quarta-feira, 15 de maio de 2024

TESTAMENTO – POESIA DE MANUEL BANDEIRA No Vídeo, Declamada por ele mesmo



O que não tenho e desejo

É que melhor me enriquece.

Tive uns dinheiros - perdi-os...

Tive amores - esqueci-os.

Mas no maior desespero

Rezei: ganhei essa prece.

 

Vi terras da minha terra.

Por outras terras andei.

Mas o que ficou marcado

No meu olhar fatigado,

Foram terras que inventei.

 

Gosto muito de crianças:

Não tive um filho de meu.

Um filho!... Não foi de jeito...

Mas trago dentro do peito

Meu filho que não nasceu.

 

Criou-me, desde eu menino

Para arquiteto meu pai.

Foi-se-me um dia a saúde...

Fiz-me arquiteto? Não pude!

Sou poeta menor, perdoai!

 

Não faço versos de guerra.

Não faço porque não sei.

Mas num torpedo-suicida

Darei de bom grado a vida

Na luta em que não lutei!

 



29-janeiro-1943 

Poesia extraída do livro "Antologia Poética - Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 2001, pág. 126.

 

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