Há 64 anos, no dia 19 de agosto de 1960, uma senhora negra catadora de papel tornou-se o centro das atenções na Livraria Francisco Alves, palco do lançamento de seu primeiro livro, “Quarto de Despejo: Diário de uma favelada”, no qual contava o cotidiano da favela do Canindé, em São Paulo, onde vivia com a família. O livro relata a vida cotidiana, as lutas e as reflexões de Carolina, uma mulher negra, mãe solteira de três filhos. O livro formado por 20 diários escritos entre 15 de julho de 1955 e 1 de janeiro de 1960 por Carolina Maria de Jesus, que, antes da publicação de seu livro, em 1960, era uma anônima moradora da favela de Canindé, em São Paulo.
A obra se destaca por sua abordagem crua e realista da pobreza extrema, da discriminação racial e de gênero, e das duras condições de vida nas favelas brasileiras. Na obra, Carolina expressa suas opiniões sobre política, sociedade e os eventos cotidianos que testemunha e descreve sua luta diária pela sobrevivência, coletando papel e metal para vender, enquanto aspira a uma vida melhor para si e seus filhos.
Seu livro foi editado e publicado por Audálio Dantas, jornalista que visitou a comunidade e se interessou por sua história e, por muito tempo, lutou-se para que a obra de Carolina pudesse ser considerada literatura, pois vários críticos literários consideraram-na apenas como um tipo de literatura marginal.
Sua importância foi tamanha que já fez parte da lista de livros cobrados em vestibulares da Universidade de Campinas e Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e ainda apareceu em questões Exame Nacional do Ensino Médio.
A escrita de Carolina é direta e por vezes, poética. Ela não apenas retrata a miséria material, mas também reflete sobre os aspectos emocionais e psicológicos da vida em condições adversas. Ao longo do diário, é evidente o profundo desejo da autora por educação e por melhores condições de vida para seus filhos.
O título "Quarto de Despejo" refere-se à ideia de que as favelas são lugares onde a sociedade "despeja" aqueles que são considerados indesejados ou insignificantes. Para Carolina, a favela é um depósito de pessoas que foram excluídas e negligenciadas pelo resto da sociedade.
O livro teve um impacto significativo quando foi publicado. Ele chamou a atenção para as realidades muitas vezes ignoradas da vida nas favelas e desafiou as percepções populares e estereotipadas sobre os favelados.
Carolina Maria de Jesus, por meio de sua obra,
estabeleceu-se como uma das vozes literárias mais importantes do Brasil, dando
voz a uma parcela da população frequentemente marginalizada. A obra é um
testemunho contundente das desigualdades sociais no Brasil e continua a ser
relevante para os estudos sobre questões de classe, raça e gênero no país.
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