No dia 16 de julho de 2025, o Focus Portal Cultural rende tributo aos 105 anos de nascimento de Elizeth Cardoso, a inesquecível Divina, uma das maiores intérpretes da história da música brasileira. Dona de uma voz inconfundível e de um repertório que atravessou décadas, Elizeth cantou o Brasil com uma sensibilidade rara, tornando-se referência para gerações.
Nascida em 16 de julho de 1920, no subúrbio carioca de São Francisco Xavier, Elizeth herdou da família o amor pela música. Desde pequena, apresentava-se em teatrinhos para os irmãos, encantada pelos seresteiros e pelas rodas de choro que frequentava ao lado do tio Pedro. Aos cinco anos, ousou subir ao palco da Sociedade Familiar Dançante Kananga do Japão e, aos 16, em uma festa de aniversário, surpreendeu mestres como Pixinguinha, Jacob do Bandolim e Dilermando Reis, momento que mudaria sua vida para sempre. Jacob a levou para um teste na Rádio Guanabara, onde, mesmo com a resistência inicial do pai, Elizeth deu início a uma carreira brilhante.
Dona de um timbre único, Elizeth transitou com elegância por sambas, choros, canções românticas, samba-canção, bossa nova e até samba-jazz, sem jamais se prender a rótulos. Gravou mais de 50 discos e eternizou interpretações que continuam emocionando até hoje. Seu primeiro grande sucesso, “Canção de Amor”, veio em 1950, consolidando seu talento.
Em 1958, foi protagonista de um marco na história da música brasileira: o álbum “Canção do Amor Demais”, com composições de Tom Jobim e Vinicius de Moraes — considerado o ponto inaugural da bossa nova. Mesmo assim, Elizeth permaneceu fiel ao seu estilo pessoal, transitando entre o tradicional e o moderno com naturalidade.
A trajetória de Elizeth foi marcada por momentos inesquecíveis: madrinha do Cordão do Bola Preta; apresentadora do programa Sambão na TV Record em 1973; shows históricos como o lendário espetáculo no Teatro João Caetano em 1968, ao lado de Jacob do Bandolim, Época de Ouro e Zimbo Trio, que resultou em discos cultuados até hoje. Lançou nomes como João Nogueira, emocionou plateias no Brasil e no exterior, e recebeu elogios de Carmen Miranda, que a descreveu como “uma mulata que canta pra chuchu”.
Entre seus discos memoráveis estão “Elizethíssima” (1981) e “Todo o Sentimento” (1989). Mesmo enfrentando problemas de saúde nos últimos anos de vida, seguiu cantando com dignidade e paixão até falecer em 7 de maio de 1990, aos 69 anos. Foi velada no Teatro João Caetano, onde milhares de fãs prestaram sua última homenagem.
Elizeth Cardoso deixou um legado de rara beleza, eternizado em cada disco, em cada melodia e na memória afetiva de quem reconhece nela a verdadeira grandeza da música brasileira.
Neste mês de julho, o Focus Portal Cultural convida todos a redescobrir a obra dessa artista divina — mulher que deu voz às canções do Brasil, com verdade, emoção e talento imortal.
ELIZETH CARDOSO: VOZ DIVINA DO BRASIL
Elizeth Moreira Cardoso nasceu no dia 16 de julho de 1920, na Rua Ceará, no bairro de São Francisco Xavier, subúrbio do Rio de Janeiro. Filha do seresteiro e violonista Jaime Moreira Cardoso e de Maria José Pilar, que adorava cantar, Elizeth cresceu em um ambiente musical e popular, entre serestas, rodas de samba e choros. Era a quarta de cinco irmãos: Jaimira, Enedina, Nininha, Diva e Antônio.
Desde menina, demonstrava grande talento e encanto pela música. Aos cinco anos, subiu ao palco da histórica Sociedade Familiar Dançante Kananga do Japão e, com coragem, pediu ao pianista para cantar “Zizinha”. Em casa, organizava teatrinhos para os irmãos, onde já mostrava sua veia artística ao interpretar as canções de Vicente Celestino.
Na adolescência, a família vivia na Rua do Rezende, 87, próximo ao Morro da Mangueira, onde o tio Pedro incentivava a jovem a cantar e acompanhar a cena musical carioca, frequentando inclusive as reuniões na lendária casa de Tia Ciata — um dos berços do samba.
O momento decisivo veio aos 16 anos, quando, em sua festa de aniversário, Elizeth cantou para convidados ilustres como Pixinguinha, Jacob do Bandolim e Dilermando Reis. Impressionado com sua voz, Jacob do Bandolim a levou para um teste na Rádio Guanabara. Apesar da resistência inicial do pai, Elizeth foi aprovada e passou a integrar o programa “Suburbano”, recebendo cachê de dez mil réis por apresentação. Ali começou uma amizade de mais de seis décadas com Jacob.
Nos anos seguintes, participou de outros programas nas rádios Educadora, Transmissora e Mayrink Veiga, onde cantou com Dorival Caymmi e foi acompanhada pela orquestra do maestro Fon-Fon. Em 1939, começou a se apresentar em circos, clubes e cinemas, e brilhou ao lado de Grande Otelo no famoso quadro “Boneca de Piche”, que ficou em cartaz por mais de dez anos.
No final de 1939, casou-se com o gaúcho Ari Valdez (Tatuzinho) e engravidou. Enfrentou dificuldades financeiras e, após a separação, trabalhou como taxi-girl (dançarina de aluguel) na boate Dancing Avenida, além de ter exercido ofícios como vendedora, costureira, fabricante de sabonetes e cabeleireira.
Determinada a seguir cantando, apresentou-se no Circo Olimecha com Grande Otelo e, em 1945, mudou-se para São Paulo, onde atuou no Salão Verde do Edifício Martinelli e participou do programa “Pescando Humoristas” na Rádio Cruzeiro do Sul. Em 1946, de volta ao Rio de Janeiro, foi crooner da Orquestra de Dedé e, dois anos depois, passou a integrar o programa “Alvorada da Alegria” na Rádio Mauá.
O
incentivo decisivo veio do compositor Ataulfo Alves, que a motivou a gravar seu
primeiro disco em 1949, pela gravadora Star. Em 1950, lançou “Canção de Amor”,
de Chocolate e Elano de Paula, que se tornou seu primeiro grande sucesso
nacional, abrindo portas para novos contratos na Rádio Tupi e na
recém-inaugurada TV Tupi.
Na
década de 1950, Elizeth consolidou sua posição como uma das maiores intérpretes
do país, gravando sucessos como “Alguém como Tu”, “Graças a Deus” e “Amor que
Morreu”. Participou do histórico projeto “Sinfonia do Rio de Janeiro”, de Tom
Jobim e Billy Blanco, ao lado de Dick Farney e Emilinha Borba, e emocionou até
mesmo Carmen Miranda, que declarou ter conhecido “uma mulata que canta pra
chuchu”.
Em
1958, Elizeth foi protagonista de um momento fundamental na história da música
brasileira ao gravar o álbum “Canção do Amor Demais”, com músicas de Tom Jobim
e Vinicius de Moraes, considerado o marco inaugural da bossa nova. Embora tenha
colaborado com o movimento, jamais se prendeu a estilos: seguiu interpretando
samba, choro, canções românticas e samba-canção com sua assinatura única.
Na década de 1960, apresentou programas de televisão como Bossaudade, lançou LPs importantes como “A Enluarada Elizeth” (1967) e participou de espetáculos históricos, como o show no Teatro João Caetano em 1968, ao lado de Jacob do Bandolim, Época de Ouro e Zimbo Trio, dirigido por Hermínio Bello de Carvalho. Esse show, aclamado pela crítica, foi lançado em LPs históricos.
Elizeth também teve participação marcante no I Festival de Música Popular Brasileira, em 1965, quando ficou em segundo lugar interpretando “Valsa do Amor que Não Vem”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes — o primeiro lugar foi conquistado por Elis Regina com “Arrastão”.
Nos anos 1970 e 1980, seguiu lançando discos elogiados, apresentando o programa Sambão na TV Record e celebrando encontros musicais. Entre os destaques dessa fase estão “Elizethíssima” (1981) e “Todo o Sentimento” (1989).
Ao longo da carreira, Elizeth lançou mais de 50 discos no Brasil e gravou em países como Portugal, Venezuela, Uruguai, Argentina e México. Foi madrinha do Cordão do Bola Preta e ajudou a lançar novos talentos como João Nogueira, além de ser homenageada e respeitada por colegas e críticos.
Mesmo diagnosticada com câncer gástrico em 1987, durante uma excursão ao Japão, Elizeth continuou cantando até o fim. Faleceu no dia 7 de maio de 1990, aos 69 anos, no Rio de Janeiro, deixando um legado que permanece vivo no coração da música brasileira. Foi velada no Teatro João Caetano, sob aplausos e lágrimas de fãs e artistas, e sepultada ao som de um surdo portelense no Cemitério do Caju.
Elizeth
Cardoso foi e continua sendo a voz divina do Brasil: uma artista completa,
sensível, dona de um timbre inconfundível e de uma trajetória que atravessou
gerações com dignidade, beleza e verdade.
©
Alberto Araújo
Focus
Portal Cultural
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