domingo, 13 de março de 2022

CORAÇÃO ANDARILHO: MEMÓRIAS DA VIAGEIRA NÉLIDA – TEXTO DE DALMA NASCIMENTO




Em 9 de março de 2022 o Instituto Cervantes do Rio de Janeiro, dirigido por Antonio Maura, anunciou grata surpresa aos múltiplos amantes da literatura de Nélida Piñon: a realização, em junho, durante três dias de um seminário, cujo título não poderia ter sido mais eloquente: 60 ANOS DE CORAÇÃO ANDARILHO.

Em entrevista a José Castello ao Estado de São Paulo em17/09/1998, Piñon confessou: “Eu sou uma andarilha, uma aventureira. Não posso só estar debaixo de um guarda-chuva. É muito pouco para mim”.

O encontro, assessorado pelo cineasta Julio Lellis (de há muito autor de um documentário sobre a autora) terá a participação dos mais representativos nomes da cultura nacional. Cada um dos especialistas abordará andanças físicas e artísticas dessa andarilha, dotada de ubiquidade que, tanto gravita em torno de Cervantes – “criação suprema da latinidade” - quanto visita Homero e os companheiros da antiguidade clássica, embora sempre esteja também  no fluxo heraclítico do vir a ser do Novo.

Mas, de repente, a aventureira Nélida colocará a mochila nas costas e, com o passaporte do imaginário na mão, viajará para a Idade Média do século XII. Curiosa, sentirá de perto o que se passava por lá: enfraquecimento do feudalismo, renascimento das cidades a emergência das línguas modernas. E súbito gritará bem alto: 𝑽𝒆𝒏𝒉𝒂𝒎 𝒗𝒆𝒓 𝒂𝒔 𝒄𝒂𝒕𝒆𝒅𝒓𝒂𝒊𝒔 𝒏𝒂𝒔𝒄𝒆𝒏𝒅𝒐, Com a lupa da fantasia divisará fascinantes hinos de luz, abrindo-se ao colorido esplendoroso das rosáceas da Idade Média Central.

Depois caminhará pelas medievais feiras, Que confusão, meu Deus, a cena  mais parece uma gravura de Bosch, do séc. XVI. Patos, galinhas, porcos a brincarem de pique entre as barracas.  Porém, as verduras não têm  agrotóxico  e as cebolas são tão seivosas.  Lembram aquelas da entrevista, comparadas ao ato da criação.

DE repente, algazarra na feira, Estão chegando os goliardos, clérigos andarilhos, cáusticos. beberrões. Antes enclausurados nos conventos, mas, agora, expulsos pela Igreja, transitam em trupes por tabernas. São eles os poetas-autores dos versos dos "Carmina Burana", musicados no século XX por Carl Orff.

Ah! Já que Nélida Piñon está viajando pelo século XII, marcará encontro com Leonora da Aquitânia, Ela quer saber direitinho quais as regras desse tribunal de mulheres para exigirem o divórcio.

Depois, rapidinho, Nélida estará de volta ao século XX. Sempre deambulando, já trocou de vestes e solenemente, junto aos companheiros, artífices da palavra, recebe o Prêmio Príncipe de Astúrias.

Como está vendo, caro leitor, pelo andar da carruagem, será um Senhor Seminário. E, como tal IMPERDÍVEL, como sempre dizia o grande escritor e professor de Filosofia, José Américo Peçanha,   em situações verdadeiramente grandiosas.  Como será esta...




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