Com
stand próprio na feira, que acontece até o dia 19 de maio, artista mostra parte
do seu acervo com pinturas religiosas e de paisagens.
Promissor
talento das artes plásticas no Brasil, Augusto Mangussi, jovem goiano que é autista
de 16 anos é um dos expositores da 6ª edição da FARGO - Feira de Arte Goiás,
maior feira de negócios em arte do Centro-Oeste, que acontece até 19 de maio,
no Museu de Arte Contemporânea de Goiás (MAC), no Centro Cultural Oscar Niemeyer,
em Goiânia. Pela primeira vez na feira, que tem expectativa de receber cerca de
10 mil visitantes em cinco dias, Augusto tem no currículo mais de 200 obras com
estilo próprio e personalidade e 12 exposições, duas delas nos Estados Unidos,
e está em cartaz, até o dia 30 de maio, com a exposição “Um Olhar Azul” no
Museu da Inclusão, no Memorial da América Latina, em São Paulo.
“Poder
apresentar as obras em nossa cidade é uma conquista importante na trajetória do
Augusto. Pela primeira vez, estamos com um stand próprio, com algumas obras que
destacam elementos religiosos e pinturas de paisagens, entre outras pinturas”,
afirma Larissa Lafaiete, mãe de Augusto. O artista já carrega em seu currículo
outros importantes eventos como: Expo Arte SP, Art Basel em Miami, Expo Arte
Arizona da Focus Brasil, além de ter sido destaque no 1º Congresso
Internacional de Autismo realizado na Bahia.
ARTE
COM PROPÓSITO
Autista
não gosta de contato. Autista não gosta de barulho. Autista não se relaciona.
Sintomas típicos do transtorno global de comportamento, que atinge 1 a cada 36
crianças no mundo, mas que podem ser atenuados consideravelmente. Uma família
quebra paradigmas depois que o filho autista, hoje com 16 anos, entrou em
contato com as artes plásticas aos 9 anos.
O
primeiro ganho para Augusto foi a capacidade de concentração: para autistas,
permanecer muito tempo em uma atividade não é fácil. Mas, indo além disso, a
arte do garoto também começou a chamar atenção. “Todo mundo começou a elogiar
os quadros que ele fazia. Vinha uma professora e achava bonito e pedia um
quadro para a sala. Alguns pais viam, elogiavam e também queriam. Começamos
então a fazer pequenas exposições dentro da escola. Depois o pai dele montou
uma conta no Instagram com os quadros dele e ele começou a ganhar muitos
seguidores”, relembra a mãe.
Foi
através da rede social que veio o convite para Augusto participar do concurso
de arte Eyecontact Festival Of Arts for Autists, realizado em 2018, em Ribeirão
Preto durante o maior Seminário de Autismo do Brasil – TEAMO. O projeto foi
criado pelo médico Carlos Gadia, uma referência mundial em autismo, e sua
esposa, a artista plástica Grazi Gadia.
Foi
a primeira participação de outras seis que a sucederam em um período de apenas
um ano, durante 2019. “Nós mandamos os quadros dele para o fundador da Expo
Arte SP, o galerista Eduardo Mônaco, que selecionou o quadro para a edição de
2018. Augusto foi a primeira e única criança a expor no evento. A partir daí
ele começou a ter uma projeção bacana e já participou de várias edições”,
lembra a mãe do artista. “Foi nesta exposição que vendemos um quadro dele para
uma celebridade sem saber. Havia uma moça muito bonita que se encantou com um
quadro que o Augusto pintou de três baianas. Ela disse que iria presentear o
marido. Ela fez algumas ligações e decidiu levar outro quadro e disse que tinha
um sobrinho autista. Então ficamos conversando e ela foi muito agradável. Mas
não sabíamos quem era ela. Pelo nome dela no comprovante do pagamento decidimos
pesquisar quem era. Descobrimos que era neta do ator Lima Duarte e esposa do
cantor Seu Jorge”, relembram Larissa e o marido Antônio Augusto Mangussi.
A
estreia internacional aconteceu em 2019, na Semana de Art Basel, em Miami.
Augusto levou seus quadros para a Red Dot, uma delas, sendo o único com
deficiência a participar. “Foi um grande orgulho para nós, que temos priorizado
o desenvolvimento do nosso filho em detrimento de nossas próprias carreiras
profissionais. Uma vez que ele tem talento e está feliz, desejamos que seja um
caminho para sua autonomia e independência no futuro, quando ele não estiver
mais aqui”, conta o pai. O jovem pintor também já participou da Expo Arte
Arizona, da Focus Brasil, que reuniu vários artistas plásticos brasileiros de
renome e Augusto foi um convidado especial.
Augusto
também foi destaque no 1º Congresso Internacional de Autismo realizado na
Bahia, ano passado, onde seu trabalho foi apreciado pela 1ª dama do Estado de
Goiás, Gracinha Caiado. Seus quadros também viraram estampa de roupas da Sui
Generis Camisaria Feminina, uma marca de Curitiba, cuja dona tem um filho
autista também. “Ela criou este projeto que traz nas roupas desenhos feitos por
crianças autistas”, conta Larissa.
Sempre
orgulhosa dos trabalhos do filho e, sobretudo de sua evolução, Larissa diz que
a arte trouxe para Augusto um ganho inestimável para sua vida. “Acho que trouxe
caminhos pra ele, abriu um horizonte. Nem digo pintar em si, mas arte de
maneira geral. Através da arte ele se sentiu importante. Porque ele começou a
expor, as pessoas começaram a elogiar o que ele fazia. Então o que a arte
trouxe de melhor foi habilidade social, algo que realmente é muito difícil
trabalhar no autista”, diz.
DESCOBERTA
DO AUTISMO
Larissa
conta que percebeu o comportamento diferente do filho por volta de um ano e dois
meses. Uma aula de musicalização infantil foi a gota d’água para que ela não
adiasse mais a busca por ajuda. “As outras crianças faziam coisas que a
professora mandava e o Augusto não fazia. Você mandava buscar o lenço, todas as
crianças iam, e o Augusto ia para a janela; mandava buscar um chocalho, as
crianças todas iam, e o Augusto ia pra janela; davam uma outra coisa
interessante para elas buscarem, um fantoche enorme, e as outras crianças iam e
ele não. Via que algo estava errado”, conta.
Depois
disso, partiram para buscar o diagnóstico, mesmo que o próprio pediatra da
criança dissesse que não tinha nada errado com ele. “Um dia, na faculdade onde
eu dava aula, tinha um computador na sala dos professores e eu neste dia
cheguei uns 20 minutos antes da aula, e comecei a fazer uma pesquisa por minha
conta e colocava os sinais que eu percebia no Augusto. Não apontava, ausência
do espectro protodeclarativo, não tem interesse social comum, e para tudo isso
que eu jogava no Google e vinha sempre uma única resposta: autismo”.
Segundo
o pai Antônio Augusto, a demora e a insegurança da grande maioria dos médicos
em fechar um diagnóstico de autismo é um problema. “Na verdade no Brasil os
médicos não têm coragem de fechar diagnóstico com criança pequena com medo de errar
e isso, a meu ver, prejudica muito. E além do mais, quando a pessoa quer se
enganar acredita na primeira opinião médica e muitas vezes o filho não tem o
tratamento adequado”, afirma.
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