terça-feira, 28 de junho de 2022

VIDA E OBRA DO MONSENHOR ELÍDIO ROBAINA - TEXTO: JULIO CESAR DE CARVALHO RICART - MEMBRO EFETIVO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE NITERÓI

 



O NASCIMENTO E A INFÂNCIA NA FAZENDA

 

Padre Elídio nasceu na fazenda de Bela Aurora, a cerca de 2 km de Carabuçu em Campos dos Goitacazes a 15 de maio de 1932 em um dia especial, era domingo de Pentecostes e dia de Santo Isidro, lavrador venerado na Espanha e patrono de Madri. 

Vindo de tradicional família católica, recebeu de seus pais Eduardo Robaina, e Maria Rosa Robaina, o nome do santo do dia: Isidro.

No mês seguinte foi batizado na Igreja de Santo Eduardo, na Paróquia do Morro do Coco, mas quando foi registrado no Cartório de Santo Eduardo, 14º distrito do município de Campos, o escrivão estava completamente bêbado, alterando o nome para Elídio e também trocando a data de nascimento para 15 de junho. Esta é a razão dele ter dois nomes e duas datas de nascimento.

Uma vez que o primogênito de Eduardo e Maria Rosa nasceu morto, o menino Isidro/Elídio, assumiu seu papel ajudando seus pais a cuidar dos seus irmãos Luiz, Celso e Paulo e suas irmãs Célia e Cenilda.

A pequena fazenda era de propriedade dos seus avós Paulo, oriundo das ilhas Canárias e Joana, de origem portuguesa. 

Alguns anos depois venderam a Bela Aurora e compraram a Fazenda Santa Teresa, próximo ao distrito de Santo Eduardo e Santa Maria, também em Campos e administrada pelos pais de Padre Elídio.

Cuidavam da agricultura para toda a família e mais cerca de 20 empregados, que se ocupavam das plantações em pequena escala: árvores frutíferas, arroz, feijão e mandioca, esta atendia à indústria de farinha do pequeno engenho da fazenda. Cultivavam em grande escala a cana-de-açúcar e o café. Criavam também bovinos, cabras, cavalos, porcos e galinhas.

Os seis irmãos de seu pai - 3 homens e 3 mulheres - que residiam nas redondezas, venderam seus bens e foram tentar a vida no Rio de Janeiro.

A partir dos 7 anos o menino Elídio/Isidro já trabalhava na fazenda e, muito esperto, sonhava.

 

A VOCAÇÃO SACERDOTAL E O TIO “TOTONHO”

 

Sua vocação para o sacerdócio teve grande incentivo por parte do seu querido tio “Totonho”, que apesar de residir no Rio de Janeiro, frequentemente visitava sua família..

Era um homem humilde e boníssimo, vicentino convicto, que desenvolveu uma afinidade com o sobrinho, conversando sobre as coisas de Deus e o sofrimento dos pobres.

Aos 8 anos, o menino foi presenteado por seu tio com as efígies de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e de Santo Isidro em santinhos de papel, os quais Padre Elídio ainda hoje traz consigo acreditando ter realizado o seu sonho de ser padre graças a essa Mãe e ao seu patrono.

Seu tio lhe falava sobre os padres, sobre a vocação e sobre a Igreja, sugerindo que seu sobrinho poderia ser Padre.

Foi aluno da 1ª turma de catequese da capela construída por seu pai na fazenda, onde a cada mês no dia 13, padre João celebrava missas, fazia batizados, casamentos e ouvia as confissões, gerando no infante o desejo de ser padre para pregar bonito e levar as pessoas a Jesus.

Nomeado pelo padre João, foi acólito e catequista das crianças da 1ª comunhão, até 1949, quando ingressou no Seminário.

A sua primeira comunhão, já com 9 anos, foi no natal de 1941, quando sentiu despertar sua vocação. Foi acompanhado, incentivado e acolhido pelo seu querido “Tio Totonho”, que foi como um Anjo da Guarda, durante a sua formação, abrigando-o em sua casa, sendo responsável por uma lista que correu entre amigos e parentes, viabilizando a aquisição do enxoval e o pagamento das mensalidades do Seminário, onde ingressou em 04 de julho de 1949.

 

ESTUDOS E FORMAÇÃO:

 

Fez o curso primário no colégio estadual que distava cerca de 6 km da sua casa, entre 1940/43, próximo aos lugarejos conhecidos como “Fazenda do Garrafão”. 

Aos 12 anos, fez corajosamente o curso noturno de Admissão com um professor particular, para isso percorria na escuridão os 2 km de distância entre as casas.

Na adolescência, os trabalhos na fazenda acumulavam-se, eram os últimos anos da 2ª guerra e tudo era difícil. Nada impediu, porém que desabrochasse o seu talento musical com o cavaquinho, passando pelo bandolim, pandeiro e acordeom.

Divertia-se com o futebol, as caçadas, as pescarias, a Folia de Reis e as festas juninas quando tocava cavaquinho e cantava a noite inteira.

Não fugia do trabalho, ajudava o pai na administração da fazenda, e se necessário, pegava na enxada, na escavadeira, na foice e no enxadão.

Guardou íntegra a pureza de coração, evitando até os pequenos namoros da adolescência, tão firme era a convicção da sua vocação sacerdotal.

Deixou em junho de 1949, sua família e sua fazenda para ingressar no Seminário Cardeal Leme em Santa Teresa, Rio de Janeiro, onde cursou o Ginásio e o Clássico de 1950/56.

Por falta de recursos, foi impedido de inscrever-se no aprendizado de órgão, valeu-se então de sagaz estratagema: desenhou o teclado do órgão e assim treinou de tal forma que não só aprendeu a tocar o instrumento como passou mais tarde a ser o organista do Coral do Seminário. 

Fez o seu noviciado em 1957, em Belo Horizonte, na Igreja da Boa Viagem dos Padres Sacramentinos do Santíssimo Sacramento.

Transferiu-se em 1958 para o Seminário Bento Eymard em Monte Santo de Minas, onde cursou Filosofia até 1960.

Com a saúde precária, transferiu-se em 15 fevereiro para o Seminário São José em Niterói onde cursou o 1º ano de Teologia, sob a orientação do Arcebispo de Niterói, Dom Antônio de Almeida Moraes Junior, trabalhando como disciplinário dos Seminaristas.

Foi transferido em 1962 para o Seminário Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte, onde cursou o 2º ano de Teologia, retornando em 1963 ao Seminário São José em Niterói, onde fez o 3º e o 4º anos de Teologia. Recebeu convite do Arcebispo para o trabalho de manter a disciplina no Seminário, lecionar Latim e Português e dar assistência espiritual à comunidade da Ilha da Conceição na igreja de N. S. da Conceição da Ilha.

Teve como orientador espiritual o Cônego Braga, um santo em vida, que o guiou nos caminhos da espiritualidade sacerdotal e aprendeu com ele a viver o sacerdócio.

Foi ordenado Sacerdote em 28 de junho de 1964 em Niterói por Dom Antônio de Almeida Moraes Junior, completando neste ano de 2014, seu Jubileu de Ouro Sacerdotal.


CONSTRUINDO O REINO DE DEUS:

 

Padre Elídio iniciou seus trabalhos em 13 de agosto de 1964 como Vice-Reitor e disciplinário do Seminário Arquidiocesano São José de Niterói e como Reitor em 19 de março de 1965, permanecendo até dezembro de 1971. 

Foi nomeado para Cônego Efetivo do Cabido da Catedral de São João Batista de Niterói em 11 de outubro de 1967.

Foi Capelão da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Ilha, onde formou uma comunidade paroquial e reconstruiu a Igreja.

Deixou a Reitoria do Seminário em 1972, assumindo a Paróquia de São Judas Tadeu de Tenente Jardim. 

Em 11 de maio de 1972, foi nomeado Vigário Ecônomo da Paróquia de São João Batista.

Foi presbítero representante de Niterói no Regional Leste I em 1976/77.

Em fevereiro de 1978, foi nomeado Vigário Geral da Arquidiocese de Niterói, permanecendo até o final de 1979, retornando de 1989/1994, exercendo cumulativamente a Coordenação Geral da Pastoral da Arquidiocese.

Foi Capelão do Colégio N. S. das Dores em São Gonçalo, lecionando Educação Religiosa de 1971 a1981. 

Foi Capelão do Colégio São Vicente de Paulo, quando ainda como Vigário Geral, fundando a Capelania Menino Jesus de Praga no Morro do Estado, construindo a Igreja local em 1978/79. 

Foi nomeado Pároco da Igreja de Nossa Senhora das Dores do Ingá, onde permaneceu de 25 de novembro de 1979 até 2001. 

Foi nomeado Pároco da Paróquia de São Lourenço no Fonseca em 26 de setembro de 2001, permanecendo até 07 de outubro de 2009. 

Foi eleito pelos presbíteros da regional, membro do Conselho Presbiteral por três mandatos.

Em 08 de outubro de 2009 foi nomeado Administrador Paroquial da Paróquia de São Domingos.

Celebrou missas na Capela de Nossa Senhora das Graças no Morro do Estado.

Participou da retomada das missas na Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem na ilha da Boa Viagem, inclusive quando da procissão marítima.

Em sua missão sacerdotal, possui 36 provisões, sendo 13 dadas por Dom Antônio de Almeida Morais Junior, 9 por Dom José Gonçalves da Costa, 8 por Dom Carlos Alberto Navarro, 3 por Dom Frei Alano Maria Pena e 1 por Dom José Francisco Rezende Dias. 

Recebeu de Suas Santidades, os Papas Paulo VI e João Paulo II, quatro bênçãos apostólicas

 

OBRAS REALIZADAS:

 

Construiu a matriz de Nossa Senhora da Conceição na Ilha da Conceição;

A matriz de São Joao Batista em Tenente Jardim;

A Igreja de Santa Rita de Cassia; no Morro do Castro ;

A Capela do Menino Jesus de Praga no Morro do Estado

O edifício anexo à matriz e que se constituiu no centro de pastoral da paroquia do ingá.

Fez a reforma do altares mor e laterais da Igreja de N. Sra. das Dores do Ingá;

Construiu a igreja de Nossa Aparecida do Morro do Palacio.

Construiu no Morro do Palácio, Centro Social em um prédio de 3 andares; contruiu a Casa de Santo Isidro ou Casa dos Meninos, como é conhecido o prédio de 5 andares no Morro do Palácio para abrigar meninos de rua.

Reformou a Capela do Santíssimo Sacramento da Matriz do Ingá e fundou a obra “Adoração Permanente".

Contruiu a Igreja de Nossa Senhora de Fátima na Boa Viagem (com a ajuda da família de Fernando Gomes da Silva e inaugurada em 13 de aio 1999).

Adquiriu para Paróquia de N. Sra. Das Dores do Ingá a Casa Cura D’Ars ou Casa dos Padres que tem por finalidade abrigar padres idosos ou doentes da arquidiocese.

Construiu a primeira fase da obra da Igreja do Ingá.

Foi transferido em 21 de out de 2001 para a Igreja de São Lourenço do Fonseca.

Reformou a sacristia e a secretaria, restaurou a sala dos bispos e dos papas , a sala paroquial e a administração.

Restaurou as imagens do altar mor e das laterais, a parte externa e interna, conseguindo resgatar os enormes sinos, que foram instalados com apoio da comunidade, na torre da matriz de São Lourenço em 08 de dezembro de 2006.

Fundou a farmácia, consultório medico, odontológico e construiu novas salas catequeses e o Centro de Turismo na Matriz de São Lourenço e refez os jardins e praças da matriz.

Quanto à evangelização, solidificou as pastorais existentes, trouxe a comunidade para ações pastorais, através dos movimentos “ECC”, “EJC” e “EAC” e criou novas, instituindo cursos para agentes de pastoral.

Desenvolveu trabalho evangelizador em morros adjacentes (Boa Vista, Juca Branco, Holofote e São Lourenco).

Reformou a Capela de Nossa Senhora de Guadalupe no Morro do Juca Branco e no Boa Vista, onde adquiriu um imóvel, transformando-o na Igreja de Nossa Senhora da Conceição.

Construiu a Igreja Menino Jesus de Praga na Rua Benjamin Constant.

Inaugurou em 03 de janeiro de 2005 em parceria com a Prefeitura , a creche comunitária São Lourenço que atende 150 crianças da comunidade.

Atualmente é o Administrador da Paroquia de São Domingos.

Construiu 7 salas de catequese uma farmácia e desenvolveu os demais movimentos pastorais evangelizadores, instituindo o Curso de Noivos bimestral.

Restaurou o exterior e interior da matriz e adquiriu o terreno ao lado da paroquia onde deu início às fundações do edifício de 3 andares que pretende construir para abrigar todos os eventos para a promoção evangelizadora da paroquia.

Restaurou a casa paroquial.

Em síntese: Construiu 8 Igrejas, 3 Centros Sociais com 5 andares, uma casa para os padres idosos, evangelizou 15 comunidades e fundou diversas obras de assistência social e religiosa.

Os templos por ele erguidos, porém, não foram construídos apena de pedras. Cada um deles guarda a marca da fé, do trabalho dedicado da bondade, do trabalho sem distinção da humildade, da retidão, da ajuda a todos, do amor a Cristo, aos seus ensinamentos e à Igreja. Esse imenso amor transformou essas comunidades, tornando-as vivas, dinâmicas, piedosas, evangelizadoras, partícipes de uma nova Igreja, com Cristo, pela salvação do Mundo.

Celebrou mais de 6.000 casamentos e realizou mais de 60.000 batizados.

Participou ativamente da cultura e da sociedade em Niterói, incentivou a criação de diversos projetos sociais e fez milhares de seguidores e amigos.

PARTICIPAÇÃO POLÍTICO-CULTURAL:

 

Ministrou muitos cursos de caráter religioso e social, inclusive de Moral e Civismo em âmbito federal. Possui 18 Moções de Congratulações e Aplausos da Câmara Municipal de Niterói.

Possui 3 Moções de Congratulações da Assembléia Constituinte do Est. do Rio de Janeiro. Recebeu o Título de Cidadão Honorário Niteroiense em 22/11/1979.

Foi agraciado com a Medalha José Clemente Pereira em10/08/1995.

Recebeu o Título de Cidadão Fidelense em 23/04/1999.

Recebeu o Título de Cidadão Niteroiense em 16/10/2003.

Recebeu o Título de Cidadão Gonçalense em 28/11/2011.

Recebeu o Título de Cidadão Benemérito do Estado do Rio de Janeiro em 23/06/2005.

Era membro do Cenáculo Fluminense de História e Letras, onde ocupa desde 28/06/1995 a cadeira nº 47, patronímica do Pe. José de Anchieta.

Era membro Honorário do Instituto Histórico e Geográfico de Niterói.

OCUPOU RECENTEMENTE OS SEGUINTES CARGOS OS SEGUINTES CARGOS:

Administrador Paroquial de São Domingos

Cônego do Cabido Metropolitano

Diretor Espiritual da Pia União das Filhas de Maria

Dirigente Espiritual da 2ª etapa do ECC

Presidente da creche São Lourenço

Reitor da Igreja de São Lucas da Ass. Méd. Flumin.

ÓBITO:

Faleceu às 04h46min do dia 26/06/2022.

 

Seu velório na Igreja Matriz de São Lourenço da Várzea, ocorreu das 14 às 19h, retornando às 08h de 27/06/2022, seguido de missa celebrada por Dom José Francisco às 10h

Foi sepultado na Arquiconfraria de Nossa Senhora da Conceição ao lado do Cemitério do Maruí no Barreto.

Dia 28/06/2022, Monsenhor Elídio Robaina completaria 58 anos de sacerdócio, evangelização, fé e acolhida, uma vida inteiramente dedicada a Deus.

 

Um homem santo de Deus. Obrigado por tudo. Intercedei no céu por nós.

 

FONTE: DVD – Jubileu de Ouro Sacerdotal do Padre Elídio Robaina: 50 anos de fé, evangelização e acolhida (28 de junho de 2014). Organizado por Julio Cesar Ricart

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