Em 9 de março de 2022 o Instituto
Cervantes do Rio de Janeiro, dirigido por Antonio Maura, anunciou grata
surpresa aos múltiplos amantes da literatura de Nélida Piñon: a realização, em
junho, durante três dias de um seminário, cujo título não poderia ter sido mais
eloquente: 60 ANOS DE CORAÇÃO ANDARILHO.
Em entrevista a José
Castello ao Estado de São Paulo em17/09/1998, Piñon confessou: “Eu sou uma
andarilha, uma aventureira. Não posso só estar debaixo de um guarda-chuva. É
muito pouco para mim”.
O encontro, assessorado pelo
cineasta Julio Lellis (de há muito autor de um documentário sobre a autora)
terá a participação dos mais representativos nomes da cultura nacional. Cada um
dos especialistas abordará andanças físicas e artísticas dessa andarilha,
dotada de ubiquidade que, tanto gravita em torno de Cervantes – “criação
suprema da latinidade” - quanto visita Homero e os companheiros da antiguidade
clássica, embora sempre esteja também no
fluxo heraclítico do vir a ser do Novo.
Mas, de repente, a aventureira
Nélida colocará a mochila nas costas e, com o passaporte do imaginário na mão, viajará
para a Idade Média do século XII. Curiosa, sentirá de perto o que se passava
por lá: enfraquecimento do feudalismo, renascimento das cidades a emergência
das línguas modernas. E súbito gritará bem alto: 𝑽𝒆𝒏𝒉𝒂𝒎 𝒗𝒆𝒓 𝒂𝒔 𝒄𝒂𝒕𝒆𝒅𝒓𝒂𝒊𝒔 𝒏𝒂𝒔𝒄𝒆𝒏𝒅𝒐, Com
a lupa da fantasia divisará fascinantes hinos de luz, abrindo-se ao colorido
esplendoroso das rosáceas da Idade Média Central.
Depois caminhará pelas
medievais feiras, Que confusão, meu Deus, a cena mais parece uma gravura de Bosch, do séc. XVI.
Patos, galinhas, porcos a brincarem de pique entre as barracas. Porém, as verduras não têm agrotóxico
e as cebolas são tão seivosas.
Lembram aquelas da entrevista, comparadas ao ato da criação.
DE repente, algazarra na
feira, Estão chegando os goliardos, clérigos andarilhos, cáusticos. beberrões.
Antes enclausurados nos conventos, mas, agora, expulsos pela Igreja, transitam
em trupes por tabernas. São eles os poetas-autores dos versos dos "Carmina
Burana", musicados no século XX por Carl Orff.
Ah! Já que Nélida Piñon está
viajando pelo século XII, marcará encontro com Leonora da Aquitânia, Ela quer saber
direitinho quais as regras desse tribunal de mulheres para exigirem o divórcio.
Depois, rapidinho, Nélida
estará de volta ao século XX. Sempre deambulando, já trocou de vestes e
solenemente, junto aos companheiros, artífices da palavra, recebe o Prêmio
Príncipe de Astúrias.
Como está vendo, caro
leitor, pelo andar da carruagem, será um Senhor Seminário. E, como tal
IMPERDÍVEL, como sempre dizia o grande escritor e professor de Filosofia, José
Américo Peçanha, em situações
verdadeiramente grandiosas. Como será
esta...
Nenhum comentário:
Postar um comentário