quarta-feira, 12 de março de 2025

BORBOLETRANDO - A METAMORFOSE POÉTICA DE MÁRCIA PESSANHA - RESENHA E CRÔNICA POR ALBERTO ARAÚJO


Borboletrando, publicado pela Editora Muiraquitã de Labouré Lima, é uma obra que supera a mera coletânea de poemas, revelando-se como um testemunho da metamorfose interior de Márcia Pessanha. Por intermédio de uma linguagem rica em imagens e metáforas, a autora convida o leitor a mergulhar em seu universo particular, onde a palavra se torna o instrumento de libertação e transformação. 

A obra se estrutura em torno da metáfora central do casulo e da borboleta, simbolizando a jornada da autora em busca de sua própria voz e identidade. Os poemas exploram temas como a liberdade, a paixão, a memória e a transcendência, revelando a sensibilidade e a profundidade da alma poética de Márcia Pessanha. 

A autora domina a arte da palavra, utilizando imagens vívidas e metáforas originais para criar uma atmosfera envolvente e emocionante. Os poemas abordam temas que ressoam com a experiência humana, como a busca pela liberdade, a força do amor e a capacidade de superação. A obra retrata a jornada da autora em busca de sua própria voz e identidade, revelando a força transformadora da poesia. 

A autora nos convida a um passeio poético, por intermédio de seus versos, pelos quais expressas à leveza e a liberdade de uma borboleta, que baila pela vida, absorvendo o néctar de cada instante. A obra é um convite à reflexão sobre a brevidade da existência e a importância de viver cada momento com intensidade. 

Os poemas de Márcia Pessanha são como pinceladas de cores vibrantes que despertam os sentidos e nos transportam para um universo de sensações. Utiliza metáforas e comparações para expressar seus sentimentos e reflexões sobre o mundo ao seu redor. A natureza é uma presença constante, com seus rios, montanhas, flores e animais, que servem de inspiração para a poesia de Márcia Pessanha. 

O livro é uma celebração da vida e da beleza que se encontra nas coisas mais simples. Através de sua escrita sensível e poética, Márcia Pessanha nos convida a desacelerar e a apreciar os detalhes que nos cercam. "Borboletrando" é uma obra que encanta e emociona. Os poemas de Márcia Pessanha são como pequenos raios de luz que iluminam a alma e nos inspiram a seguir em frente com mais leveza e alegria.

BORBOLETRANDO

Liberta do casulo

a borboleta desfia o novelo

e borda o texto

com fios dourados.

 

Asperge o pólen

colhido das pétalas

no branco das folhas

e fecunda o livro.

 

Desperta com seu tear

palavras-flores, palavras-frutos

oriundas da metamorfose

e da alegria de ser livre.

 

Colore com tons vibrantes

as letras que voam

as letras que bailam

nas asas rosas do sonho

Borboletrando.

 

A poesia Borboletrando de Márcia Pessanha é uma metáfora vibrante e encantadora sobre o processo criativo, comparando a escrita à metamorfose de uma borboleta. Através de imagens delicadas e cores vibrantes, a autora nos convida a mergulhar em um mundo onde palavras se transformam em flores e frutos, impulsionadas pela liberdade e pela alegria. 

A borboleta, ao se libertar do casulo, representa o escritor que se liberta das amarras e encontra a liberdade de expressão. O ato de "desfiar o novelo e bordar o texto com fios dourados" simboliza o trabalho meticuloso e cuidadoso do autor em criar sua obra. 

O pólen, elemento essencial para a fertilização das flores, representa a inspiração e as ideias que fecundam o livro. As "palavras-flores" e "palavras-frutos" são o resultado dessa fecundação, simbolizando a beleza e a riqueza da linguagem. 

As "letras que voam" e "letras que bailam" transmitem a leveza e a alegria da escrita. As "asas rosas do sonho" e os "tons vibrantes" que colorem as letras representam a paixão e a emoção que o autor deposita em sua obra. 

A palavra "Borboletrando" em si, é uma criação da autora, que mistura as palavras borboleta e letras, o que demonstra a intenção de transformar palavras em algo belo, assim como a borboleta. A poesia "Borboletrando" serve como uma espécie de manifesto para o livro de Márcia Pessanha, que provavelmente explora temas como a criatividade, a liberdade e a beleza da linguagem. A poesia nos convida a olhar para a escrita como um processo de transformação e encantamento, onde as palavras ganham vida e cores. 

"Borboletrando" é uma poesia que encanta e inspira, convidando-nos a apreciar a beleza da linguagem e o poder da criatividade. 

A Editora Muiraquitã de Labouré Lima realizou um trabalho primoroso, com um projeto gráfico que valoriza a beleza e a expressividade dos poemas. A começar da aparência. 

A capa do livro Borboletrando de Márcia Pessanha, ilustrada por Aldo de Jesus Pessanha, é rica em simbolismo e convida a uma análise profunda. A figura central de uma mulher com longos cabelos e asas de borboleta em processo de renascimento, segurando dois galhos de louro, carrega significados poderosos. Representam a metamorfose, a transformação e o renascimento. A borboleta é um símbolo clássico de superação, beleza e liberdade, sugerindo que a obra aborda temas de crescimento pessoal e evolução. O fato das asas estarem em processo de renascimento pode indicar um momento de transição, de deixar para trás o passado e abraçar novas possibilidades. Na simbologia clássica, o louro representava a vitória, a honra e a glória. A presença dos galhos de louro nas mãos da mulher sugere que ela alcançou um triunfo, seja ele pessoal, profissional ou espiritual.

A figura feminina central pode representar a força, a resiliência e a capacidade de superação das mulheres. Ela pode simbolizar a própria autora, Márcia Pessanha, ou representar todas as mulheres que buscam a transformação e a vitória. Os longos cabelos podem representar a feminilidade, a força e a liberdade. A capa na visão desse que vos escreve a resenha, o livro "Borboletrando" é uma obra sobre a jornada de transformação de uma mulher, que enfrenta desafios, supera obstáculos e alcança a vitória. 

A combinação dos símbolos de transformação e vitória pode indicar que a obra aborda temas como resiliência, força interior e a capacidade de se reinventar.

A capa também pode ser interpretada como uma representação da beleza e da fragilidade da vida, e da importância de valorizar cada momento.

A Contracapa tem as digitais da professora Leonila Murinelly. O texto serve como um complemento à interpretação da ilustração de Aldo de Jesus Pessanha. Enquanto a capa apresenta a simbologia visual, a contracapa oferece uma perspectiva textual, enriquecendo a experiência do leitor e aprofundando a compreensão da mensagem do livro. Ter a escrita de uma professora renomada endossando o livro ajuda a validar o conteúdo do livro, e mostra a importância dele para a sociedade. O texto "De Casulo e Borboletas" de Leonila Murinelly fortalece a mensagem de transformação e vitória presente na capa, e adiciona uma dimensão educacional à obra, convidando o leitor a uma reflexão mais profunda sobre os temas abordados em "Borboletrando".


DE CASULOS E BORBOLETRAS 

"Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa!” 

Assim expressou-se Cecília Meireles sobre o poder da Palavra. Já Rubem Alves diz: "A palavra é um feitiço, ela entra nos corpos e transforma-os" 

Hoje, eu não vou refletir sobre a "A experiência da amizade" que, como alguém já o disse, parece ter suas raízes fora do tempo, na eternidade... Vou falar sobre "casulo" e "borboletra, ou seja, o borboletrar de Marcia - sim, porque as palavras lhe deram asas e ela começou a voar por espaços infinitos. Já tiveram oportunidade de ver um casulo se romper? Eu já tive essa sorte. Ah, as metamorfoses! 

Poucas pessoas se dão conta do poder da palavra para fazer as metamorfoses do corpo... 

Uma das frases que mais marcou meus momentos de leitura foi esta: "É no lugar onde a palavra faz amor com o corpo que começam os mundos...” Os poetas sagrados sabiam disso e por isso diziam "o corpo é a palavra que se fez carne." A psicanálise também acredita nisso, ela se dedica a ouvir palavras, pois è nelas que habitam os sonhos, e os pensamentos que nos fazem voar... 

O casulo-Márcia rompeu-se. O mundo de sua fantasia libertou-se dos limites: borboletrou... Em seu texto "A Bailarina" a consciência dessa metamorfose "circulo de fogo a arder” - é a certeza de que nada conseguirá impedi-la de voar... E assim se define como:

"Libélula desperta do seu casulo

Que continua a ascender

Que continua a bailar

Suspensa em nuvens de sonho." 

Hoje, seu corpo é um universo de fantasias, e quanto mais ricos forem estes universos, maiores serão os voos da Márcia-borboletra, maior será o seu fascínio, porque maior será o número de melodias que tocará, maior será a possibilidade de amar e maior será a sua felicidade e a felicidade daqueles que a cercam. 

Porque "o poeta não é alguém que vê coisas que ninguém mais vê. O que ele faz é simplesmente iluminar com seus olhos aquilo que todos veem sem se dar conta disso." Borboletrando!!!

Leonila Murinelly

O texto "De Casulos e Borboletas" da professora explora a poderosa transformação que as palavras podem provocar, usando a metáfora do casulo e da borboleta para ilustrar essa metamorfose.  A autora inicia com citações de Cecília Meireles e Rubem Alves, enfatizando a força transformadora das palavras. Ela destaca como as palavras podem "dar asas" e libertar a pessoa para "voar por espaços infinitos". A frase "É no lugar onde a palavra faz amor com o corpo que começam os mundos..." ressalta a ideia de que as palavras podem criar novas realidades. A referência à psicanálise reforça a crença no poder das palavras para revelar sonhos e pensamentos oculto 

O casulo representa o estado de limitação, enquanto a borboleta simboliza a liberdade e a transformação. A autora descreve a "metamorfose" de Márcia, que "borboletrou" ao romper seu casulo. A imagem da "libélula desperta do seu casulo" ilustra a libertação da fantasia e a capacidade de voar. O texto "A Bailarina" de Márcia é usado como exemplo da consciência dessa metamorfose. A frase "círculo de fogo a arder" simboliza a paixão e a determinação de voar. A poesia permite que Márcia expresse seu "universo de fantasias" e compartilhe sua visão única do mundo. A autora conclui com a ideia de que o poeta ilumina o que todos veem, mas não percebem. O poeta tem a capacidade de revelar a beleza e o significado ocultos nas coisas comuns. 

A autora demonstra que a poesia é uma forma de expressar a transformação e que a transformação pode gerar felicidade para o poeta e para as pessoas que o cercam. O texto celebra o poder da palavra como ferramenta de transformação pessoal. A metáfora do casulo e da borboleta ilustra a jornada de libertação e autodescoberta. A poesia é apresentada como uma forma de expressar essa transformação e compartilhar a visão única do poeta com o mundo.

 

A METAMORFOSE - CRÔNICA DE ALBERTO ARAÚJO

Ah, a metamorfose... não um simples romper de casca, mas o dilacerar da própria alma. As palavras, essas entidades etéreas, não meros instrumentos, mas o próprio tecido da existência. Cecília, Rubem, ecos de uma verdade ancestral: a palavra, feitiço, carne, mundo.

Márcia, não uma borboleta, mas uma constelação em voo, cada palavra um astro a iluminar a vastidão do incognoscível. O casulo, não prisão, mas crisálida de sonhos, onde o tempo se dobra e a memória se transmuta em mito. 

A Bailarina, não um poema, mas o grito primordial da alma, a recusa em ser contida. "Círculo de fogo a arder", não metáfora, mas a chama da liberdade, a certeza de que a palavra, uma vez libertada, não conhece limites. 

O poeta, não um mero observador, mas o demiurgo da realidade, aquele que desvenda o véu do ordinário e revela a epifania do instante. "Iluminar com os olhos", não ver, mas transver, sentir a pulsação do universo em cada partícula de existência. Márcia, libélula, fênix, não importa o nome, mas a essência: a palavra que se faz carne, a fantasia que se torna realidade, o sonho que alça voo. 

E nós, meros mortais, a contemplar o espetáculo, a sentir a vertigem da transformação, a saber, que, em cada palavra, reside a potência de um novo mundo.

A obra contém 112 páginas. Produção Gráfica de José Claudio Castanheira; Renata Augusta Ferreira. Ilustrações de Aldo de Jesus Pessanha e Márcia Pessanha. Publicação: Edições Muiraquitã Ltda. 1997. 

Borboletrando é uma leitura essencial para os amantes da poesia que buscam obras que emocionam e inspiram. O livro também é recomendado para aqueles que se interessam por temas como a transformação pessoal, a força da mulher e a capacidade da arte de curar e libertar. Márcia Pessanha, com "Borboletrando", entrega uma obra que encanta e emociona. Através de sua poesia, ela nos convida a refletir sobre a beleza da vida, a força da esperança e a capacidade de transformação que reside em cada um de nós.  "Borboletrando" é uma obra que merece ser lida e apreciada, um testemunho da força transformadora da poesia e da capacidade da alma humana de alçar voo.

A AUTORA MÁRCIA PESSANHA 

Márcia Maria de Jesus Pessanha é uma escritora brasileira, autora do livro Borboletrando. Além de escritora, Márcia é professora do Ensino Superior, com Mestrado e Doutorado em Letras/Literatura pela UFF. Nascida em 12 de março de 1946 em Tócos, Campos dos Goitacases – RJ. É filha de Renal Ribeiro de Jesus e Maria José Pacheco de Jesus. Iniciou seus estudos no Grupo Escolar Almirante Barroso e mais tarde ingressou na Escola Normal Nossa Senhora  Auxiliadora. Na Universidade Federal Fluminense (UFF), obteve o título de Mestre em Literatura Brasileira em 1995 e o de Doutor em Literatura Brasileira/Ciência da Literatura em 2002. Na área acadêmica, foi Coordenadora do Curso de Pedagogia de Niterói de 1996 a 1999, Vice-Diretora e Diretora da Faculdade de Educação de 2003 a 2007, sendo reeleita para o período de 2007 a 2011. Eleita a Intelectual do Ano 2015 pelo IFEC. Atualmente, preside a Academia Fluminense de Letras, a Federação das Academias de Letras do Estado do Rio de Janeiro; Secretária-Geral do Elos Internacional; Governadora do D8 Elos Internacional. Tomou posse como a segunda secretária do  Fórum Brasileiro das Academias Estaduais de Letras - FAEL, gestão 2024/26. Na sua gestão a Academia Fluminense de Letras aos 107 anos, foi condecorada com o título de Patrimônio Imaterial Cultural de Niterói sob a ideia do vereador Leonardo Giordano.

Resenha e Crônica

Alberto Araújo

Focus Portal Cultural


Vereador Leonardo Giordano 
e a Presidente da AFL Márcia Pessanha



 

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