quarta-feira, 29 de maio de 2024

EM 2024 CELEBRAMOS OS 150 ANOS DA PRIMEIRA PUBLICAÇÃO DA OBRA “A MÃO E A LUVA” DE MACHADO DE ASSIS.

 


A Mão e a Luva. Machado de Assis, 1874. Folhetim

 

A Mão e a Luva” é o segundo romance escrito por Machado de Assis, publicado em 1874, sua primeira experiência como folhetinista de jornal, seguindo o exemplo de seus amigos Manuel Antônio de Almeida e José de Alencar.

 

ENREDO

 

O enredo conta a história de Guiomar, uma moça que no início da história quando Estêvão se apaixona pela primeira vez por ela, está com 17 anos, afilhada de uma baronesa, "criaturinha galante e delicada, assaz inteligente e viva, um pouco travessa" e que deseja ascender socialmente. Ela é disputada por três homens: Jorge, Estêvão e Luís Alves. 

Estêvão "logo a amou, como se ama pela primeira vez na vida  amor um pouco estouvado e cego, mas sincero e puro", porém é um caráter fraco, vacilante, indeciso, nascido mais para derrotas do que para vitórias. Jorge, sobrinho e preferido da baronesa, "vivendo do pecúlio que dos pais herdara e das esperanças que tinha na afeição da baronesa", tem um amor "pueril e lascivo", como descreve o próprio Machado de Assis. Luís Alves começa a admirar Guiomar apenas depois, com o passar do tempo. Porém, é um meio-termo entre os dois primeiros, pois ele é um homem resoluto e ambicioso. Jorge, com o apoio da baronesa e de sua governanta inglesa, Mrs. Oswald, pede a mão de Guiomar. No dia seguinte, Luís Alves faz o mesmo. Então, a baronesa pede a Guiomar que se decida entre os dois pretendentes "escolhe com plena liberdade aquele que te falar ao coração". Guiomar diz que escolhe Jorge, porém a baronesa sabe que a afilhada quer casar-se com Luís Alves. Depois, Guiomar e Luís Alves casam-se e o trecho final do livro justifica seu título:

— Mas que me dá você em paga? Um lugar na Câmara? Uma pasta de ministro?

— O lustre do meu nome, respondeu ele. 

Guiomar, que estava de pé defronte dele, com as mãos presas nas suas, deixou-se cair lentamente sobre os joelhos do marido, e as duas ambições trocaram o ósculo fraternal. Ajustavam-se ambas, como se aquela luva tivesse sido feita para aquela mão...

RECEPÇÃO PELA CRÍTICA 

Trechos da obra

Guiomar passou da poltrona à janela, que abriu toda, para contemplar a noite o luar que batia nas águas, o céu sereno e eterno. Eterno, sim, eterno, leitora minha, que é a mais desconsoladora lição que nos poderia dar Deus, no meio das nossas agitações, lutas, ânsias, paixões insaciáveis, dores de um dia, gozos de um instante, que se acabam e passam conosco, debaixo daquela azul eternidade, impassível e muda como a morte.

 

Amores não se encomendam como vestidos; sobretudo não se fingem, ou não se devem fingir nunca.

 

Há criaturas que chegam aos cinquenta anos sem nunca passar dos quinze, tão símplices, tão cegas, tão verdes as compõe a natureza; para essas o crepúsculo é o prolongamento da aurora. Outras não; amadurecem na sazão das flores; vêm ao mundo com a ruga da reflexão no espírito, embora, sem prejuízo do sentimento, que nelas vive e influi, mas não domina. Nestas o coração nasce enfreado; trota largo, vai a passo ou galopa, como coração que é, mas não dispara nunca, não se perde nem perde o cavaleiro. 

Guiomar refletiu ainda muito e muito, e não refletiu só, devaneou também, soltando o pano toda a essa veleira escuna da imaginação, em que todos navegamos alguma vez na vida, quando nos cansa a terra firme e dura, e chama-nos o mar vasto e sem praias. A imaginação dela, porém não era doentia, nem romântica, nem piegas, nem lhe dava para ir colher flores em regiões selváticas ou adormecer à beira de lagos azuis. Nada disso era nem fazia; e por mais longe que velejasse levaria entranhadas na alma as lembranças da terra.




UM POUCO SOBRE MACHADO DE ASSIS

 

Contista, poeta, cronista, teatrólogo, romancista, crítico, ensaísta, tradutor. Estas foram às muitas facetas literárias que Machado de Assis apresentou ao longo dos seus 69 anos, além da extensa carreira como jornalista e funcionário público, função esta que garantiu sua subsistência durante boa parte de sua vida.

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, em 21 de janeiro de 1839. Filho de um operário mestiço de negro e português, Francisco José de Assis e da açoriana, Maria Leopoldina Machado de Assis. Machado de Assis não frequentou regularmente às escolas públicas nas quais estava matriculado, muito menos foi à universidade. No entanto, desde pequeno mostrou interesse no aprendizado, aproveitando que sua madrasta vendia doces numa escola para meninas para assistir a algumas aulas, além de estudar francês com um imigrante durante as noites. Alguns biógrafos inclusive relatam que ele demonstrou grande fascínio pela leitura, tendo expandido sua bagagem cultural por conta própria. Faleceu no Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1908, aos 69 anos.

 

 

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