A cidade se estende como um sussurro antigo, e Montmartre, lá no alto, observa tudo com olhos de basílica. A Sacré-Cœur brilha como se guardasse segredos que nem mesmo os séculos ousaram decifrar. Mas não são os sinos que ecoam nesta noite azul, são notificações.
Vivemos em tempos em que a paisagem compete com a tela. A Paris que antes se descobria a passos lentos agora se consome em cliques. A informação, esse novo perfume francês, está em todo lugar. Ela invade, seduz, confunde. E como turistas desavisados, nos perdemos nela.
A imagem que encontrei no Facebook, Montmartre ao entardecer, não era só uma foto. Era uma cápsula de tempo, uma promessa de beleza, uma distração. Mas também era um alerta. Porque por trás de cada pixel há uma avalanche de dados, algoritmos, intenções. A informação deixou de ser neutra. Ela tem cor, tem direção, tem dono.
E nós? Nós somos os flâneurs digitais. Vagamos por feeds como quem caminha pelas ruas de Paris sem mapa. Vemos, curtimos, esquecemos. A crônica da vida virou stories de 15 segundos. O pensamento virou legenda. A contemplação virou rolagem infinita.
Montmartre, com sua história de artistas e boêmios, parece nos lembrar de que nem toda informação é conhecimento. Que nem todo dado é sabedoria. Que há uma diferença entre saber e entender. E que talvez estejamos colecionando manchetes quando deveríamos estar escrevendo nossas próprias histórias.
A basílica, lá no alto, permanece. Imóvel. Silenciosa. Enquanto nós, cá embaixo, corremos atrás de verdades que mudam a cada atualização. O mundo não está mais em livros, está em links. E os links não têm cheiro, não têm textura, não têm alma.
Mas há esperança. Porque mesmo em meio ao caos informacional, ainda há quem pare diante de uma imagem e sinta. Ainda há quem leia uma crônica e reflita. Ainda há quem veja Montmartre e não pense em likes, mas em luz.
A informação é poder, dizem. Mas o poder sem propósito é só ruído. Que saibamos, então, filtrar. Que saibamos, então, escolher. Que saibamos, então, olhar para Montmartre — não como um post, mas como um poema.
© Alberto Araújo
Nenhum comentário:
Postar um comentário