segunda-feira, 13 de junho de 2022

AINDA CELEBRANDO FERNANDO PESSOA. “MEU ENCONTRO COM PESSOA” - TEXTO DA ESCRITORA DALMA NASCIMENTO.


        



Conheci e comecei a amar Fernando Pessoa e sua constelação de heterônimos ainda estudante na Faculdade de Letras na Universidade Federal Fluminense-UFF. Tal foi meu encantamento que em abril de 1967, criei, montei e apresentei com mais três colegas de turma, no curso de Literatura Portuguesa da professora Maria Antônio Botelho, o jogral “Fernando Pessoa, o Eterno”.

        Ao lê-lo, hoje, constato tratar-se de uma montagem bastante simplória, tosca (bem à moda de aluna) reproduzida – totalmente de forma fidedigna daquela época – nas páginas quase finais do meu livro de 2009, “Com Pessoa, estamos em pessoa, na pessoa do mistério”.  Quis publicar o jogral em apêndice, sem alterações, exatamente como foi apresentado na sala de aula, nos idos de 1967.  Na singela construção estrutural e temática, os heterônimos aparecem em contraponto com o Pessoa ortônimo, tendo o momento histórico, estético e cultural por pano de fundo, mesclado às falas do jogral.

        Nada de extraordinário esse meu texto tem– é verdade, confesso – e só o publiquei em livro, a fim de que, talvez, ele possa ser aproveitado como sugestão ou ponto de partida  para quem quiser realizá-lo ou aprimorá-lo. E também o republico por representar fragmentos ditosos de minha vida, ainda neófita em estudos pessoanos.

        Infelizmente, dois colegas que participaram daquele jogral – repito, meramente de cunho universitário – já partiram: Adelina Souza dos Santos e Ricardo Frazão Nascimento. Ficaram somente do quarteto Caio Figueiredo Nogueira e eu. Quanto a Caio há um mistério. Ao editar meu livro “Com Pessoa, estamos com Pessoa, na pessoa do mistério”, tentei reencontrá-lo. Inutilmente. Até meu editor Mauro Carreiro Nolasco procurou-o no trabalho de seu filho, deixou vários recados com pessoas a ele e ao Caio ligadas, além de um exemplar do livro sobre Pessoa. Silêncio total. Inclusive da Família.

          Mas continuando a abrir as cortinas das lembranças, anos depois, já na pós-graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, imantaram-me  as aulas  e  as  leituras da  Professora Cleonice Berardinelli, grande especialista em Pessoa. Tornei-me sua aluna no mestrado-doutorado. E, a partir daí, as várias pessoas do grande Pessoa foram pessoas companheiras, por muito tempo de meus adultos devaneios.

         Em 12 de novembro de 1985, proferi na tradicional Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro a palestra “Os Mistérios de Pessoa”  no ciclo representativo  “FERNANDO PESSOA, CINQUENTA ANOS DEPOIS”, para homenagear a data de morte do iluminado Poeta. Detive-me em “O Mistério da Fragmentação”, em “O Mistério da Negação” e em “O Mistério da Transubstanciação”.

          Renomados professores especialistas, vindos diretamente de Portugal – João Gaspar Simões, Maria Teresa Rita Lopes e Antônio Quadros, todos os maiores conhecedores à época da enorme obra pessoana – participaram daquela semana comemorativa, além dos brasileiros Leodegário Amarante de Azevedo Filho e Cleonice Berardinelli.

 

        Fiz parte também da semana e do ciclo. Minha palestra “Os mistérios em Pessoa” está reproduzida com mínimos retoques no meu livro “Com Pessoa, estamos em pessoa, na pessoa do mistério”. Na ocasião, junto com as demais falas dos grandes especialistas do ciclo, meu texto foi impresso na revista “Língua e Literatura”, dirigida pelo saudoso professor emérito da UFRJ e UERJ, Leodegário, um dos baluartes, na ocasião, do intercâmbio Brasil- Portugal.

       Com o passar dos anos, muitas outras leituras sobre as pessoas de Pessoa foram sendo acrescentadas a meus estudos. E muitas, mesmo. Dentre elas, cito os livros do professor Clécio Quesada com a obra “O Constelado Fernando Pessoa” e mais recentemente “Mensagem de Pessoa: Labirintos de um Poema”.

      Outras análises, de fato, me ampliaram o olhar do imortal Poeta. Porém, preferi aqui republicar meus dois textos, o mais próximo possível  da escrita original: o proferido na sala de aula na primitividade de uma produção jogralesca de ainda aluna da graduação da Faculdade de Letras da UFF, e o proferido na Biblioteca Nacional  no mesmo ciclo de que participaram os mais renomados especialistas de Fernando Pessoa.

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