Em
26 de maio de 2022, comemora-se o centenário de nascimento do pintor cearense Antonio
Bandeira. Em homenagem ao artista, pioneiro do abstracionismo no Brasil, a
Galeria Almeida & Dale abre, no sábado de 28 de maio de 2022, a exposição
Desfolharei Meus Olhos Neste Escuro Véu, com curadoria de Galciani Neves. Não é
apenas uma mostra comemorativa, mas uma tentativa de identificar na poética
informal de sua pintura o Bandeira que poucos conhecem, distante dos
estereótipos consagrados - o do boêmio dos bares frequentados pelos
existencialistas, por exemplo.
BIOGRAFIA
Antonio
Bandeira nasceu em Fortaleza-CE em 26 de maio 1922 e faleceu em 06 de outubro
de 1967 em Paris, França. Pintor, desenhista, gravador. Inicia-se na pintura
como autodidata.
Em
1941, em Fortaleza, participa, ao lado de Mário Baratta (1915-1983), entre
outros, da criação do Centro Cultural de Belas Artes - CCBA, que dá origem, em
1943, à Sociedade Cearense de Artes Plásticas - SCAP. Em 1945, transfere-se
para o Rio de Janeiro e, no ano seguinte, realiza sua primeira exposição
individual, no Instituto dos Arquitetos do Brasil - IAB/RJ. Contemplado pelo
governo francês com bolsa de estudos, permanece em Paris de 1946 a 1950.
Frequenta
a École Nationale Supérieure des Beaux-Arts [Escola Nacional Superior de Belas
Artes] e a Académie de la Grande Chaumière, mas, em busca de uma arte não
acadêmica, deixa essas instituições. Entre 1947 e 1948 participa de dois
importantes eventos: o Salon d'Automne e o Salon d'Art Libre. Em
Saint-Germain-des-Près toma parte em reuniões de artistas como Camille Bryen
(1907 - 1977) e Bernard Quentin. Com Bryen e Wols (1913-1951), de quem se torna
amigo, forma o Grupo Banbryols (ban de Bandeira; bry de Bryen; e ols de Wols),
que dura de 1949 a 1951. De volta ao Brasil, em 1951, instala-se no ateliê do
amigo escultor José Pedrosa (1915-2002), onde também trabalha o pintor Milton
Dacosta (1915-1988) e apresenta-se na 1ª Bienal Internacional de São Paulo. Em
1952, cria um mural para o Instituto dos Arquitetos do Brasil - IAB/SP, em São
Paulo. Retorna a Paris em 1954 em razão do Prêmio Fiat, obtido na 2ª Bienal
Internacional de São Paulo, mas não deixa de expor no Brasil. Permanece na
Europa até 1959, passando pela Inglaterra e Bélgica, onde, em 1958, realiza um
painel para o Palais des Beaux-Arts. Ao retornar ao Brasil tem uma atividade
artística intensa, participa de importantes exposições, em paralelo a mostras
em Paris, Munique, Verona, Londres e Nova York. Em 1961, edita um álbum de
poemas e litogravuras de sua autoria, e, no mesmo ano, João Siqueira realiza um
curta-metragem sobre a obra do pintor. Volta a Paris em 1965, onde permanece
até sua morte.
Antonio
Bandeira começa a pintar em Fortaleza, nos primeiros anos da década de 1940.
Nesse período, a cidade vive uma intensa movimentação artística. Bandeira cria,
em 1941, com artistas como Mário Baratta (1915 - 1983), Raimundo Cela (1890 -
1954) e Aldemir Martins (1922), o Centro Cultural de Belas Artes - CCBA, que
pretendia mobilizar a cultura visual cearense. A instituição monta um espaço
para exposições permanentes, realiza Salões anuais e tenta manter cursos de
arte. Nesse ano, Bandeira expõe pela primeira vez, no 1º Salão Cearense de
Pintura, promovido pelo CCBA. Em 1943 o pintor ganha o primeiro prêmio no 3º
Salão Cearense de Pintura, com a tela Cena de Botequim, 1943.
A
pintura Antonio Bandeira nesse momento tenta figurar cenas da vida suburbana de
Fortaleza sem cair nos clichês do retrato de pescadores e jangadeiros. Em seus
quadros são privilegiadas as populações marginais da cidade. Ele pinta cenas
com personagens da boêmia, em Paisagem Noturna, 1944, e na penúria financeira,
em Desempregados, 1944. Trata dos temas com pinceladas enérgicas e um desenho
forte, inspirados na vitalidade de Vincent van Gogh (1853 - 1890). Procura dar
a essas cenas uma textura vibrante que revele dramaticidade.
Em
1945, o artista, com Inimá de Paula (1918 - 1999), Raimundo Feitosa e Aldemir
Martins, se muda para o Rio de Janeiro, encorajado por Jean-Pierre Chabloz
(1910 - 1984), que articulava uma exposição destes artistas cearenses na
Galeria Askanasy. Seu trabalho é bem recebido e Bandeira ganha uma bolsa da
Embaixada Francesa para estudar em Paris, seguindo para lá em abril de 1946.
Estuda pintura, desenho e gravura na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts
[Escola Nacional Superior de Belas Artes] e na Académie de La Grande Chaumière.
O contato com as obras das vanguardas históricas aproxima seu trabalho do
cubismo e do fauvismo. Em telas como Mulher Sentada Lendo, 1948, e Cara,
ca.1948, as formas geometrizadas mostram influência de Pablo Picasso (1881 -
1973), mas esses planos recortados têm cores fortes e contrastantes, ao modo
fauve. No entanto, sua obra já toma outras direções. A convivência do artista,
desde o fim dos anos 1940, com o alemão Wols (1913 - 1951) e Camille Bryen
(1907 - 1977) colabora para a guinada de seu trabalho para uma pintura mais
gestual, abstrata e aberta a sugestões ligadas ao automatismo surrealista.
Apesar de preservar a figura, aqui ela aparece de maneira sugerida, marcada
pela interação de elementos livres como manchas e marcas de pincel. Em 1948,
Bandeira participa da mostra La Rose des Vents, na Galérie des Deux Ilés, que
marca sua adesão ao abstracionismo informal. Seus trabalhos em guache e nanquim
adquirem progressivamente esta feição. As linhas parecem perder a continuidade,
não contornam figuras e, soltas por todo o trabalho, sugerem formas de objetos.
Na pintura essa mudança aparece a partir de 1949, em trabalhos como Paysage
Lointain, em que o artista incorpora as manchas, riscos e as formas coloridas
sem submetê-los a um desenho prévio.
Bandeira
volta ao Brasil em 1951. Monta ateliê no Rio de Janeiro com José Pedrosa (1915
- 2002) e Milton Dacosta (1915 - 1988), e, em abril, apresenta sua primeira
grande exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP. O artista
Waldemar Cordeiro (1925 - 1973) escreve sobre as suas pinturas abstratas e as
compara à produção concreta que ganhava vulto no país. Em Fortaleza, em 1952,
Bandeira inicia uma nova fase de sua pintura. Radicaliza a abstração informal e
passa a incorporar os gotejamentos e respingos da tinta. Busca uma tela em que
o primeiro e o segundo plano se mostrem indistintos, não como um emaranhado de
cores caótico, mas num jogo livre de linhas harmonizado por formas coloridas.
Em trabalhos de 1954, como Luares Sobre a Cidade Negra e Árvores, Bandeira se
vale de formas geométricas para buscar um equilíbrio do entrecruzar de linhas e
pinceladas livres.
Ao
receber prêmio na 2ª Bienal Internacional de São Paulo, o artista volta a
Paris. Nesta nova estada no exterior, expõe em Londres, Nova York e realiza um
painel para o Palais des Beaux-Arts de Bruxelas, em 1958. Bandeira permanece na
França até 1959, quando retorna para uma temporada bem sucedida de exposições
no Brasil, entre elas a grande individual no Museu de Arte Moderna da Bahia -
MAM/BA em 1960 e a 5ª e a 6ª Bienal Internacional de São Paulo. Seus quadros
são cada vez mais gestuais, no entanto não se pode dizer que eles se tornem
abstratos em sentido estrito.
Sua
pintura segue com procedimentos da abstração gestual. No entanto, com base
nesses procedimentos, o artista procura figuras que surgem entre estes traços e
pinceladas. Diferente da pintura realista, o primeiro objetivo não é figurar. O
artista encontra as figuras, na relação livre entre os elementos de seu
trabalho, que de maneira aberta sugerem imagens de flores ou paisagens. Ainda
no Brasil, em 1962, Bandeira começa a incorporar materiais pouco usuais em suas
telas, distribuindo miçangas na superfície pintada. Mais tarde, de volta a
Paris, o artista usa barbantes e isopor. Aparentemente, sua produção, por volta
de 1966, diminui. Mas o artista segue pintando até dias próximos de sua morte,
em 1967, em Paris. O pintor faleceu no dia seis do mês de outubro do ano de
1967, e deixou obras que marcaram muito na arte.
FONTE
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9205/antonio-bandeira
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