NO TEMPO EM QUE A MANGA ERA MILAGRE
Ali
estou eu — de novo menino, de novo inteiro —
sob a sombra do pé de manga, na velha Luzilândia
que ainda canta dentro de mim.
Com
a mão espalmada,
toco o fruto como quem toca
um segredo do tempo.
Não
há pressa.
A manga madura é um sinal:
de que a vida ainda é doce,
de que o chão ainda me reconhece,
de que o passado me cabe inteiro
na palma da mão.
O
cheiro da manga,
a casca quente de sol,
os galhos me olhando
como se fossem os mesmos
que testemunharam minhas primeiras quedas,
meus primeiros risos.
Lembro-me
de minha mãe,
das tardes em que ela dizia:
“Escolha a que estiver mais amarelinha,
mas agradeça ao pé.”
E
eu agradeço.
Agradeço
ao tempo que me deixou voltar,
ao chão que ainda me chama pelo nome,
ao fruto que, mesmo pequeno,
me enche de eternidade.
Sou
homem agora,
mas ali — entre o verde, o pó e o céu —
sou também o menino
que nunca deixou de colher memórias
no quintal do coração.
©
Alberto Araújo
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