o preconizado apenas pela redação fria da lide, e as candentes questões esclarecedoras perdem-se no superficial “bate-papo”, sem a entrevista reproduzir a dimensão internacional da escritora.
Às vezes, os repórteres não a instigam com formulações substanciais. Até, em certas matérias, percebi pelas entrelinhas que a própria ficcionista assumira a posterior condução do diálogo com seu estilo tão peculiar de escrever e de falar. Formada em Jornalismo, Nélida conhece bem as técnicas da área e logo percebe a falência de certos colegas. Todavia, com sua peculiar fidalguia e delicada maneira de ser, ia matreiramente moldando as perguntas a seu jeito, confundindo até mesmo profissionais tarimbados com suas multiplicidades semânticas e metáforas inventivas. Aliás, das quais ela é respeitável mestra, sendo a metáfora – expressiva figura de linguagem – um dos seus mais fortes emblemas entre tantos e tantos outros artifícios escriturais.
Houve ainda o terceiro ponto relevante na seleção das entrevistas: o livro Conversas com Nélida não deveria ultrapassar determinado número de páginas, e tantos eram os textos pesquisados e selecionados. Por fim, optei pela ordem cronológica das publicações, valorizando, contudo, as que melhor apreendessem a cosmovisão poética da acadêmica. Assim, ao término da triagem, restaram 70 textos, os mais sensíveis e, ao mesmo tempo, aqueles que obedecessem à sequência delimitada do período de 1969 a 2007.
Desta data para os dias que correm em nosso 2022, o leitor nem poderá avaliar de quantas falas em periódicos a escritora participou. Incontáveis, inúmeras, foram as entrevistas, tal a fecundidade da produção da autora. Aliás, agora, ao publicar este livro diante da extensa produção de Nélida, somente foram acrescentadas, bem no final do presente livro, apenas algumas entrevistas entre milhares delas. Entretanto, pela amostra desta publicação, julgo estar certa de que o leitor já poderá acompanhar o processo evolutivo do pensamento nelidiano nas datas aprazadas.
Em verdade, coletei documentos anteriores a 1969, contudo, sem ainda oferecerem a dimensão daqueles que vieram depois. Somente a partir dos fins dos anos 60 é que se preservam as principais ideias que mais tarde floresceram com maior vigor na sua produção. Sendo a acadêmica tão ligada a Machado de Assis, segundo inúmeros registros nos jornais e livros1, infere-se que a Nélida do futuro, similar à Capitu, já se encontrava em embrião nos depoimentos dos anos 60 e 70, pois, àquela época, “uma já estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca”2. Por isso, dei ênfase às anteriores.
Da fase mencionada, há um leque de depoimentos. Eles não só tematizam as suas obras como, também, justificam, por meio da própria Nélida, certas incompreensões dos críticos da época sobre a sua peculiar maneira de escrever.
UM POUCO SOBRE NÉLIDA PIÑON
Nélida Cuíñas Piñón nasceu no Rio de Janeiro, no dia 03 de maio de 1937 e faleceu em Lisboa, no dia 17 de dezembro de 2022, foi uma escritora brasileira, integrante da Academia Brasileira de Letras, ABL, a qual já presidiu.Foi uma das escritoras brasileiras mais conhecidas e traduzidas internacionalmente.
Filha de Lino Piñón Muíños e Olivia Carmen Cuíñas Morgado, de origem galega, do conselho de Cotobade. Seu nome é um anagrama do prenome de seu avô materno Daniel Cuiñas Cuiñas.
Formou-se em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio, tendo sido editora e membro do conselho editorial de várias revistas no Brasil e exterior. Também ocupou cargos no conselho consultivo de diversas entidades culturais em sua cidade natal.
Estreou na literatura com o romance Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, publicado em 1961, que tem como temas o pecado, o perdão e a relação dos mortais com Deus.
No romance A República dos Sonhos, baseado em uma família de imigrantes galegos no Brasil, ela faz reflexões sobre a Galícia, a Espanha e o Brasil.
Nélida Piñon foi também ligada a outras instituições culturais. Era acadêmica correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e, em outubro de 2014, entrou na Real Academia Galega. Foi a primeira ocupante da cadeira de número 51 da Academia Brasileira de Filosofia.
Nélida morreu em Lisboa em 17 de dezembro de 2022, aos 85 anos. Estava internada em um hospital na capital portuguesa para tratamento na vesícula. Havia sido submetida a uma cirurgia, da qual se recuperava, mas sofreu complicações e não resistiu.
Eleita em 27 de julho de 1989 para a Cadeira que tem por Patrono Pardal Mallet, da qual é a quinta ocupante. Tomou posse em 03 de maio de 1990, recebida por Lêdo Ivo.
Foi a primeira mulher a se tornar presidente da Academia Brasileira de Letras, entre 1996 e 1997.
OBRAS
ROMANCE
Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, 1961
Madeira feita de cruz, 1963
Fundador, 1969
A casa da paixão, 1972
Tebas do meu coração, 1974
A força do destino, 1977
A República dos Sonhos, 1984
A doce canção de Caetana, 1987
Vozes do deserto, 2004
Um dia chegarei a Sagres, 2020
MEMÓRIAS
Coração Andarilho, 2009
O Livro das Horas, 2012
Uma Furtiva Lágrima, 2019
Os Rostos que Tenho, 2023, lançamento
póstumo.
CONTOS
Tempo das frutas, 1966
Sala de armas, 1973
O calor das coisas, 1980
O pão de cada dia: fragmentos, 1994
Cortejo do Divino e outros contos
escolhidos, 2001
A Camisa do Marido, 2014
CRÔNICAS
Até amanhã, outra vez, 1999
INFANTOJUVENIL
A roda do vento, 1996
ENSAIOS
O presumível coração da América, 2002
Aprendiz de Homero, 2008
Filhos da América, 2016
O ritual da arte, inédito.
Sua obra já foi traduzida em inúmeros
países, tendo recebido vários prêmios ao longo de mais de 35 anos de atividade literária.
O Prêmio Príncipe de Astúrias das Letras de 2005, conferido na cidade espanhola
de Oviedo. Concorreram a este prêmio escritores de fama mundial, como os
norte-americanos Paul Auster e Philip Roth, e o israelense Amos Oz; ao todo,
mais de dezesseis países estavam representados no concurso e muitos outros.
Uma homenagem de Dalma Nascimento
Uma produção do Focus Portal Cultural
Alberto Araújo - editor
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