quarta-feira, 16 de julho de 2025

CREPÚSCULO DE JULHO EM ICARAÍ - CRÔNICA DE ALBERTO ARAÚJO


Hoje, 16 de julho, a Praia de Icaraí se vestiu de um silêncio eloquente para a despedida do sol. Não foi apenas um ocaso, mas um instante de eternidade que se deixou capturar, não só pela lente, mas pela alma de quem o testemunhava. O sol, já quase oculto, tingia o horizonte com tons de fogo suave, pintando de laranja e rosa o encontro do céu com o mar, uma paleta que só os dias de inverno, com sua coragem particular, parecem ter a ousadia de exibir. 

A areia, com sua pele fria e macia, guardava as marcas de passos que vieram e foram, como rastros de histórias recentes, suspirando ao toque suave do entardecer. O mar, por sua vez, refletia aquele laranja delicado, espelhando cores que não se repetem, enquanto sua calmaria contrastava com a textura viva da areia, onde pequenas sombras denunciavam presenças, encontros e despedidas. 

As traves vazias, dois postes e uma trave de vôlei, erguiam-se como altares silenciosos, testemunhas da vida que pulsa ali, mesmo em sua pausa, contando histórias de risos e disputas que a hora já recolhera. Alguns poucos ficaram: uns sentados, outros em pé, todos partilhando o mesmo milagre silencioso, tornando-se figuras quase poéticas, moldadas por luz e sombra diante da imensidão. 

Ao fundo, o contorno da cidade repousava. Prédios perfilados, debruçados sobre a baía, assistiam, cúmplices, a esse adeus suave do sol, erguendo seus perfis austeros. Um fio, riscando o céu, lembrava a presença inevitável do homem, que, por mais belo que seja o momento, sempre há algo que interrompe, que corta, que chama de volta ao concreto do mundo. 

O dia se inclinava devagar, cansado de brilhar, mas antes de se despedir, acendia um último fogo suave no horizonte. É nessa hora que a cidade parece respirar mais fundo, enquanto o mar espelha cores que não se repetem. E eu, cronista de mim mesmo, fui ao mesmo tempo espectador e cúmplice, com o celular na mão e a alma inteira aberta.

Mesmo assim, o instante resistia: o calor do sol que partiu ficava guardado na pele, no coração, na memória. É quando a beleza se revela mais forte do que o instante, e a tarde se faz eterna em quem a contempla. É um pôr do sol que guarda algo de íntimo e universal: o encerramento de um dia que, mesmo silencioso, deixa sua marca na memória de quem contempla. Porque há dias em que fotografar não é apenas registrar: é agradecer. Hoje, na Praia de Icaraí, o sol me ensinou isso mais uma vez. 

© Alberto Araújo

Focus Portal Cultural


 

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