sexta-feira, 13 de maio de 2022

ESCRAVIDÃO NO BRASIL: O 13 DE MAIO E O DIA SEGUINTE

 


Publicação e colaboração 

do Historiador Guto Mello - Fotografia: Marc Ferrez. 


GUTO MELLO - Colunista do Focus Portal Cultural

 

Hoje 13 de maio de 2022 está completando 134 anos que foi assinada a  Lei N⁰ 3353 ou Lei Áurea pela Princesa Isabel encerrando a escravidão no Brasil diante de uma multidão que encontrava-se em êxtase. A festa tomava as ruas do Rio de Janeiro, capital do Império em 1888 e em todo o Brasil. Cidades fizeram festas que duraram até três dias. Nesse dia que entrou para a História do Brasil, Isabel foi no Quilombo do Leblon e foi recebida por uma ex escrava mais velha daquele quilombo para enaltecê-la.

 

No dia 14 de Maio, a imprensa brasileira estampava na capa dos seus jornais a abolição. Jornais como "O Paiz", "A Gazeta de Notícias", "Jornal do Commercio", todos do Rio de Janeiro e "A Província de São Paulo" esgotaram seus exemplares, porém a imprensa ao mesmo tempo mostrava-se em polvorosa pelo fim da escravidão, fazia uma pergunta para a sociedade: Qual o futuro desses libertos? Nenhum senhor de terras foi indenizado e muito menos os libertos e isso gerou uma fúria contra a família Imperial que sentiu pelas costas um Golpe no dia 15 de Novembro de 1889 e sua despedida sem D. Pedro II tomar conhecimento no baile da Ilha Fiscal poucos dias antes do Golpe Militar.

 

Os libertos estavam livres, porém desorientados. O que vamos fazer agora? Vários seguiram para as cidades como Rio de Janeiro e São Paulo ou permaneceram nas terras do antigo senhor que dava um lote de terra e outros não tinham mais condições de trabalho devido os maus tratos quando pertenceram aos seus senhores, porém mesmo com o fim da escravidão, alguns proprietários de terras não aceitaram em hipótese alguma o fim da escravidão e descontaram nos libertos que foram proibidos de saírem das fazendas como no caso do senhor José de Souza Loretti em Resende, Sul Fluminense, ao maltratar e deixar chagas nos ex- escravos ao deixarem sem água, decepava os dedos, faziam beber água fervendo entre outras maldades. Uma ex-escrava conseguiu fugir para Resende e denunciou o latifundiário que foi preso e julgado. Aqueles que optaram pela migração para as cidades ou outras localidades deixaram de serem taxados pela imprensa de escravos e passaram a serem chamados de vagabundos quem não trabalhava depois de trabalharem exaustivamente debaixo de maus tratos.  

 

O alcoolismo que já fazia parte de muitos escravos para amenizarem as dores das constantes surras, virou um vício sem precedentes entre os libertos que não trabalhavam e entre os trabalhadores nos botequins que se embebedavam como válvula de scap, surgindo brigas e até mortes, um problema social que foi "resolvido" com a derrubada de cortiços (AZEVEDO) e enviá-los para os morros. Em tempos de Belle Époque, a estética "civilizada" deveria prevalecer e o que era "bárbaro" foi enviado para a periferia.

 

Agora, a surra foi substituída pelo feitor nas fazendas pela polícia; a senzala foi substituída pela cadeia pública. O sociólogo Zigmunt Bauman cita esse quadro nas cidades como Londres e Paris em tempos de Revolução Industrial. Não diferente nessa linha de raciocínio, o sociólogo Jessé Souza destrincha o racismo estrutural que se mantém por séculos e a escravidão moderna em pleno século XXI.A Lei Áurea que foi enaltecida pelos intelectuais  Joaquim Nabuco, Machado de Assis, Luiz Gama,Capistrano de Abreu e pela criança que presenciou no dia do seu aniversário ao completar 7 anos de idade Lima Barreto , pôde sentir na pele o racismo e o descaso da sociedade até o fim da sua vida.

 

Guto Mello é historiador, membro da AVL-Academia Volta-Redondense de Letras, Nós Educação Cultural, Rede Sem Fronteiras e da ALALS-Academiè de Lettres et Arts Luso-Suisse.

 















FONTES BIBLIOGRÁFICAS

 

-CHALHOUB, Sidney. Trabalho, lar e botequim. Ed. Unicamp, Campinas - SP, 2018;

- Org. SILVA, Antônio Carlos da. História da Imprensa: Cotidiano, poder e circulação de ideias no Vale do Paraíba. Ed. Interagir. Valença - RJ, 2020;

- GOMES, Heloísa Toller. As marcas da escravidão: O negro e o Discurso Oitocentista no Brasil e nos Estados Unidos. 2ª edição. Ed. Uerj. Rio de Janeiro-RJ,  2009.

- SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do Imperador. Companhia das Letras. São Paulo-SP, 2012.

 

 

 

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