segunda-feira, 13 de junho de 2022

“COM PESSOA, ESTAMOS EM PESSOA NA PESSOA DO MISTÉRIO” POR INTERMÉDIO DO TEXTO DA ESCRITORA DALMA NASCIMENTO O FOCUS PORTAL CULTURAL HOMENAGEIA FERNANDO PESSOA EM 13 DE JUNHO.

 


O texto que o leitor lerá a seguir é um resumo do seu livro ““Com Pessoa, estamos em Pessoa na Pessoa do Mistério”. A obra contém 136 páginas e traz o selo da Editora Parthenon – Niterói –RJ. O livro veio ao mundo literocultural em 2019 sob a tessitura diagramática do editor Mauro Carreiro Nolasco.  

 

Leia a íntegra do escrito.

 

Qualquer Poeta é, sempre, um universo de mistérios irrevelados.  Ser diferente, seduzido pelos enigmas da existência, o Poeta se acerca, com perceptivas antenas, dos fatos da vida. Sobretudo no caso de Fernando Pessoa, ele vai muito além desse desnudamento essencial, dramatizado no ato poético.

 

Pessoa tenta mostrar, no seu “ver” singular – estranho ao código social – a intimidade profunda das coisas. Na contingência da palavra, tenta traduzir o "pathos" da condição humana em experiências-limite. Agencia, assim, signos que se abrem, polissêmicos, ao imaginário em situações simbolizadoras.

De fato, Fernando Pessoa extrapola parâmetros. Elide fronteiras pelo seu enigmático ver mais, na consciência de ser “plural como o universo”. Em sede de excedência, por muito vislumbrar, ele se estraçalha ritualisticamente, na multiplicidade de “eus” – a ponto de não suportar a faísca prometeica do conhecimento, segundo diz: “Sei a verdade, enfim, do Ser que existe. / Prouvera a Deus que eu não soubesse tanto!”.

 

 Pessoa pensa o peso da revelação do Mistério Maior. E compensa, pela Poesia, as originárias causas de sua angústia de raízes metafísicas mais profundas. Ao fazer da vida, a Arte, e, da Arte, a vida – nos acordes da lírica moderna para a qual canto é existência entrelaçada – o genial Pessoa espelha em seus escritos, as mais provocadoras questões da condição humana. E, consequentemente, da Arte. E ele o fez de maneira peculiar,, deixando, em tudo, o mistério falar e, ao mesmo tempo, calar.

 

Ao estilhaçar a fronteira ficção-realidade, a vida de Pessoa e o universo das máscaras modelam-se no território do irrespondido. No vitral de seus “eus” fraturados, montam-se e desmontam-se as contas da mesma luz: o apelo à transcendência.

 

Em perpétuo escamoteio, dissimula-se e clareia-se o eterno desejo de o Homem tentar decifrar o Para Quê e o Porquê do Labirinto da Existência. Homem, ébrio do além, na nostalgia do divino, do infinito, mas preso ao aquém da finitude, demandando a fresta salvadora para a possível redenção.

 

Ser descontínuo, perscrutador de essências, orgulhoso de sua missão, em busca solitária, Fernando Pessoa quer “Sentir tudo excessivamente, / Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas”, como proclama no timbre amplo e revolucionário do heterônimo Álvaro de Campos.

 

Ou, ainda, quando se expõe na fala epicurista de Ricardo Reis: “PARA SER GRANDE, sê inteiro: nada / Teu exagera ou exclui. / Sê todo em cada coisa.”.Ansiando a cósmica comunhão para ser inteiro no Ser, toda a poética pessoana pendula a ânsia do transfinito.

 

Isso se dá a ler quer na temática da viagem, no retorno à infância e à mãe (física, à terra natal, à saudosa pátria de um país distante), quer no horaciano "carpe diem" da fruição do momento no tempo transitório, quer na obsessiva presença do mistério, na fascinação e repulsão pela loucura e pela morte, ou nos poemas de esotérica iniciação.

 

De fato, em tudo, ele alegoriza a constante procura da união totalizadora: infância, morte, cosmo, caos originários. Mudam-se os tons nas faces representadas em suas diferentes máscaras heterômicas, mas o risco do traçado e do bordado é sempre o mesmo com outros atavios.

 

TEXTO DE DALMA NASCIMENTO

Extraído de sua página no Facebook:

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UM POUCO SOBRE FERNANDO PESSOA

 

 

FERNANDO PESSOA poeta lírico e nacionalista cultivou uma poesia voltada aos temas tradicionais de Portugal e ao seu lirismo saudosista. Foi um dos mais importantes poetas da língua portuguesa e personalidade central do Modernismo português. O escritor foi vários poetas ao mesmo tempo, pois, criou heterônimos, poetas com personalidades próprias que escreveram sua poesia e, com eles procurou detectar, sob vários ângulos, os dramas do homem de seu tempo.

 

Fernando Antônio Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa, Portugal, no dia 13 de junho de 1888. Era filho de Joaquim de Seabra Pessoa, natural de Lisboa, que era crítico musical, e de Maria Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa, natural dos Açores. Ficou órfão de pai aos 5 anos de idade.

 

Seu padrasto era o comandante militar João Miguel Rosa, que foi nomeado cônsul de Portugal em Durban, na África do Sul. Acompanhando a família Fernando Pessoa seguiu para a África do Sul, onde recebeu educação inglesa no colégio de freiras e na Durban High School.

 

Em 1901, Fernando Pessoa escreveu seus primeiros poemas em inglês. Com 16 anos já havia lido os grandes autores da língua inglesa, como William Shakespeare, John Milton e Allan Poe.

 

Em 1902 a família voltou para Lisboa. Em 1903 Fernando Pessoa retornou sozinho para a África do Sul e frequentou a Universidade de Capetown (Cabo da Boa Esperança).

 

Pessoa regressou a Lisboa em 1905 e matriculou-se na Faculdade de Letras, porém deixou o curso no ano seguinte. A fim de dispor de tempo para laer e escrever, recusou vários bons empregos. Só em 1908 passou a trabalhar como tradutor autônomo em escritórios comerciais.

 

Em 1912, Fernando Pessoa estreou como crítico literário na revista “Águia” e como poeta em “A Renascença” (1914). A partir de 1915 liderou o grupo mentor da revista “Orpheu”, entre eles, Mário de Sá-Carneiro, Raul Leal, Luís de Montalvor, Almada-Negreiros e o brasileiro Ronald de Carvalho.

 

A revista foi a porta-voz dos ideais de renovação futurista desejados pelo grupo, defendendo a liberdade de expressão, numa época em que Portugal atravessava uma profunda instabilidade político-social da primeira república. Nessa época, criou seus heterônimos principais.

 

A revista Orpheu teve vida curta, mas enquanto durou, Fernando Pessoa publicou poemas que escandalizaram a sociedade conservadora da época. Os poemas “Ode Triunfal” e “Opiário”, escritos por seu heterônimo Álvaro de Campos, provocaram reações violentas levando os “orfistas” a serem apontados, nas ruas, como loucos e insanos.

 

HETERÔNIMOS DE FERNANDO PESSOA

 

Fernando Pessoa foi vários poetas ao mesmo tempo. Tendo sido "plural", como se definiu, criou personalidades próprias para os vários poetas que conviveram nele.

 

Cada um tem sua biografia e traços diferentes de personalidade. Os poetas, não são pseudônimos e sim heterônimos, isto é, indivíduos diferentes, cada qual com seu mundo próprio, representando o que angustiava ou encantava seu autor:

 

ALBERTO CAEIRO

 

Nasceu em Lisboa, em 16 de abril de 1889. Órfão de pai e mãe, só teve instrução primária e viveu quase toda a vida no campo, sob a proteção de uma tia. Poeta de contato com a natureza, extraindo dela os valores ingênuos com os quais alimenta a alma.

 

Para Caeiro, “tudo é como é”, “tudo é assim como é assim”, o poeta reduz tudo à objetividade, sem a mediação do pensamento. O poema “O Guardador de Rebanhos” mostra a forma simples e natural de sentir e dizer desse poeta. Alberto Caeiro morreu tuberculoso, 1915.

 

RICARDO REIS

 

Nasceu na cidade do Porto, Portugal, no dia 19 de setembro de 1887. Teve formação em escola de jesuítas e estudou medicina. Monarquista, exilou-se no Brasil, por não concordar com a Proclamação da República Portuguesa.

 

Foi profundo admirador da cultura clássica, tendo estudado latim, grego e mitologia. A obra de Reis é a ode clássica, cheia de princípios aristocráticos.

 

BERNARDO SOARES

 

É um dos heterônimos que o próprio Fernando Pessoa definiu como sendo um “semi-heterônimo”. É o autor do livro Desassossego.

 

ÁLVARO DE CAMPOS

 

Foi o mais importante heterônimo de Fernando Pessoa, nasceu no extremo sul de Portugal, em Tavira, em 15 de outubro de 1890. É o poeta moderno, aquele que vive as ideologias do século XX. Estudou Engenharia Naval, na Escócia, mas não podia suportar viver confinado em escritórios.

 

De temperamento rebelde e agressivo, seus versos reproduzem a revolta e o inconformismo, manifestados através de uma verdadeira revolução poética. Escreveu “Ode Triunfal”, “Ode Marítima” e “Tabacaria”.

 

 

 

FONTE BIOGRÁFICA:

https://www.ebiografia.com/fernando_pessoa/  

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