sexta-feira, 11 de julho de 2025

MARCO ZERO - O ATELIÊ COMO TERRITÓRIO VIVO DA ARTE BRASILEIRA - RESENHA DE ALBERTO ARAÚJO

“Marco Zero” é uma obra que mergulha no universo íntimo e simbólico dos ateliês de artistas contemporâneos brasileiros, revelando muito mais do que simples espaços de criação: apresenta territórios de reflexão, experimentação e memória. O livro nasce da colaboração entre Silvana Monteiro de Carvalho, Gustavo Malheiros e outros profissionais, trazendo ensaios fotográficos que registram ambientes de trabalho de 12 artistas renomados. 

A curadora Lilian Tone e outros autores assinam textos profundos que contextualizam historicamente e teoricamente a importância do ateliê, abordando desde a sua função clássica como “lugar sagrado” da criação até as transformações recentes que desafiam essa centralidade, como a “pós-atelier” de Daniel Buren ou as fábricas colaborativas de Andy Warhol e Olafur Eliasson. Essa reflexão amplia a visão sobre como o ateliê pode ser ao mesmo tempo espaço de recolhimento e de produção coletiva, lugar de liberdade e também de tensão criativa. 

Publicada em novembro de 2024, pela Editora Arte Ensaio, Marco Zero é uma obra robusta, em capa dura, com 248 páginas e formato generoso, 24 x 29 cm, que se propõe a revelar os bastidores da criação artística no Brasil contemporâneo. Organizado pela curadora Lilian Tone e pelo fotógrafo Gustavo Malheiros, o livro parte de uma premissa instigante: o ateliê não é apenas um espaço de trabalho, mas quase uma entidade autônoma, carregada de simbologias e significados próprios. Com sensibilidade e rigor, o projeto reúne textos críticos, ensaios fotográficos e relatos das artistas para lançar um olhar íntimo e crítico sobre doze mulheres que se tornaram nomes fundamentais da arte brasileira. 

Ao centro da narrativa visual e teórica estão doze artistas contemporâneas de distintas gerações e linguagens: Regina Silveira, Adriana Varejão, Erika Verzutti, Jac Leirner, Maria Klabin, Renata Lucas, Leda Catunda, Sofia Borges, Mônica Nador, Iole de Freitas, Maria Laet e Beatriz Milhazes. Essa seleção valoriza não apenas a força da produção feminina na arte nacional, mas também revela a pluralidade de suas práticas, que transitam por pintura, instalação, escultura, fotografia e intervenção urbana.

O livro combina diferentes camadas: textos críticos assinados por Lilian Tone, referências históricas como Vermeer, Courbet, Bruce Nauman e Daniel Buren, além de reflexões sobre a Factory de Andy Warhol e o ateliê expandido de Olafur Eliasson. Essa abordagem amplia o debate, mostrando que a discussão sobre o ateliê vai além da idealização romântica, sendo atravessada por transformações políticas, econômicas e culturais que questionam a própria centralidade desse espaço. 

As fotografias de Gustavo Malheiros, realizadas entre 2017 e 2018, são mais do que simples registros documentais: são ensaios sensíveis que captam texturas, luzes, volumes e detalhes que revelam o modo particular como cada artista constrói seu espaço criativo. Esses retratos do cotidiano artístico incluem prateleiras abarrotadas, paredes riscadas, mesas repletas de tintas, objetos afetivos, livros e talismãs — sinais materiais de um processo invisível que antecede a obra final. Ao mesmo tempo, os textos escritos pelas próprias artistas reforçam a dimensão subjetiva desse espaço, transformando o estúdio em voz, memória e método. 

Além disso, Marco Zero situa o estúdio como tema central de reflexão crítica: lugar de recolhimento, mas também de exposição; de ordem e de acaso; de solidão criativa e de colaboração; de mito e de realidade. Ao discutir casos como Bruce Nauman, que transformou o estúdio em performance, ou Buren, que problematizou a dependência da obra ao ateliê, o livro evidencia que o ateliê pode ser espaço de liberdade, mas também de aprisionamento simbólico. 

Marco Zero não é apenas um livro bonito ou um tributo ao fazer artístico: é uma obra que provoca o leitor a pensar criticamente sobre onde, como e por que a arte acontece. Ao valorizar a potência criativa das mulheres artistas brasileiras e ao expor a intimidade de seus processos sem mitificá-los, o livro constrói uma ponte entre público e artista, revelando que o ateliê permanece um território vivo, dinâmico e em constante reinvenção.

Nesse sentido, a publicação cumpre com êxito seu propósito: reduzir a distância entre a arte e quem a contempla, sem perder a consciência crítica de que o ateliê é ao mesmo tempo espaço real, símbolo cultural e metáfora existencial. É um convite para entrar no “santuário” onde a arte se faz, sem nunca esquecer que, ali, o risco, o erro e a experimentação são tão importantes quanto a obra pronta.

© Alberto Araújo

Focus Portal Cultural

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GRATIDÃO NO MARCO ZERO DE UM NOVO TEMPO

Registro aqui meu sincero agradecimento aos jovens coauxiliares da cerimonialista Lucy Decache, Bruna Ferreira, Jonathan Santiago de Borges Oliveira e Nycollas Rastrelli que, com simpatia e dedicação, tornaram ainda mais especial a solenidade de Fundação do Rotary Club Niterói Novos Tempos, presidido por Ângela Riccomi em 08 de julho de 2025. 

Com gestos de gentileza e atenção, esses três jovens foram responsáveis por ofertar às personalidades presentes o livro Marco Zero, acompanhado de um delicado marcador que trazia as palavras: "Obrigada pela presença no Marco Zero do Rotary Club de Niterói Novos Tempos" — Angela Riccomi de Paula – Presidente e Associados. 

Tive a honra de receber essa imponente obra durante o evento, gesto que simboliza não apenas um presente, mas também o início de um ciclo marcado por cultura, memória e novos horizontes para a comunidade rotariana de Niterói. 

Meu muito obrigado a Bruna, Jonathan e Nycollas pelo carinho e pelo cuidado neste momento que já faz parte da história. 

© Alberto Araújo

Focus Portal Cultural 













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