“UM PAÍS NÃO MUDA PELA SUA ECONOMIA, SUA
POLÍTICA E NEM MESMO SUA CIÊNCIA; MUDA SIM PELA SUA CULTURA.”
Recentemente
a Academia Fluminense de Letras perdeu dois de seus mais ilustres membros,
personalidades que marcaram a Cultura e a Educação no Estado do Rio de Janeiro
– Aníbal Bragança e Roberto dos Santos Almeida.
Dedico
esta coluna à memória destes dois confrades, com os quais tive a honra de conviver
na vida profissional e acadêmica.
ANÍBAL
BRAGANÇA era natural de Santa Maria da Feira, Portugal, mas ainda criança veio
para Niterói, onde viveu sua notável trajetória como professor, pesquisador, escritor
e livreiro por excelência. Aqui começou a concretizar seus sonhos ao abrir sua
primeira livraria, Encontro, com apenas 21 anos de idade. Mais tarde, entre outras,
fundaria a Pasárgada, que mais do que uma livraria, se tornaria um verdadeiro
centro cultural e ponto de encontro da comunidade literária niteroiense. Formado
em História, mestre e doutor em Ciências da Comunicação, foi professor da
Universidade Federal Fluminense, onde dirigiu a editora EdUFF.
Exerceu
outras importantes funções relacionadas à produção de livros, entre elas, de
presidente do Conselho Interdisciplinar de Pesquisa e Editoração da Fundação
Biblioteca Nacional e de coordenador do Núcleo de Pesquisa do Livro e da
História Editorial no Brasil. Escreveu inúmeros artigos; foi autor e
organizador de várias obras, entre elas “Impresso no Brasil: Dois séculos de
livros brasileiros”, de 2011, parceria com Márcia Abreu que lhe valeu o Prêmio
Jabuti. Seus livros “Francisco Alves – O Rei do Livro” e “Livraria Ideal: do
cordel à bibliofilia” contam a história de relevantes figuras ligadas à produção
e à promoção literária brasileira. Foi secretário municipal de Cultura de
Niterói, tendo merecido várias homenagens da cidade adotiva, que decretou luto
oficial pelo seu falecimento. Sua presença sempre agradável e profundo conhecimento
literário muito enriqueceram as sessões de que participei com ele na Academia.
ROBERTO
DOS SANTOS ALMEIDA foi, acima de tudo, um educador. Professor, escritor,
cronista e crítico literário, dedicou sua vida à difusão do conhecimento. Carioca,
formou-se em Ciências Biológicas e Geológicas pela Universidade do Brasil, com especialização
em administração escolar e mestrado em Educação. Deixou marcas de sua passagem em
diversas instituições de ensino, destacando-se o Instituto Gay Lussac, que
ajudou a fundar e dirigiu por muitos anos, e a Universidade Federal Fluminense.
Dedicou-se, em especial, à formação de professores, tendo colaborado com o
Centro de Treinamento de Professores/RJ e a Faculdade de Educação da UFF. Foi
chefe de gabinete e secretário de Educação de Cultura de Niterói, assim como
presidente do Conselho Municipal de Cultura, tendo integrado várias
instituições culturais, entre elas a Academia Niteroiense de Letras e a
Academia Fluminense de Educação. Possuidor de profundo conhecimento literário,
especializou-se na obra do p o e t a p o r t u g u ê s Fernando Pessoa, pela qual
era um apaixonado. Em 2012, recebeu o título de Intelectual do Ano pelo Grupo Mônaco
de Cultura, sendo saudado por Aníbal Bragança. Convivi longamente com Roberto na
redação de O Fluminense, onde ele assinava coluna sob o nome Fernando de Aviz,
como cronista e crítico literário – sempre
muito
cordial e elegante no trato com os colegas. Foi um dos primeiros a ser lembrado
para integrar a diretoria do Centro de Memória Alberto Francisco Torres, em
2002, tendo como presidente a professora e jornalista Nina Rita Torres, de
saudosa memória, e eu como secretário. Segundo Waldenir de Bragança, presidente
da AFL, as academias “cultuam a tradição, os vultos que ajudaram a fazer e
erguer as Letras, as Artes, as Ciências, o pensamento, as ações dos vários
ramos do Saber. Constituem, e são, a memória de quantos deram suas vidas,
inteligência, conhecimento, cultura, renúncia, trabalho e serviços para
escrever a história". Seguindo os princípios acadêmicos, deixo aqui meu
elogio à memória destes dois grandes confrades que tanto serviram à comunidade
fluminense.
Nota:
Em vista da trágica situação atual, decidi adiar a publicação de meus relatos
de viagem pelo Leste Europeu.
CÉLIO
ERTHAL ROCHA
Defensor Público aposentado. Autor dos livros "Jornalismo, Política e Outras Paragens" e "Um Olhar sobre o Ministério Público Fluminense", 2ª edição (ambos em favor do Orfanato Santo Antônio) - pedidos pelo e-mail erthalrocha@gmail.com
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Foto: Alberto Araújo - Roberto dos Santos Almeida e Aníbal Bragança
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